sábado, 24 de junho de 2017

FHC X Doria, a briga dos fakes

Por Fernando Castilho


Imagem: internet


Briga entre tucanos fakes esquenta em São Paulo. Mas será isso também mais um fake?


FHC X Dória, a briga dos fakes

Em palestra em São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticou o prefeito de São Paulo, João Dória, afirmando que este sabe muito bem manipular (tirando o celular do bolso) isto.

O que ele quis dizer? Ora, que Dória usa a comunicação para tentar parecer o que não é aos olhos da população de São Paulo. Ou seja, o gestor é puro marketing e mais nada. É apenas um out-door ambulante de si mesmo.

Dória rebateu dizendo que FHC precisa visitar mais São Paulo. Não sei se foi uma indireta ao ex-presidente que costuma ir muito a Paris onde possui um apartamento na Avenida Foch, no edifício mais caro e chique da cidade luz.

O fato é que os tucanos estão se bicando. E não é de hoje.

FHC tem história na esquerda, sobressaindo-se como um dos mais importantes intelectuais de sua época. Depois, quando assumiu a presidência, pediu que esquecêssemos tudo o que escreveu e passou a vender o Brasil numa onda de privatizações que prejudicou enormemente o país.

Recentemente FHC se reafirmou como sendo de esquerda. Apenas um fake porque sendo de esquerda não poderia ser neo-liberal, convenhamos.

O ex-presidente é conhecido nos meios intelectuais por ter se apoderado da Teoria da Dependência de Ruy Mauro Marini. Além disso se autoproclamou autor do plano Real.

Doria, por sua vez, nas redes sociais é referido como prefake, ou seja, um falso prefeito porque não cria, não inova, não administra, não equaciona nem resolve problemas da cidade. Somente faz marketing pessoal de si mesmo, talvez visando galgar postos mais altos no futuro. A impressão que dá é que iniciou campanha eleitoral já no dia 1o de janeiro de 2016.

Mas se FHC e Dória são fakes, seu próprio partido também não deixa de ser.

O PSDB, que se originou de uma dissidência de esquerda dentro do MDB, adotou o nome de Partido da Social Democracia Brasileira, ou seja, se deslocou do centro para a esquerda, configurando-se como centro-esquerda.

Mas ao se deixar converter ao neoliberalismo, os tucanos se posicionam já há algum tempo à direita, portanto, o nome “Social” agora não tem mais nada a ver com o partido que defende a reforma trabalhista que prejudicará enormemente os trabalhadores e a reforma da previdência que porá fim à aposentadoria de grande parte dos brasileiros.

Então, nada mais lógico do que termos dois políticos fakes protegidos pelas asas de um partido também fake.

Portanto, eles não deveriam brigar, deveriam se congratular.


Ou essa briga também é fake?

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Temer morreu mas se esqueceu de deitar

Por Fernando Castilho



Imagem: foto Folha



Qual o futuro de um presidente golpista e traidor?
Não poderia ser outro senão o desprestígio e o desprezo.

Que horas ele cai?


Terça, 20, o governo golpista de Michel Temer sofreu derrotas seguidas que indicam sem sombra de dúvida que está prestes a cair. Como se diz na linguagem popular, morreu mas se esqueceu de deitar.

Em sua viagem à Rússia (que na agenda presidencial contava como República Socialista Federativa Soviética da Rússia), Temer sequer foi recepcionado pelo presidente Putin, sendo recebido por um funcionário de segundo escalão, fato impensável numa diplomacia e que demonstra seu enorme desprestígio junto aos principais líderes mundiais.

Hoje vejo pelo noticiário que o golpista não foi recebido por ninguém na Noruega. Será que a diplomacia brasileira não previu isso ou simplesmente colocou temer numa posição vergonhosa para empurrá-lo de vez pro abismo?

A Rede Globo divulgou que o presidente teve cheques da OAS e da JBS depositados em sua conta corrente, tamanha era sua certeza de impunidade.
Mas o que mais impressionou ontem foi a derrota da Reforma Trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais, a CAS pelo placar de 10 a 9.

Vale aqui destacar alguns pontos importantes.

O Senador Ronaldo Caiado (DEM – GO), apoiador das reformas não compareceu à sessão, o que pode indicar que preferiu não entrar em dividida com o governo.
Já o voto do Senador Eduardo Amorim (PSDB – SE), contrário à reforma, demonstrou que os tucanos estão realmente divididos e que podem debandar do governo a qualquer momento.

Interessantes foram os votos dos peemedebistas Renan Calheiros (PMDB – AL) e Hélio José (PMDB – DF) que também votaram contra.

O primeiro já vinha dando mostras da disposição de trair Temer devido ao receio de perder bases eleitorais em seu estado. Além disso, seu filho será candidato à reeleição para governador em 2018.

O segundo foi voto de minerva e surpreendeu o plenário por isso.

Há que se destacar o discurso de Gleisi Hoffman que demonstrou a enorme incoerência de Marta Suplicy que tem um histórico de defesa das mulheres mas que, ao apoiar o projeto demonstra que se esqueceu das causas pelas quais sempre lutou no passado.

Interessante também foi a inversão de papéis entre a ruralista Kátia Abreu que teoricamente deveria defender as reformas e Marta Suplicy que deveria, também teoricamente, ser contrária. As duas chegaram a bater boca defendendo suas novas posições.

