Por Renato Rovai
É
hora de olhar para o seu filho e seu neto e dizer, eu não vou deixar você viver
numa ditadura. E depois do dia 30 poder se orgulhar de contar essa história
para ele, que você fez de tudo naquela eleição que tirou o Brasil das mãos de
um déspota. E venceu.
A grande batalha da nossa geração é aqui e agora. Isso acontece a cada 50 anos, às vezes 100 num país.
Há
pessoas que vivem sem ter contato com um momento histórico tão delicado, grave
e angustiante. E que às vezes no fim se torna exultante.
No
Brasil, quem viveu o golpe de 64 sabe do que estou falando. Quem era vivo na 2ª
guerra mundial, ainda restam alguns, também.
É
aquele período onde parece que estamos decidindo um século.
Imaginem
por exemplo o que seria do mundo se a Alemanha tivesse vencido aquela guerra.
Seríamos um mundo dominado pelo nazismo por quanto tempo? Estaríamos nós filhos
e netos daquela geração ainda sob os domínios do Reich?
Pode
parecer exagerado o que vou dizer, mas o Brasil está do ponto de vista da sua
história vivendo um momento semelhante, que não parece ter potencial para
afetar a vida de muitos outros países, mas afetará com certeza umas décadas da
nossa história enquanto país. Mudará o destino de ao menos uma geração.
Se
Lula vencer a eleição, muito provavelmente ele só fará um mandato de quatro
anos, cumprirá a Constituição, terá um governo de centro na economia e mais à
esquerda nas questões sociais. Seu destino é sair da política em 2026 e ir para
casa curtir a vida com a sua atual companheira Janja.
Nas
eleições de 2026 teremos algumas candidaturas que apoiaram seu governo e
provavelmente um Bolsonaro ou um bolsonarista disputando pela extrema-direita
com menos força porque não contará com o aparelho do Estado para usá-lo
eleitoralmente.
E se
Bolsonaro ganhar, o que teremos? Um governo despótico que mudará a Constituição
tirando todas as suas conquistas em áreas ambientais, da infância, dos direitos
humanos, das liberdades individuais, entre outros pontos. Uma mudança na
conformação do STF que passará a ter 15 ministros e que será uma extensão do
executivo. Muito provavelmente também teremos a cassação de ministros como
Alexandre de Moraes e a mudança da legislação eleitoral voltando à urna com
cédulas que permitem mais fraudes e a reeleição por tempo indeterminado. Sim,
Bolsonaro, se reeleito, não se contentará em ficar apenas até 2026. Seu projeto
é de se tornar um ditador que vai conquistando pelo voto, com fraudes, mandatos
indefinidos. Temos exemplos disso no mundo, tanto de governos mais à esquerda,
mas principalmente à direita. Viktor Orbán é sua referência. Pesquisem sobre o
que acontece na Hungria para terem uma visão mais concreta do risco que estamos
correndo.
Mas
o que fazer quando se está diante de um cenário desses? Resmungar no Instagram,
Facebook ou grupos de WhatsApp? Ficar xingando aquele familiar que fica
repetindo que o Lula é ladrão? Se encolher e dizer que você já achava que
Bolsonaro podia vencer as eleições?
Não,
amigas e amigos. Não podemos cair nessa armadilha. É hora de arregaçar as
mangas e enfrentar o desafio colocado para a nossa geração com todas as forças.
É hora de cada sindicato, ONG, Centro Acadêmico, movimento social, organização
de bairro se transformar numa daquelas igrejas evangélicas onde o pastor faz
jejum com seus fiéis e fica orando na noite da eleição. É hora de tirar férias
do trabalho, de tirar da agenda outros compromissos sociais, de deixar aquela
viagem pra depois do dia 30 e ir pra rua e para as redes trabalhar de forma incansável.
É
hora de organizar nossa tropa e parar de chororô porque o Datafolha deu 6% de
frente para o Lula. Sim, para o Lula. Imaginem se fosse ao contrário. Além de a
Quaest ter dado 8% e o Ipec 10%.
O
favoritismo ainda está do lado da democracia e faltam 22 dias para este
pesadelo acabar. Vamos ganhar bem no Nordeste e podemos empatar ou virar em São
Paulo e Rio de Janeiro. O Datafolha de ontem, por exemplo, deu 46% a 44% para
Bolsonaro em São Paulo. É um resultado espetacular. Haddad está perdendo de 50%
a 40%, mas tem capacidade para demolir Tarcísio nos debates. Será que isso não
pode melhorar seus índices? Será que não dá tempo de criar uma onda?
Evidente
que é razoável estar preocupado com o cenário de demolição que a vitória de
Bolsonaro enseja. Mas a preocupação não pode virar nem medo nem pessimismo. Ela
precisa nos tirar da zona de conforto. Dos nossos papos de bares com os mesmos
amigos de sempre. Precisa nos fazer entrar em coletivos de campanha e ir
disputar votos em todos os cantos das redes e das ruas que tiver ao nosso
alcance.
Vamos
combinar uma coisa também, não reclame da campanha até dia 30. Faça campanha.
Depois teremos novembros, dezembros, janeiros e muito tempo pra fazer
avaliações. Tem coisa errada, claro que tem. Mas Lula teve 48,5% dos votos no
dia 2 de outubro e ainda está na frente. Deixem o desespero para o lado de lá.
É hora de lutar por nós e pelos que precisam de nós. É hora de olhar para o seu
filho e seu neto e dizer, eu não vou deixar você viver numa ditadura. E depois
do dia 30 poder se orgulhar de contar essa história para ele, que você fez de
tudo naquela eleição que tirou o Brasil das mãos de um déspota. E venceu.
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