quarta-feira, 1 de abril de 2015

Lula na ONU ou em Brasília?

Por Fernando Castilho


E Lula acaba de proferir mais um discurso histórico no Sindicato dos Bancários de São Paulo.

Só ele mesmo para injetar um pouco de esperança nos já combalidos militantes que vêem dia a dia os sonhos de justiça social serem corroídos pelos últimos acontecimentos.

Em 1989, quando Lula foi derrotado por Fernando Collor, o moço bonito com voz mais bonita ainda, a elite brasileira comemorou a artimanha da Globo em editar o último debate. Não fosse isso, o sapo barbudo teria vencido.

Mas, segundo o que diz hoje, não teria feito um bom governo, nem construído as bases para sua sucessão.

Na campanha de 2002, como sempre, houve de tudo, mas ele venceu.

As classes média e alta do país diziam que o país iria à bancarrota sob o governo de um analfabeto.

Cansei de ouvir que Lula daria mal exemplo aos jovens, já que não veriam mais a necessidade de estudar para subir na vida.

Lembro de uma discussão com um parente sobre isso. Na ocasião argumentei que se seu filho resolvesse seguir o exemplo de Lula, que fosse primeiro viver uns tempos no agreste, para em seguida pegar um pau de arara para São Paulo, passando a viver por si só, começando de baixo, até se tornar Presidente da República, como ele.

Não conseguiria. Lula é um gênio na chamada Inteligência Emocional.

Depois que seu governo começou a apresentar bons resultados, as opiniões mudaram.

Passaram a dizer que não era Lula quem governava de fato, mas sim, seus assessores.

Lula cresceu muito em seu primeiro mandato. Melhorou muito seu Português, passando a exibir um vocabulário bem mais extenso do que antes, acertando nas concordâncias, mas sem abrir mão de seu estilo de se comunicar com o povão.

À essa altura, a elite teve que ficar calada.

O Brasil crescia, as pessoas passavam a ter maior poder de compra, mas nem por isso a classe média dava reconhecimento à Lula, preferindo creditar seu próprio sucesso ao seu esforço.

E veio o mensalão.

Foi a redenção das elites. Afinal, a virtude primeira do PT caia por terra.

E Lula, embora não tivesse nada a ver com as denúncias (fundadas ou infundadas, não vamos discutir isso neste espaço), sendo isentado por Roberto Jefferson, teve que conviver com leviandades do tipo ''ele sabia''.

Mas, apesar de todo o duro bombardeio diário da mídia, Lula conseguiu se reeleger em 2006.

Nova decepção para a direita.

O segundo mandato foi melhor ainda, quando se fortaleceram os programas sociais e o combate às desigualdades.

Ah, mas agora diziam que isso foi graças ao cenário econômico mundial extremamente favorável.

Esquecem-se que o dinheiro e o tolo logo se separam. Mas Lula não era esse tolo.

A torcida era tanta para que o homem de Guarunhuns tropeçasse (mesmo que isso prejudicasse o país), que quando o Banco Lehman Brothers faliu em 2008, jogando o mundo numa crise econômica da qual até hoje não se recuperou, a mídia, ao obter de Lula a frase que deveria soar tranquilizadora ''a crise vai ser uma marolinha'', explorou-a ao máximo, como se desejasse o contrário. Afinal, havia uma chance de sua desmoralização.

No mundo todo Lula era reconhecido. Num programa de debates políticos e econômicos na TV japonesa, a uma certa altura, o âncora, economista respeitado, ousou dizer que a saída para a crise do Japão seria Lula como Primeiro-Ministro! Todos os convidados assentiram em concordância.

Exageros à parte, há muitos mais exemplos de reconhecimento internacional quanto à importância de Lula.

Em 2010 Lula intermediou com sucesso um acordo nuclear entre o Irã e a Turquia. Não lhe faltaram críticas na imprensa por isso.

Em 2012 o recém-eleito Primeiro Ministro da Grécia, Alexis Tsipras, pediu conselhos a Lula e Dilma sobre economia.

Em 2014 o Primeiro Ministro da Suécia, Stefan Löfven, admitiu se inspirar em Lula.

