sábado, 28 de novembro de 2015

Delcídio, um caso único de petista tucano preso

Por Fernando Castilho




Charge: Renato Aroeira

Fomos surpreendidos com uma gravação em que o senador Delcídio do Amaral explicava para o filho de Nestor Cerveró, Bernardo, sua estratégia ou plano para livrar o ex-diretor da Petrobras da cadeia.



Muito se falou e se comentou sobre a gravação da conversa do senador Delcídio do Amaral com o filho de Nestor Cerveró. Tentarei aqui uma visão mais abrangente do caso.

O Senador Delcídio do Amaral é o que se pode chamar de um petista pirata: parece petista mas foi construído como tucano.

Não é exagero nem forçação de barra para defender petista.

Registra a História que Delcídio foi diretor de Gás e Energia da Petrobrás, entre 2000 e 2001, quando trabalhou com Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa, dois dos delatores da Operação Lava Jato. Portanto, a quadrilha começou a ser montada no governo FHC, o que deveria obrigar o juiz Sérgio Moro, por dever de ofício, estender as investigações àquela época pois veem ao caso.

Em 2002 Delcídio elegeu-se senador já pelo PT. Mais tarde, já no governo Dilma, passou a ser líder do governo no Senado e no Congresso.

Um grande erro.

Delcídio já sofria muitas restrições dentro do partido uma vez que suas ligações com José Serra o posicionavam como uma espécie de quinta coluna destinada a cravar uma mudança na legislação do pré-sal para beneficiar a Chevron americana.

A gravação divulgada em 26 de novembro revelou uma outra face de Delcídio. Uma face secreta. Uma face corrupta. Uma face habituada a se fazer valer pelo seu cargo num país em que todos os outros são trouxas. Uma face soturna que se reúne com pessoas na calada da noite para tramar atos inomináveis.

Delcídio teve a ousadia de se reunir com Bernardo Cerveró, filho de Nestor, para oferecer seus serviços de senador para livrar o ex-diretor da Petrobras da cadeia de Moro.

Afirmou com extrema naturalidade que falaria com os ministros do STF, Teori Zavascki, Dias Toffoli e Edson Fachin a fim de obter um habeas corpus para Cerveró. Os escalados para conversar com Gilmar Mendes seriam Michel Temer e Renan Calheiros. Pelo tom da conversa, isso seria muito tranquilo, sem problemas.

A intenção era a de soltar Cerveró para que este fugisse para a Espanha a bordo de um avião Falcon de propriedade do banqueiro André Esteves, do banco BTG Pactual.

O áudio da conversa teria sido gravado por Bernardo Cerveró, que não o entregou imediatamente ao STF. Alguns dias se passaram até que os ministros se manifestassem pela prisão de Delcídio e de Esteves.

Aí sobram algumas indagações ainda sem resposta:

Delcídio, Temer e Renan conversaram com os ministros?

O que aconteceu durante esses dias? A ''fita'' ficou na gaveta?

Houve negociação de algum tipo?

Existem outros áudios?

O áudio foi editado para suprimir outras falas inconvenientes ou está no original?

O que será feito dos senadores Romário e José Serra, também citados no áudio?

Quem é o japonês bonzinho que faz os vazamentos?  Essa é fácil.

Após esse hiato de alguns dias, alguns sites divulgaram que Teori convocou às pressas todos os ministros para uma reunião. Especulava-se uma bomba.

E ela explodiu.

Delcídio e Esteves foram presos em flagrante. Flagrante que não existiu pois já se haviam passado mais de 24 horas após a gravação.

Outro erro foi avalizar a gravação como autêntica sem passar antes pela perícia.

Consultado por este blogueiro, Pedro Estevam Serrano, professor de Direito Constitucional da PUC-SP, afirmou que as prisões foram inconstitucionais pois flagrante permanente de crime de organização criminosa e perturbação do processo [da Lava Jato] é forçar muito a barra.

Além das considerações de ordem jurídica que apontam para o desrespeito à Constituição por parte dos ministros do STF que deveriam zelar pelo seu cumprimento, para nós, leigos, fica a imensa estranheza da prisão ultra-rápida de um senador enquanto o presidente da Câmara, Eduardo Cunha se mantém solto há já um mês.

Causa estranheza também o fato de André Esteves ter obtido cópia dos autos para que seus advogados pudessem fazer sua defesa, já que até o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo em meses passados fez pedido formal para leitura de processos sem lograr êxito.

Mais estranheza causa ainda a reação de indignação dos ministros do STF ao tomarem conhecimento do vazamento, coisa que ocorre corriqueiramente à mídia quando se trata de algum petista envolvido.

De qualquer forma foi ótimo que todo esse imbróglio tenha acontecido e divulgado.

Sabemos que Delcídio do Amaral, mas muito provavelmente também outros congressistas, se valem de conversas secretas em hotéis que podem estar sendo gravadas ou não, para que se obtenham vantagens.

A corrupção não descansa. Ela não dorme à noite como nós, simples mortais, e às vezes, para tentar consertar um erro, cria-se outro.

Delcídio temia que seu nome fosse delatado por Nestor Cerveró. Acabou metendo os pés pelas mãos. A emenda foi pior que o soneto.

Sabemos também que os ministros do Supremo não são incólumes ao jogo político como querem nos fazer acreditar.

Delcídio está prestes a bater um recorde no que tange à sua cassação pelo Conselho de Ética, aquele mesmo que poupará Eduardo Cunha.

Cunha está até agora livre porque ameaçou carregar mais gente com ele e provavelmente não está blefando.

Dizem que antes ou depois da cassação, Delcídio poderá entregar alguns outros nomes, mas duvido pois o conluio é de grande extensão e vozes mais altas haverão de calá-lo. Não sairá atirando, não é Cunha, penso eu.

O momento de passar o Brasil a limpo deveria ser este, mas perderemos o bonde da oportunidade pois tanto o juiz Sérgio Moro de Curitiba, quanto o STF continuarão na sua tarefa hercúlea de punir seletivamente os corruptos deste país.

E estejamos certos de que, se Dilma não for derrubada agora e se não fizer seu sucessor, as quadrilhas voltarão com força total. Todo mundo que não seja político do PT será solto e todos os processos serão engavetados.

Se já não se pode confiar no Supremo Tribunal Federal que deveria ser o órgão máximo de defesa da Constituição, quem poderá nos salvar?









Nenhum comentário:

Postar um comentário