Temer afirma que vencerá no plenário mas o que se depreende da votação de ontem é que as bases do presidente estão começando a abandoná-lo porque, embora tardiamente, já perceberam que a canoa está furada e afundará.

Mesmo com a saída de Temer a reforma poderia prosseguir, seja pelas mãos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, seja sob o comando de Henrique Meirelles, caso a eleição do sucessor seja por via indireta, mas o dado mais importante a se considerar é que as eleições de 2018 estão próximas e muita gente não vai querer ter que enfrentar suas bases nos estados e tentar explicar porquê optou por ficar contra os trabalhadores.

Outro fator que pesará, e no caso de Renan já ficou claro, é Lula.

Ninguém pode ignorar as pesquisas que dão ampla vantagem ao ex-presidente.
Caso Lula possa disputar o pleito do ano que vem, é altamente recomendável que os deputados e senadores colem sua imagem à dele.

E isso em política é quase lei.


terça-feira, 20 de junho de 2017

Por que a saída para Moro está na absolvição de Lula?

Por Fernando Castilho


Imagem: internet

Tanto o MPF quanto a defesa de Lula já entregaram suas alegações finais ao juiz Sérgio Moro.
Por que agora a melhor saída para ele é a absolvição do ex-presidente?

O Ministério Público Federal e a defesa de Lula já entregaram suas alegações finais ao juiz Sérgio Moro mas ainda não há data certa para o julgamento do caso do triplex do Guarujá.

Imagino como deve estar a cabeça do juiz neste momento.

Por um lado há uma esperança enorme por parte daqueles que querem ver o ex-presidente entre as grades e veem em Moro aquele algoz apto a acionar a guilhotina.

De outro lado há advogados e juristas preocupados e apreensivos quanto ao desrespeito ao Estado de Direito e à Constituição, que torcem para que o juiz represente, enfim, imparcialmente seu papel.

Além desse corpo jurídico há cerca de 50 a 60% da população (os índices variam de acordo com as pesquisas) que votariam em Lula para presidente em 2018 e que não querem vê-lo preso. Encabeçando essas pessoas há os sindicatos, o MST e os demais movimentos sociais que saem às ruas contra as reformas de Temer e pelas Diretas Já.

Moro tem a oportunidade de passar para a História nesse julgamento.

Se decretar a condenação de Lula, terá contra si a responsabilidade de ter criado uma convulsão social.

Se optar pela absolvição fica a dúvida se será chamado de vendido ou covarde pela outra parte.

Há, porém, um caminho mais simples para Moro: o do estrito respeito à legalidade.

Ficou comprovado nas últimas semanas que a verdadeira quadrilha de corruptos do Brasil está no governo e no congresso. Lula só é acusado de possuir um triplex que, na visão de Paulo Maluf são três Minha Casa Minha Vida um sobre o outro, o que não valeria a pena.

O MPF, em suas alegações finais facilita a decisão de Moro ao afirmar que não conseguiu provas contra Lula e a defesa do ex-presidente conseguiu prova de que o apartamento realmente pertence a OAS, uma vez que a empreiteira usa o imóvel como garantia em empréstimos, inclusive da Caixa.

Ora, se apesar de tudo isso Moro ainda insistir no lawfare contra Lula, estará sendo pouco inteligente. Ele se meteu numa sinuca ao persistir na perseguição contra um só partido e contra Lula enquanto uma quadrilha imensa, e no dizer do dono da JBS, Joesley Batista, a mais perigosa do Brasil, roubava o país em encontros em garagens nas madrugadas.

Acho que deu na vista para aquele brasileiro médio, ainda não contaminado pelo ódio ao PT disseminado pela grande mídia, que Moro perdeu tempo ao querer prender Lula.

Portanto, se Moro realmente quiser salvar sua biografia de juiz incorruptível e isento, haverá de inocentar Lula e passar a observar os verdadeiros ladrões do país.

Mais simples do que parecia. Que Moro perceba que sua saída está na absolvição de Lula.


sábado, 10 de junho de 2017

O circo judiciário brasileiro

Por Fernando Castilho


Imagem: Internet


Gilmar aposta todas as suas fichas que o governo Temer está inviabilizado por ter somente 3% de aprovação, pela possível debandada do PSDB e, principalmente porque a Globo quer a renúncia do golpista.

O assunto é bastante complicado. Parece um jogo de xadrez ou um quebra-cabeça. Mas vamos lá pela ordem cronológica dos acontecimentos.

Logo após as eleições de 2014 o TSE presidido por Gilmar Mendes, após analisar as contas da chapa Dilma-Temer, diplomou presidenta e vice com ressalvas que não chegaram a comprometer a lisura do pleito.

Mas o PSDB, presidido pelo candidato derrotado, Aécio Neves, entrou com ação no TSE alegando abuso de poder econômico da chapa vencedora. Aécio, pego recentemente em uma gravação, afirmou que tomou essa decisão somente para encher o saco (sic). Ou seja, não tinha nenhuma esperança de que a chapa fosse cassada e também não imaginava que num futuro próximo se aliaria ao vice Michel Temer quando este assumisse o lugar de Dilma no golpe que ocorreria dois anos mais tarde.

