segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Abrem-se as faixas e começa o espetáculo!

Por Fernando Castilho


Foto: André Lucas Almeida


Reprimir uma torcida de futebol na quinta-feira por abrir uma faixa criticando a Rede Globo pelo horário absurdo dos jogos foi a pior política adotada por Alckmin.
Controlar sua pulsão repressora no domingo, quando uma faixa contra ele também foi aberta, foi a mais sensata. 

O falecido narrador esportivo, Fiori Gigliotti tinha vários bordões.

Um dos mais conhecidos ele pronunciava no início dos jogos de futebol: ''abrem-se as cortinas e começa o espetáculo!''

Quinta-feira, 21 de fevereiro, jogo Corínthians X Capivariano.

Torcedores do alvinegro abriram uma faixa de protesto em que se lia: ''Rede Globo, o Corinthians não é seu quintal''. Outra com a frase: ''Jogo às 22h também merece punição'' , a respeito da programação de jogos de futebol às 22:00, após o Jornal Nacional e a novela.

A Polícia Militar de Geraldo Alckmin rapidamente entrou em campo. Ocorreram os costumeiros empurrões e sopapos e as faixas foram retiradas com base no Estatuto do Torcedor, art. 13-A parágrafo IV, que proíbe portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo.

Convenhamos, não era então o caso.

A PM só tomou aquela atitude ao cumprir ordens do governador que não quer que se proteste contra a Rede Globo, mídia que o protege e que lhe poderá ser bem útil caso seja indicado por seu partido a disputar a presidência da República em 2018. Toma lá, dá cá. Como fazem as empreiteiras ao fazer doações para campanhas.

Domingo, 14 de fevereiro, jogo Corínthians X São Paulo.

Torcedores do alvinegro abriram novamente suas faixas. Desta vez os dizeres eram outros:

''Futebol refém da Rede Globo''.

''Ingresso mais barato''.

''CBF, FPF, vergonha nacional''.

E a cereja do bolo, claro recado à Alckmin:

''Quem vai punir o ladrão de merenda?''

Meu pai me ensinou a ser corinthiano. Era no tempo do Rivelino.

O timão era o preferido das pessoas de origem humilde. Dos operários, dos pedreiros, dos ambulantes. Dos gambás, dos mal cheirosos, como as torcidas adversárias carinhosamente nos chamam.

E por isso, dos que mais precisavam reivindicar para melhorar suas vidas.

É daí que surgem o Dr. Sócrates, Casagrande, Wladimir, Zenon e a Democracia Corinthiana.

O diretor de futebol era Adilson Monteiro Alves, um sociólogo, vejam só, em plena ditadura militar, ou melhor, já no seu declínio.

Durou pouco, mas foram anos politizados aqueles que culminaram com a campanha pelas Diretas Já, com a participação de Sócrates.

A Gaviões tem razão ao protestar contra jogos às 22:00. Como encarar uma volta à casa depois da meia noite? E ter que trabalhar no dia seguinte? Desumano.

A ditadura da Rede Globo é cruel. Ela não quer faturar com novela ou futebol. Ela quer faturar com os dois. E que se dane o torcedor.

Os preços dos ingressos são realmente abusivos. Variaram de 100 a 180 reais no jogo da quinta-feira. Merecem protesto.

E sobre o desvio da merenda escolar, o governador tem mesmo muito a explicar.

A repressão, método utilizado por Alckmin para calar e abafar protestos contra ele, parece um tiro saindo pela culatra.

Foi assim quando a PM reprimiu violentamente os estudantes da rede pública estadual que protestavam contra o fechamento e reorganização de escolas. Vimos meninos e meninas, a princípio despolitizados, dando uma lição de cidadania ao ocupar as instituições de ensino, fazendo faxina e até consertos e pinturas. Deles e de suas famílias vai ser difícil arrancar votos para 2018.

Não se pode incorrer no erro de superestimar a torcida corinthiana imaginando que ela agora partirá em peso contra o autoritarismo do governador.

Mas é bom que Alckmin coloque as barbas de molho pois o protesto que começa de forma tímida, pode, de acordo com a reação, crescer e se tornar incontrolável.

Pior se as torcidas de outros clubes aderirem.

''Agora não adianta chorar!'', diria Fiori Gigliotti.

Foto: Agência Estado




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