Luís
Inácio Lula da Silva e Joaquim Barbosa.
Duas
origens, duas histórias.
Os
dois nasceram em famílias muito pobres. Um no sertão de Pernambuco,
Caetés, distrito de Guaranhuns, e outro em Minas Gerais, Paracatu.
Barbosa
é o primogênito de oito filhos. Pai pedreiro e mãe dona de casa,
passou a ser arrimo de família quando estes se separaram. Aos 16
anos foi sozinho para Brasília, arranjou emprego na gráfica do
Correio Braziliense e terminou o segundo grau, sempre estudando em
colégio público. Obteve seu bacharelado em Direito na Universidade
de Brasília, onde, em seguida, obteve seu mestrado em Direito do
Estado.
Lula
é o sétimo dos oito filhos de um casal de lavradores analfabetos
que vivenciaram a fome e a miséria na zona mais pobre de Pernambuco.
As
semelhanças param por aí.
Joaquim
Barbosa mesmo sendo arrimo de família, procurou desde cedo trabalhar
e estudar, e norteado pela meritocracia, perseguiu como nenhum outro
seus objetivos.
As
dificuldades que lhe surgiram pela frente foram enormes. Negro e
pobre, Barbosa não se deixou intimidar e foi rompendo barreiras,
formando-se bacharel em direito, mais tarde mestrado, chegando a ser
juíz, até que Lula o colocou na presidência da mais alta corte do
país.
Lula,
ao contrário, não conseguiu prosseguir nos estudos. Fez o curso de
torneiro mecânico no Senai e já começou a trabalhar.
Entrou
para o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema e,
ladeado por companheiros com a mesma origem nordestina, a saber,
Vicentinho, Manoel Anísio, Djalma Bom (este mineiro) e outros,
sentiu-se em casa para presidir a entidade.
Durante
as greves do ABC, despontou como sua maior liderança, pagando caro
por isso quando foi preso pela ditadura militar.
Não
se deixando intimidar, fundou o Partido dos Trabalhadores, enquanto
que os sindicatos alinhados com o pensamento do partido se
congregaram na CUT.
Após
2 tentativas fracassadas, Lula se elegeu Presidente do Brasil. Mais
tarde teria a honra de indicar Joaquim Barbosa para a presidência do
STF.
Entender
os caminhos que cada um seguiu na vida, desde a infância até o
atual momento, quando JB decide se aposentar, pode ser fundamental
para que compreendamos os motivos pelos quais o magistrado tanto se
empenhou, de forma obssessiva, para condenar os réus da Ação Penal
470, apelidada de processo do mensalão. E também para compreender
por que ele não dá mole para José Dirceu e José Genoíno.
Barbosa,
desde cedo percebeu que a única maneira de vencer na vida seria
jogar o jogo da direita. Abraçar a meritocracia. Comer o pão que o
diabo amassou. Não revidar às ações preconceituosas que deve ter
sofrido de quem não gostaria que um negro se tornasse advogado. E
depois juíz.
Para
jogar o jogo teria que se esquecer de sua infância pobre, de sua
cor, e procurar a qualquer custo, entrar na elite que governa o país.
Para
isso, obteve aquela ajuda de Lula, para quem, seria interessante que
o país tivesse pela primeira vez um negro na chefia de um dos três
poderes que regem a Nação.
Agora
JB já estaria em condições de se firmar definitivamente como elite
no país.
Comprou
apartamento em Miami, reformou um banheiro no seu apartamento
funcional ao custo de 70 mil reais, usou de sua influência para
empregar o filho (que não teria que passar por tudo aquilo que ele
passou).
Era
chegada a hora de se vingar.
A
vingança seria contra aqueles que lutavam para reduzir as
desigualdades do país.
Gente
como Zé Dirceu que não teve infância pobre como ele, mas se
arvorava no direito de facilitar a vida de pessoas que nasceram
miseráveis, e que como ele, deveriam lutar sozinhos contra todas as
adversidades para vencer na vida.
Vingança
contra aqueles que criavam cotas para negros nas faculdades,
facilidade a que ele não tivera direito.
Vingança
contra aqueles que promoviam o Enem, Prouni e cursos
profissionalizantes como o Pronatec.
Contra
aqueles que lutavam para que os brasileiros tivessem mais
oportunidades, pudessem ter comida em casa, pudessem estudar,
pudessem ter casa, enfim, tudo aqui que ele não teve.
E
como ele se fez sozinho, por que outros não deveriam fazer o mesmo,
não deveriam passar por tudo o que ele passou, até chegar onde
chegou?
E
Lula?
Ora,
este nem sequer estudou, mas havia chegado ao cargo mais elevado da
Nação.
Como
pode?
Barbosa
não se conteve. Era preciso que seu cargo tivesse maior visibilidade
que o do Presidente da República.
Era
necessário achar uma forma de mostrar ao povo que ele sim, era a
figura mais importante do Brasil.
A
ajuda da mídia veio em boa hora.
Em
pouco tempo lá estava Joaquim Barbosa nas manchetes de todo o país.
O homem que contra os poderosos fez a justiça no Brasil.
Que
destemidamente enfrentou Lula, Dilma e o PT, condenando figuras
políticas da mais alta expressão, mesmo que sem provas, numa incrível demonstração de amadorismo impróprio para o cargo, baseado na
teoria do Domínio do Fato, totalmente em desuso e aplicada de forma
errônea.
Mas
não importa, ele vencera.
E
ainda haveria de não dar trégua, impedindo Dirceu de trabalhar, não
lhe dando o direito líquido e certo do regime semi-aberto, etc..
Lula,
ao contrário, talvez por não ter a meritocracia como filosofia de
vida, jamais tomou atitudes rancorosas em sua vida.
É
por isso que ele promoveu a maior revolução no país em termo de
redução das desigualdades, criando o Bolsa-família, justamente por
nunca se imaginar como elite no Brasil.
Muitos
especulam sobre o futuro de Joaquim Barbosa.
A
maioria acha que ele apoiará algum candidato da oposição nas
próximas eleições. Outros acham que em 2018 ele próprio será o
candidato a presidente do Brasil.
Na
minha opinião, Joaquim Barbosa já conseguiu os troféus que queria.
A
vingança já está completa.
Mas
não está de bom tamanho para ele. Ainda falta o posto maior.
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