Dilma sofreu impeachment com o aval do ministro do STF, Ricardo Lewandowski, sem que ela tivesse cometido crime de responsabilidade, vale ressaltar.

Porém, Lewandowski, vergonhosamente, por vias indiretas, reconheceu a inocência de Dilma ao manter seus direitos políticos.

Teoricamente, pelas leis brasileiras, a aprovação das contas da chapa seriam processo transitado em julgado e não deveria mais ser objeto de discussão e reanálise. Deveria, mas não foi.

Com o pretexto de que fatos novos vieram à tona devido principalmente às delações da Odebrecht de que houve contribuições à campanha não contabilizadas, o chamado caixa 2, Gilmar Mendes levou a ação do PSDB adiante.

Os tucanos, agora apoiando Temer, tentaram desistir da ação ou separar a ação em duas. Queriam absolver Temer e condenar Dilma (que já não estava mais no governo). Não deu.

Após as gravações de Joesley Batista da JBS que incriminam Temer terem vindo à tona,a Globo passou a exigir a renúncia do presidente golpista mas este se nega a deixar o governo, confiante de que dará a volta por cima e levará adiante as reformas trabalhista e da previdência. Isso sem considerar sua pífia aprovação de 3% de seu governo.

A esquerda foi às ruas e passou a exigir, caso Temer renunciasse, eleições diretas já. A Constituição prevê em caso de vacância do cargo, eleições indiretas. Por isso seria necessária uma emenda à Constituição.

Portanto, com o julgamento marcado para decidir pela cassação ou não da chapa, colocamo-nos numa situação muito interessante.

A esquerda desejava a cassação da chapa porque desta forma Temer sairia do governo e o caminho poderia se abrir para as diretas já. Isso não afetaria Dilma já que ela não está mais no poder.

Então, caso a chapa fosse cassada, o reconhecimento público de que na campanha da chapa Dilma-Temer houve mesmo abuso de poder econômico colocaria Dilma em situação constrangedora.

Logicamente não há como chamar Dilma de desonesta, uma vez que os candidatos, sejam eles a própria Dilma, Temer ou até mesmo Aécio NÃO SE OCUPAM DA TAREFA DE MEXER COM DINHEIRO DE CONTRIBUIÇÕES, cabendo aos tesoureiros de campanha esta função. Mas também não há como negar que a responsabilidade atinge sim os candidatos.

Além disso, como lembrou o Ministro do STE, Napoleão Nunes, em seu voto, caso a decisão fosse pela cassação, em respeito à Democracia, certamente o beneficiário seria Aécio Neves, o segundo colocado no pleito. Seria ele então conduzido, mesmo que tenha hoje 0% nas pesquisas para 2018, à presidência!

A votação no STE terminou em 4 a 3 para a manutenção da chapa. O voto de minerva foi dado por Gilmar Mendes.

Ora, por que Gilmar Mendes votou pela absolvição da chapa? Justamente por causa da lembrança do ministro Napoleão.

Embora Gilmar seja muito amigo de Aécio, neste momento ele não deseja vê-lo na cadeira da presidência porque ele próprio, Gilmar está de olho nela.

Gilmar aposta todas as suas fichas que o governo Temer está inviabilizado por ter somente 3% de aprovação, pela possível debandada do PSDB e, principalmente porque a Globo quer a renúncia do golpista.

Gilmar acredita que nas eleições diretas seja ele o eleito à presidência.
A busca incessante dos holofotes, inclusive nos últimos 4 dias em que travou uma batalha com o ministro Herman Benjamim, deixa claro que Gilmar está em campanha.

E poderá realmente vencer no Congresso.

Porém, há ainda uma pequena coisa a considerar.

Como a chapa saiu inocentada, há ainda a possibilidade, remota que seja, do cancelamento do impeachment, o que conduziria Dilma de volta ao seu lugar.

Tecnicamente, mas não politicamente, isso é possível.

Fica uma chata lição aos brasileiros que assistiram ao espetáculo de 4 dias do TSE.

O prédio é pomposo, os ministros com suas togas são seres que se julgam deuses muito vaidosos e os julgamentos são cartas marcadas.

Mas não nos deixemos enganar. Trata-se de um circo cuja estrela maior é um palhaço muito perigoso.


terça-feira, 6 de junho de 2017

E se já deu tudo errado?

Por Fernando Castilho



Imagem: Meme publicado na Folha


Assim como os alunos do colégio, o prefeito se veste quase que diariamente de gari, guarda de trânsito e até de cadeirante sem que os brasileiros de Sampa se indignem com isso.


Ficamos, alguns, claro, perplexos com uma festa organizada por um colégio evangélico do Rio Grande do Sul, para os alunos do terceiro ano do Ensino Médio, cujo tema foi “E se nada der certo?”.

O tema foi criado, segundo a escola, para instigar estudantes sobre as opções em caso de reprovação no vestibular, convidando os alunos a se fantasiarem com trajes de profissões ou atividades que considerariam como possibilidade se os planos "dessem errado". Entre as opções elencadas pelos adolescentes estavam vendedores, faxineiros, ambulantes, mecânicos, cozinheiros e garçons.

Ora, o tema se coloca nos dias de hoje, como muito apropriado, diria até, em consonância com os rumos que o país está adotando, guiado pelos seus governantes.

Tudo começou após junho de 2013 quando a presidenta Dilma despencou de confortáveis 65% de aprovação para 30% apenas.

