quinta-feira, 16 de abril de 2015

A soma de todos os medos

Por Fernando Castilho

Bem, após as manifestações meio que fracassadas de 12 de abril, parecia que o governo enfim poderia respirar um pouco e haveria uma tendência natural dos ânimos se arrefecerem.

A Operação Lava Jato que alguns creditam como o mote maior dos protestos, havia citado e recomendado investigação a elementos de fora do PT, o que viria a esvaziá-la com o tempo, já que para a grande mídia só interessa punir os petistas.

Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras, mudara seu depoimento da delação premiada ao afirmar que as obras da estatal não eram superfaturadas, o que, por si só, poderia dar uma guinada de 180° ao caso.

Portanto, um horizonte mais calmo à frente...

Mas, para surpresa geral, justamente no dia 15 de abril, quando foi marcado o Ato contra o PL-4330 que autoriza a terceirização de atividades-fim, eis que o juiz Sérgio Moro manda prender o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, sem provas de nenhuma espécie, baseado somente em arrecadações para financiamento de campanha, coisa que tesoureiros de outros partidos também fazem.

Antes disso, ainda no dia 12, responsáveis (ou laranjas) dos grupos de revoltados que pedem o impeachment da presidenta, descartaram outras manifestações de rua, por terem se tornado modelo já esgotado, e decidiram partir para uma ação mais direta, ou seja, ir à Brasília para pressionar os deputados a abrirem procedimento para impedir Dilma de continuar seu mandato.

O PSDB encomendou parecer jurídico sobre a possibilidade de impedimento, junto ao jurista Miguel Reale, atitude que FHC também já tinha tomado, junto à Ives Gandra Martins.

Presidentes de partidos da oposição, Aécio Neves do PSDB (citado na lista de Furnas), José Agripino do DEM (acusado de corrupção passiva na implantação do sistema de inspeção de veículos no Rio Grande do Norte), Paulinho da Força, do Solidariedade (investigado por suposto desvio de dinheiro público do FAT), entre outros, receberam no dia 15 representantes dos grupos de revoltados. Ao final do encontro, José Agripino afirmou que "Os fatos se impõem. Chegou a hora de colocar o impeachment e a investigação de Dilma para valer na pauta. A oposição está unida".

Mas entre exigir o impedimento de uma presidenta e conseguir de fato, há uma longa distância, afinal é necessário que se prove seu envolvimento na corrupção da Petrobras, o que até agora não aconteceu.

Se fosse só por isso, poderíamos ficar tranquilos pelo fato de que a Constituição não seria violada e o Estado de Direito prevaleceria. Que bom.

Mas o verdadeiro balde de água fria no otimismo não foi dado pela oposição ou pela mídia, mas sim pela própria presidenta.

Em entrevista a blogueiros no dia 14, notadamente Maria Inês Nassif, Cynara Menezes, Paulo Moreira Leite, Renato Rovai e Luis Nassif, Dilma Rousseff, ao invés de sinalizar uma procura de sintonia com os movimentos sociais e a classe trabalhadora que a reelegeu e que está todos os dias defendendo-a nas ruas e nas redes sociais, demonstrou total falta de interesse nisso, e mais, explicitou ao máximo seu lado tecnocrata.

Ao defender os ajustes, sem que se disponha a dialogar com quem a reelegeu, Dilma se mostra fria e intransigente.

Sobre a questão da regulação econômica da mídia, a presidenta negou que essa discussão esteja em pauta em seu governo. Ou seja, ficará refém da velha mídia até 2018.

Mas o pior, la crème de la crème, foi mesmo tergiversar acerca do PL-4330. Ela é contra alguns artigos mas não se posicionou sobre qual atitude vai tomar, caso seja aprovado pelo Senado.

Portanto, não se sabe com certeza se ela vai vetar.

E vetar seria a única atitude que poderia fazer com que seus eleitores continuassem a ter confiança em seu governo. Se não vetar...

Leia aqui a opinião de Altamiro Borges sobre o encontro com Dilma e tire suas conclusões.

Já Luís Nassif possui opinião diferente, mas vamos de Altamiro.

Este blogueiro não deveria perder as esperanças numa presidenta que logrou muito êxito em reduzir as desigualdades sociais e abrir muitas oportunidades para brasileiros de todo o país. Realmente houve motivos mais que suficientes para o voto nela.

Porém, após 100 dias de governo, com ministérios de perfil conservador, com medidas econômicas conservadoras, com distanciamento dos movimentos sociais e sindicais, e com graves hesitações e indecisões, fica cada vez mais difícil acreditar que Dilma chegue ao final de seu segundo mandato.

Não é do perfil da presidenta ouvir mais do que fala. Ela não é de delegar funções, mas sim de centralizá-las em sua figura. O perfil tecnocrata prevalece sobre o político, portanto, a solução seria a figura de um ou mais conselheiros, isso se ela os ouvisse.

Assim, mesmo que a oposição não deseje de fato o impeachment (acredito), se Dilma não mudar, ela o estará oferecendo de bandeja.




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