Por Fernando Castilho
Foi o que bradou o deputado Gustavo Gayer na tribuna da
Câmara, ignorando solenemente todos os índices positivos do governo, inclusive
o recorde histórico de 150 mil pontos alcançado ontem na Bolsa de Valores. No
momento, confesso, fiquei indignado com o tamanho da mentira do deputado
bolsonarista. Depois, respirei fundo e pus-me a pensar: qual é o Brasil de
Gayer? O do povo, ou das elites?
Ora, Gayer é um dos lacaios que, ao longo da história,
sempre estiveram a serviço das oligarquias e da elite que insiste em mandar no
país, e que, claro, não admite perder um centímetro de seus privilégios. Foi
essa mesma elite que, de mãos dadas com os militares, deu o golpe de 1964 e
instaurou uma ditadura que durou 21 anos. Saudade, né?
A frase do deputado, aliás, me remeteu imediatamente ao
código usado pelos golpistas de 8 de janeiro de 2023, o famoso “apito de
cachorro”, ou, para os íntimos, a “festa da Selma”. Explico.
Depois que o governo Lula desarmou, ao menos em parte, a
bomba tarifária deixada pelo terrorista oficial de gravata vermelha, Donald
Trump, que impunha tarifas de 50% aos produtos brasileiros, e o Congresso
sepultou a PEC da Anistia e o PL da Dosimetria, que pretendiam livrar Jair
Bolsonaro da cadeia, a extrema direita viu Lula subir mais uma vez nas
pesquisas para 2026. E aí bateu o desespero.
Sem projeto, sem pauta, sem rumo, e ainda sendo fustigada
por Flávio Dino, que vem apertando o torniquete para punir quem cometeu fraudes
com emendas parlamentares, a extrema direita precisava de uma boia de salvação.
E ela veio, pasme, na forma de uma chacina comandada pelo governador do Rio de
Janeiro, Cláudio Castro. Contra todas as expectativas do mundo civilizado, sua
popularidade aumentou. Sim, matar dá voto. E isso pode garantir a ele uma vaga
no Senado.
A direita, ou melhor, o centrão, aquele agrupamento que
habita a Câmara apenas para fazer negócios lucrativos, ainda hesita em
abandonar o barco bolsonarista e embarcar com Lula. Afinal, quem estiver no
palanque ao lado do presidente terá o apoio do povo para se reeleger. Mas se
ainda não mudaram totalmente de lado, é porque têm dúvidas quanto à manutenção
do recebimento de emendas. Pragmáticos, sempre.
Já a extrema direita decidiu: se Lula não for contido, vence
no primeiro turno. E o bolsonarismo sabe disso. A pergunta é: como conter?
As pesquisas indicam que a percepção popular do sucesso do
governo está superando as avalanches de fake news que tentam pintar o país como
um caos. Enquanto bolsonaristas como Gayer fazem vídeos jurando que o arroz
está a mais de R$ 40, a realidade insiste em mostrar que o preço não passa de
R$ 18. Se a estratégia continuar sendo apenas espalhar mentiras, Lula vence.
Por isso, é preciso criar factoides. Destruir a reputação de
Lula e do governo virou prioridade. Um desses factoides foi justamente a
chacina no Rio. A acusação é direta e rasteira: “Lula e a esquerda defendem
bandido!”, ou seja, o velho calcanhar de Aquiles: segurança pública.
Mas de pouco adianta o governo estar lutando para aprovar a
PEC da Segurança Pública, que ataca os líderes do crime organizado, asfixiando
suas finanças e os prendendo, se isso não for amplamente divulgado. Afinal,
manchete boa é só a que sangra.
A senha foi dada por Cláudio Castro: “Querem se eleger
presidente? Façam como eu, matem.
Não me surpreenderia se Caiado, Zema, Ratinho Jr. e,
principalmente, Tarcísio (que já tem uma chacina no currículo) começassem a
competir em número de mortos em seus estados. Afinal, a extrema direita não vai
assistir passivamente Lula vencer no primeiro turno.
E se não for possível subir nas pesquisas, o plano é
simples: derrubar Lula. Ou acabar com ele.
Que Lula esteja com sua segurança bem reforçada.
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