Uma parte dos brasileiros, a chamada elite que mandou no país desde seu descobrimento e que foi responsável pelo golpe militar e pelos 21 anos de escuridão democrática, xingou Dilma de “vaca” e a mandou TNC durante a abertura da Copa do Mundo.

No mesmo dia em que a presidenta conseguiu sua reeleição, esses mesmos brasileiros, liderados por um irresponsável passaram a exigir seu impeachment, desrespeitando a Democracia, a Constituição e o Estado de Direito.

Dilma sofreu um golpe e com ele o Brasil, governado por uma quadrilha liderada pelo vice traidor, Michel Temer que começou a afundar o país numa crise sem precedentes.

Temer foi pego em flagrante tratando de corrupção. E esses brasileiros agora só querem sua renúncia porque a Globo está pedindo. Mas não querem eleição direta.

O ídolo dessa gente, Aécio Neves, também foi pego em gravações, mas ao contrário do que o senso comum poderia esperar, esses brasileiros não admitem que foram enganados, não exigem sua prisão e nem reconhecem que foram responsáveis pelo estado crítico da ética em que estamos envolvidos.

Dilma não foi retirada por corrupção, mas sim, porque ela é do PT.

Poupam Aécio porque ele é tucano. Simples assim.

Por outro lado, a cidade de São Paulo elegeu um prefeito que se diz gestor e não político.

João Doria, logo no início de seu mandato, foi desmascarado como devedor do município com uma dívida de 90 mil reais de IPTU! Sem graça, teve que pagar.

Assim como os alunos do colégio, o prefeito se veste quase que diariamente de gari, guarda de trânsito e até de cadeirante sem que os brasileiros de Sampa se indignem com isso. Trabalhar mesmo que é bom, nada.

Além disso, o prefeito se meteu numa aventura daquelas cuja consequência não se conhece. “Acabou” com a cracolândia, espalhando-a por todo o centro da cidade. Como se não bastasse, percebendo a enrascada inconsequente em que se meteu por puro desconhecimento do delicado assunto, decidiu internar os dependentes à força, no que foi barrado pela Justiça. A situação permanece indefinida, sem solução, mas os brasileiros paulistanos já lhe concederam 80% de aprovação pela sua “política” na cracolândia.

Esses mesmos brasileiros de Sampa já o colocam numa pesquisa à frente de Lula para a presidência!

Por fim, a cereja do bolo.

Doria teve sua carteira de habilitação suspensa por somar mais de 20 pontos e acumular grande valor de multas entre 13 de janeiro e 12 de março ao dirigir seus Porsche, Audi e BMW. Como ainda não fez o curso de reciclagem, continua sem carteira.


Querem mais? Ele ainda tentou se justificar dizendo que perdeu o prazo para transferir a pontuação! Isso não é corrupção? 

Mas quem se importa?

Esses brasileiros de que falo?

A ética se inverteu neste país faz tempo.

Agora os corruptos, os que se saem bem, os que passam por cima dos demais para conseguir sucesso na vida são os admirados por essa gente.

Uma nova geração está sendo educada em caros colégios com esses valores.

Já deu tudo errado, minha gente!


sábado, 3 de junho de 2017

O MPF quer condenar Lula sem provas? Dentro do Estado de Direito?

Por Fernando Castilho








Acordamos hoje com uma notícia assustadora: as alegações finais do Ministério Público Federal pedem a condenação de Lula.

Seria perfeitamente normal se não levássemos em consideração o que o órgão afirma nas alegações.

Segundo o advogado de Lula, Dr. Cristiano Zanin Martins, os procuradores afirmam que “a solução mais razoável é reconhecer a dificuldade probatória” (pág. 53) e pedem a condenação sem provas.

Ora, os procuradores reconhecem a dificuldade em provar o ilícito por isso pedem uma condenação sem provas? Para onde foi o Estado de Direito?

Isso se traduz como lawfare, a tese de que uma pessoa pode ser condenada somente por perseguição política.

A Folha publicou logo cedo:
A Procuradoria pede condenação à prisão, em regime fechado. Além disso, solicita a Sergio Moro que o ex-presidente pague R$ 87.624.971,26, que seria "correspondente ao valor total da porcentagem da propina paga pela OAS".

Salvo engano, aquele tríplex do Guarujá vale pouco mais de um milhão de reais, portanto, essa multa é totalmente desproporcional e descabida.

Ainda, segundo a Folha, o chefe dos procuradores da força tarefa, Deltan Dallagnol, afirmou que Lula é apontado como o responsável "pela promoção e pela organização do núcleo criminoso que se instaurou no seio das empresas do Grupo OAS, assim como pelo comando das atividades criminosas por meio delas perpetrados”.

É no mínimo bizarro constatar, através das últimas notícias que dão conta da corrupção praticada por Michel Temer, Aécio Neves, toda a cúpula do governo federal, governadores de estado, deputados e senadores, que Lula seria o comandante dos crimes.

Dallagnol comete outro grave atentado ao Estado de Direito quando afirma que diante "de um dos maiores casos de corrupção já revelados no país", é preciso afastar "a timidez judiciária na aplicação das penas quando julgados casos que merecem punição significativa".

Afastar timidez judiciária? O que é isso?

