Rafael Sanzio: Anjos |
São impetuosos. São também afoitos a meter os
pés pelas mãos com o objetivo de conseguir um troféu que pode
alavancar carreiras de sucesso. E sendo afoitos, são também
inconsequentes. Não sabem do perigo do formigueiro.
Como
naquele dia em que José Dirceu prestou depoimento a um despreparado
juiz Moro e a um procurador da Lava Jato que demonstrava muito
nervosismo em sua fala típica de pessoa jovem, certos fatos que
estão ocorrendo em torno de um possível depoimento de Luís Inácio
Lula da Silva chamam a atenção.
Primeiro
foi quando a imprensa divulgou que Lula seria intimado a depor. Na
ocasião, rapidamente Moro desmentiu a notícia afirmando que o
ex-presidente não era investigado na operação.
Mais
tarde, Moro, depois de duas semanas de especulações por parte da
grande imprensa, autorizou a Polícia Federal a instaurar um
inquérito para apurar se empresas investigadas na Operação
Lava-Jato pagaram por obras no sítio frequentado pelo ex-presidente
em Atibaia.
Moro
oficializou o vazamento seletivo ao publicar o despacho. Pouco tempo
depois, o juiz divulgou um novo despacho, desta vez para dizer que o
conteúdo fora “lançado automática e inadvertidamente” no site
do TRF por um equívoco do Poder Judiciário, do qual ele, como juiz,
é importante protagonista. Foi ''sem querer, querendo''.
Ao
tornar público e a imprensa ter noticiado, prejudicou o sigilo e,
portanto, não fez mais sentido mantê-lo. Com isso, Moro deu aval ao
vazamento.
Por
último, os promotores de Justiça Cassio Conserino e Fernando
Henrique de Moraes Araújo, do Ministério Público do Estado de São
Paulo, que suspeitam que o ex-presidente é o verdadeiro proprietário
do tríplex do Guarujá, publicaram uma intimação à Lula para
comparecer coercitivamente, isto é, à força se preciso fosse, para
prestar depoimento no dia 3 de março.
Conserino
é aquele que ''garantiu'' à revista Veja que conseguiria prender
Lula.
A
defesa de Lula e de sua esposa, Marisa Letícia, afirmou que o casal
não comparecerá ao depoimento. A alegação é que o promotor
infringiu normas do MP sobre a distribuição de processos e, por
isso, não seria o promotor natural do caso. Prestarão então
esclarecimentos apenas por escrito. Além disso, Lula protocolou um
pedido de habeas-corpus para evitar a condução coercitiva.
O
que Consentino queria era tão somente à exploração midiática do
caso, um circo armado com fotógrafos e cinegrafistas mostrando o
grande líder das massas, enfim de cabeça baixa, ladeado pelo
japonês bonzinho da federal.
As
fotos seriam então divulgadas ao mundo todo, com Consentino e Moro
exibindo seu tão almejado troféu de caça.
Mas
Consentino voltou atrás.
Não
sei se após o discurso destemido de Lula na festa dos 36 anos do PT.
Não sei.
O
procurador alega que houve um equívoco na publicação. Como o ''sem
querer, querendo'' de Moro.
Pode
haver várias leituras para o que está acontecendo.
A
mais simplória é que, como já ficou demonstrado, procuradores e
juiz talvez ainda sejam jovens, portanto, impetuosos (o
procurador da República, Deltan Dallagnol, por exemplo, tem apenas
34 anos). Sendo impetuosos, são
também afoitos em meter os pés pelas mãos com o objetivo de
conseguir seu troféu, que pode alavancar carreiras de sucesso. E
sendo afoitos, são também inconsequentes, motivo pelo qual, podem
estar, a cada ato impensado, estar sendo chamados à razão por
alguém com muito mais experiência, talvez de dentro do
STF...Afinal, mexer com o formigueiro requer precaução.
A outra leitura, mais complexa, envolve toda uma gama de atores, oposição,
Judiciário, Polícia Federal e mídia num conluio bem orquestrado
para, se não prender Lula, ao menos destruir sua reputação até
2018.
Então,
podemos já ter claro que até 2018 as investidas e recuos poderão
ser vários, afinal temos traquinas na Lava-Jato.
E
a Constituição Federal, ora, esta restará esquecida em alguma
gaveta, desnecessária e inconveniente que é. Junto com alguns chicletes mascados.
Vamos
nos acostumando, pois.
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