Adepto
e uma das maiores expressões da Teologia da Libertação, Dom Pedro
Casaldáliga foi ameaçado de morte inúmeras vezes, e alvo de vários
processos de expulsão do país durante os anos de chumbo.
Dom Pedro Casaldáliga |
O tempo passa, vou me tornando velho.
Lembro-me
dos anos de chumbo, do tempo da ditadura, em que surgiram nomes de
triste lembrança.
Os
generais que usurparam a Presidência da República e resgaram a
Constituição do país.
Os
políticos que deram sustentação ao regime, entre eles, Auro de
Moura Andrade, José Maria Alkmin, Filinto Müller, Armando Falcão,
Magalhães Pinto, José Sarney, Abreu Sodré, Aureliano Chaves,
Herbert Levy, Pedro Aleixo, Petrônio Portela, Flávio Marcílio,
Nelson Marchesan, Marco Maciel, Prisco Viana. Olavo Setúbal, Paulo
Egydio Martins, Jarbas Passarinho, Ney Braga. Paulo Maluf, Antônio
Carlos Magalhães, Antônio Delfim Netto,Roberto Campos e Mário
Henrique Simonsen.
Generais
repressores como Golbery do Couto e Silva, Newton Cruz e o coronel
torturador Brilhante Ustra.
A
lista é grande.
Alguns
já morreram (a maioria), e outros ainda estão vivos a desafiar o
dito popular ''aqui se faz, aqui se paga''.
Os
que compunham o Estado Maior do regime detinham o conhecimento de que
o golpe fôra financiado pelos Estados Unidos, sob pretexto de que
Jango transformaria o país numa ditadura comunista.
Os
do baixo clero, como o coronel torturador Brilhante Ustra e o
torturador e assassino de pelo menos uma dezena, Carlinhos Metralha,
ainda vivos, aparecem livres e faceiros defendendo o regime com unhas
e dentes, eles que eram os cães de guarda chamados a fazer o jogo
sujo, crendo até hoje que estavam nos salvaguardando dos comunistas.
Para isso não ousaram em torturar e matar as pessoas que lutavam
contra aqueles que defendiam a Constituição com suas vidas.
Outros
souberam se aproximar do regime para conseguir vantagens pessoais, no
talvez melhor exemplo acabado de corrupção não revelada, não
denunciada e não punida a que o Brasil foi exposto.
Neste
aspecto destacam-se Roberto Marinho que conseguiu no período,
apoiando a ditadura, construir o império que hoje é a Rede Globo,
Otávio Frias que usou a frota da Folha de São Paulo para apoio
logístico, Paulo Maluf que construia obras em conluio com
empreiteiras, Antonio Carlos Magalhães, José Sarney...A lista
também é enorme.
Mas
enquanto causa-nos revolta o fato de vários desses personagens ainda
estarem vivos e soltos, e os que já morreram não terem pagado por
seus crimes, enche-nos de esperança a iniciativa da jornalista Ana
Helena Ribeiro Tavares que se lança à tarefa nada fácil de
registrar a biografia de um homem, este sim, muito importante na
História deste país.
Através
do projeto intitulado ''Um bispo contra todas as cercas'', Ana Helena
arrecada doações para tornar possível a empreitada de biografar
Dom Pedro Casaldáliga, que aos 87 anos é bispo emérito da Prelazia
de São Félix do Araguaia.
Dom
Pedro é catalão de nascimento, nascido Pere Casaldàliga i Pla, e
veio para o Brasil em 1968, justamente durante o período mais duro
da ditadura militar, quando foi decretado o AI-5.
Adepto
e uma das maiores expressões da Teologia da Libertação, Dom Pedro
foi ameaçado de morte inúmeras vezes, e alvo de vários processos
de expulsão do país.
Nunca
se curvou à tirania, nunca desistiu de seus sonhos e nunca traiu
aqueles que nele acreditam.
Sua
frase ''Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e,
sobretudo, nada matar '' denota claramente em poucas palavras sua
maneira de pensar.
Dom
Pedro sempre esteve ao lado dos mais fracos e humildes, ao lado do
Estado de Direito, da Constituição do país que a ditadura insistiu
em rasgar e contra a injustiça social.
A
tarefa a que Ana Helena se propõe é difícil pois terá que se
deslocar várias vezes ao Araguaia e possivelmente até a Catalunha
em um prazo relativamente curto, uma vez que Dom Pedro está com
idade avançada e sofre do Mal de Parkinson.
Enquanto
aqueles nomes sombrios citados anteriormente tem que ser esquecidos
ou lembrados como modelos de pensamentos que não devem mais retornar
à mente das pessoas, outros como Dom Pedro Casaldáliga, Dom Tomás
Balduíno, Frei Betto ou Leonardo Boff tem que ser cristalizados,
pois esse sim foram dignos de viver.
A necessidade de que a História do Brasil sob o prisma progressista seja contada e ensinada é cada vez mais premente num ambiente em que vêm prevalescendo cada vez mais as ideias retrógradas e reacionárias, e para isso, certamente, o livro de Ana Helena será uma contribuição fundamental.
Para
apoiar o projeto de Ana Helena Ribeiro Tavares, acesse o link
http://www.kickante.com.br/campanhas/um-bispo-contra-todas-cercas
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