domingo, 1 de junho de 2014

Por que Joaquim Barbosa não é Lula

Por Fernando Castilho


Luís Inácio Lula da Silva e Joaquim Barbosa.

Duas origens, duas histórias.

Os dois nasceram em famílias muito pobres. Um no sertão de Pernambuco, Caetés, distrito de Guaranhuns, e outro em Minas Gerais, Paracatu.

Barbosa é o primogênito de oito filhos. Pai pedreiro e mãe dona de casa, passou a ser arrimo de família quando estes se separaram. Aos 16 anos foi sozinho para Brasília, arranjou emprego na gráfica do Correio Braziliense e terminou o segundo grau, sempre estudando em colégio público. Obteve seu bacharelado em Direito na Universidade de Brasília, onde, em seguida, obteve seu mestrado em Direito do Estado.

Lula é o sétimo dos oito filhos de um casal de lavradores analfabetos que vivenciaram a fome e a miséria na zona mais pobre de Pernambuco.

As semelhanças param por aí.


Joaquim Barbosa mesmo sendo arrimo de família, procurou desde cedo trabalhar e estudar, e norteado pela meritocracia, perseguiu como nenhum outro seus objetivos.

As dificuldades que lhe surgiram pela frente foram enormes. Negro e pobre, Barbosa não se deixou intimidar e foi rompendo barreiras, formando-se bacharel em direito, mais tarde mestrado, chegando a ser juíz, até que Lula o colocou na presidência da mais alta corte do país.

Lula, ao contrário, não conseguiu prosseguir nos estudos. Fez o curso de torneiro mecânico no Senai e já começou a trabalhar.

Entrou para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema e, ladeado por companheiros com a mesma origem nordestina, a saber, Vicentinho, Manoel Anísio, Djalma Bom (este mineiro) e outros, sentiu-se em casa para presidir a entidade.

Durante as greves do ABC, despontou como sua maior liderança, pagando caro por isso quando foi preso pela ditadura militar.

Não se deixando intimidar, fundou o Partido dos Trabalhadores, enquanto que os sindicatos alinhados com o pensamento do partido se congregaram na CUT.

Após 2 tentativas fracassadas, Lula se elegeu Presidente do Brasil. Mais tarde teria a honra de indicar Joaquim Barbosa para a presidência do STF.

Entender os caminhos que cada um seguiu na vida, desde a infância até o atual momento, quando JB decide se aposentar, pode ser fundamental para que compreendamos os motivos pelos quais o magistrado tanto se empenhou, de forma obssessiva, para condenar os réus da Ação Penal 470, apelidada de processo do mensalão. E também para compreender por que ele não dá mole para José Dirceu e José Genoíno.

Barbosa, desde cedo percebeu que a única maneira de vencer na vida seria jogar o jogo da direita. Abraçar a meritocracia. Comer o pão que o diabo amassou. Não revidar às ações preconceituosas que deve ter sofrido de quem não gostaria que um negro se tornasse advogado. E depois juíz.

Para jogar o jogo teria que se esquecer de sua infância pobre, de sua cor, e procurar a qualquer custo, entrar na elite que governa o país.

Para isso, obteve aquela ajuda de Lula, para quem, seria interessante que o país tivesse pela primeira vez um negro na chefia de um dos três poderes que regem a Nação.

Agora JB já estaria em condições de se firmar definitivamente como elite no país.

Comprou apartamento em Miami, reformou um banheiro no seu apartamento funcional ao custo de 70 mil reais, usou de sua influência para empregar o filho (que não teria que passar por tudo aquilo que ele passou).

Era chegada a hora de se vingar.

A vingança seria contra aqueles que lutavam para reduzir as desigualdades do país.
Gente como Zé Dirceu que não teve infância pobre como ele, mas se arvorava no direito de facilitar a vida de pessoas que nasceram miseráveis, e que como ele, deveriam lutar sozinhos contra todas as adversidades para vencer na vida.

Vingança contra aqueles que criavam cotas para negros nas faculdades, facilidade a que ele não tivera direito.

Vingança contra aqueles que promoviam o Enem, Prouni e cursos profissionalizantes como o Pronatec.

Contra aqueles que lutavam para que os brasileiros tivessem mais oportunidades, pudessem ter comida em casa, pudessem estudar, pudessem ter casa, enfim, tudo aqui que ele não teve.

E como ele se fez sozinho, por que outros não deveriam fazer o mesmo, não deveriam passar por tudo o que ele passou, até chegar onde chegou?

E Lula?

Ora, este nem sequer estudou, mas havia chegado ao cargo mais elevado da Nação.
Como pode?

Barbosa não se conteve. Era preciso que seu cargo tivesse maior visibilidade que o do Presidente da República.

Era necessário achar uma forma de mostrar ao povo que ele sim, era a figura mais importante do Brasil.

A ajuda da mídia veio em boa hora.

Em pouco tempo lá estava Joaquim Barbosa nas manchetes de todo o país. O homem que contra os poderosos fez a justiça no Brasil.

Que destemidamente enfrentou Lula, Dilma e o PT, condenando figuras políticas da mais alta expressão, mesmo que sem provas, numa incrível demonstração de amadorismo impróprio para o cargo, baseado na teoria do Domínio do Fato, totalmente em desuso e aplicada de forma errônea.

Mas não importa, ele vencera.

E ainda haveria de não dar trégua, impedindo Dirceu de trabalhar, não lhe dando o direito líquido e certo do regime semi-aberto, etc..

Lula, ao contrário, talvez por não ter a meritocracia como filosofia de vida, jamais tomou atitudes rancorosas em sua vida.

É por isso que ele promoveu a maior revolução no país em termo de redução das desigualdades, criando o Bolsa-família, justamente por nunca se imaginar como elite no Brasil.

Muitos especulam sobre o futuro de Joaquim Barbosa.

A maioria acha que ele apoiará algum candidato da oposição nas próximas eleições. Outros acham que em 2018 ele próprio será o candidato a presidente do Brasil.

Na minha opinião, Joaquim Barbosa já conseguiu os troféus que queria.

A vingança já está completa.

Mas não está de bom tamanho para ele. Ainda falta o posto maior.






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