Por Fernando Castilho
Há décadas, um grupo de políticos se alimenta da velha e
falaciosa máxima: “bandido bom é bandido morto”. É a chamada bancada
da bala na Câmara dos Deputados, sempre presente, eleição após eleição,
vociferando que só a violência resolve o problema da segurança pública.
Nas duas últimas legislaturas, essa bancada ganhou reforço:
uma cepa de deputados bolsonaristas como Paulo Bilinsly e o sargento Fahour,
que se sentem em casa na Comissão de Segurança Pública. Até poucos meses atrás,
suas únicas pautas eram a PEC da Bandidagem, para livrá-los dos próprios crimes,
e o PL da Anistia, para salvar o chefe da quadrilha, Jair Bolsonaro, o mesmo
que inundou o crime organizado com fuzis e armas de todos os calibres.
Mas o povo foi às ruas e enterrou essas pautas. Sobrou o
quê? Apenas o apoio a Eduardo Bolsonaro, autoexilado nos Estados Unidos
tentando impor sanções ao Brasil. Com a reunião entre Donald Trump e Lula
caminhando bem, ficaram sem discurso. E, para piorar, assistem impotentes à
escalada de Lula nas pesquisas para 2026. Estavam à deriva.
Foi então que o governador do Rio de Janeiro, Cláudio
Castro, tirou essa turma da letargia. Recorreu à velha fórmula: mais uma
chacina. Antes de se eleger em 2022, já havia promovido um massacre em nome da
segurança. Agora, quer se tornar senador em 2026 e, quem sabe, intocável diante
das acusações de corrupção que o cercam. “Já sei!”, pensou. “Preciso de outra
operação sangrenta.”
E ela veio: a Operação Contenção, que deixou ao menos
121 mortos, sendo considerada a mais letal da história do Rio. Uma
pesquisa revelou que 63% da população apoiou a ação. Com esse respaldo,
a eleição de Castro ao Senado parece garantida, assim como foram as de figuras
como Pazuello, que sabotou a vacinação, e Ricardo Salles, que passou
a boiada no meio ambiente e tentou vender madeira ilegal para os EUA. Sim, boa
parte da população apoia bandidos, desde que bem vestidos e com mandato.
Na esteira de Castro, os bolsonaristas se animaram. Haviam
levado um baque com a Operação Carbono Oculto, da Polícia Federal, que
desmantelou o tráfico sem disparar um único tiro. A operação mostrou que é mais
eficaz cortar as cabeças da hidra do que continuar a matar soldados
substituíveis.
Quando a imprensa noticiou o sucesso da operação, os
deputados se retraíram. Já estavam incomodados com a PEC da Segurança
Pública, que propõe constitucionalizar o SUSP, ampliar o papel da PF e das
guardas municipais, e fortalecer a atuação da União. O ministro da Justiça foi
à Comissão diversas vezes, mas os deputados preferiram atacar Lula e gravar
vídeos para suas redes, saindo do plenário sem ouvir uma palavra.
É claro que projetos como a PEC da Segurança e operações
como a Carbono Oculto não interessam a eles. Se o crime organizado for
desmantelado, vão viver de quê? Não sejamos ingênuos: boa parte, senão todos,
são financiados pelo mesmo crime que dizem combater. Sim, o crime organizado
está na Câmara.
Agora, em estado de estase, voltaram a ter uma pauta: acusar
o governo federal de “defender bandidos”. E há mais um ponto a considerar. A
operação de Castro ocorreu em áreas dominadas pelo Comando Vermelho.
Muitos “bagrinhos” foram mortos. Essa desorganização momentânea pode abrir
espaço para o PCC avançar e tomar território. É só uma hipótese, sem
dados, sem análise. Mas quem sabe?
O governo federal, dentro da política republicana de Lula,
se dispõe a ajudar o Rio. Cláudio Castro dará apoio total? Será?
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