quarta-feira, 27 de julho de 2016

Poderíamos ser decentes, mas não somos

Por Fernando Castilho

Charge: Renato Aroeira

Após Dilma ter sido INOCENTADA pelo MPF, o Senado agora defende que ela deve ser afastada por uma abstração chamada ''conjunto da obra''.
Nessa caixinha cabe qualquer coisa que se queira colocar dentro dela, inclusive que ela é dentuça.

O motivo alegado pelo Congresso para o impeachment de Dilma foram as pedaladas fiscais.

Ninguém sabia o que era isso. Alguns pesquisaram e descobriram que não eram crimes. Outros se limitaram a repetir como papagaios o que a mídia e os deputados e senadores diziam e passaram a se manifestar como quem é dono da razão.

O tempo passou e os peritos que depuseram no Senado provaram que pedaladas não eram crimes.

O Ministério Público Federal se pronunciou e determinou que não foram cometidos crimes de responsabilidade. Dilma foi INOCENTADA, mas nem por isso o Supremo acabou com a palhaçada. .

Os que juravam de pés juntos que havia crimes se calaram. Mas nunca se envergonharam ou se arrependeram. Nunca admitiram que cometeram uma injustiça.

Agora o Senado encontrou outra forma para prosseguir com o impeachment.

Defende que Dilma deve ser afastada por uma abstração chamada ''conjunto da obra''.
Nessa caixinha cabe qualquer coisa que se queira colocar dentro dela, inclusive que ela é dentuça.

A condenação pelo ''conjunto da obra'' é totalmente inconstitucional pois a Carta Magna prevê que um presidente só pode sofrer impedimento caso haja comprovação de crimes de responsabilidade cometidos diretamente por ele. Não há.

Mas a casa encontrou um artifício para isso.

Agora os senadores alegam que o legislativo tem o direito de fazer um julgamento político.

Ora, se antes havia quem negasse, agora fica totalmente escancarado o golpe.
E esse golpe não é somente contra Dilma ou seu partido, mas sim contra a Democracia.
É muito chato mas é verdade. Se as pessoas que apoiam o golpe tivessem um mínimo de apreço pela Democracia tão duramente conquistada, já teriam parado o Brasil e restabelecido o governo.

Mas não. Democracia é um conceito vago e desprezível para elas.

Preferem ficar escondidinhas, morrendo de medo das medidas totalmente impopulares do vice golpista que as atingirão em cheio também.

Hanna Arendt disse que não há como condenar alguém por omissão, mas há que se lhe dar o desprezo.


Demos o desprezo, então.

sábado, 23 de julho de 2016

Por uma escola libertadora!

Por Fernando Castilho


O que me surpreende na aplicação de uma Educação realmente libertadora é o medo da liberdade.
Paulo Freire

O senador pastor evangélico Magno Malta é o autor do projeto Escola sem Partido.

O nome do projeto é equivocado de propósito. Ninguém realmente gostaria que professores filiados a um partido político fizessem de suas aulas palanques eleitorais. Nisso o pastor foi bem malandro.

O nome correto do projeto seria Escola sem Pensamento Crítico.

É isso que o senador pastor quer emplacar. Por que?

Desde cedo as crianças são levadas às igrejas pelos seus pais para ouvir salmos e outras belas passagens da Bíblia que doutrinam seu pensamento. Outras passagens mais crueis não são mostradas.

A criança cresce e, se prossegue nos estudos, começa a receber aulas de História, Sociologia, Filosofia, Física, Biologia...

Seu pensamento então vai aos poucos mudando ao receber conhecimento dessas áreas variadas.

E é lógico que o poder de crítica também vai se desenvolvendo.

De repente, o jovem deixa de comparecer aos cultos porque já não os vê com o mesmo sentido de antes.

Os questionamentos passam a ser vários, afinal, já há explicação para quase tudo na Ciência.

A figura do pastor ficou distante, uma vez que aquele homem não tem a formação adequada para manter esse jovem dentro do rebanho.

O pastor falava que gay não era filho de Deus mas na escola tem uns caras bem legais e a turma toda tolera. Por que eu não toleraria também, pensa o jovem.

Com o pensamento crítico desenvolvido, o jovem passa a questionar a validade de se pagar um dízimo todo mês para manter não só a igreja mas também as despesas e o padrão de vida do pastor, que ele percebe, ultrapassa em muito sua própria condição.

Pronto. O jovem nunca mais volta à igreja. Uma ovelha foi perdida. E o que é pior, muito pior, mais um dízimo deixou de ser arrecadado. É só isso que importa. Mais nada.

Escola sem Pensamento Crítico faz os jovens pensarem e isso os liberta dos pastores.

Certíssima a frase de Paulo Freire lá em cima. E é por isso que os defensores do Escola sem Partido o atacam.



sexta-feira, 22 de julho de 2016

Feliz Dia dos Amigos! Ma non troppo!

Por Fernando Castilho




E passou o Dia do Amigo.