O dr. Zanin salienta em seu twitter que o MPF em suas alegações finais não pediu a prisão de Lula como o G1 e a Folha publicaram. Mas é claro que dá no mesmo, afinal, eles querem a condenação.

Até o dia 20 de junho será a vez da defesa de Lula entregar a Moro suas alegações finais.
Por toda ousadia do MPF (não só falta de timidez) e de Moro que tem se colocado nos depoimentos como mais um membro do MPF e não como juiz equidistante das partes, ficaria dada como certa a condenação de Lula em primeira instância.

Ocorre que Moro vem tendo sua imagem desgastada nos últimos tempos devido à sua perseguição contra Lula e a soltura de Cláudia Cruz mesmo com todas as provas contra ela.

O Estadão recentemente publicou um editorial atacando o juiz.

Além disso, Moro será julgado pelo CNJ em julgamento que foi adiado.

Leia mais sobre as dificuldades que Moro atravessa neste artigo.
Diante disso, fica difícil fazer um exercício de antecipação da decisão de Moro.

Ele tem que medir muito bem seu julgamento pois sabe que em caso de condenação de Lula em primeira instância, ainda mais com todo esse movimento Fora Temer! E Diretas Já!, esse pode ser o estopim de uma convulsão social sem precedentes nas últimas décadas.

Será que ele corre o risco?





sexta-feira, 2 de junho de 2017

Por que sindicatos e partidos não são bem-vindos?

Por Fernando Castilho


Foto: Paula Lavigne



Há dois movimentos: o Fora Temer e o Diretas Já. Não devemos confundir o movimento com um show apenas.
Quem faz isso é a Força Sindical no 1° de maio, quando até sorteia carros.



A primeira nota que saiu foi a do Estadão. A organização do evento dos artistas afirmava que a manifestação de domingo deveria estar isenta de sindicatos e de partidos porque agora seria hora aglutinar outras pessoas em torno do Fora Temer.

Isso significava que os artistas achavam que água e óleo não se misturam, leia-se, camisetas vermelhas com verde-amarelas.

Imediatamente a esquerda nas redes sociais se dividiu. A maioria repudiou a decisão da organização. Mas grande parte defendeu os artistas e outros alegaram que era invenção do jornal.

Mas a Folha divulgou a mesma coisa.

Antes disso, um amigo me passou por What'sApp um vídeo em que o senador Randolfe da Rede conversava com Caetano e amigos na casa do último.

Começou a haver uma certa briga entre a esquerda. Se a intenção era essa, não sabemos.

No dia seguinte a organização afirmou que foi um mal entendido e que a manifestação não era apartidária.

Paula Lavigne organizou em sua casa uma reunião com artistas regada a vinho e queijos. a matéria saiu na Veja. Embora não tenha sido divulgado, há fontes que afirmam que o assunto principal teria sido uma espécie de fechamento de questão em torno do nome de Marina Silva para as Diretas Já. Letícia Sabatella, petista antiga, participou da reunião mas nada se falou de sua posição.

Sabemos que em todas as manifestações contra as reformas a Rede nunca esteve presente. Muito menos Marina Silva.

Sabemos também que a moça defende as reformas trabalhista e da previdência. E não adianta vir com a história de que teriam que ser melhor estudadas.

Nunca Caetano e outros monstros sagrados como Milton Nascimento se manifestaram contra as reformas.

Nas manifestações das quais participei na Av. Paulista, nos carros de som havia artistas mais ou menos desconhecidos mas nunca os medalhões deram a graça de sua presença.

Em um show de Caetano há alguns meses, foi o público quem levantou o Fora Temer e ele ficou sem graça de proibir. Caetano apoiou Marina em 2014.

Já Milton apoiou e fez campanha para Aécio. Aí, aparece de repente em Copacabana.

Caetano e Paula Lavigne foram aqueles que proibiram a biografia de Cae.

Dizem que Chico Buarque não compareceu ao ato em Copacabana por causa do problema de saúde da filha. Já não sei mais se foi por isso.

O fato, para encerrar, é que há dois movimentos: o Fora Temer e o Diretas Já. Não devemos confundir o movimento com um show apenas.

Quem faz isso é a Força Sindical no 1° de maio, quando até sorteia carros.

Posso estar sendo duro mas exponho o que penso. Críticas serão bem-vindas.

O movimento é político, muito mais que artístico.

E pelo menos por enquanto ainda não é Marina Já.

Caetano e Milton, vocês são nossos ídolos desde sempre. Não dá pra esquecer suas músicas. Só suas músicas.


Pode Lula fazer mais?

Por Fernando Horta

Imagem: GGN


Por Fernando Horta: Lula, se puder concorrer e se ganhar a próxima eleição, terá o maior desafio que um presidente brasileiro já teve. Reorganizar um país que está quase tão destruído quanto uma guerra civil deixaria.

O discurso de Lula no congresso nacional do Partido dos Trabalhadores, na quinta passada, foi mais curto e errático do que costuma ser. A verdade é que o ex-presidente sente o peso que hoje tem, como única figura de esquerda capaz de barrar o avanço conservador. O partido tenta dar-lhe ao mesmo tempo apoio e abrigo. Não é pouco o que Lula enfrenta. Afora uma caçada midiática diuturna, Lula ainda lida com o lawfare da República de Curitiba e seus experts em Powerpoint, pedalinhos e documentos sem assinatura. A perda de dona Marisa Letícia (homenageada no Congresso) e o constante assédio aos familiares do ex-presidente completam um quadro nefasto que o líder, de 70 anos, impressiona ao enfrentar de forma tão aguerrida.

