quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Diário de um ano mau

Por Fernando Castilho


Charge: Aroeira


2015 foi um mau ano, mas 2016 pode começar bem, com a prisão de Eduardo Cunha e com o governo tendo enfim liberdade para retomar o crescimento.

Parodiando o título, somente o título do livro Diário de um Mau Ano do escritor sul-africano J. M. Coetzee, resolvi escrever este Diário de um ano mau.

2015 já vai tarde, vamos combinar.

O ano mau poderia ter começado na manhã de 1° de janeiro com uma topada no pé mas preferiu iniciar no dia 2 com o pedido de cassação da candidatura de Dilma Rousseff junto ao TSE, Tribunal Superior Eleitoral, feito pela oposição encabeçada pelo derrotado, Aécio Neves.

O TSE já havia aprovado as contas de campanha da presidenta por unanimidade mas os tucanos deram o tom do que viria a ser o ano.

A decepção com Dilma veio em seguida. Ao nomear um neoliberal ligado ao deus mercado, o querubim Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, a reeleita deu um cavalo de pau de 180° da esquerda para a direita.

Talvez a intenção fosse acalmar os ânimos da classe média que começava a pedir sua cabeça, insuflada por Aécio e Aloysio Nunes, pela mídia e por grupelhos formados na internet, financiados pelos americanos irmãos Koch e por Paulo Lemann, dono da Imbev.

Em março milhares de pessoas saíram às ruas no Brasil inteiro exigindo o impeachment da presidenta e intervenção militar.

O desconhecimento da Constituição por parte dos manifestantes demonstrou que estes não se dão ao trabalho de ler a Carta, mesmo ela estando disponível para consulta na internet. E se leem, têm uma interpretação de texto bastante peculiar.

O mesmo vale para os que querem a intervenção militar. Reclamam que vivemos sob uma ditadura que lhes permite atentar contra o governo. Chamam os que sofreram torturas e morte nos porões do regime, de terroristas, esquecendo-se que hoje podem sair às ruas exatamente porque aqueles abnegados lutaram por isso.

O ano mau revelou também uma Operação Lava Jato especializada em investigar e prender de maneira seletiva, prendendo a toque de caixa nomes petistas como Dirceu e Vaccari e se negando a sequer investigar Aécio Neves citado pelo delator Alberto Youssef como beneficiário do esquema de propinas de Furnas.

O ano mostrou ainda que além da Lava Jato, há muito mais corrupção sendo investigada pela Operação Zelotes, que a mídia esconde da população por também estar envolvida e o propinoduto de São Paulo que envolve o alto tucanato de colorida plumagem, que segue sendo investigado na Suíça, já que no Brasil não há a mesma disposição.

Além disso, a cereja do bolo foi a revelação de quatro contas na Suíça pertencentes ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha e família.

Cunha havia negado a existência das contas. Após a comprovação vinda da Suíça, já há razões para sua cassação por falta de decoro parlamentar, mas ele, justamente por ser o presidente, conseguiu manobrar como quis e o desfecho dessa situação fica mesmo para 2016. Se fosse petista já estaria preso há dois meses.

2915 também foi o ano em que os fascistas resolveram dar o ar de sua graça, insultando ex-ministros, um petista já no seu caixão e compositor patrimônio do Brasil, Chico Buarque. A reação a esse tipo de intolerância já vem se esboçando e para 2016 espera-se que haja mais respostas a essas agressões, como o rolezinho com Chico no Rio, um grande sucesso.

O país agora segue rumo a 2016 em meio a uma crise econômica que afeta o mundo todo, mas que foi aumentada exponencialmente pela sabotagem da oposição que não deixou Dilma governar um instante sequer. O senador Aloysio Nunes havia cantado a bola e a caçapa no início do ano afirmando que sangraria Dilma até 2018.

Mas, como nem tudo que é mau é somente mau, todo esse peso que Dilma carregou nos ombros pelo menos serviu para demonstrar três coisas:
1) Dilma não tem contra si nenhuma acusação de corrupção.
2) Dilma não interferiu sequer uma vez na conduta do Ministério Público, da Procuradoria Geral da República e da Polícia Federal.
3) Aécio Neves, caso tivesse sido eleito, já teria feito tantas patacoadas que não pode mais ser levado à sério.

Esperemos que 2016 seja um ano bom. E ele pode começar justamente com a prisão de Cunha.

Feliz 2016 para todos nós.




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