Não adiantam números, estatísticas, comparações com outros países em que a maioridade penal foi reduzida.
Não adianta mostrar que em outros países não deu certo. O que importa é a vingança.
Porém,
não adiantam números, estatísticas, comparações com outros
países em que a maioridade penal foi reduzida.
Não
adianta mostrar que em outros países não deu certo.
Não
adianta explicitar que países que reduziram a maioridade penal
voltaram atrás.
Não
adianta nada disso para quem não quer ler, não quer ver, não quer
ouvir argumentos.
Para
as bancadas da bala e da Bíblia na Câmara, as que mais insistem no
projeto, o que vale são os holofotes, já que seus deputados não
possuem nenhum projeto para o país.
Querem
ver seus nomes nas manchetes dos jornais, não importando que jovens
paguem com sua vida por isso.
Alegam
que as mesmas oportunidades existem para todos, e que basta ter força
de vontade e lutar para superar os obstáculos. A tal da
meritocracia.
Sustentam
que os desafortunados pela sorte, que nasceram nos grotões, nos
sertões sem água deste país, nas favelas e nos cortiços, que são
caboclos, mamelucos ou pretos e não brancos como eles, são
acomodados e vagabundos.
São
hipócritas o suficiente para ficarem chocados e revoltados com o
assassinato do médico branco no Rio de Janeiro, mas olharem com
desdém a morte do menino mulato Eduardo de 10 anos no Morro do
Alemão, cometida por um policial.
São
hipócritas ainda por não darem nenhuma repercussão ao caso do
atropelamento e morte de um ciclista preto, cometido por Thor
Batista, filho de Eike, que não deu em nada.
Pelo
menos a viúva do médico Jaime Gold não foi hipócrita como esperavam: “Nem
sei se foram menores, mas sei que Jaime foi vítima de vítimas, que
são vítimas de vítimas. Enquanto nosso país não priorizar saúde,
educação e seguranças, vão ter cada vez mais médicos sendo
mortos no cartão postal do país. São gerações de vítimas do
nosso sistema. ''
Yvonne
Bezerra de Mello, fundadora do Projeto Uerê, diz sobre o rapaz de 16
anos que matou o médico: "Tudo falhou na vida dele, e é
preciso perceber que parte da culpa também é nossa, é da
sociedade". "A rua embrutece, torna a criança selvagem, a
coloca em contato com a droga e gradualmente banaliza a violência e
a morte”. Aqui a entrevista completa
Como
desculpa, a sociedade usa o argumento de que o Bolsa-família, ao invés de dar
dinheiro (desconhece até o valor), deveria dar educação aos
miseráveis, como se educação sozinha enchesse barrigas.
Não
se interessam em saber que para continuar inscrito no Programa e ser
beneficiado por ele, é preciso estar na escola.
E
mesmo se se oferecesse só a educação, ainda assim reclamariam.
São
contrários às cotas raciais nas faculdades, alegando que os pretos
tem condição de disputar vagas de igual para igual com brancos,
esquecendo-se muito convenientemente de que pretos têm que cursar
escola pública da periferia, sendo ensinados por professores que são
obrigados a dar aulas em até 3 escolas para poder auferir algum
ganho. Pretos estudam em escolas onde não há papel sulfite e muito
menos higiênico, onde não há ar condicionado, água ou giz, porque
governos estaduais não aplicam os recursos que o governo federal
envia todos os meses. Pretos tem que estudar e trabalhar ao mesmo
tempo, para poderem ajudar no orçamento doméstico.
As
classes média e alta deste país são contrárias ao Programa Mais
Médicos, refugiando-se hipocritamente no argumento de que os médicos
cubanos são tratados como escravos por Fidel. Não é esse o motivo
de sua contrariedade.
As
classes média e alta do Brasil foram, durante 13 anos, doutrinadas
diariamente pela mídia a nutrir ódio pelos pobres, e mais que isso,
a odiar qualquer iniciativa de promoção desses pobres.
Revoltam-se
ao saber que 35 milhões de pessoas saíram da linha de pobreza nestes
últimos 13 anos.
E
é exatamente este o motivo das manifestações por impeachment da
presidenta e dos panelaços. Não nos equivoquemos, não é pela
corrupção. Se fosse, Aécio e o PSDB também seriam hostilizados.
Se
mesmo com êxito dos programas sociais reconhecidos pelo mundo todo e
pela ONU, ainda há violência praticada por adultos e também por
menores, imaginem sem os programas.
O
fato é que tudo avança no Brasil ainda de maneira tímida.
Se
os programas sociais fossem grandemente ampliados, atingindo a todos,
até aquele brasileirinho mais recôndito, se a educação e a saúde
fossem tratadas de maneira séria pelos governos federal, estaduais e
municipais, se as polícias não fossem acionadas para bater em
professores e se esses professores passassem a ser tratados com a
dignidade que merecem, talvez a violência diminuísse.
Se
houvesse condições minimamente dignas de moradia, se as famílias
não se desagregassem em função da pobreza e da miséria, se tanta
gente não fosse expulsa de suas moradias neste Brasil afora, talvez
a violência diminuísse.
Se
as crianças não crescessem com sentimento de revolta, não só por
terem nascido em berço pobre, não só por terem nascido pretas, não
só por terem nascido em lares desagregados, mas sim por não terem
10% das oportunidades das classes mais abastadas, talvez a violência
fosse reduzida.
Não
nos enganemos. Não sejamos hipócritas.
Todos
aqueles que querem a redução da maioridade penal no Brasil, classes
média e alta, bancada da bala e da Bíblia, grande mídia, partidos
de direita e etc., não estão preocupados em resolver a situação
da violência. Não é isso.
O
sentimento é de ódio e vingança, tão somente.
Não
pensemos que eles não sabem que o projeto terá efeito inócuo, caso
seja aprovado.
Não
nos iludamos que eles não sabem que os crimes continuarão, e que o
tráfico arregimentará menores de 16, de 14, de 12 anos...(como já
o faz).
Essa
é a turma do ''olho por olho''. Encaram Justiça como vingança.
Mas
estarão dando um tiro no próprio pé. Daqui há alguns anos, o
jovem de 16 anos, preso, em contato com maiores de idade escolados no
crime, sairão das prisões muito mais revoltados e violentos do que
eram ao serem presos.
Antes
de nos arrependermos, teremos perdido uma geração inteira de jovens
que poderiam ter sido recuperados.
Resta
saber então qual será e contra quem o próximo ataque de ódio.
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