sábado, 29 de agosto de 2015

Uma leitura semiótica do boneco inflável de Lula

Por Fernando Castilho



Todo boneco é um símbolo, vamos combinar. Até a Barbie simboliza o sonho de toda menina em se tornar bela.

Mas talvez não haja abundância maior de signos em nenhum dos acontecimentos recentes da República do que nesse episódio do boneco inflável de Lula.

Lula por si só já é um símbolo, um ícone. Não há como desvincular sua figura da luta contra a pobreza. É seu símbolo maior.

Mas na História recentíssima do Brasil, há quem esteja tentando transformar esse símbolo em algo deplorável, tentando ligar a imagem de Lula ao crime.

As razões para isso?

Bem, quase que parafraseando Carlos Lacerda que declarou na televisão: "Juscelino [Kubitschek] não será candidato, se for candidato não será eleito, se for eleito não tomará posse, se tomar posse não governará", a elite brasileira viu com desdém a eleição de Lula em 2002.

Diziam: ''é presidente mas quem vai governar é sua equipe porque ele é analfabeto.''

Depois que os dois principais nomes de seu governo, Palocci e Dirceu caíram, a direita, tendo que reconhecer que era ele quem realmente governava, começou a dizer: ''este governo vai afundar o país''.

O país não afundou, muito pelo contrário, foram os melhores anos para a economia, a distribuição de renda, a justiça social e a realização de obras importantíssimas.

Então a conversa mudou: ''Lula é o chefe da quadrilha do mensalão.'' Mesmo tendo sido inocentado pelo delator Roberto Jeferson.

Chegamos a 2015 com a reeleição garantida por Dilma Rousseff.

A oposição não se conformou, grupos de direita começaram a atuar mais fortemente para a sua derrubada e a mídia insistia no impeachment.

Após as delações da Operação Lava Jato ficou evidente que o partido com menor culpa no cartório era o PT que teve dois nomes presos para investigação: Vaccari, o tesoureiro do partido, que sabe-se agora, deverá ser solto por absoluta falta de provas e José Dirceu, desta vez detido por ter recebido dinheiro por serviços prestados pelo seu escritório de consultoria. Sobre o ex-ministro, o juiz Moro está numa sinuca de bico, uma vez que a devassa nas contas de Dirceu revelou que ele na verdade está quebrado e com muitas dívidas.

Ficou absolutamente claro que Dilma Rousseff não tem seu nome envolvido em nenhuma denúncia da operação.

E mais, o maior corrupto dessa estória toda é o presidente da Câmara, Eduardo Cunha que os grupos de direita tanto admiram. O foco teve que mudar. Agora, ainda mais com a revelação de que Aécio também recebeu propina na lista de Furnas.

Os grupos de direita já na manifestação do dia 16 de julho lançaram o boneco inflável de Lula. Que agora é o alvo.

Comecemos a leitura dos símbolos.

O boneco inflável mostra um Lula de 15 metros de altura vestido de presidiário ostentando o número 13-171. 13, como sabemos, é o número do PT e 171 é o artigo do Código Penal que tipifica o crime de estelionato.

O símbolo é forte pois, embora contra Lula não pese nenhuma acusação, a não ser aquela, ridícula, que procura incriminá-lo por dar palestras e receber por elas e outra que tenta transformar em ilegal o fato do ex-presidente apresentar empresas brasileiras para executar obras no exterior, gerando divisas para o país, o que Clinton faz todo santo dia.

Outro símbolo identificado no boneco é seu custo de 12 mil reais. Símbolo de que não há no Brasil crise econômica que impeça alguém de jogar dinheiro fora dessa maneira.

Mais um símbolo: não há nota fiscal sobre a compra do boneco. Também não há recolhimento de impostos sobre a compra. Também não há proprietário. Todos símbolos de ilegalidades e hipocrisia, que é o modus operandi daqueles que bradam contra a corrupção do PT somente.

Agora o boneco (que ostenta o nome de pixuleko, com que a Polícia Federal batizou a propina que Vaccari teria recebido. Mais um símbolo!) que desfilava pelo Viaduto do Chá em São Paulo está resgado. Símbolo de que os fascistas foram feridos. Símbolo de que já há embate. Símbolo de que a boa e velha luta de classes não acabou no Brasil.

Os grupelhos fascistas de extrema direita tanto provocaram que receberam seu troco.

A estudante de Direito, Emmanuelle Thomaziello teria enfiado uma faca no boneco. Ela mesma, mais um símbolo. Desta vez uma estudante (são sempre eles?) e mulher tomou a iniciativa contra a direita. Símbolo da força dos jovens que pareciam apáticos e da mulher brasileira. Podem consertar o boneco, mas a partir de agora essa provocação não mais ficará sem reação.

Por fim, o símbolo maior de toda essa estória.

A Polícia de Alckmin, símbolo de atuação seletiva, de inoperância, de violência e de corrupção, deixou de investigar o atentado à bomba no Instituto Lula. Além disso, cometeu a chacina de 19 pessoas de Osasco e Barueri.

Instada a investigar o caso, está responsabilizando somente um PM e logo tudo será esquecido, podem crer.

Mas o B. O. contra o esfaqueamento do boneco foi lavrado, mesmo ele não tendo proprietário. E sem proprietário não há crime contra o patrimônio. A polícia está fazendo parícia! Acredite! Talvez façam uma autópsia. Emmanuelle também foi detida. Símbolo de uma polícia que está do lado da direita porque, sendo militar, tem origem justamente nos tempos da ditadura.

A mídia, que também não se importou com o atentado ao Instituto Lula, com a chacina e nem com o fato do boneco ofender injustamente a honra de um ex-presidente, parece que ficou indignada com a facada no boneco, coitado. Tenta apelar para o lado emocional das pessoas, como se ele fosse...fofinho. A mídia hoje é o símbolo maior de golpismo, manipulação de fatos, ilações e desonestidade.

Todo esse simbolismo revela que Lula é realmente a grande preocupação da direita que fará de tudo para prendê-lo mesmo sem crimes ou provas.

E para Lula fica cada vez mais claro que, embora não deseje, sua sina será governar o país mais uma vez. Talvez duas.

Bônus; símbolo da hipocrisia




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