sexta-feira, 14 de julho de 2017

Falhamos com Lula?

Por Fernando Castilho



Foto: Ricardo Stuckert


Será que o partido confiou que as leis iriam prevalecer e Lula não poderia ser condenado porque o tríplex simplesmente não é dele? Agora ainda acredita que no TRF-4 os desembargadores enfim farão Justiça?



Escrever influenciado pela indignação e pela revolta não costuma render bons textos e não é salutar, por isso aguardei um pouco até manifestar minha opinião sobre a condenação do ex-presidente Lula.

Mesmo assim, a crítica vai pra todos os lados, vamos combinar.

Em primeiro lugar, não há como não execrar a conduta de um magistrado de primeira instância, inflado pela mídia e vaidoso por natureza, cuja única missão na Lava Jato, conferida pelo imperialismo americano, acaba de ser cumprida.

A sentença que condenou Lula é algo indigno de um juiz. Uma torpeza sem igual.

Durante a maior parte de seu arrazoado de 238 páginas, Moro tratou de tentar se defender de críticas, algo impensado e inédito para uma sentença.

Quem acompanhou na íntegra o depoimento de Lula (4 horas e meia) percebeu que em nenhum momento Moro acatou qualquer intervenção do advogado Dr. Zanin, o que certamente constitui completo cerceamento da defesa. Tudo já estava decidido desde que a Operação Lava Jato começou.

A sentença totalmente previsível condena Lula a 9 anos de prisão. Poderiam ser 8 ou 10 anos, mas Moro preferiu usar o número 9 em alusão aos 9 dedos do ex-presidente, já que ele mesmo se refere a Lula pela alcunha de “nine”. Um sarrinho, portanto que deve ter lhe rendido algumas boas risadas enquanto redigia o texto.

Moro extrapola suas funções ao tornar Lula inelegível por 19 anos. Além de praticamente decretar o fim político do ex-presidente, esse juiz não tem atribuição para negar a quem quer que seja o direito de se candidatar a um cargo eletivo. Lula somente se tornará inelegível caso seja condenado antes das eleições. Interessante que o presidente do TRF-4 que vai julgar o recurso de Lula já se apressou em garantir que o veredito sairá antes de agosto do ano que vem, que é o prazo final para inscrição das candidaturas.

Tenhamos certeza, Lula será condenado em segunda instância e se tornará inelegível se cruzarmos os braços.

Ainda sobre Moro, é inconcebível que um juiz, ao receber as alegações finais da acusação (MPF) que diziam claramente não haver provas contra Lula mas somente convicção de sua culpa, não tenha simplesmente arquivado o caso. Qualquer um arquivaria.

Outra crítica vai à mídia que comemorou a sentença. Quem assistiu ao Jornal Nacional certamente viu Bonner abrir a edição dizendo quase rindo: “Nunca antes na história do país um presidente foi condenado por corrupção!” O início da frase é um bordão amplamente usado por Lula. Outro sarrinho, portanto.

Em nenhum momento os colunistas dos jornais fizeram qualquer questionamento, muito menos alguma crítica à decisão de Moro, mesmo esta sendo explicitamente injusta. Pelo contrário, os jornais entrevistaram juristas de direita para justificarem a sentença de Moro. Esses mesmos colunistas jamais manifestaram qualquer indignação ou crítica ao fato de Aécio Neves, Rocha Loures e Geddel Vieira Lima estarem soltinhos da silva.

Também não se importaram em ver a corrupção escancarada ao vivo e em cores da compra de votos dos deputados feita por Michel Temer para se livrar da aceitação do relatório de Sérgio Sveiter na CCJ que recomendava abertura de investigações pelo STF. Aliás, a condenação de Lula, decidida já há 3 anos, ocorreu ao mesmo tempo que a aprovação da reforma trabalhista, a vitória de Temer na CCJ, a volta de Aécio ao Senado e a soltura de Loures e Geddel.

Maquiavel dizia que as medidas duras contra o povo deveriam acontecer todas ao mesmo tempo e as boas em conta-gotas. Moro aproveitou bem o timing.

Também não há como não criticar a postura da esquerda que, enquanto não saia a decisão de Moro já tratava de buscar uma alternativa a Lula em 2018. Além do enorme desrespeito, parece que virou uma briga pra ver quem consegue ficar com o osso.

Só queria saber se o PSOL acha mesmo que Luciana Genro é capaz de vencer as eleições de 2018.

Sobre Ciro Gomes e Marina Silva, é necessário lembrar que, embora dissimulem, ambos são candidatos de direita, vamos combinar.

Além disso, li artigos de juristas de esquerda aplaudindo a decisão do ministro do STF, Marco Aurélio Mello de reconduzir Aécio Neves ao senado e libertar sua irmã.

Houve até quem aplaudiu Edson Fachin por ter libertado Loures.

E sobre o Geddel, afirmaram que ele não deveria ter sido exposto na TV com a cabeça raspada por ser humilhante.