Não há outra alternativa, dirão alguns. Eu discordo. Existem outras alternativas para Lula, talvez não para a esquerda brasileira neste momento. Para piorar as coisas, Guilherme Boulos escreve afirmando que Lula não unificará as esquerdas “fazendo mais do mesmo”. Permita-me discordar meu caro Boulos, diante da atual situação, mais do mesmo de Lula estaria já de muito bom tamanho. Tentam incitar o ex-presidente a um caminho de maior acirramento, de maior enfrentamento. Tentam fazer do Lula de 70 anos um lutador por reformas de base que lula não foi com 50 ou 60.

Lula, em parte, aceita o desafio. Parte do discurso na noite da quinta-feira passada foi dirigido a ataques à Rede Globo. É compreensível que o ex-presidente esteja magoado. As vilanias da Globo são conhecidas desde a destruição de Assis Chateaubriand e a consolidação do império dos Marinho durante a ditadura. Mas parece que a Globo perdeu a finesse com a morte do seu fundador. Os atuais donos perderam o senso de tempo e oportunidade e estão gastando seu capital político de forma muito acelerada. O custo dos ataques a Lula tem subido vertiginosamente e pode ser visto nas pesquisas eleitorais e na má vontade de vários anunciantes da Globo que já percebem prejuízos aos seus produtos por conta da postura política da emissora.

Lula tem sido cobrado a fazer as reformas estruturais que a esquerda há muito pede. Na última noite, Lula lembrou que presidente com sessenta parlamentares não faz reforma. Com 70 anos, Lula ainda tem que dar aula de política para uma parte da esquerda que parece viver no Sítio do Pica Pau Amarelo (ou vermelho, se preferirem). Um lugar onde o chefe do executivo tem o pó de pirlimpimpim e é capaz de realizar tudo o que pensa. Sozinho. Se faz aliança é por puro interesse, e se a aliança é com políticos de duvidosa moral então a aliança é fisiológica, nefasta. Lula lembra que se faz aliança não com quem se quer, mas com quem ganha eleição. Partidos que nunca ganharam nada no executivo costumam esquecer-se disto.

Sem um parlamento capaz de fazer mudanças, Lula não poderá fazer muita coisa.
Enquanto as bancadas de latifundiários, banqueiros e industriais forem imensamente maiores que as de trabalhadores, professores e camponeses Lula só fará algo se propuser o “mais do mesmo”. Colocando na mesa seu imenso poder de negociação e chamando as forças políticas para um grande pacto nacional. De novo. E não me entendam mal, isto, hoje, já seria excepcional. O problema é que a esquerda ferida pensa que a eleição de Lula seria uma reversão de forças. Teria a capacidade de devolver todo o mal que tem sido infligido a ela. Fala-se em “punir os golpistas”, num misto de devaneio com esquizofrenia.

Lula não pode tudo. Nunca pode, a bem da verdade. Governar não é um exercício solitário da vontade. Tivemos algumas vezes presidentes eleitos com minoria no congresso. E congresso hostil ainda. Vargas em seu último mandato é um exemplo claro. A guinada à esquerda de Vargas não surtiu efeito. As pressões eram demasiadas. Terminou como sabemos. Um tiro no peito, o levante do povo e a continuidade do modelo populista por mais dez anos.

A verdade é que a esquerda brasileira é profundamente incompetente. Não conseguiu construir alternativas eleitorais factíveis durante todo o período que esteve no poder. E não falo apenas do PT, mas de toda a esquerda. Quem bate no peito e exige “autocrítica” não é capaz de fazer a sua e perceber que sem Lula e sem o PT não existe esquerda brasileira hoje. E o pior é que sequer esta avaliação realista são capazes de fazer. Continuam com discursos agressivos, rompantes revolucionários sem sentido e cobranças anacrônicas.

Lula, se puder concorrer e se ganhar a próxima eleição, terá o maior desafio que um presidente brasileiro já teve. Reorganizar um país que está quase tão destruído quanto uma guerra civil deixaria. E sem base legislativa temo que Lula pouco ou nada possa fazer. Alguns dirão que é culpa do próprio Lula e que ele tem a obrigação de fazer a reforma A ou B. Eu me recordo de Churchill, durante a Segunda Guerra, informando a Roosevelt e Stalin que o Papa exigia que se libertasse Roma primeiro e que se protegesse todo o local da Santa Sé. Stalin perguntou: “Quantas divisões comanda o Pontífice?”

Quantas cadeiras no congresso comanda esta esquerda que está a exigir tantas “reformas” do ex-presidente?


50 anos (and counting) de Sgt. Pepper's

Por Fernando Castilho


Imagem: EMI



50 anos de um álbum que revolucionou o rock definitivamente!

Ontem comemoramos 50 anos do lançamento nos Estados Unidos do icônico álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band dos Beatles.

É interessante constatar que, apesar de toda a imprensa falar sobre isso e de vários artigos terem sido escritos para lembrar o evento, para os jovens atuais, o significado passa desapercebido.

