segunda-feira, 28 de abril de 2014

Mídia, um partido clandestino

Por Fernando Castilho



Os panfletos do partido clandestino

Esqueçam PT, PSDB, PMDB, PSB e outros.

Esqueçam.

 O partido com mais poder no Brasil não é nenhum desses. Ele não tem sigla, não tem presidente nem número.

 Nele não se vota, antidemocrático que é. E por não ser democrático, ajudou há 50 anos atrás a derrubar a democracia do Brasil. E ainda hoje estimula golpes de estado.

Dispõe de tempo ilimitado na TV, dentro ou fora do horário político. Às vezes nem percebemos que está a fazer propaganda, pois utiliza-se de mensagens subliminares.

 Não tem plataforma política, projeto ou programa para o Brasil. Tem para si próprio mas não os revela. Nem poderia, pois são contrários aos interesses da grande maioria da população. Limita-se a criticar qualquer medida que seus adversários tomam, mesmo que sejam boas para a Nação. 


 Não aparece nas pesquisas, uma vez que não permite que seu nome seja incluído, pois se considera acima dos partidos comuns.

 É pródigo e pragmático em fazer alianças com partidos legalizados que fazem o jogo da direita, sua orientação política por excelência. Como em qualquer aliança desse tipo, em caso de vitória de sua ''coligação'', cobrará mais tarde sua contra-partida.

 Mas nunca fará parte oficialmente do Governo, uma vez que prefere ficar nos bastidores dando a devida cobertura, encobrindo deslizes e fraudes e enaltecendo medidas profícuas ou de caráter duvidoso como sendo as mais importantes para o país.

 Por ser clandestino, esse partido é dissimulado. Não costuma revelar suas reais intenções. Não costuma assumir publicamente sua orientação. Pelo contrário, diz-se neutro, de centro.

 Não hesita em distorcer fatos, mentir, destruir reputações, criar escândalos, enfim, tudo que estiver ao seu alcance para atingir seus objetivos. Para isso utiliza-se de um número fabuloso de panfletos, alguns vendidos diariamente, outros semanalmente. Alguns vendidos também na TV e na internet.

 Nesses panfletos, militantes pagos, figuras bem conhecidas do público, de fala empostada e eloquente, invariavelmente aparecem como figuras indignadas com o ''descaso'' ou a corrupção'' dos adversários. Somente dos adversários.

 Pois é, a grande mídia brasileira é um partido clandestino. Também chamado de PIG, Partido da Imprensa Golpista.

 Já dizia Joseph Pulitzer, ''Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma''

 Segundo Altamiro Borges do Blog do Miro, “A mídia é um duplo poder: econômico e político, o único que tem liberdade é o dono. Ainda tem os interesses ideológicos e a consequente manipulação da informação. O que não interessa é omitido e o que interessa é realçado. Atualmente, 30 impérios comandam a comunicação no mundo. No Brasil, está na mão de apenas sete famílias: Marinho (Globo), Abravanel (SBT), Saad (Band), Macedo (Record), Frias (Folha), Mesquita (Estadão) e Civita (grupo Abril).”

 Está claro que o Brasil precisa de uma Lei de Democratização dos Meios de Comunicação.

Trata-se de uma lei que existe nos Estados Unidos desde 1934. Ela exclui a possibilidade de um detentor de Concessão Pública de TV, como a Globo, por exemplo, possuir jornais e revistas. Lá ela não poderia.

 Essa lei também existe em quase todos os países avançados democraticamente. Recentemente foi aprovada na Argentina e na Inglaterra.

 Nelson Breve presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), diz: “Há uma grande contradição entre o que é serviço público e o que é atividade econômica. O problema é que o poder público transfere um serviço público para ser atividade econômica e muitas empresas privadas não cumprem esse dever público de princípios e deveres. É o poder público que tem o poder de regulamentação, o poder privado é apenas uma atividade complementar. Isso está no artigo 220 da Constituição.''

 O jornalista Laurindo Leal Filho, professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) lembrou que ''na década de 50 existia no Rio de Janeiro, por exemplo, dezoito jornais diários. O mesmo ocorria em São Paulo e em várias capitais. Hoje, existem três ou quatro veículos replicados por todo Brasil (Globo, Folha e Estadão, com algumas presenças regionais em nível de maior representação).''

 A Democratização de Meios daria possibilidade de surgimento de um número maior de jornais, que poderiam equilibrar forças com os jornalões.

 As Concessões de Rádio e Televisão têm que ser revistas, principalmente no sentido de se exigir que em sua grade haja maior número de produções educativas e nacionais. Além disso, há a necessidade da divulgação do contra-ponto a quaisquer comentários de cunho econômico, social ou político.

 Mas qual é o perfil de quem lê os principais jornais escritos todos os dias?

Uma parte, talvez a maior, acredita em tudo aquilo que está publicado.

Outra parte, nessa me incluo, lê para ter um indicativo, uma fonte a mais, mas nunca a definitiva. São pessoas que buscam informações sobre os assuntos publicados, em outras fontes. Só após isso, definem uma opinião.

E quem assiste aos telejornais?

Há quem acompanhe atentamente tudo que o narrador fala, acreditando nele.

Há pessoas que deixam a TV ligada no telejornal, enquanto fazem outras atividades ou conversam, aguardando pela novela.

Venício A. de Lima, professor, aposentado como titular de Ciência Política e Comunicação da UnB defende que durante o processo de discussão ampla para elaboração de um Projeto de Lei de Democratização de Meios de Comunicação, seja consultado um grande leque de representantes da sociedade civil, inclusive os próprios meios de comunicação, para que sejam atendidos, democraticamente os anseios da população nessa área.

Mas, no tempo em que a Lei de Democratização de Meios for aprovada e entrar em vigor, talvez a tiragem dos jornais e a audiência dos telejornais tenham caído tanto, que ela já nem valha mais a pena. Explico: a internet com suas redes sociais publicando e compartilhando os mais variados assuntos em tempo quase real, mesmo que tenham fontes duvidosas e não confiáveis (exatamente como na grande mídia), conquistam dia a dia público cada vez maior. Além disso, os blogs, principalmente os de política, com seus autores antenados e perspicazes, são outra grande ameaça à imprensa. Recentemente tivemos um exemplo de como a grande mídia ficou revoltada por Lula preferir conceder entrevista a blogueiros e não a ela. Desprestígio.

Acredito que não está muito longe o dia em que a mídia deixará de funcionar como partido clandestino no Brasil, cumprindo seu papel de informar com isenção.

E se ela não começar já, seu fim poderá ser abreviado.

 










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