domingo, 18 de maio de 2014

Sobre garotos-propaganda

Por Fernando Castilho



Nos anos 90 havia uma propaganda na TV com um jingle assim: ''Lojas Marabrás, preço menor ninguém faz''. Lembram-se?

Era protagonizada por Zezé di Camargo e Luciano lá pelo ano de 2002.

Os sertanejos emprestavam suas vozes ao jingle enquanto sentavam-se em sofás e poltronas da loja.

Destinados a um público assim chamado de classes D e E, os móveis eram simples, fabricados em aglomerado de madeira, tinham pouca durabilidade, mas custavam ''barato''. Ainda por cima podiam ser comprados por crediário.

Na época, o que me chamou a atenção foi ter visto em uma revista fotos das salas das residências de Zezé di Camargo e Luciano. Verdadeiro luxo. Decoração contratada a profissionais, móveis de madeira de lei importados, enfim, um primor. Tudo muiiiiiito caro.

E eles recomendavam que a gente comprasse os móveis da Marabrás...

Mulheres lindas e famosas também fazem propaganda de xampus e sabonetes, além de outros produtos de beleza.

Mas lembrei-me agora de outra campanha publicitária dos anos 70, se não me engano, estrelada por outro famoso: o atleta do século passado, Pelé.

Pelé fazia propaganda para a vitamina Vitasay. Ele que era modelo de vitalidade, agora revelava a todos seu segredo. A Vitasay deve ter vendido muito comprimido com Pelé.

Mas será que ele chegou a tomar algum? Ninguém sabe.

Recentemente vimos outro rei fazendo propaganda. Desta vez, o rei Roberto Carlos. Fazendo propaganda da carne Friboi.

A campanha causou polêmica na imprensa, nos blogs, nas redes sociais.

Diferentemente dos outros garotos-propaganda mencionados, o rei não toca no produto que promove. Por que?

Roberto mantém há anos a imagem de vegetariano que come peixe, ovo, queijo e toma leite.

Os vegetarianos desfilam perante pessoas como eu, carnívoras (com certo sentimento de culpa), uma certa aura. A de pessoas com grande força de vontade, que se libertaram de um alimento, que apesar de ser fonte de proteínas, carrega certa dose de toxicidade. São pessoas que nos passam uma imagem mais pacífica, mais tolerante, menos agressiva perante a vida, ao contrário das carnívoras.
Um dos militantes do vegetarianismo, outro famoso, porém muito mais famoso que o rei, Paul McCartney, tem denunciado a crueldade da criação e do abate de animais.

Noticiários revelaram que Roberto Carlos, após 30 anos de vegetarianismo, arrependeu-se, voltando a comer carne.

Mais tarde, o cineasta Fernando Meirelles afirmou que o rei nunca teria deixado de ser vegetariano.

Só mais recentemente, seu empresário revelou que Roberto nunca o foi de fato.

Foi revelado também que o cachê pago pela Friboi teria sido de 25 milhões de reais. Nada mau. Nada mau para quem está há 11 anos sem gravar um álbum.

Agora analisando:
1º. Se Roberto Carlos se arrependeu do vegetarianismo, ele poderia ter cortado o bife e comido um pedaço, não? Mas não o fez. Faturou 25 milhões.

2º. Se o rei não desistiu de ser vegetariano, arriscou-se a ter sua imagem comparada a uma nota de três reais. Mas faturou 25 milhões.

3°. Se Roberto nunca foi vegetariano, poderia ter comido a carne. Mas não o fez. Mas faturou 25 milhões.

De qualquer forma, com qual imagem você ficou do rei? É falso, arrisca sua imagem por dinheiro?
E da carne da Friboi? A carne é ruim a ponto do Roberto Carlos não comê-la?

Outra questão pode ser colocada: você compra determinados produtos somente porque estão associados a imagem de alguém? Que não os consome?

Mais uma indagação: É ético alguém que possui milhares ou até milhões de fãs, seguidores, admiradores, associar sua imagem a determinado produto, sem conhecer sua cadeia produtiva? Sem saber se o fabricante contrata e paga regularmente sua mão de obra? Se paga impostos com regularidade? Se o produto tem realmente qualidade? Se não vai prejudicar a saúde de quem o consome?

Só por dinheiro?





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