segunda-feira, 6 de julho de 2015

De como manter a espinha ereta antes ou mesmo depois do golpe

Por Fernando Castilho


Paulo Nogueira do DCM garante:
''NÃO vai ter golpe.
2015 NÃO é 54 e nem 64.
Espinha ereta, espinha ereta!''

Tranquilos todos? Eu não.

Respeito muito o jornalista pela sua grande experiência e conhecimento das coisas da política, além de curtir Beatles, mas este blogueiro, mesmo sem o brilho do Paulo, vem alertando há meses sobre o golpe que se desenha.

No começo, pouco depois das eleições foram somente manifestações e um Aécio derrotado e inconformado que pediam o impeachment da presidenta.

Se parasse por aí, não haveria mais o que temer. Mas a partir da sensação de que poderia haver apoio de milhares de pessoas, a direita se reuniu e definiu uma agenda.

A orquestração é bem evidente. Numa ponta o juiz Sérgio Moro comanda o espetáculo da Operação Lava Jato, extorquindo delações premiadas através de 7 meses de prisões de empresários sem denúncia formalizada.

Quando criminosos confessos, delatores como Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef (este já passando pela delação premiada pela segunda vez, sendo reincidente) citam tucanos, o juiz simplesmente ignora, mas quando petistas são citados, apesar do segredo de justiça, a notícia é imediatamente liberada para os jornais que se encarregam de publicá-la em manchetes garrafais, às vezes com redações iguais.

A Polícia Federal que contra a lei já não se submete à hierarquia do governo, preferindo correr em raia própria, como ficou claro depois da entrevista de seu diretor, qual sabujo ensinado, fareja todos os petistas tentando chegar em Dilma (sua chefe acima do ministro Cardozo) e em Lula.

A mídia tenta criminalizar as doações legais e declaradas que o Instituto Lula, assim como o Instituto FHC, recebe de empresas, ''esquecendo-se'' que Lula não tem cargo público.

Um rapaz se hospedou no mesmo hotel de Dilma e sua comitiva nos EUA, conseguindo romper o esquema de segurança que deveria ser rígido, mas ao que parece, facilitou sua aproximação. O moço passou a xingá-la à vontade sem que se esboçasse nenhuma reação. Se estivesse armado, podem ter certeza que este texto não existiria. Nem a presidenta.

O TCU (Tribunal de Contas da União) vai se pronunciar sobre a criminalização da presidenta no que se refere às pedaladas fiscais, coisa que foi rotina no governo de FHC. Se Dilma for condenada, poderá perder o cargo. No final o caso pode ir para o STF, onde já se sabe que o voto decisivo ficará a cargo de Luís Fux...

Não se trata aqui de justificar atos errados comparando-os com os de outro governo. Mas pau que bate em Chico, também bate em Francisco. Não era pra ser assim, Janot?

Na Câmara dos Deputados, seu presidente, Eduardo Cunha, faz sua parte ao colocar em votação duas vezes qualquer projeto contrário ao pensamento do governo que tenha sido derrotado na primeira votação, em desobediência ao Regimento Interno e à Constituição.

O PSDB falou que sangraria Dilma. E é o que está fazendo já durante 6 meses. Enquanto isso, a mídia trata de preparar corações e mentes para que a deposição de Dilma passe facilmente pela goela. E está dando resultado. Nunca se viu tanto ódio contra a presidenta e ao PT.

O aumento exponencial de manifestações fascistas, seja contra o ex-ministro Guido Mantega, seja através dos comentários políticos de colunistas e de seus leitores que repercutem esses comentários na imprensa, seja nos espetáculos homofóbicos patrocinados por deputados retrógrados na Câmara, em viagem de senadores para promover factóides na Venezuela ou nas expressões de racismo contra a apresentadora Maju é mais que evidente. Todo esse pessoal já está mais que preparado para quando vier um golpe.

E adiantando-se, ou seja, nem bem o cadáver esfriou, mais que isso, nem há cadáver ainda, os tucanos de alta plumagem já começaram a brigar pela vaga de Dilma.

Há gente confiando demais no STF, por ser ele o grande defensor da Constituição. Deveria ser assim, mas não é, não se iludam. Lá tem ministro que deu habeas corpus a Salvatore Cacciola, ministro que mandou soltar o médico estuprador Roger Abdelmassih, ministro que deu liberdade a Daniel Dantas, etc..

O que resta saber é se o STF vai perceber a seriedade de sua decisão.

Sabemos que o Brasil está dividido. Embora pesquisas indiquem decepção com o governo Dilma, há um contingente nada desprezível daqueles que querem que seu voto seja respeitado.

Que Dilma não está acima da lei, como qualquer cidadão, é pacífico, mas não vai ser fácil, no caso de uma decisão do STF desfavorável a ela, sem as devidas provas, sem o respeito ao princípio da equidade, conter a revolta dos movimentos populares (que tanto a presidenta desprezou) dos eleitores do PT e da esquerda responsável que agora se aglutinam na chamada Frente Brasil.

