Waze é uma ferramenta muito útil para você se livrar de congestionamentos encontrando a rota mais favorável para atingir seu destino. Ele processa as informações dos celulares dos próprios motoristas. Ou seja, você vai direto ao ponto.
Mas o que isso tem a ver com a modernidade líquida de Zygmunt Bauman?
Um
artigo da Folha de São Paulo me chamou a atenção por ser extremamente ilustrativo do
que afirma Zygmunt Bauman sobre a tese da pós modernidade ou, como
ele acha melhor chamá-la, a modernidade líquida que estamos
vivendo.
Antes
de tudo, um approach sobre o tema.
Bauman
defende resumidamente, que vivíamos até cerca dos anos 50 num mundo
sólido, onde as instituições eram duradouras, as coisas se
resolviam em três dimensões e as relações eram pessoais.
Hoje
vivemos num mundo líquido em que tudo escapa pelas nossas mãos. As
relações são fugazes e virtuais, como amizades no Facebook com as
quais não se pode contar. Se você precisar de um amigo do Facebook
para alguma coisa importante como passar a noite no seu quarto de
hospital, esqueça. Com exceções, claro. E você adiciona amigos com a mesma facilidade
com que os bloqueia ou exclui.
Tudo
gira numa velocidade frenética e cada vez mais acelerada.
Nosso
dia de 24 horas já não consegue mais dar conta do número de
atividades que temos que executar.
E
no sistema capitalista, se você não dá conta, há quem o faça.
É
por isso que, ao final do ano cansamo-nos de ouvir que o ano passou
tão rápido...
Não
há mais tempo para reflexões, para leitura ou para o simples lazer
ou ócio.
Pois
bem, segundo o artigo da Folha, o israelense Uri Levine criou o
aplicativo Waze e o vendeu rapidamente ao Google por US$1,1 bilhão
em 2013.
Ficou
muito rico e se ocupa hoje em desenvolver outros aplicativos para
facilitar a vida das pessoas.
Mas
o que é o Waze?
Waze
é uma ferramenta muito útil para você se livrar de
congestionamentos encontrando a rota mais favorável para atingir seu
destino. Ele processa as informações dos celulares dos próprios
motoristas. Ou seja, você vai direto ao ponto.
O
terrível efeito colateral, a meu ver, é que devido ao aplicativo,
deixamos de fazer uma leitura da paisagem urbana que percorremos.
Afinal,
o que mais importa a você é chegar o mais rápido possível ao seu
local de trabalho e mais tarde à sua casa. E é claro que você vive
para o trabalho e não trabalha mais para viver, como nos tempos do
mundo sólido.
E
é um olho no trânsito e outro no celular.
Este
trecho da entrevista de Levine, caso não se interesse em ler toda a
entrevista, é especialmente revelador.
Entendeu?
As pessoas não pensam mais por onde estão indo. Nem sabem mais os
nomes das ruas. O Waze te leva lá e pronto. Quase que um piloto
automático.
Bingo!
Bauman tem razão!
Antigamente
(e isso não faz muito tempo) podíamos atravessar São Paulo
admirando sua paisagem ou odiando-a. Mas de qualquer forma, fazíamos
uma leitura dela, o que nos capacitava a tecer críticas e sugerir
mudanças.
A
gente se apropriava da cidade. Agora a força da grana ergue e destrói coisas belas virtualmente, já que você deixa de vê-las e senti-las.
O
Waze, neste aspecto, tem semelhança com o metrô subterrâneo. Não
vemos nada da paisagem, só queremos chegar à estação desejada e
fim. Nosso dia é corrido e não temos tempo para essas coisas que
pertencem ao mundo sólido.
Quando
o teletransporte chegar, será muito pior que isso.
Meu
texto não é uma ode ao passado, visto que sou progressista, mas uma
perspectiva histórica pode nos indicar aonde poderemos chegar, se
levados por pessoas que estão mais preocupadas em se tornar
bilionárias, como Levine.
A
modernidade líquida está aí, não adianta reclamar nem lutar
contra ela pois que é inexorável.
Mas
ainda há iniciativas pertencentes ao mundo sólido que podem
contrabalançar e reduzir um pouco a velocidade das coisas. E são
muito legais.
Uma
delas é a iniciativa da criação de ciclovias na cidade de São
Paulo, de autoria do prefeito Fernando Haddad.
Sei
que há muita gente revoltada com isso, mas isso acontece porque
entraram inconscientemente de cabeça na modernidade líquida,
preocupam-se somente em ganhar dinheiro o mais rápido possível e se
esqueceram de tolerar aqueles que vivem mais distendidos.
Com
as ciclovias é possível que se desloque de maneira menos tensa
(desde que os motoristas respeitem as faixas e os ciclistas), que se
interaja mais com a paisagem urbana e que se pratique mais exercícios
reduzindo o sedentarismo. Além de contribuir para a redução de
emissão de gases.
Outra
iniciativa é a abertura da Av. Paulista aos domingos para o lazer.
As
pessoas ainda gostam de dançar, cantar, fazer piquenique, papear,
namorar, passear a pé ou de bicicleta com as crianças ou tomar sol.
Nessas
horas esquece-se até os lap-tops e i-phones.
Afinal,
temos um corpo físico e ainda não deixamos totalmente o mundo
sólido.
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