Por Fernando Castilho
Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo |
Será que a Folha teve uma tremenda sorte em conseguir a gravação do único caso de corrupção do governo ocorrido nos últimos meses que não foi possível ocultar?
O impoluto ministro da educação, Mílton Ribeiro, tinha caprichado no bigode esta manhã. Pegou a tesourinha e aparou alguns milímetros dos poucos fios que insistiam em sair do molde preciso.
Estava orgulhoso porque vinha se tornando nos últimos tempos, dentre todos os ministros de Bolsonaro, aquele que mais propagandeava os feitos do governo na área da educação. “O capitão há de se orgulhar de mim”, pensou, dando uma piscadela diante do espelho.
À porta o motorista do carro oficial já o aguardava com uma expressão fechada. Ele estranhou.
Bom dia!
- Bom dia, doutor.
- Quais são as novas?
- Bem, doutor, deixa que eu ligo o rádio do carro.
O apresentador do jornal narrava a bomba que a Folha havia divulgado sobre o escândalo do conteúdo do áudio vazado.
O ministro esmurrou o banco da frente.
Querem me foder?
O áudio é de uma gravidade gravíssima.
Fosse num país em que o processo civilizatório avança para a frente, Mílton Ribeiro mandaria o motorista desviar do caminho para se dirigir ao Alvorada para imediatamente pedir sua exoneração.
Mas ele, que vive num país chamado Brasil, confia em que não vai dar em nada. Aliás, foi devido à essa confiança na impunidade, que mandou qualquer escrúpulo às favas para cumprir a ordem de Bolsonaro: “foi um pedido especial do presidente”, havia dito ele na gravação.
Há vários crimes demonstrados no áudio: improbidade administrativa, corrupção ativa, quebra do princípio da moralidade, etc. E há uma incógnita quando aparece a palavra apoio numa frase em que há uma palavra inaudível. Soa como se Ribeiro (e o capitão) recebessem uma rachadinha do valor desviado.
A bancada evangélica se apressou em condenar o ministro pedindo sua demissão, afinal, por que diabos (cruz credo) a bufunfa vai só pra dois pastores sem grande relevância enquanto eles não recebiam nada? Ou será que recebem, mas a hora é de tirar o corpo fora? Temos eleições pela frente e nenhum deles quer perder a boquinha da Câmara.
Os partidos de oposição entraram com notícia-crime contra Bolsonaro e Ribeiro.
O PGR, Augusto Aras estava aparando cuidadosamente a barba pela manhã quando foi indagado sobre quais providências tomar. Disse que ainda não foi acionado.
O fato, minha gente, é que o máximo que pode acontecer é Ribeiro pedir demissão ou Bolsonaro demiti-lo com aquele discurso de que seu governo é incorruptível.
A gravação, por si só, pode ser contestada no STF, sob a alegação de ser uma prova ilícita.
A Bolsonaro nada acontecerá por que poderá alegar que a simples citação de seu nome não é suficiente para incriminá-lo. Não há provas. Pessoalmente aposto que Ribeiro vai livrar a cara do presidente, afinal, não se pode dar mole pra milícias.
Aras vai abrir investigação?
Claro que não. Já teve fato mais grave ignorado solenemente pelo PGR.
Pedido de impeachment?
Arthur Lira deve estar rindo neste momento.
Será que a Folha teve uma tremenda sorte em conseguir a gravação do único caso de corrupção do governo ocorrido nos últimos meses que não foi possível ocultar?
Ou a corrupção grassa em todos os ministérios e secretarias, não aparecem?
O que se afigura, na verdade, é que estão enchendo as burras para dividir o butim antes que sejam defenestrados do governo no próximo ano.
Afinal, essa turma não vai querer sair de mãos abanando.
A Folha de SP, é igual lobo, perde o pelo, porém não cria vergonha. Agora, a Casa Civil, coloca uns anúncios lá, de página inteira, e tudo some do jornal, e ficamos assim: "Vc não me liga, nem eu te telefono"....
ResponderExcluirNão dá nada, Paulo. Duvido que alguém se mexa. O capitão vai dar uma de impoluto e fica por isso mesmo.
ResponderExcluir