Por Fernando Castilho
Hieronymus Bosch |
Sou
uma pessoa guiada fortemente pela razão e, por isso, tenho como hábito estranhar
certos comportamentos que fogem da lógica mais elementar.
Todos
vimos o presidente da República pagar pra ver, se arriscando a passar por um
vexame internacional cujas consequências à sua campanha pela reeleição seriam
logicamente danosas. A imprensa, dois dias antes, já alertava para o desastre.
A apresentação a 40 embaixadores foi, mesmo assim, posta em prática e não deu outra. A grande maioria dos diplomatas presentes conhece muito bem nosso sistema de apuração de
A mídia internacional condenou a fala de Bolsonaro e o Departamento de Estado norte-americano deu-lhe um puxão de orelhas ao afirmar que as urnas eletrônicas são um exemplo para o mundo.
Mas
a tresloucada aventura do capitão não foi um coelho retirado da cartola somente
por ele. Os cupinchas presentes no evento compartilham das mesmas ideias e das
mesmas estratégias que, aos poucos, vão minando sua candidatura frente um
adversário que vem ostentando até agora uma sólida campanha.
Os
generais Braga Netto e Augusto Heleno estavam presentes, o que indica apoio à
estratégia suicida.
Mas
não é só isso.
Embora
não presentes, observa-se, por declarações em redes sociais, que os filhos do
presidente também compartilham de sua jornada em direção à derrota.
É aí
que precisamos parar para pensar no que pode estar por trás disso.
Estamos
assistindo quase todos os dias Bolsonaro participando de motociatas e fazendo
discursos direcionados à parcela da população que o apoia cegamente, em que,
invariavelmente ataca o TSE e as urnas eletrônicas. Para o senso comum, esse
comportamento parece campanha eleitoral, mas, na verdade, não é. Se fosse mesmo
campanha eleitoral, ele estaria falando em reduzir a inflação, anunciando
medidas econômicas para gerar empregos, etc.
O
mais lógico parece ser a intenção de Bolsonaro de não chegar a 2 de outubro,
dia da eleição, porque percebeu que as intenções de voto já estão cristalizadas
há muito tempo e não existe até o momento nenhum fato novo, nenhuma facada,
capaz de alterar esse estado de coisas. O que ele está fazendo, na realidade, é
campanha para preparar seus seguidores para se insurgirem contra o processo
eleitoral. Preparando para um confronto.
O
capitão está tentando aglutinar forças entre seus seguidores, as polícias,
federal, dos estados e municípios, setores das Forças Armadas e parlamentares
de sua base de apoio para melar as eleições, já em 7 de setembro.
Temendo
a enxurrada de processos e consequente prisão por mais de 40 crimes de
responsabilidade que estão elencados em mais de 150 pedidos de impeachment
sobre os quais o presidente da Câmara, Arthur Lira olimpicamente se senta, não
resta ao capitão outra alternativa que não um golpe.
É
por isso que os cupinchas mais próximos e seus filhos parecem marchar
resolutamente em direção ao precipício. Não são bobos. Sabem que não podem
vencer as eleições.
Porém,
as Forças Armadas, em sua grande maioria, não estão interessadas nessa
aventura. Isso já foi demonstrado pela falta de adesão dos principais
comandantes militares, ainda mais depois da declaração do Departamento de
Estado norte-americano.
A
grande imprensa, que até outro dia vinha sendo reticente, agora, talvez já
percebendo a real possibilidade de tentativa de golpe, já se posiciona
contrariamente a Bolsonaro, principalmente depois dos assassinatos do
jornalista britânico Dom Philips, do indigenista Bruno Pereira e do petista
Marcelo Arruda, além da apresentação vexatória aos embaixadores.
Os
movimentos sociais, a sociedade civil, os artistas, os intelectuais e, mais
recentemente, os procuradores do ministério público, já se organizam para
rechaçar qualquer tentativa de golpe.
Bolsonaro
a cada dia mais parece um touro inconformado em direção a um inevitável
matadouro.
Vai mugir,
soprar forte pelas ventas, se sacudir e espernear inutilmente até seu destino implacável
que será a prisão por tentativa de golpe.
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