Por Mustafá Ali Kanso
Foto: Reuters |
Porém,
alguém publicou no Facebook um texto do Reinaldo Azevedo em que o
Tio Rei, em nome dos valores cristãos, dizia que Papa bom era Bento
XVI (que nunca se preocupou com os pobres, acobertou denúncias de
pedofilia, foi homofóbico, etc..) e que Francisco não o representa.
Mais: espera ansiosamente pelo novo Papa, alguém com a visão conservadora e injusta de mundo que o contemple.
Mas
por que Francisco não representa Reinaldo Azevedo?
Porque
o Papa em recente viagem à América Latina, afirmou que o atual
sistema global “que impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem
pensar na exclusão social nem na destruição da natureza (…) é
insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os
trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os
povos…. E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como
dizia São Francisco”.
“Quando
o capital se converte em ídolo e dirige as opções dos seres
humanos, quando a avidez pelo dinheiro tutela todo o sistema
socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o
em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, coloca povo contra
povo e, como vemos, até põe em risco esta nossa casa comum”,
disse o sacerdote. Quem pode discordar? Só o Tio Rei mesmo.
No
mês passado Francisco já havia publicado a chamada ''Encíclica
Verde'' onde pede ao mundo que reconheça as lastimáveis verdades
sobre como os seres humanos têm afetado o meio ambiente, e, assim,
prejudicado todos os seres, incluindo animais.
Reinaldo,
movido pelo seu papel subserviente de defender a direita, o
capitalismo e o conservadorismo, demonstra total ignorância sobre o
futuro do planeta a se continuar com esse sistema exploratório e
predatório.
Desta
vez não são esquerdistas abilolados, bolivarianos, lulopetistas,
petralhas ou o Papa comunista, como ele diria, que defendem um novo
sistema para o mundo, mas sim o escritor e professor paranaense
Mustafá Ali Kanso (autor de A Cor da Tempestade), muito mais
preocupado com a questão científica do para onde o mundo vai, do
que com política partidária rasteira como Reinaldo Azevedo.
Kanso
vai um pouco na esteira da Hipótese de Gaia, do cientista britânico
James E. Lovelock, que defendeu em 1972 que o planeta deveria ser
tratado como um organismo vivo. Hoje em dia vários cientista
sustentam que a hipótese deva ser considerada uma teoria científica.
James Lovelock |
Mas
vamos ao texto
Na
esteira do artigo da semana passada foi possível pontuar: nesses 3,8
bilhões de anos de evolução, os processos naturais testaram, por
tentativa e erro, o que funciona e o que não funciona na preservação
de uma espécie e de seu habitat.
Daí
é imperativo destacar a importância de incorporarmos em nossa
metodologia de criação e projeto de materiais e objetos as mesmas
constatações.
Nosso
atual modelo de produção que valoriza essencialmente o capital em
detrimento do trabalho e da natureza está completamente equivocado.
A
nossa gestão da ciência e da tecnologia precisa urgentemente de uma
revolução. O trabalho e a natureza não podem mais ficar no último
plano de valorização em nossas escalas de prioridade.
E
se realmente pretendermos, enquanto espécie, uma maior longevidade —
essas mudanças drásticas precisam ocorrer urgentemente.
É
justamente nesse viés, pelo qual o valor dado aos ganhos de capital
supera — e em muito — aos ganhos sociais e ambientais, que a
história humana vem, nesses últimos séculos, construindo um
resultado quantitativo inquestionável: além de exaurir recursos
naturais, depredar e poluir o ambiente, o somatório da riqueza de
apenas 1% da população mundial está superando o somatório dos
bens dos 99% restantes.
Evidentemente
a política macroeconômica mundial é ditada por esses 1% com uma
equação fácil de entender:
— cada
vez mais para eles mesmos e cada vez menos para o resto do mundo.
Por
essa razão esse modelo é definido simplesmente como predatório: ao
mesmo tempo que está exaurindo o ambiente natural, está gerando
pressões insustentáveis no ambiente social.
Não
há solução a curto prazo que não passe necessariamente por essa
constatação.
Enquanto
o modelo for consumista, ditado simplesmente pelas necessidades do
mercado — que joga com cartas marcadas — essas e outras
contradições não serão resolvidas.
Para
apoiar essa avaliação, quero aproveitar o tema — biomimética —
e propor uma analogia.
Imagine
um organismo que possua em sua constituição células ricas e
pobres.
As
células ricas recebem muito mais sangue do que precisam para se
manterem vivas e por necessidades ainda não muito compreendidas
represam e armazenam esse sangue, que representa, nessa metáfora, a
riqueza desse organismo.
Evidentemente,
por conta disso, as células pobres estão recebendo pouco ou nenhum
sangue.
Ora,
valendo-se dos conceitos da biologia fica fácil entender que o
conjunto de células ricas, ao represar e acumular o sangue estão
gerando um tumor enquanto que as células pobres que estão morrendo
sem alimento e oxigênio caracterizam a necrose do órgão que
constituem.
Um
organismo com esses sintomas — infelizmente — não possui muito
tempo de vida.
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