quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O que 1% da população mundial tem a nos dizer?

Por Fernando Castilho



Grande parte da situação de intolerância de hoje em dia se deve a um sentimento de impotência diante de um sistema opressor que não permite ao pobre o consumo de bens que a própria mídia exige dele.

Esse sentimento vai se acumulando até que uma hora explode em violência urbana.


O jornal Valor Econômico noticiou esta semana que 1% da população mundial passa agora a deter mais riqueza que os restantes 99%.

Além disso, 62 pessoas tem tanto dinheiro quanto a metade mais pobre da população mundial.

Há apenas 5 anos atrás eram 388 pessoas que acumulavam esse capital.

Ou seja, esse gráfico cresce numa proporção assustadora e nos faz imaginar se pode piorar ainda mais.

Mas se esses números, mesmo que sem uma análise mais apurada, já revelam uma situação extremamente preocupante, compreender o que eles significam pode nos tirar noites de sono.

Antes de mais nada, embora o capitalismo afirme que é o único capaz de gerar riqueza, não nos iludamos pois nos encontramos num sistema isolado chamado Planeta Terra cujos recursos são limitados.

Para agravar o quadro, esses recursos naturais e energéticos vão se esgotando à medida em que a população cresce em ritmo exponencial.

Então, primeiramente, os pobres.

O fato de o Brasil ter retirado 30 milhões de pessoas da linha de miséria pode ter evitado que os números divulgados fossem ainda piores. Porém, como a maior parte da população mundial é de pobres, podemos esperar que o número de miseráveis em situação de fome tenha aumentado e ainda aumentará significativamente. E pensar que gente morrerá de fome e de doenças ligadas à falta de alimentação por essa espécie de genocídio econômico nos entristece e revolta.

Em seguida a classe média.

Certamente essa também vem perdendo seu poder de compra e consumo, já está engrossando as fileiras dos pobres e em alguns anos teremos uma massa sem poder aquisitivo.

Mas, e os ricos?

Os ricos teoricamente, como disse Marx, dependeriam dos pobres para gerar sua riqueza. Isso, se o acúmulo de capital fosse ainda hoje totalmente proporcionado pela exploração do trabalho. Nesse caso, os ricos também precisariam depender da classe média e de parcela dos pobres para consumir aquilo que é produzido, os bens de capital.

Porém, hoje em dia não é mais só a atividade produtiva que acumula riqueza, mas também a especulação financeira.

Muita gente se faz rica ao comprar ações na baixa e vender na alta sem que isso signifique produzir alguma coisa.

Além disso, o não pagamento de impostos, coisa de que os pobres não podem escapar por ter descontos efetuados já no pagamento de seus salários, e a remessa de grandes quantias para paraísos fiscais onde são criadas holdings especiais para esse fim, fazem a delícia dos ricos.

E acúmulo desmedido de capital faz bem?

Vejamos o caso do bilionário brasileiro, Paulo Lemann, dono e sócio de marcas com Imbev, Burguer's King, Heinz, etc..

Consta que sua fortuna é estimada em cerca de 84 bilhões de reais. Se parasse de trabalhar e investisse seu patrimônio em caderneta de poupança, teria garantidos só de juros e correção monetária a quantia mensal de cerca de 420 milhões de reais. Mesmo que mantivesse uma vida de luxo, não conseguiria gastar todo esse montante e reinvestiria a maior parte dele. Ou seja, ficaria ainda mais rico.

Bem, mas aonde essa situação de acúmulo de capitais nas mãos de poucos pode nos levar?

Já está nos levando a revoltas no mundo inteiro.

Grande parte da situação de intolerância de hoje em dia se deve a um sentimento de impotência diante de um sistema opressor que não permite ao pobre o consumo de bens que a própria mídia exige dele.

Esse sentimento vai se acumulando até que uma hora explode em violência urbana.

E quem mais paga o preço é a classe média que insiste em defender os do andar de cima, que são poucos, enquanto protesta contra políticas de distribuição de renda.

Como disse Marx, o capitalismo gera o seu próprio coveiro.

Como disse Étienne de La Boétie, acostumamo-nos a nos curvar a um único soberano sem que percebamos que somos muitos e ele um só.





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