quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O que diria Maquiavel sobre a nova política?

Por Fernando Castilho


Nicolau Maquiavel de terno
Marina Silva.
Vereadora, deputada, senadora, ministra da ''velha política''.

Deixa o Ministério do Meio-Ambiente. Deixa o PT, ingressa no PV e disputa a presidência da República em 2010, dentro da ''velha política''.

Deixa o PV, tenta fundar seu partido, a Rede Sustentabilidade, como forma de contraponto à maneira de fazer a política tradicional.

Deixa a Rede, ingressa no PSB, partido que pratica a ''velha política'', para disputar a vice-presidência.

Com a morte de Eduardo Campos, parte para disputa ao cargo majoritário, não sem antes fazer várias exigências ao partido, tudo em nome da ''nova política'' que pretende implantar.

Não faria concessões ao agronegócio;
Não subiria em palanques com candidatos a governador que pertencessem aos PSDB, como em São Paulo;
Não aceitaria doações de empresas fabricantes de cigarros, bebidas, armas, agrotóxicos, etc..
Não aceitaria um vice que não lhe fosse confiável;

Bem, todas essas ''firmes'' exigências não resistiram a um mês de campanha.

Marina Silva apresentou um plano de governo pra lá de neoliberal, onde, além dos muitos recuos motivados por pressões) não faltou como proposta, nem a independência do Banco Central, coisa que Aécio Neves não ousou.

Os sonháticos da Rede estão divididos.
Uns já apearam, como Charles Alcântara, porta-voz da Rede no Pará.
Outros ainda orbitam Marina.

Charles Alcântara
Marina, com seu estilo Messiânico, consegue aos poucos transformar seus seguidores, a ponto de eles não perceberem que seu ídolo mudou, está muito diferente daquele do início do ano. A cada recuo (e alguns foram radicais, como no caso dos direitos LGBT), tentam ''explicar'' a necessidade da mudança, e convencer os companheiros e a si mesmos.

Mas, afinal, o que seria a tal ''nova política''?
Marina se desencantou com o PT a partir das alianças que o partido firmou com o PMDB, notadamente com gente como Sarney e Renan Calheiros, o PTB de Collor, e o PP de Maluf.

Ela bem sabe o quanto Lula não desejava isso. Deve saber que o ex-presidente deve ter passado noites em claro até se convencer da necessidade de conseguir maioria num congresso de perfil conservador, onde nada, mas nenhum projeto mesmo, que tivesse um mínimo de intenção de melhorar a situação do povo mais humilde, passaria.

Alguém honestamente acha que o Marco Civil da Internet, que foi um parto dificílimo, teria sido aprovado se não houvessem alianças, e o próprio vice-presidente Michel Temer do PMDB não tivesse se empenhado pessoalmente?

Necessário lembrar que essas alianças são programáticas, ficando compromissados Sarneys, Calheiros, Collors e Malufs a apoiarem os projetos do governo.

E é devido a isso que não derrubaram Lula, e nem conseguiram ainda tirar Dilma da presidência.

É por isso que existem hoje programas sociais, como o Bolsa-família, tão odiado pela mídia e pela elite, mas que tirou 36 milhões da linha da miséria.

Sem partido forte e sem alianças, Marina estaria sujeita ao que aconteceu com Jânio e Collor.

A ex-ministra sustenta que não fará alianças para garantir a governabilidade, preferindo fazer aliança com a sociedade (sic).. mas seu coordenador, Wálter Feldman já costura apoio do PSDB, e seu vice, Beto Albuquerque já afirmou que ''Ninguém governa sem o PMDB''

E este é o último muro que a separa da ''velha política'', mas que, numa eventual vitória, será derrubado já no dia 2 de janeiro.

A ''nova política'' não existe.
Não existe maneira alternativa de se governar um país que tem ainda uma democracia recente, construindo-se com erros e acertos.

Foi isso que Maquiavel ensinou em sua obra ''O Príncipe'', que Antonio Gramsci se encarregou de traduzir para os dias atuais, mostrando que o príncipe de hoje é o partido político que está no poder.

E esse partido tem que fazer valer a virtú (a virtude), mais que a fortuna (os acontecimentos fortuitos).

Segundo Maquiavel (e Gramsci) a política deve ser concebida como atividade que subordina a moral, a religião e a questão militar, Assim, poderia operar uma ultrapassagem “do nível dos interesses imediatos e particulares e que, portanto constitui o momento da liberdade, dos interesses universais para tornar possível a fundação do momento ético-político.''

Gramsci não compactua com aqueles que vêem em Maquiavel um defensor da tese de que os fins justificam os meios. A coisa não é simplista assim.

Para Francisco Welffort, “...não cabe nesta imagem a ideia da virtude cristã que prega uma bondade angelical alcançada pela libertação das tentações terrenas, sempre à espera de recompensas no céu. Ao contrário, o poder, a honra e a glória, típicas tentações mundanas, são bens perseguidos e valorizados. O homem de virtú pode consegui-los e por eles luta.”

Para que o partido no poder possa realizar o maior número de obras para o povo que mais precisa, tem de se livrar da moral cristã mais imediata, aquela que Marina ainda abraça, e, sem medo de ser feliz, realizar as alianças programáticas necessárias.

Afinal, passamos 502 anos sendo governados pela elite mais atrasada do país. Passaram-se somente 12 anos de grandes mudanças  e ainda há muito para se fazer.

Futuros aliados da nova política?



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