A esquerda se preocupou mais com as Diretas Já (e eu fui um dos críticos a isso) do que com a defesa de Lula. Era por Lula que deveríamos ter saído às ruas pois não há alternativa a ele em 2018.

E o PT?

Bem, aí já é um problema crônico, antigo.

Durante as gestões de Lula e Dilma, o PT esqueceu-se das bases.

O partido confiou que Dilma não seria enxotada da presidência por causa de um hipotético Estado de Direito que se revelou não existir mais em nosso país.

O ministro Lewandowski do STF, que tinha a missão de salvaguardar a Constituição, mostrou-se um vendido na decisão que o senado tomou de retirar Dilma à força, sem ter cometido crime algum. Estado de Direito uma ova!

O partido ainda confiou que as leis iriam prevalecer e Lula não poderia ser condenado porque o tríplex simplesmente não é dele. Agora ainda acredita que no TRF-4 os desembargadores enfim farão Justiça. Vive um conto da carochinha. Por isso não reage.

Por fim, crítica a mim também.

Por várias vezes afirmei neste blog que se Dilma fosse derrubada, haveria convulsão social no país. Não houve.

Por várias vezes afirmei que se a reforma trabalhista fosse para a Câmara, haveria convulsão social no país. Também não houve.

Por várias vezes afirmei que se Lula fosse condenado haveria convulsão social no país.

Parece que afinal somos frouxos e vamos deixar rolar a injustiça diante de nossos olhos sem reação.

Lula afirmou: Quem tem direito de decretar meu fim é só o povo brasileiro”. 

Ele espera que não o deixemos sozinho.

Desculpem a acidez.


terça-feira, 11 de julho de 2017

Pra onde vai o brasileiro?

Por Fernando Castilho



Imagem: Internet


Que tal se fosse feita aos brasileiros a seguinte pergunta: Você é a favor da reforma trabalhista?

Ou esta: Você é a favor da reforma da previdência?


No dia 3 de julho último o Instituto Datafolha publicou uma pesquisa de opinião acerca de uma série de temas comportamentais e econômicos visando aferir a atual tendência dos brasileiros dentro do espectro político, notadamente se se situam mais à direita ou mais à esquerda.

Segundo a enquete, as pessoas que se definem como sendo de direita ou centro-direita totalizam 40% e as que se dizem de esquerda ou centro-esquerda somam 41%. Os restantes 19% são de centro.

Segundo o próprio instituto, para chegar a essa classificação os brasileiros foram consultados sobre uma série de questões envolvendo valores sociais, políticos, culturais e econômicos, mais ou menos como aqueles teste que de vez em quando o Facebook nos propõem para pura diversão.

De acordo com o Datafolha, posições contrárias ou a favor de homofobia, porte de armas, aborto, criminalização do uso de drogas, neoliberalismo ou crença em Deus, definem a orientação ideológica das pessoas.

Os dados de semelhante pesquisa feita em 08 de setembro de 2014, pouco antes da vitória apertada de Dilma Rousseff nas eleições presidenciais daquele ano e um ano depois das manifestações de junho de 2013, revelou dados diferentes.

Segundo o Datafolha, em 2014 as pessoas que se definiram como sendo de direita e centro-direita totalizavam 55% e as que se diziam de esquerda ou centro-esquerda representavam somente 25% dos brasileiros.

Percebe-se que naquela época, embora Dilma tenha vencido as eleições, o ponteiro do espectro ideológico se situava bem mais à direita, fruto do descontentamento com o governo do PT.

Mas o que mudou na opinião do brasileiro de lá para cá que seja capaz de explicar essa divisão meio a meio atual?

Primeiramente deve ser a percepção de que uma presidenta foi impedida de continuar governando devido a acusações tênues e sem comprovação de corrupção.

Segundo, que justamente os políticos que a defenestração são os mesmos que agora ocupam o poder e que estão envolvidos em graves denúncias.

O relator da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados acabou de defender que a denúncia de ilícitos cometidos pelo presidente Michel Temer seja encaminhada ao Supremo Tribunal Federal para que lá seja julgado, justamente o vice que assumiu o lugar de Dilma.

Mas, ainda assim, como explicar o empate técnico entre direita e esquerda atualmente, se as denúncias contra o governo são tão graves?

O Datafolha não divulgou o questionário apresentado na pesquisa por isso não podemos ter certeza sobre todos os itens perguntados às pessoas.

Mas, que tal se fosse feita a seguinte pergunta: Você é a favor da reforma trabalhista?
Ou esta: Você é a favor da reforma da previdência?

Poderia ser feita mais uma: Você é a favor do congelamento dos investimentos em saúde e educação por 20 anos?

Ora, o brasileiro, sabe-se, é por demais influenciado pela mídia, porém, nestes casos elencados acima, a grande maioria vai se posicionar contrariamente. E é cristalino que desta forma essa maioria seria classificada como sendo de esquerda porque essas propostas, aplaudidas pelos empresários, não são boas para o povo mais pobre.