O líder do MST, Gilmar Mauro, já avisou que “não haverá golpes nesse país sem resistência de massa nas ruas porque os nossos movimentos não formaram covardes”

A oposição, o juiz Moro e a mídia estão brincando com fogo.

Será que o STF vai contribuir para botar fogo no Brasil?

Convulsão social não interessa a ninguém agora.

Um país estraçalhado social, política e economicamente não interessa a ninguém, nem mesmo à oposição.

Será que vem daí a tranquilidade de Paulo Nogueira?

A ver.



P. S. Contra o golpe, assine este manifesto.


Para incluir sua assinatura no manifesto, mande email para assinaturamanifesto@gmail.com.

Manifesto Brasil

Nós, militantes de movimentos populares, sindicais, pastorais e partidos políticos, manifestamos o que segue:

1. Não aceitaremos a quebra da legalidade democrática, sob que pretexto for.
2. O povo brasileiro foi as urnas e escolheu, para um mandato de quatro anos, a presidenta da República, 27 governadores de estado, os deputados e deputadas que compõem a Câmara dos Deputados e as Assembleias Legislativas, assim como elegeu para um mandato de 8 anos 1/3 do Senado Federal. Os inconformados com o resultado das eleições ou com as ações dos mandatos recém-nomeados têm todo o direito de fazer oposição, manifestar-se e lançar mão de todos os recursos previstos em lei. Mas consideramos inaceitável e nos insurgimos contra as reiteradas tentativas de setores da oposição e do oligopólio da mídia, que buscam criar, através de procedimentos ilegais, pretextos artificiais para a interrupção da legalidade democrática.

3. O povo brasileiro escolheu, em 1993, manter o presidencialismo. Desde então, a relação entre o presidente da República e o Congresso Nacional já passou por diversas fases. Mas nunca se viu o que se está vendo agora: a tentativa, por parte do presidente da Câmara dos Deputados, às vezes em conluio com o presidente do Senado, de usurpar os poderes presidenciais e impor, ao país, uma pauta conservadora que não foi a vitoriosa nas eleições de 2014. Contra esta coalizão eventual que no momento prevalece no Congresso Nacional – disposta a aprovar uma reforma política conservadora, a redução da maioridade penal, a violação da CLT via aprovação do PL 4330, a alteração na Lei da Partilha, dentre tantas outras medidas – convocamos o povo brasileiro a manifestar-se, a pressionar os legisladores, para que respeitem os direitos das verdadeiras maiorias, a democracia, os direitos sociais, os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, os direitos humanos, os direitos das mulheres, da juventude, dos negros e negras, dos LGBTT, dos povos indígenas, das comunidades quilombolas, o direito ao bem-estar, ao desenvolvimento e à soberania nacional.

4. A Constituição Brasileira de 1988 estabelece a separação e o equilíbrio entre os poderes. Os poderes Executivo e Legislativo são submetidos regularmente ao crivo popular. Mas só recentemente o poder Judiciário começou a experimentar formas ainda muito tímidas de supervisão, e basicamente pelos seus próprios integrantes. E esta supervisão vem demonstrando o que todos sabíamos desde há muito: a corrupção, o nepotismo, a arbitrariedade e os altos salários são pragas que também afetam o Poder Judiciário, assim como o Ministério Público. O mais grave, contudo, é a disposição que setores do Judiciário e do Ministério Público vem crescentemente demonstrando, de querer substituir o papel dos outros poderes, assumir papel de Polícia e desrespeitar a Constituição. Convocamos todos os setores democráticos a reafirmar as liberdades constitucionais básicas, entre as quais a de que ninguém será considerado culpado sem devido julgamento: justiça sim, justiceiros não!

5. A Constituição Brasileira de 1988 proíbe o monopólio na Comunicação. Apesar disto, os meios de comunicação no Brasil são controlados por um oligopólio. Contra este pequeno número de empresas de natureza familiar, que corrompe e distorce cotidianamente a verdade, a serviço dos seus interesses políticos e empresariais, chamamos os setores democráticos e populares a lutar em defesa da Lei da Mídia Democrática, que garanta a verdadeira liberdade de expressão, de comunicação e de imprensa.

6. Um consórcio entre forças políticas conservadoras, o oligopólio da mídia, setores do judiciário e da Polícia trabalham para quebrar a legalidade democrática. Aproveitam-se para isto de erros cometidos por setores democráticos e populares, entre os quais aqueles cometidos pelo governo federal. Os que assinam este Manifesto não confundem as coisas: estamos na linha de frente da luta por mudanças profundas no país, por outra política econômica, contra o ajuste fiscal e contra a corrupção. E por isto mesmo não aceitaremos nenhuma quebra da legalidade.

7. Concluímos manifestando nossa total solidariedade à luta do povo grego por soberania, democracia e bem-estar, contra as imposições do capital financeiro transnacional.

Em defesa dos direitos dos trabalhadores e das trabalhadoras!
Em defesa dos direitos sociais do povo brasileiro!
Em defesa da democracia!
Em defesa da soberania nacional!
Em defesa das reformas estruturais e populares!
Em defesa da integração latino-americana!
Brasil, 1 de julho de 2015




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