Vão-se
os bons, aqueles que transformam a sociedade, e ficam os medíocres,
aqueles cuja vida lhes transpassa.
Perdemos
Rubem Alves. Um dos bons.
De
ética impecável, o grande educador foi teólogo, pedagogo, poeta e
filósofo brasileiro. Foi autor de diversos livros, sobre diversos
assuntos, entre eles, filosofia, teologia, psicologia e histórias
infantis.
Rubem Alves nasceu em Boa Esperança, Minas Gerais, no dia 15 de setembro de 1933. Educado no meio de família protestante, estudou Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas, São Paulo. Exerceu a atividade de pastor em Lavras, Minas Gerais.
Rubem Alves nasceu em Boa Esperança, Minas Gerais, no dia 15 de setembro de 1933. Educado no meio de família protestante, estudou Teologia no Seminário Presbiteriano de Campinas, São Paulo. Exerceu a atividade de pastor em Lavras, Minas Gerais.
Em 1963 foi para Nova York estudar Mestrado em Teologia. Em 1968, já no Brasil, foi, como todo e qualquer bom intelectual, perseguido pelo regime militar.
Autor
do livro Teologia da Esperança Humana ("A Theology of Human
Hope"), de 1969, Rubem Alves é tido por muitos estudiosos como
uma das mais relevantes personalidades no cenário teológico
brasileiro. Foi o fundador da reflexão sobre uma teologia
libertadora, que em breve seria chamada de Teologia da Libertação
(que defende uma Igreja próxima dos movimentos sociais) . Só por isso, sua contribuição ao Brasil já seria grande.
Via no Humanismo um messianismo restaurador e assim, desde os anos 60 participou do movimento latino-americano de renovação da teologia.
Via no Humanismo um messianismo restaurador e assim, desde os anos 60 participou do movimento latino-americano de renovação da teologia.
Sua
posição liberal logo lhe trouxe graves problemas em seu
relacionamento com o protestantismo histórico e especificamente
presbiteriano. Foi questionado desde cedo por suas ideias e teve de
abandonar o pastorado, tendo antes abandonado suas convicções
doutrinárias ortodoxas.Nesse mesmo ano voltou para os EUA, onde
cursou doutorado em Filosofia na Princeton Teological Seminary. De
volta ao Brasil ensinou filosofia na Universidade de Campinas.
Nos anos 80 tornou-se psicanalista, através da Sociedade Paulista de Psicanálise. Passou a escrever para os grandes jornais, sobre comportamento e Psicologia.
Nos anos 80 tornou-se psicanalista, através da Sociedade Paulista de Psicanálise. Passou a escrever para os grandes jornais, sobre comportamento e Psicologia.
Publicou
mais de 120 títulos, sobre filosofia, educação, literatura
infantil e teologia.
Desde
ao menos a década de 1980, ele pediu por meio de livros, colunas e
entrevistas que os colégios deixassem de massacrar os estudantes com
conteúdos que serão cobrados no vestibular e depois esquecidos. E
que passassem a mostrar o que os jovens vêem e verão na vida.
Como
exemplo desse outro formato de educação, Alves sugeriu que uma aula
pudesse começar com a apresentação de uma casca de caramujo vazia,
que "normalmente ninguém presta atenção", mas que "é
um assombro de engenharia". A função do educador, disse ele à
Revista Nova Escola em 2002, é fazer o jovem notar a complexidade
dessa casca e entendê-la.
Somente
gente desse quilate, como o grande Paulo Freire, para ter essa
compreensão do seja educação, que não é posta em prática porque não alimenta o sistema capitalista em que vivemos.
Em
um dos seus últimos textos no jornal Folha de São Paulo, "Sobre
o morrer", publicado no fim de 2011, afirmou que não gostaria
de ter uma morte repentina, pois desejava conversar com as pessoas
que gostava ou simplesmente ficar em silêncio (antes de morrer, ele
ficou internado nove dias em Campinas).
Rubem
Alves, pensador libertário, deixa, além das inúmeras obras
escritas, frases extremamente bem escritas, que se parecem com
diamantes perfeitamente lapidados, levando-nos sempre a uma reflexão
do verdadeiro sentido da vida.
''Amar
é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,
a qualquer momento, ele pode voar”
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,
a qualquer momento, ele pode voar”
''Toda
alma é uma música que se toca.''
"Mas
na profissão, além de amar tem de saber. E o saber leva tempo pra
crescer."
Antes de morrer, Rubem Alves deixou uma carta inédita, da qual reproduzo alguns trechos:
''Sou
grato pela minha vida. Não terei últimas palavras a dizer. As que
tinha para dizer, disse durante a minha vida. Recebi muito. Fui muito
amado. Tive muitos amigos. Plantei árvores, fiz jardins. Construí
fontes, escrevi livros. Tive filhos, viajei, experimentei a beleza,
lutei pelos meus sonhos. Que mais pode um homem desejar? Procurei
fazer aquilo que meu coração pedia.''
''Não
tenho medo da morte, embora tenha medo de morrer. O morrer pode ser
doloroso e humilhante, mas à morte eis uma pergunta. Voltarei para o
lugar onde estive sempre, antes de nascer, antes do Big Bang? Durante
esses bilhões de anos, não sofri e não fiquei aflito para que o
tempo passasse. Voltarei para lá até nascer de novo.''
Nasça
de novo, Rubem Alves.
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