Grande parte da situação de intolerância de hoje em dia se deve a um sentimento de impotência diante de um sistema opressor que não permite ao pobre o consumo de bens que a própria mídia exige dele.
Esse sentimento vai se acumulando até que uma hora explode em violência urbana.
O
jornal Valor Econômico noticiou esta semana que 1% da população
mundial passa agora a deter mais riqueza que os restantes 99%.
Além
disso, 62 pessoas tem tanto dinheiro quanto a metade mais pobre da
população mundial.
Há
apenas 5 anos atrás eram 388 pessoas que acumulavam esse capital.
Ou
seja, esse gráfico cresce numa proporção assustadora e nos faz
imaginar se pode piorar ainda mais.
Mas
se esses números, mesmo que sem uma análise mais apurada, já
revelam uma situação extremamente preocupante, compreender o que
eles significam pode nos tirar noites de sono.
Antes
de mais nada, embora o capitalismo afirme que é o único capaz de
gerar riqueza, não nos iludamos pois nos encontramos num sistema
isolado chamado Planeta Terra cujos recursos são limitados.
Para
agravar o quadro, esses recursos naturais e energéticos vão se
esgotando à medida em que a população cresce em ritmo
exponencial.
Então,
primeiramente, os pobres.
O
fato de o Brasil ter retirado 30 milhões de pessoas da linha de
miséria pode ter evitado que os números divulgados fossem ainda
piores. Porém, como a maior parte da população mundial é de
pobres, podemos esperar que o número de miseráveis em situação de
fome tenha aumentado e ainda aumentará significativamente. E pensar
que gente morrerá de fome e de doenças ligadas à falta de
alimentação por essa espécie de genocídio econômico nos
entristece e revolta.
Em
seguida a classe média.
Certamente
essa também vem perdendo seu poder de compra e consumo, já está
engrossando as fileiras dos pobres e em alguns anos teremos uma massa
sem poder aquisitivo.
Mas,
e os ricos?
Os
ricos teoricamente, como disse Marx, dependeriam dos pobres para
gerar sua riqueza. Isso, se o acúmulo de capital fosse ainda hoje
totalmente proporcionado pela exploração do trabalho. Nesse caso,
os ricos também precisariam depender da classe média e de parcela
dos pobres para consumir aquilo que é produzido, os bens de capital.
Porém,
hoje em dia não é mais só a atividade produtiva que acumula
riqueza, mas também a especulação financeira.
Muita
gente se faz rica ao comprar ações na baixa e vender na alta sem
que isso signifique produzir alguma coisa.
Além
disso, o não pagamento de impostos, coisa de que os pobres não
podem escapar por ter descontos efetuados já no pagamento de seus
salários, e a remessa de grandes quantias para paraísos fiscais
onde são criadas holdings especiais para esse fim, fazem a delícia
dos ricos.
E
acúmulo desmedido de capital faz bem?
Vejamos
o caso do bilionário brasileiro, Paulo Lemann, dono e sócio de
marcas com Imbev, Burguer's King, Heinz, etc..
Consta
que sua fortuna é estimada em cerca de 84 bilhões de reais. Se
parasse de trabalhar e investisse seu patrimônio em caderneta de
poupança, teria garantidos só de juros e correção monetária a
quantia mensal de cerca de 420 milhões de reais. Mesmo que
mantivesse uma vida de luxo, não conseguiria gastar todo esse
montante e reinvestiria a maior parte dele. Ou seja, ficaria ainda
mais rico.
Bem,
mas aonde essa situação de acúmulo de capitais nas mãos de poucos
pode nos levar?
Já
está nos levando a revoltas no mundo inteiro.
Grande
parte da situação de intolerância de hoje em dia se deve a um
sentimento de impotência diante de um sistema opressor que não
permite ao pobre o consumo de bens que a própria mídia exige dele.
Esse
sentimento vai se acumulando até que uma hora explode em violência
urbana.
E
quem mais paga o preço é a classe média que insiste em defender os
do andar de cima, que são poucos, enquanto protesta contra políticas
de distribuição de renda.
Como
disse Marx, o capitalismo gera o seu próprio coveiro.
Como
disse Étienne de La Boétie, acostumamo-nos a nos curvar a um único
soberano sem que percebamos que somos muitos e ele um só.
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