Charge: Vítor Teixeira |
O
governo federal recebeu muitas críticas após ter escolhido o tema
''Pátria Educadora'' como lema ou missão para 2015.
''Quer
esconder o descaso com a educação'', bradaram alguns.
''Dilma
é demagoga'', gritaram outros.
Outros
ainda classificaram a presidente de hipócrita, uma vez que a
educação parece que não avança no país.
Realmente,
poderia estar muito melhor.
Mas
será que Dilma arca sozinha com a responsabilidade?
Quantos
desconhecem que o governo federal repassa verba para os estados e
municípios administrarem as escolas estaduais e municipais?
Quantos
não sabem que em 2002 o orçamento federal para a educação foi só
de 17 bilhões, em 2014 cresceu para 94 bilhões e em 2015 atingiu
101 bilhões de reais?
Ah,
mas cortaram esse orçamento!
Ok,
o corte foi de 1 bilhão, é verdade. Mesmo assim, 100 bilhões!
A Folha de São Paulo noticiou o corte com sua costumeira maneira de
mostrar e omitir de acordo com o que lhe interessa. Não esclareceu
na matéria o montante do orçamento, só o corte.
Bem,
o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, manteve para 2015 os
mesmos 28,4 bilhões de reais, ''esquecendo-se'' que a inflação no
período foi de 7%, o que deveria resultar em 30,4 bilhões. Na
prática, cortou 2 bilhões de reais na educação! A mídia não deu
um pio, para variar.
Além
disso, seu projeto de ''reorganização'' e fechamento de 94 escolas
sem que houvesse diálogo com a população envolvida, demonstrou,
além de autoritarismo, descaso com a educação.
São
Paulo definitivamente não é um estado educador.
No
momento em que escrevo, 85 escolas foram ocupadas por seus alunos.
Trinta
dessas escolas apresentam, segundo o Estadão, desempenho acima da
média, o que dá a dimensão da irresponsabilidade do governador.
A
mídia trata o assunto como invasão, esquecendo-se que invasões são
ações executadas por entes externos a um território e nunca
pertencentes a ele.
Alunos
de escolas públicas são legítimos ocupantes desse espaço público.
Cabe a eles utilizá-lo na forma para o qual foi criado e zelar por
ele. Defender esse espaço público contra agressões também se
inclui aos seus deveres.
Nesse
período de quase duas semanas em que as ocupações foram começando
e chegaram a este espantoso número, fomos todos surpreendidos pela
atitude tomada por esses estudantes na maioria pobres sem condição
de pagar uma escola particular que possa facilitar seu ingresso numa
faculdade.
Esses
meninos e meninas, com estilo próprio de sua juventude, numa ação cívica defendem suas escolas contra a
invasão da polícia truculenta de Alckmin que quer tirá-los à
força. Demonstrações de violência por parte da polícia contra
estudantes e professores já aconteceram, sempre ocultadas pela mídia.
Típico modus operandi de governadores tucanos, vide Beto Richa no
Paraná.
Alckmin
já tentou até reintegração na posse, mas a justiça não concedeu
é claro. Reintegrar na posse só se aplica em casos em que o bem
público é invadido, o que não é o caso, como vimos acima.
Os
alunos limpam os pátios e salas de aula, cozinham alimentos doados
por várias entidades, inclusive o MST com seus orgânicos, fazem
vídeos para o youtube, aprendendo a se expressar melhor oralmente,
realizam reuniões e assembleias, etc..
O tiro de Geraldo Alckmin acaba saindo pela culatra.
Se
uma das intenções era de sucatear o ensino público para entregá-lo
de bandeja para a iniciativa privada, o governador conseguiu somente
que os estudantes aprendessem em apenas duas semanas o conteúdo de
um ano inteiro ou mais de Sociologia.
Nossos
estudantes agora também são mestres em cidadania, solidariedade e
organização.
Aprendem
também a prática democrática de votar decisões e acatá-las.
A
lição de vida que estão tendo vale muito mais que qualquer
trabalho acadêmico feito burocraticamente só para tirar nota e
passar de ano.
Indiretamente,
graças ao governador de São Paulo, surge uma nova geração que
saberá, já nas próximas eleições, escolher seus governantes e
representantes com mais consciência política e dar o troco na hora
certa.
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