Ontem mesmo, saí com meu sobrinho em seu carro. O rádio estava ligado e foi inevitável ouvir as músicas que ele mais ou menos curtia.

Mais ou menos por que?

Porque até ele mesmo não gosta, ou melhor, não ama as músicas que ouve.

John Lennon diria: The sound you hear is muzak to my ears.

Essa é a diferença. Nós, da minha geração e da posterior, amávamos e ainda amamos as músicas dos Beatles. E queremos sempre ouvi-las.

Não se trata de saudosismo. As músicas que os jovens de hoje ouvem não têm nem de longe as letras bem trabalhadas dos Beatles, isso quando não são grosseiras recorrendo a palavrões de forma gratuita.

As harmonias praticamente não existem e a melodia é extremamente simplória, recorrendo a vários lugares-comuns.

Os Beatles entraram no estúdio para gravar Sgt. Pepper's em novembro de 1966 e só concluíram o disco quase 7 meses depois!

Que gravadora hoje em dia disporia um estúdio para uma banda gravar um disco durante 7 meses?

Nesse período os Beatles, após terem encerrado a fase de turnês, decidiram aprofundar o experimentalismo iniciado em Rubber Soul e Revolver.

Lembremos como:

Entraram instrumentos inusitados para o rock como cítaras e cravos.

As harmonias passaram a ser trabalhadas de forma complexa e original.

Os Beatles aprenderam a tocar piano.

As letras passaram a ser menos bobinhas e agora passavam a testemunhar o dia a dia na vida das pessoas retratado pelas notícias de jornal, além de reminiscências de um passado ainda não longínquo vivido por eles em sua infância.

George Martin percebeu que poderia dar uma chance à criatividade da banda que desabrochava e decidiu que era hora de dar vazão a arranjos de maior qualidade.

George Harrison aprimorou sua técnica na guitarra.

Paul e John nunca tinham cantado tão bem antes.

E Ringo dá um verdadeiro show em A Day in The Life.

Já não eram mais os antigos e puros rapazes de Liverpool. Tinham amadurecido musicalmente.

As inovações não pararam por aí.

Pela primeira vez os membros de uma banda não apareciam sozinhos na capa de um disco. Na foto há, além deles e de seus clones em cera, fotos das mais variadas personalidades, desde Karl Marx até Edgar Allan Poe, passando por Bob Dylan e Mick Jagger.

Não contentes com isso, publicaram na contra capa as letras das músicas.

O disco veio num encarte onde era possível recortar bigodes e colocá-los onde se quisesse.

Uma verdadeira revolução, enfim.

Meu sobrinho e os jovens que ouvem as músicas de hoje sequer imaginam a mágica que sentíamos acontecer cada vez que olhávamos aquela capa e ouvíamos o disco. Eles perdem.

E não adianta dizer: ei, ouça isto! Você vai gostar!

Beatles não é para se ouvir uma vez e sair gostando. Afinal, os ouvidos de hoje estão desabituados ao que é bom. É preciso paciência e ouvir várias vezes para reeducá-los.

Foi assim com um ex-aluno meu que aos 15 anos foi fisgado pelos Beatles.

À primeira vista aquele som não impressionou muito mas como ele tinha conhecimento da importância histórica da banda, concluiu que, se todo mundo até hoje ainda fala de Beatles é porque deveria ser bom.

Não levou muito tempo para que ele, ao contrário de seus amigos, se tornasse um tardio beatlemaníaco que sabe hoje mais que eu sobre o conjunto.

Os Beatles são assim. 46 anos após a extinção do grupo, ainda são capazes de fisgar as novas gerações.

I read the news today, oh boy: "Sgt. Pepper's forever!"




quarta-feira, 31 de maio de 2017

Quando a Justiça enoja: três anos de cadeia por furtar ovos de páscoa e um quilo de frango

Por André Forastieri





Por André Forastieri em seu blog.
É lugar comum dizer que o Brasil precisa de reformas. Mas reformas são leis, e leis dependem de aplicação, e isso é feito por seres humanos, juízes. No Brasil, muitos juízes aplicam as leis como bem entendem. É a velha piada que advogados contam: “de cabeça de juiz e bunda de nenê, nunca se sabe o que vai sair.”


O bebê é pequenininho, menos de um mês. Nasceu na cadeia e lá vive com sua mãe. A cela tem capacidade para doze pessoas, mas está ocupada por 18 lactantes. A mãe cumpre pena por furtar ovos de páscoa e um quilo de peito de frango. Foi condenada a três anos, dois meses e dois dias por esse crime.

A defensoria pública de São Paulo pediu um habeas corpus na última sexta-feira. Acionou o Supremo Tribunal de Justiça para pedir a anulação do crime, por ser insignificante; a readequação da pena; ou a prisão domiciliar, garantida pela leis às mães responsáveis por filhos menores de 12 anos.

O argumento é que a sentença é desproporcional à tentativa de furto e que a mulher é mãe de mais três crianças, de 13, 10 e 3 anos de idade. Além do bebê, que será separado da mãe quando completar seis meses. As quatro crianças crescerão longe da mãe, se ela seguir cumprindo pena na Penitenciária Feminina de Pirajuí, no interior de São Paulo.