Pensei em postar algo legal, mas por fim achei que seria hipocrisia de minha parte pois não sairia do meu coração.

Tenho 600 amigos no Facebook, mais do que gostaria de ter, afinal, quantidade não significa qualidade.

Mas uma boa parte deles, nestes tempos de modernidade líquida em que vivemos, correspondem muito bem às minhas expectativas. Alguns nem conheço pessoalmente ainda, mas quero conhecer.

Porém, a maioria de meus amigos do Facebook não me torna feliz. Pelo contrário.

Amigo é pra se guardar no lado esquerdo do peito, assim falava a canção. 

Numa situação como esta em que vivemos, um verdadeiro divisor de águas ideológico, cada um se define por um lado.

Até aí, natural, afinal temos que conviver com as diferenças. E eu tento ser plural.

O problema é quando nos deparamos com uma situação em que estamos sobre o fio de uma navalha.

A maioria de meus amigos, embora respeitosamente tenham se mantido discretos em seu posicionamento, não gosta da presidenta Dilma. Normal, afinal, eu também não gosto.

Porém, ao se votar o impeachment de Dilma, o motivo alegado foram as pedaladas fiscais consideradas crimes de responsabilidade.

Óbvio, todo criminoso tem que ser punido e Dilma não fugiria à regra.

Sair às ruas pedindo o impeachment de Dilma, para quem não conhecia os detalhes do que significam as pedaladas, também seria natural, afinal, a mídia bombardeava isso dia e noite e muitos incautos foram enganados.

Agora, porém, quando o Ministério Público Federal inocentou a presidenta, já não há mais o motivo de crime.

Embora ainda não goste de Dilma, por Justiça, ela deve ser reconduzida ao cargo. E terminar seu mandato, pois foi eleita para isso.

Achava que meus amigos do outro lado iriam rever suas posições e dizer: ah, mas então ela é inocente! Foi injustiça! Ela deve continuar, então.

Qual nada.

Acho que o pensamento é que pelo menos uma vez na vida vão ser a favor da injustiça porque querem Dilma fora.

Ou seja, deixa eu pecar uma vezinha só. Depois eu volto ao meu normal que é ser justo, honesto e de consciência limpa.

Não, a Democracia foi desrespeitada e meus amigos estão maculados.

Não se pronunciaram, não reviram suas posições, não se retrataram.

Que me desculpem se quiserem.

Se não quiserem, fiquem à vontade. Sei quem são e embora possa tratar bem a todos pois sou educado, saibam que a relação nunca será a mesma.

Não julguem que é por divergências ideológicas que se acirram nestes tempos. Não é. Como disse acima, convivo bem com isso.

E nem falei dos verdadeiros criminosos que ajudaram a colocar no poder e que podem lhes retirar os direitos trabalhistas.


sábado, 9 de julho de 2016

80 horas semanais, 6 dias por semana

Por Fernando Castilho



Um projeto de um deputado aloprado e ignorante quer proibir que as escolas ensinem Marx. Ao mesmo tempo o presidente da CNI propõe ao interino golpista que a legislação trabalhista mude e adote uma jornada de trabalho de 80 horas semanais. Coincidência?


Ok, querem proibir doutrinação ideológica nas escolas.

Mas como não falar de Marx (o Cristo a ser crucificado pela direita), Engels ou mesmo Durkheim, Max Weber, Thomas Morus, ou mesmo, Milton Friedman e Adam Smith?

Como não falar de Hitler? Tem que falar de Hitler!

Mas enquanto este debate ocorre, vemos que um senhor, que representa a Confederação Nacional das Indústrias, vai ao interino golpista apresentar uma proposta de mudar a legislação trabalhista impondo uma jornada de trabalho de 80 horas semanais (12 horas por dia, 6 dias por semana) como forma de recuperar a indústria brasileira.

Ele se aproveita que o governo não é Lula e não é Dilma, mas é um interino fraco, neo-liberal e de direita.

Recuperar a indústria? Balela, aumentar o lucro. Aumentar a mais-valia de que Marx falou.
Marx, para a nossa consciência, já que não pertencemos à classe dominante, a burguesia, afirmou que há uma luta de classes necessária.

Quer queiramos ou não, ela existe e sempre existirá.

É um cabo de guerra constante. E se você cochila, o outro lado avança. A burguesia sempre, eternamente, há de impor sua busca incessante pelo lucro à custa de recursos naturais, destruição ambiental, trabalho escravo, o que for.

Cabe a nós, proletários (e é difícil e doloroso nos afirmarmos como proletários pois sempre achamos que fazemos parte de uma classe média prestes a chegar ao topo) rechaçar qualquer proposta indecorosa e injusta que nos faça retroceder até a Revolução Industrial.

1 (hum) por cento da população concentra metade da riqueza mundial.

Portanto, não estou escrevendo para eles, mas sim para os 99%.

Embora muitos se prestem ao trabalho de defender o 1% dominante.