Já ouvi muito brasileiro pobre se dizer a favor do estado mínimo e das privatizações, influenciado diretamente pela mídia, mas pergunte a qualquer pessoa se ela quer saúde e educação privadas.

Se as pessoas preferem saúde e educação públicas, ou seja, garantidas pelo Estado, certamente elas se enquadram mais à esquerda.

Portanto, há que se desconfiar e muito desses dados do Datafolha.
Provavelmente o número de esquerdistas hoje supera em muito o de direitistas.

Embora não compreenda o que significa luta de classes (até porque são proibidos de ter conhecimento sobre o tema), o povo tem percepção de quem quer lhe ajudar ou prejudicar.

E é lógico que a Folha de São Paulo, representante da elite, não vai demonstrar isso em números.


sexta-feira, 7 de julho de 2017

Lava Jato - Crônica de uma morte anunciada

Por Fernando Castilho

Imagem: Internet


Os procuradores da Força Tarefa, entre eles Dallagnol e Carlos Santos, que durante a campanha para as eleições presidenciais postavam impropérios a Dilma e elogiavam Aécio nas redes sociais, agora se dizem indignados. Será que só eles não perceberam o que estava por vir? Não teria sido interessante acompanhar um pouco os blogs de esquerda, inclusive este, que já alertava para o desmanche? Como assim, foram pegos de surpresa? Afinal, Lula não era o chefe, segundo o PowerPoint?


A foto acima já diz tudo, não?

Quem assistiu ao Jornal Nacional ontem talvez tenha percebido que William Bonner e Vasconcellos que sempre se superam como bons atores ao noticiar qualquer coisa que possa comprometer a dignidade do ex-presidente Lula, levantando ou abaixando as sobrancelhas, contorcendo os lábios e alterando o tom de voz, noticiaram o desmanche da Operação Lava Jato como se fosse um fato corriqueiro que não causasse nenhum tipo de comoção.

E talvez seja mesmo.

Há mais de um ano atrás, o senador Romero Jucá foi flagrado em gravação de áudio feita pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, onde afirmava, entre outras coisas, que era preciso uma resposta política para evitar que investigações caíssem na mão do juiz Sérgio Moro.

Em suas próprias palavras: “Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o governo para estancar essa sangria .”

Estava claro que a quadrilha que se instalou no governo e no Congresso depois do golpe contra Dilma, precisava parar a Lava Jato antes que ela atingisse os golpistas.

O juiz Moro já tinha incriminado vários deputados do PP, prendera José Dirceu sem que tivesse qualquer culpa comprovada, prendera João Vaccari baseado somente em delações sem comprovação e estava na cola de Lulas, tentando condená-lo pela posse de um apartamento triplex que nunca foi seu.

Se parasse por aí, tudo bem, mas a operação haveria de chegar à verdadeira quadrilha cujo chefe, sem sombra de dúvidas, é Temer. Aécio é o segundo.

Quando Temer nomeou o juiz Torquato Júnior para ministro da Justiça, já estava claro que sua primeira missão seria enfraquecer a Polícia Federal.

Há alguns meses atrás, grupos simpáticos à direita saíram às ruas para defender a Lava Jato. Estranhamente ninguém se revoltou com o desmanche que agora acontece.

Os procuradores da Força Tarefa, entre eles Dallagnol e Carlos Santos, que durante a campanha para as eleições presidenciais postavam impropérios a Dilma e elogiavam Aécio nas redes sociais, agora se dizem indignados. Será que só eles não perceberam o que estava por vir? Não teria sido interessante acompanhar um pouco os blogs de esquerda, inclusive este, que já alertava para o desmanche? Como assim, foram pegos de surpresa? Afinal, Lula não era o chefe, segundo o PowerPoint?

O fato é que esses procuradores, a PF e também Moro, foram usados durante estes três anos de Lava Jato.

A quadrilha aproveitou-se do fato de que a direita conseguiu introduzir muitos quadros nesses órgãos enquanto o PT cochilava e esqueceu-se de formar quadros tanto nos movimentos sociais quanto nos vários escalões de governo.

Esses quadros já serviram ao propósito de derrubar Dilma e o PT do governo e propiciar a volta da direita ao poder. Agora já não importam mais. Jucá tinha avisado mas eles não acreditaram.

Resta agora saber qual será a reação de Sérgio Moro.

Eu, no lugar dele, olharia no espelho e diria: “otário!”

Mas como Moro tem uma missão que lhe foi dada pelo governo americano, a quem na verdade serve, prosseguirá em seu objetivo.

A Lava Jato, a operação menina dos olhos de 10 entre 10 coxinhas, que nasceu com o firme propósito de acabar com a corrupção no país, mas que na prática só serviu para punir injustamente petistas e destruir empresas nacionais, vai dar agora seu último suspiro. Seremos mais uma vez motivo de chacota no mundo inteiro.

Se as pessoas que saíram de verde amarelo e bateram panelas já não se importam com nada, resta saber qual será o comportamento da esquerda neste momento.