O ministro do STJ, Nefi Cordeiro, negou o pedido da Defensoria e manteve a pena da mãe em regime fechado. Determinou que ela deva cumprir toda a pena na prisão por causa de “circunstâncias judiciais gravosas”. Disse “não vislumbrar a presença dos requisitos autorizativos de medida urgente.”

Quem é Nefi Cordeiro? Curitibano, oficial da PM, formado pela Federal do Paraná. Tem duas medalhas concedidas pelas Forças Armadas, a do Pacificador e Ordem do Mérito Militar. Foi nomeado para o STJ por Dilma Rousseff.

Nefi Cordeiro determinou em julho de 2016 a soltura de Carlinhos Cachoeira, Fernando Cavendish (da Construtora Delta), e de Adir Assad e Cláudio Abreu. Presos na Operação Saqueador, eles são acusados de integrar um esquema que lavou R$ 370 milhões de reais de dinheiro público.

Nefi Cordeiro confirmou em 2015 uma condenação por tráfico de duas gramas de maconha – isso mesmo, duas. É o menor caso de condenação por tráfico já registrado. A pena foi de quatro anos e onze meses. O tráfico aconteceu 15 anos antes, em 2000, em Cataguases, Minas Gerais.

Nefi Cordeiro concedeu habeas corpus a quatro PMs cariocas que fuzilaram com 63 balas um carro com cinco jovens inocentes, matando Roberto, de 16 anos, no caso que ficou conhecido como Chacina de Costa Barros. No dia 7 de julho de 2016, a família disse que após o habeas corpus, a mãe de Roberto, a cabelereira Joselita, morreu “de tristeza”.

É lugar comum dizer que o Brasil precisa de reformas. Mas reformas são leis, e leis dependem de aplicação, e isso é feito por seres humanos, juízes. No Brasil, muitos juízes aplicam as leis como bem entendem. É a velha piada que advogados contam: “de cabeça de juiz e bunda de nenê, nunca se sabe o que vai sair.”

Nunca se sabe, mas todos sabemos que a justiça brasileira frequentemente tarda e falha, e tarda e falha especialmente quando o acusado tem dinheiro. A estrutura de senzala do Brasil está tão integrada à nossa sociedade que ninguém estranha que haja prisão de luxo para quem tem diploma universitário, e de lixo para quem não teve dinheiro para estudar. Como ninguém estranha o elevador de serviço, a diferença da cor de pele entre ricos e pobres, 60 mil assassinatos anuais, ou o fato de metade dos brasileiros não terem esgoto em casa.

Nunca houve justiça no Brasil e não haverá tão cedo. Como nunca houve democracia e não haverá tão cedo. Temos pouca experiência com uma e outra. Esse é o fardo histórico que todo brasileiro tem que carregar, bestas de carga, deitados eternamente em berço esplêndido.

Mas Justiça é um tema cada vez mais central na vida de todos nós. Porque a natureza da sociedade abomina o vácuo. Então o Judiciário vem preenchendo – correta e incorretamente, com moderação e com messianismo - o vazio deixado pelo Executivo e Legislativo, que há tempos abdicaram de nos representar. E seguem ignorando solenemente desejos e necessidades da maioria, e enchendo os bolsos numa lambança sem fim, como nos informa todo dia o noticiário.

Mas membros do executivo e legislativo podem perder o emprego. Juízes não. É mais fácil arrancar uma presidente eleita por 53 milhões de votos do seu cargo que demitir um juiz do supremo tribunal de justiça.

Talvez antes de qualquer outra reforma, o Brasil precise de uma reforma profunda no Judiciário. Que o torne ágil e transparente, potente e permeável à fiscalização da sociedade.

Que dê alguma credibilidade a um poder que mantém na cadeia uma mãe miserável que furtou frango e ovo de páscoa, mas concede a prisão domiciliar a Adriana Ancelmo, esposa e comparsa do ex-governador, casal que fez fortuna com a miséria dos mais miseráveis cariocas - exatamente a gente que, no limite, furta comida.

Não se trata de “cortar as asas” do Judiciário, sonho da curriola de políticos e empresários que se organiza para fugir de investigações e delações. Se trata de tratar de maneira mais equânime os ladrões da esquina e os ladrõezões de terno e gravata.

Essa semana a polícia paulistana prendeu com grande balbúrdia traficantezinhos na Cracolândia. Também esta semana, o Supremo Tribunal Federal condenou Paulo Maluf a sete anos de prisão por lavagem de dinheiro que ocorreu no seu mandato de prefeito, entre 1993 e 1996. Finalmente Maluf vai pra cadeia? Não, ainda há espaço para recurso, mais de trinta anos depois do roubo cometido...

O juiz é um funcionário público como qualquer outro. Eles têm que ser tratados de acordo. Trabalham para nós. Têm que responder para nós. E, se for o caso, serem corrigidos, ou até punidos por nós. Nossa Justiça, e ausência dela, e revisão profunda do que significa justiça no Brasil, é pauta urgente e bem mais importante do que quem vai sentar no Palácio do Planalto nos próximos meses.


Mas alguns casos, algumas pessoas, talvez estejam além da capacidade da sociedade brasileira de corrigir seu rumo. A decisão de Nefi Cordeiro que mantém uma mãe de quatro filhos na cadeia, por furtar frango e ovo de páscoa, é incompreensível para nós. Está em outro domínio. O do inimaginável, do inumano, além da imoralidade, além da redenção.