Em
05 de agosto a Folha de São Paulo publicou uma matéria em que o
vice-presidente Michel Temer afirmava em reunião com líderes do
Senado, da Câmara e ministros do governo, que o país precisava de
alguém capaz de ''reunificar a todos'' na crise.
O
discurso procurou demonstrar que o governo reconhece que há uma
crise política e econômica que poderá se agravar perigosamente
caso não haja união e disposição.
A
dubiedade ficou por conta do termo ''alguém''. Quem seria?
Após
receber um puxão de orelhas da presidenta Dilma Rousseff, Temer
passou a negar que o ''alguém'' fosse ele mesmo.
E
eis que na Folha online de 7 de agosto a matéria continua publicada,
desta vez com um ''ERRAMOS''.
O
trecho foi retirado da reportagem? Então havia um trecho em que ele
se apresentava como o salvador da Pátria?
Para tirar dúvidas do que Temer teria afirmado, há também a versão de O Globo, onde não consta que ele teria dito isso.
Fica
a duvida: houve a repetição do ''podemos tirar se achar melhor'',
ou a Folha mentiu?
Temer
agiu ou não de maneira golpista?
Em
3 de setembro, o vice-presidente volta à carga. Desta vez, em um
encontro com empresários, organizado por uma tal de Rosangela Lyra
que integra o movimento ''Acorda Brasil'', que pede a renúncia da
presidenta. Temer afirmou que será difícil Dilma Rousseff chegar
ao fim do mandato com índices tão baixos de popularidade.
Lendo
a matéria a partir da manchete da Folha, o mundo desaba. Temer está
aplicando o golpe no governo, traindo Dilma.
Mas
o texto não diz isso.
Temer
afirma que a melhora no cenário político e econômico pode ajudar
Dilma a recuperar a confiança da população e que é preciso
trabalhar para isso. Afirmou ainda que ela não é de renunciar.
Agora,
por que raios um vice-presidente comparece a um evento organizado por
uma golpista? E ainda teve de ouvir,
irritado, a pergunta de um empresário: ''o senhor é estadista ou
oportunista?''.
Diante
da repercussão negativa, Temer tentou consertar o impasse ao
conceder entrevista ao jornal norte-americano The Wall Street
Journal. Na conversa, ele ressalta, desta vez, que Dilma vai encerrar
o mandato em 2018. "Você pode escrever isso: eu tenho certeza
absoluta que isso irá acontecer, que será útil para o País, que
não haverá nenhum tipo de perturbação institucional".
Depois
de todas essas declarações, fica claro o caráter duplo do
vice-presidente, tanto é que algumas charges já o caracterizam como
''o amigo da onça'', personagem do cartunista Péricles, publicado na antiga revista O Cruzeiro. Usa-se essa
expressão para definir a pessoa que diz ser amiga de outra, mas que
constantemente a coloca em situação constrangedora ou
vexatória, exatamente como tem feito Michel Temer.
Por
último, Temer acaba de desabafar, ao negar estar conspirando:
''deram-me o epíteto de asno''. Realmente, político habilidoso e
experiente que é, resta tentar saber o que realmente pretende.
Temer
só assumiria a presidência no caso de renúncia ou de impeachment
de Dilma. A renúncia está por enquanto descartada, portanto
restaria a hipótese cada vez mais afastada de impeachment.
Em
caso de cassação da chapa, ele cairia junto.
Então
estaria ele tentando desvincular sua imagem da de Dilma, visando uma
candidatura própria em 2018?
De
certa forma ele sinalizou isso ao afirmar que em 2018 o PMDB pode
indicar o candidato a presidente e o PT a vice.
Seria
ele esse candidato?
Em
2018 Temer estará com 77 anos.
A
chance é agora.
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