Entre prêmios e honrarias, Lula tem mais de 30, além de 27 títulos de Doutor Honoris Causa de Universidades Nacionais e Internacionais.

Continuando...

Em 2005 a Ação Penal AP-470 muito convenientemente afastou qualquer possibilidade de Lula fazer de Zé Dirceu seu sucessor.

Mas mesmo com Mensalão, com bombardeio da mídia, quando a direita já comemorava por antecipação, Lula conseguiu eleger o improvável poste Dilma Rousseff, contra o blindadíssimo José Serra em 2010.

Lula deixou o governo com 80%, sagrando-se como o melhor presidente da História, para desespero da direita que achava FHC (26%) era o melhor.

Em 2011 não faltou quem desejasse que um câncer diagnosticado em Lula o vencesse. Mas quem venceu foi ele, frustrando a direita.

Dilma fez um bom primeiro mandato, apesar de seu estilo individualista.

Seu maior erro talvez tenha sido a quase ruptura com os movimentos sociais, embora os programas tivessem sido largamente ampliados.

Mas chegou junho de 2013...

Dilma, que ostentava um índice confortável de aprovação de 65% (Datafolha) em março, após os protestos de junho, que começaram contra o aumento de passagens de ônibus e metrô em São Paulo, despencou de um dia para outro para 30%!

A partir daí, sua reeleição ficou mais distante e difícil, mas mesmo assim, contra tudo e contra um Aécio Neves insensato, venceu.

Neste ano, ainda não foi possível Dilma governar com tranquilidade.

O escândalo da Petrobras, revelado pela Operação Lava Jato, e explorado ao máximo pela mídia, mexeu com o imaginário das pessoas, que passaram a ver o diabo no PT e na esquerda em geral.

Os fascistas saíram às ruas, não só para pedir seu impeachment, mas também a volta da ditadura.

Daí Lula reapareceu e, num discurso em fevereiro na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), convocou os militantes às ruas para defender a Petrobras, no que novamente foi criticado pela mídia por propor a luta de classes no país, como se ela já não estivesse sendo travada.

Veja que os nomes denunciados pelos delatores premiados da Lava Jato tem pouco a ver com petistas, e muito mais com pepistas, peemedebistas e, pasmem, com os peessedebistas da oposição!

O objetivo mais secretamente escondido pela direita, a mídia e a oposição, é a inviabilização da candidatura Lula para 2018.

Para a elite, suportar mais que 16 anos de governo petista é o fim.

Esta semana foi veiculada uma notícia dando conta da preferência de Barack Obama por Lula como Secretário Geral da ONU, em substituição a Ban Ki-moon. Notícia requentada por alguns portais que estão se notabilizando por criar ''fatos'' que criam falsas espectativas nas cabeças das pessoas.

Porém, apesar da antiguidade da notícia, é certo que a posição de Obama não mudou. Além disso, haveria a adesão de nomes de peso como François Hollande e Vladimir Putin.

O mandato de Ban Ki-moon vai até 2016. Lula precisaria se apresentar como candidato para uma das eleições mais fáceis de que já teria participado. Ou seja, basta ele querer.

Mas uma enxurrada de posts passaram a classificar a escolha do presidente americano como uma estratégia para que Lula não dispute em 2018.

O sapo barbudo na ONU, pela sua própria personalidade, e pela sua postura mais próxima ao Brics, mais interessante ao Brasil. daria muito trabalho aos americanos, não tenham dúvidas.

Mas, se Lula hipoteticamente aceitasse o cargo, como ficariam os coxinhas? Diriam que todo mundo é burro ao escolhê-lo? Ou que Obama é petralha?

Não há dúvida de que o Brasil precisa de Lula mais uma vez. Só ele seria capaz de unir novamente o país, dando rumo político e governabilidade.

Afinal, não é sempre que aparece uma liderança de tamanha envergadura.

Lula deve ir costurando já seu apoio com as esquerdas, com os movimentos sociais, uma base intelectual e entidades da sociedade civil mais próximas, além da defesa da Petrobras, do Estado de Direito e do governo.

E voltar a viajar pelo país, se pretende ser presidente mais uma ou duas vezes.







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