terça-feira, 13 de maio de 2014

O manto de invisibilidade e blindagem de Alckmin

Por Fernando Castilho

Geraldo Alckmin está no Governo de São Paulo desde 1995, quando era vice de Mário Covas. Após um hiato de 4 anos, entre 2007 e 2010, voltou em 2011 ao governo. São, portanto, 15 anos à frente do Palácio dos Bandeirantes.

Alguém percebeu isso? 15 anos! O mesmo governador!


Difícil se perceber quando se trata de um governador que permaneceu invisível durante anos. Mas por que invisível?
Simplesmente porque não aparece. Não sai na mídia. Ninguém comenta. Só aparece em época de eleição com seu velho bordão: ''É preciso cuidar das pessoas''. Por causa disso, ganhou até o apelido de ''picolé de chuchu'' (sem gosto, sem sabor).

Mas por que não se fala dele?
Primeiro: dois dos maiores problemas que afligem o povo brasileiro, todo mundo acha que é competência única e exclusiva do Governo Federal, no caso, Dilma: Saúde e Educação. Mas não é.
Justamente duas áreas que contam com recursos vultosos que crescem a cada ano, mas que não são contemplados com uma gestão competente e eficiente.
Lembre-se que o Ensino Fundamental e o Ensino Médio são competência dos governos estaduais. Mas quem acaba levando a culpa pelas deficiências nessas áreas é sempre o Governo Federal. O Governador fica invisível. E tome paulada na Dilma (lembram-se das ''jornadas de junho''?).

Alckmin ao privatizar uma série de serviços que o Governo prestava, acabou tendo seu rol de responsabilidades reduzido.
Vejam o caso das estradas estaduais: foram privatizadas.
A Eletropaulo: foi privatizada.
A Telesp: foi privatizada.

Outras competências do Governo Estadual são as Universidades Estaduais, o Hospital das Clínicas, a Companhia do Metrô e a Sabesp.

São três as Universidades sob o comando de Alckmin, a USP, a UNICAMP e a UNESP. Todas contam com suas respectivas reitorias que lhes garantem autonomia de administração. Alckmin só envia os recursos.

O Hospital das Clínicas é uma autarquia do Governo do Estado que possui também administração autônoma. Alckmin só envia os recursos.

A Companhia do Metrô é uma empresa de capital misto cujo maior acionista é o próprio Governo do Estado. Alckmin não precisa enviar recursos. O Metrô se autosustenta. E não falaremos aqui do enorme esquema de corrupção denunciado recentemente.
E olhe que há incompetência também no Metrô, não?
Operando desde 1974, portanto, há 40 anos, só possui 75,5 km de ferrovia distribuídos em 5 linhas. Lamentável.

A Sabesp é uma concessionária de economia mista cujo maior acionista é o próprio Governo do Estado. Possui ações nas Bolsas de Valores de São Paulo e Nova Iorque, tendo lucrado 4 bilhões de reais só no Governo Alckmin. A Sabesp dá lucro para o Governo. Veja mais no final do texto.

Uma atribuição que Geraldo Alckmin tem de fato, que está diretamente em suas mãos é a Segurança Pública. Deveria ser seu único motivo para ter dores de cabeça. Mas ele não tem. Ele cuida da Segurança com a preguiça dos que tem pouca coisa pra fazer durante o dia. Sua indolência é tão grande nessa área, que até o PCC demonstra ter mais interesse em se ocupar dela.

Outro fator que lhe confere invisibilidade é a blindagem que a mídia lhe faz. Nada é com ele. Nada é contra ele. Ele sempre faz tudo muito bem feito. Para a imprensa, é um administrador competente.

O Governo Federal, ao contrário, tem muita visibilidade. Não passa um dia sequer sem que Dilma apareça em algum jornalão. E sempre pra sofrer críticas. Por que? Ora, governar significa criar projetos, programas, planejamentos para melhorar a vida do povo. Acerte ou erre, sempre haverá críticas. Os jornais vivem disso. Com relação à Prefeitura de São Paulo ocorre o mesmo. Haddad que o diga.

Mas quanto ao Alckmin, qual o projeto, qual o programa que ele criou? Nada. Há 15 anos no governo e nada foi feito.
Geraldo Alckmin
Foto: Jorge Félix

O Rio Tietê continua poluído desde o tempo do Fleury quando se iniciou o projeto de despoluição. São 22 anos! O Japão já emprestou dinheiro a fundo perdido, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) já emprestou dinheiro, foram muitos outros contratos de empréstimo, e nada resolvido. A última promessa de solução foi feita no dia 13 de dezembro, quando o governador assinou com o presidente francês, François Hollande, acordos de cooperação.

E o Rodoanel, nhéin? Sua construção se iniciou em 2008, há 16 anos, e está longe de ser concluído. Muitas tentativas de instalação de CPI foram feitas devido a várias denúncias de irregularidades, mas todas foram abafadas pela situação na Assembléia Legislativa do Estado.

A criminalidade só aumentou no seu governo. O PCC parece um braço auxiliar dentro da (In)segurança Pública. Manda e desmanda. A Polícia Militar que poderia ter sido objeto de um projeto de Alckmin para sua desmilitarização, está cada vez mais violenta.
A aplicação dos recursos da Educação poderia ter garantido uma recuperação salarial para os professores da rede estadual, mas o que vemos é cada vez mais arrocho e contratações temporárias sem concurso.

Mas, por mais que Alckmin tenha tentado se esconder no seu manto de invisibilidade, de uns tempos pra cá, tem aparecido bastante na mídia. Não por conta da campanha para sua reeleição (sim, o homem quer ficar mais 4 anos!), mas por causa das graves denúncias do propinoduto tucano e, mais recentemente do problema da falta de água.

A Sabesp, que tem a atribuição de fornecer água e saneamento aos paulistas, hoje é uma empresa que investe em ações na bolsa. Nada errado em se fazer isso, desde que os bônus e dividendos sejam repassados para investimentos em infra-estrutura e produção de água, o que, absolutamente não foi feito ao longo destes 15 anos de Governo Alckmin.

Só não dá lucro para a população do Estado, que sofre agora com um racionamento de água devido à incompetência do governador em não investir em captação de água. O reservatório da Cantareira está com 8% de sua capacidade.

Albano Araújo, coordenador de Conservação de Água Doce da The Natural Conservancy, organização mundial de preservação ambiental afirma:
"Documentos de 15, 10 anos atrás, como a própria outorga do Sistema Cantareira (de 2004), já previam que a demanda por água em São Paulo seria maior que a capacidade do manancial". Leia mais aqui.

O professor aposentado da Escola Politécnica da USP e engenheiro de hidráulica e saneamento Julio Cerqueira Cesar, um dos maiores especialistas na área, diz:
O governo não investiu na ampliação de mananciais, são os mesmos de 30 anos atrás. Nesse período, a população cresceu em 10 milhões de pessoas (saltou de 12 milhões para 22 milhões). Os mananciais existentes não são capazes de atender a essa demanda. Essa é a grande causa da falta de água em São Paulo”. Leia mais aqui.

Isso demonstra que Alckmin se desvencilhou de uma competência sua ao deixar na mão da Sabesp a questão do abastecimento de água em São Paulo.
Fosse ele de fato um Governador, não deixaria a crise chegar a esse ponto.

Peca sempre por omissão e se esconde sob um manto de invisibilidade e blindagem.

charge: pataxó










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