Por Fernando Castilho
Foto: Reprodução | Twitter |
Governos costumam não dar muita atenção aos jovens. E muitas vezes são eles que os derrubam.
Durante a ditadura militar, a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UNES (União Nacional dos Estudantes Secundaristas) tiveram grande protagonismo na organização da luta dos jovens contra a ditadura.
O senador e ex-presidente Collor de Mello deve ter pesadelos até hoje com os chamados caras-pintadas, rapazes e moças que saíam às ruas para protestar contra seu governo e que tiveram importantíssimo papel em sua queda.
Bolsonaro tem sido “controlado” nos últimos meses pelo centrão do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira para falar menos e não se envolver em polêmicas, já que precisa reduzir sua grande diferença para Lula nas pesquisas eleitorais.
Não há dúvida de que, desde 2019, o primeiro ano de seu mandato, o capitão vem sendo muito menos um presidente e muito mais um fantoche nas mãos dos filhos olavistas, principalmente Carlos, de Paulo Guedes, dos generais, dos evangélicos e, mais recentemente, do centrão. Bolsonaro só é autêntico quando fala alguma bobagem. No mais, ele é bolinha de tênis, como ficou demonstrado no caso da propina dos pastores do ministro Milton Ribeiro.
Mas desta vez não foi um de seus costumeiros rompantes autoritários que fez com que ele se insurgisse contra o evento musical Lollapalluza após a artista Pabllo Vittar ter descido até a plateia com uma bandeira com a estampa de Lula. Foram os advogados de seu PL (Partido Liberal) que entraram com ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por crime eleitoral, rapidamente aceita em parte pelo ministro Raúl Araújo, ao que tudo indica, simpatizante dele. A decisão é inconstitucional porque fere o art. 5º, inciso IV da Carta Magna, que diz: "é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato". Deve ser derrubada em plenário, mas como o evento já terminou, ficará valendo seu aspecto simbólico.
Bolsonaro se esqueceu que jovens unidos por uma característica em comum, como o Lollapalluza, costumam reagir coletivamente. Além disso, a rebeldia, a transgressão e a necessidade de se expressar livremente fazem parte dessa fase da vida.
Se o capitão não tivesse tomado nenhuma atitude, o episódio da Pabllo poderia ter se configurado como uma manifestação isolada sem maiores consequências e esquecida no dia seguinte, mas seu perfil e de seu partido, marcados pelo autoritarismo os impede de raciocinarem friamente nessas horas e o resultado não poderia ser outro.
Grande parte dos artistas que se apresentaram se insurgiram contra a censura e puxaram o coro “Ei Bolsonaro, vai TNC!”
Como se não bastasse, Marcelo D2 do grupo Planet Hemp ainda puxou o clássico “Olê, olê, olê, olá, Lula”. E o povo correspondeu!
Qual o alcance dessa patuscada?
Milhares de jovens com idade entre 16 e 18 anos presentes, podem, enfim, ter se decidido a tirar o título de eleitor e votar em Lula, a antítese de Bolsonaro, seu novo inimigo. Além disso, temos que considerar os que já têm mais de 18 anos que também são inúmeros.
Não nos esqueçamos das famílias desses jovens e do alcance que os veículos de comunicação deram ao caso. O Brasil inteiro repercutiu.
Isso pode ser o início de uma reação do povo contra esse governo que já destruiu boa parte do país e de seu processo civilizatório.
Bolsonaro impôs sua marca, a da censura.
E censura nunca é coisa boa, pois cala a boca já morreu, como disse Lulu Santos.
Censura é marca da ditadura.
Bolsonaro atiçou o formigueiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário