sábado, 17 de setembro de 2022

Chibata

Por Vigílio Almansur




Chibata.Vara fina e flexível usada para bater em pessoas ou animais; vergasta. Por extensão, tira fina de couro usada para fustigar, para castigar; chicote. Figurativamente, castigo corporal aplicado com chibatadas; circunstância de quem se encontra oprimido, privado da sua liberdade, especialmente em sofrimento ou sob castigos: “queria sair daquela vida de chibata”.

No Rio, enquanto regionalismo, golpe violento de capoeira em que um dos pés é lançado, sendo que a mão permanece apoiada no chão e a outra perna levantada. No Nordeste é designação vulgar do órgão genital masculino; pênis; pinto.

A botânica premia planta gramínea brasileira usada como bengala. Etimologicamente, a origem da palavra chibata é indicada pelo feminino de chibato, vista também como cabritinho de seis meses e um pouco mais…

No entanto, essa palavra parece derivar do francês antigo chicot, “ponta de corda de navio” e podia servir também para corrigir condutas. Verbalmente, conjuga-se chibatar, verbo transitivo direto, que sugere “eu chibato” para dar chibatadas ou chibatar alguém.

Poyszé…

Num espaço de duas semanas vimos revelações interessantes, onde capitães do mato da era digital usaram seus chicotes. Apesar de suas vozes ecoarem para milhões, muitos milhões já os viram nesses últimos 350 anos, sob algozes a chibatarem os “não-entes”, os “não-ontológicos” ou os “não-ser” que perderam suas origens e vieram aprender uma língua estranha sob império exterior e se submeteram às vilanices, ultrajes e humilhações transitivas e intransitivas que assistimos deslocadamente.

Refiro-me a um vídeo postado no interior da Bahia. O Ministério Público do Trabalho (MPT) instaurou um inquérito para investigar um possível assédio eleitoral em Luis Eduardo Magalhães (o nome antecipa aquele que teve seu coração retirado para ser entregue ao pai, ACM, o “toninho malvadeza”), cidade d’oeste da Bahia.

Em um vídeo postado nas redes sociais, uma empresária do agronegócio orienta que agricultores “demitam sem dó” os funcionários que votarem em um candidato à presidência e outro ao governo do estado.

A mulher foi identificada como Roseli Vitória Martelli D'Agostini Lins. Na rede social ela se apresenta como "aposentada, conservadora, avó de dois meninos maravilhosos, entusiasta pelos rumos que o Brasil está trilhando". Credo…

Em uma das postagens, Roseli orienta os colegas ruralistas: “Façam um levantamento. Quem for votar no Lula, demitam, e demitam sem dó, porque não é uma questão de política, é uma questão de sobrevivência. E você que trabalha com o agro e que defende o Lula, faça o favor, saia também”.

A ideologia, sempre dominante — e só sobrevive porque tal… —, dá as caras sem nenhum constrangimento. A humilhação do empregado, mesmo inaparente, quase indeterminado, encontra-se com o lombo assado, marcado sob chibatas. Nós não conseguimos nem imaginar… Mas aquele que está apanhando com toda certeza o saberá… São milhares, milhões!

“Demitir sem dó” é poderio que, contraposto àquele considerado hipossuficiente (parece tão somente avançar porque palavra bonitinha, mas ordinária), está no ordenamento. Na ponte para o futuro que ficou pretérita e ceifou trabalhadores hoje na linha miserê quase irreversível (fome, ausência de trabalho, falta de perspectivas, humilhações, desesperos, famílias decompostas em quase 7 anos) não se encontram mais resultados; desastre irrecuperável!

O lombo arruinado não é e nunca será o da madame-vovó Roseli. Ela, ao invocar necessidade, sobrevivência, entra na lógica do senhor e do escravo e parece estar em 14/05/1888 gritando como madame Fidalga da estirpe dos Junqueira de Cataguases, Leopoldina e demais pelo interior de S. Paulo: “… E eu??? E eu??? E eu??? E eu???”.

Viram? Sobrevivência! A mesma que faz hospitais, com aval do STF, impedir um piso salarial à enfermagem! Esta nesma que se imolou na pandemia quando nenhum recurso havia para sustar mortes. Deram a cara à tapa! Mas a sobrevivência da empresa fala mais alto!

Questão de sobrevivência, a madame-vovó não quer um estado de rigor social e consequente bem-estar. Ela quer o Estado pra ela! Ela quer fazer seus empréstimos a fundo perdido em banco estatal de investimento e deixar pros bisnetinhos pagarem, quem sabe em 2122 como o milhardário papagaio de zona de SC, cuja havan, diziam, ser propriedade da filha de Dilma. Lembram?

Quando recentemente vimos — e estamos vendo! — a grita das empresas que se veem premidas a buscar no aparato judiciário solução para o piso salarial homologado, elas estão dizendo que só conseguem trabalhar com escravos. Se assim não for — já que o SUS-ESTADO não é tão bonzinho às redes hospitalares particulares que se beneficiam desse mesmo Estado — o miserável nunca terá onde cair, até porque o STF não lhe dará suporte nem acolhida no tempo dos mortais…

Não bastassem as ignomínias desse ultraje, vem o tal marmiteiro que chantageia uma hipossuficiente e expõe a senhora. É, lamentavelmente, a hipossuficiente da hipossuficiência, aquela figura encontrável na periferia da periferia que muitas vez também tem outra periferia… Cassio Cenali fez self fílmica para informar que se votar no Lula, a mulher não teria mais marmita. Brincadeira ou não, pois chegou a pedir desculpas, ali o cabresto é nele e indica a subserviência ao modelito neoliberal máximo em que somente ele, empreendedor, pode dispor das marmitas e sua lavagem para o cidadão. Ele controla, faz caridade e quer reciprocidade. Não quer o Estado promovendo segurança alimentar; quer manter suas vizinhas sob condicionamento e tirar o proveito em outras instâncias…

Os dois exemplos e mais outros milhares e milhares de bem intencionados classistas, apenas acentuam o privilégio que acompanha o escravismo, que atrasa nossa soberania, aumenta as desigualdades e faz do Brasil terra sem dono (Estado) em muitos de nossos rincões.

O que veio à tona e o que vem se revelando nesse percurso de esteriotipias condensadas de 18 para cá, expressivamente em 19/20/21 e 22, é personificação máxima de um estado empático que o miliciano-mor conseguiu junto aos seus. Ele é simplesmente um porta voz macabro, armazena em seu perfil o sujeito despreparado, o pouco lido, o atrasado de carteirinha que escoiceia por qualquer motivo, o déspota idiotizado que baba na bandeira, se diz cristão e mata na próxima esquina.

Para não ficarmos tão apenas nas figuras inexpressivas, a expressiva jornalista, âncora de Roda Viva da Cultura, identificada às pautas reacionárias e co-partícipe dos movimentos de ódio ao PT, carrega uma infinidade de posturas da Casa Grande. Sua eloquência em vários momentos nesses últimos anos não podem e nem devem ser esquecidos.

Vera Magalhães é aquela mulher que quando Da. Marisa (esposa à época do Lula) morreu fez uma piada dizendo: "case-se com alguém que não vai transformar seu velório em um comício". Todas as vezes que Dilma foi agredida ou mesmo tendo sido peça de chacota de seus pares (algumas indígnas jornalistas), Vera ficou calada. Não se preocupou com os ataques raivosos perpetrados pela extrema direita que já se coçava explicitamente nos arredores de 2013, bem como se revelava vedete acrítica do juizeco bandido, mas banditismo mesmo era o de Boulos que não deveria ter voz ou lavra na FSP.

Essa Vera não pode ser esquecida como também não devemos esquecer seu instante Dilma, Boulos ou Manuela D’Ávila sendo açoitada no Roda Viva e Lula apedrejado (“faz parte da política lançar pedras”).

Nós não devemos admitir qualquer ameaça ou humilhação a quem quer que seja. Devemos ter em mente que muitas Veras ajudaram a criar monstros efetivos e cabe-nos tão somente impedir que mais serpentes se criem e tragam infelicidade à sociedade.

As Veras não podem nem devem ser exaltadas. Nós sabemos o que elas fizeram nos verões passados. Foi muito feio!!! Não se consegue, enquanto tivermos figuras de expressão na mídia, contribuindo à desinformação, que o panteão democrático se estabeleça.

Temos que repudiar toda agressão que comporte aspectos misóginos, preconceituosos e racistas ou se façam valer da tribuna que se requeira isenta. Repudiar o ocorrido com Da. Vera é uma coisa! Exaltá-la jamais!

As naturalizações que foram se acumulando até outubro/18 têm no silêncio — e tolerância às intolerâncias — seu maior aliado. Esse silêncio compactuou às desídias infames que se apoderaram das inúmeras parcelas de nossa sociedade e geraram o terror da chibata.

Começa assim…


Virgílio Almansur é médico e escritor.


PRECISAREMOS DE UM JIPE, UM CABO E UM SOLDADO PARA TIRAR O CAPITÃO DO PALÁCIO?

Por Fernando Castilho

Imagem: Parte de Alegoria do Triunfo de Vênus, de Agnolo Bronzino (invertida e em preto e branco)


Muita gente receia declinar seu voto em Lula, seja nas conversas no trabalho e nas escolas, seja entre parentes e amigos, seja também quando tem que responder a uma das pesquisas de opinião, afinal, os casos de violência por parte de bolsonaristas estão se multiplicando perigosamente.


Saiu a nova pesquisa Datafolha. Mais do mesmo, assim como as demais, Ipec, Quaest, etc.

Os votos em Lula, Bolsonaro, Ciro e Tebet estão cristalizados e, por isso, se não houver nenhum fato novo, o petista papará a eleição, quiçá no primeiro turno, o que acredito.

Há motivos.

Muita gente receia declinar seu voto em Lula, seja nas conversas no trabalho e nas escolas, seja entre parentes e amigos, seja também quando tem que responder a uma das pesquisas de opinião, afinal, os casos de violência por parte de bolsonaristas estão se multiplicando perigosamente.

É possível, portanto, que no dia 2 de outubro tenhamos a agradável surpresa de uma lavada do ex-presidente sobre o capitão. Espero, baseado no fato de que ainda há 4% que dizem que votarão em branco e 3% que não opinaram. Além disso, embora Ciro Gomes insista em levar sua candidatura até o fim, já há uma debandada de pedetistas em direção a Lula, já no primeiro turno.

Outro fato a destacar neste texto é a blindagem que Bolsonaro adquiriu de seus seguidores.

Há um ano escrevi que à medida que falcatruas fossem aparecendo, os cerca de 30% que o capitão tinha acabariam por derreter e só sobraria o núcleo duro do bolsonarismo, aqueles que, contra tudo e contra todos, continuam resolutos em seu apoio ao mito.

Ledo engano.

Nem as rachadinhas, nem a mansão do Flávio, nem os 107 imóveis, dos quais, 51 adquiridos com dinheiro vivo, abalaram a fé desse povo.

Nem o comício custeado com dinheiro público no 7 de setembro, nem o termo “imbrochável” pronunciado num evento cívico no qual se esperava um mínimo de compostura do presidente, chocaram essas pessoas que se dizem patriotas.

Nem as mais de 680 mortes por Covid-19, cuja incompetência ficou escancarada e em que não faltaram as imitações grotescas de pessoas morrendo asfixiadas por falta de oxigênio, produziram alguma indignação nesse grupo.

As ameaças de golpe, pelo contrário, soaram bem-vindas a 30% da população que opta pelo fim da democracia, desde que seu mito continue no poder.

Por incrível que pareça, nem os preços altíssimos dos alimentos e a volta da fome arranharam a imagem do capitão.

Imagine se a corrupção no MEC acontecesse nos governos Lula ou Dilma. Mas como foi no governo do capitão, seus seguidores não deram bola.

E agora, a cereja do bolo. Nem a redução de 60% dos medicamentos de distribuição gratuita teve o poder de revoltar principalmente os idosos que vivem à custa de remédios.

Segundo o Datafolha, 33% dos eleitores votam em Bolsonaro. Ele não cresce nem diminui. Chegará assim ao dia 2 de outubro.

Resta saber se aguardará os próximos dias conformado com seu destino. Se aprontará alguma coisa ou fugirá do país.

O choro já começou numa entrevista em que afirmou que se recolheria, caso fosse derrotado. Mas também já acabou.

Bolsonaro, embora afirmasse que passaria a faixa presidencial a Lula, jamais o faria, pois não é homem preparado para agir de maneira educada e civilizada. Há até a possibilidade de alguma grosseria, isso sim.

Também não acredito que respeitará o resultado das urnas em caso de derrota em primeiro turno. O problema é que, se alegar fraude, todos seus aliados que estariam eleitos a cargos menores terão, forçosamente, que ver suas candidaturas serem também contestadas.

O máximo que ele pode fazer é, como Trump, se recusar a levantar da cadeira.

Mas aí, é só chamar um jipe, um cabo e um soldado para tirá-lo de lá à força.


sexta-feira, 9 de setembro de 2022

O monstro cresceu e precisa ser contido

Por Fernando Castilho


Charge por Renato Aroeira


A verdade é que o monstro era apenas um embrião em 2016. Deveria ter sido abortado na época, mas, ao longo destes 6 últimos anos, vem sendo muito bem alimentado e, surpresa, cresceu a ponto de não mais podermos destruí-lo a não ser pelo voto.


"É necessário que as instituições não se deixem enganar pela falsa interpretação de que este ano foi mais 'suave' pelo fato de Bolsonaro não ter dito coisas como chamar um ministro do Supremo de canalha. Bolsonaro ontem [7/9] abusou do seu poder como chefe de Estado, usou recursos públicos para a campanha, dividiu o país em dia de união, apropriou-se de data nacional, desrespeitou códigos, protocolos e leis. E, sim, ameaçou a todos com golpes de Estado".

"Se Bolsonaro sair de novo impune de todo o escandaloso abuso de poder exibido durante todo este infeliz Sete de Setembro, é porque o país se deixou encurralar por um golpista que usa todas as técnicas de manipulação para destruir a democracia".

A fala da jornalista Miriam Leitão é forte, mas impotente e eivada da hipocrisia daqueles que gritam “PEGA LADRÃO” enquanto eles mesmos foram os autores do roubo.

Leio os jornais e constato que jornalistas do naipe de Reinaldo Azevedo, Josias de Oliveira e a própria Miriam Leitão, entre outros, se revoltam com as ilegalidades cometidas pelo capitão e correm a escrever contra elas, como se eles mesmos não fossem os artífices do estado de coisas em que nos encontramos hoje.

Miriam, porém, tem razão. Josias e Reinaldo também. Parecem gritar em uníssono: É PRECISO QUE AS INSTITUIÇÕES FAÇAM ALGUMA COISA! QUE PUNAM BOLSONARO!

Mas como?

O que aconteceria se o TSE decidisse, acolhendo os pedidos dos partidos de oposição, cassar a candidatura do presidente?

Mais de 30% da população, aferida nas pesquisas, apoiam o canalha! Isso dá cerca de 64 milhões de pessoas! Muitas delas, armadas! Muitas delas, violentas!

Como o TSE assumiria o risco de uma irresponsabilidade que poderia desencadear um número de mortes que não se pode estimar?

A verdade é que o monstro era apenas um embrião em 2016. Deveria ter sido abortado na época, mas, ao longo destes 6 últimos anos, vem sendo muito bem alimentado e, surpresa, cresceu a ponto de não mais podermos destruí-lo a não ser pelo voto.

Foi em maio de 2019, apenas 5 meses após sua vitória, que Jair Bolsonaro participou de uma manifestação golpista em Brasília que pedia fechamento do Congresso e do STF. Flagrante crime de responsabilidade, muitíssimo além das pedaladas fiscais que derrubaram Dilma Rousseff e, que hoje até ministros do STF admitem, não configuraram nenhuma ilegalidade.

Nenhuma instituição, seja o Congresso, então presidido por Rodrigo Maia, seja o STF, então presidido por Dias Toffoli, ou seja, a PGR, então presidida por Raquel Dodge, foi capaz de cortar as asinhas do monstro que começava a engatinhar. Limitaram-se sempre a notas de repúdio.

Agora o monstro está maior que todos eles e se diz imbrochável, possivelmente uma metáfora (não sei se ele tem habilidade para isso) para incontrolável ou irrefreável.

Somente o presidente do TSE vem travando uma árdua batalha contra esse monstro, mas, infelizmente, não vem sendo seguido pelos ministros do STF. Luta sozinho, se expõe sozinho, e, por isso, não tem força suficiente para contê-lo.

Assistimos o capitão utilizar das comemorações do Dia da Independência, não só para ameaçar um golpe, mas também para fazer comício e sugerir que, se eleito, não deixará mais o poder, transformando o Brasil numa autocracia, eufemismo para ditadura. Tudo isso, pago com dinheiro público.

Farta exposição dada pela cobertura da imprensa lhe dará pontos nas próximas pesquisas, creio eu. Ciro Nogueira até já aposta numa virada.

Infelizmente precisamos esquecer as instituições. Nada poderão fazer a não ser aplicar alguma multinha ao criminoso e emitir notas de repúdio.

Até mesmo para a sobrevivência das delas, a esperança é Lula.

Para nossa grande imprensa, tão atacada pelo presidente, a sobrevivência depende do democrata Lula.

Somente ele será capaz de restaurar a importância, o respeito e a independência das instituições e da imprensa. E elas sabem disso.

É preciso que a grande imprensa, que tem começado a atacar o presidente pelas suas falas e atitudes golpistas, passe para a fase seguinte que é a de entrevistá-lo, não só para ouvi-lo, como tem feito, mas para colocá-lo contra a parede em casos dos imóveis adquiridos com dinheiro vivo e das rachadinhas, como fez a jornalista Amanda Klein. Que escalem seus jornalistas investigativos para esmiuçar a vida do capitão e de seus filhos, como fizeram Thiago Herdy e Juliana Dal Piva do Uol. É preciso mais. O assassinato de Marielle Franco, por exemplo, é assunto considerado tabu pela família do presidente e precisa ser elucidado. Esse é o papel da imprensa.

Urge, pois só faltam poucas semanas para o primeiro turno das eleições, que a maioria dos ministros da suprema corte se uma em sua própria defesa e não deixe Moraes isolado nessa luta.

Acima de tudo, é necessário que a campanha de Lula convoque a população para sair às ruas contra a possível reeleição do presidente.

O monstro Bolsonaro, tal qual um Godzila, precisa ser atacado por todas as forças que desejam a liberdade, a democracia e o estado de direito, sob pena de termos que viver sob uma ditadura miliciana.

 


segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Por que a arma travou?

 Por Fernando Castilho




Desta vez o instrumento do capitão Messias foi o lobo solitário, Fernando André Sabag Montiel, um bolsonarista convicto que tentou eliminar o mal, segundo seu mito.


Ainda nos surpreendemos com o que já não deveríamos. E isso é bom.

Depois do bolsonarista que invadiu a festa de aniversário de um petista e o matou com uma arma de fogo, não seria surpresa que outro apoiador de Jair Bolsonaro ousasse eliminar mais alguém da esquerda, tão odiada pelo seu mito.

A escolhida da vez foi a vice-presidenta da Argentina, Cristina Kirchner que, além de ser parte importante de um governo de esquerda, é mulher. E todos sabemos que o capitão odeia as mulheres, principalmente aquelas que se sobressaem aos homens.

Mas a pergunta que não quer calar é: POR QUE A ARMA TRAVOU?

Bolsonaro, desde antes do início de seu governo, vem insuflando o ódio entre uma população que parece desejar o retorno aos tempos pré-estado, quando havia uma guerra de todos contra todos. Para isso, extraoficialmente, criou até um gabinete do ódio.

A penetração da ideologia das armas nas igrejas evangélicas, instrumentalizada por pastores milionários que não acreditam em Cristo, mas no dinheiro, fez com que um grande número de fiéis esquecesse da máxima que prega oferecer a outra face a quem nos agride. Desta forma, o ódio contra aqueles que são diferentes, contra a esquerda e, mais especificamente, contra Lula e o PT, cria uma legião de lobos solitários que só estão no aguardo de uma ordem ou de uma insinuação de ordem para fazerem o serviço sujo de seu messias.

Mas, POR QUE A ARMA NÃO DISPAROU?

Bolsonaro adotou o discurso de guerra que diz que há uma luta do bem contra o mal e que ele representa o bem. Portanto, todos os que a ele se opõem, são o mal. Cristina Kirchner, por ser de esquerda e mulher, é a face bem-acabada do mal. Só faltou ser negra e homossexual.

Desta vez o instrumento do capitão Messias foi o lobo solitário, Fernando André Sabag Montiel, um bolsonarista convicto que tentou eliminar o mal, segundo seu mito.

Então a arma deveria ter disparado, mas POR QUE TRAVOU?

Os evangélicos que veem em Bolsonaro um messias, até pelo sobrenome, e que, por isso, acreditam que ele é um enviado de Deus, deveriam fazer essa pergunta.

Se Fernando Sabag agiu como instrumento do messias e este age como instrumento de Deus, mais uma vez, POR QUE A ARMA NÃO DISPAROU?

POR QUE A ARMA TRAVOU?

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Moraes foi correto e corajoso, mas não esperemos mais que isso dele

Por Fernando Castilho


Foto: Ricardo Stuckert


Lula está em primeiro lugar em todas as pesquisas e deverá vencer, se não no primeiro turno, no segundo. Somos a maioria no país, portanto, temos que pensar grande.

Tendo a seu lado o atual, Jair Bolsonaro e à sua frente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Alexandre de Moraes, empossado como novo mandatário do Tribunal Superior Eleitoral, foi autor de um discurso forte em defesa das urnas eletrônicas, da Democracia, do Estado de Direito e da punição a quem divulgar fake news durante a campanha eleitoral que ora se inicia.

O capitão acusou o golpe recusando-se a aplaudir a corajosa fala enquanto que Lula, encerrada a cerimônia, recebeu efusivo cumprimento do novo presidente do TSE.

Imediatamente nas redes sociais, petistas utilizaram novamente o apelido de Xandão para manifestarem sua alegria, carinho e confiança pelo mais novo herói nacional.

Ao ler as postagens, me senti pequeno.

É claro que a atitude de Moraes foi corretíssima e muito importante para pulverizar qualquer tentativa de golpe por parte do capitão, mas ela não se deve porque ele esteja querendo contribuir para a eleição de Lula. Ele fez apenas seu papel, ou seja, o que se espera dele enquanto defensor da Constituição e da legislação eleitoral, embora, repito, de maneira corajosa.

Outros petistas preferiram lembrar de maus posicionamentos de Moraes com relação a Lula e ao PT, como se valesse cobrar dele um broche com a estrelinha vermelha no peito. Ele foi colocado no STF por Temer, lembram-se?

Nós, que desejamos Lula mais uma vez na presidência do país, não o fazemos se não pela confiança que temos nele como o único motor que sinceramente vai trabalhar 24 horas por dia para recuperar a terra arrasada em que o Brasil se tornou após mais de 3,5 anos de desgoverno do capitão.

Lula está em primeiro lugar em todas as pesquisas e deverá vencer, se não no primeiro turno, no segundo. Somos a maioria no país, portanto, temos que pensar grande.

Devemos compreender que existem dois passos fundamentais para que o povo brasileiro volte a experimentar o bem-estar social a partir do próximo ano.

Primeiro passo: a realização das eleições, ainda ameaçadas por golpe. Sem elas, Lula não se elege;

Segundo passo: a consagração de Lula como vitorioso.

Para que o primeiro passo seja dado, toda e qualquer força que se disponha a se engajar nessa luta, é muito bem-vinda. É aí que entra Alexandre de Moraes, dentro dessa perspectiva histórica, sem paixões ou emoções.

Se Moraes se apresentou como essa força poderosa, afinal, é presidente do TSE, que a utilizemos a nosso favor.

Sejamos realistas no dia em que ele se posicionar contrariamente a medidas do governo Lula porque esse dia virá, com certeza.

No mais, tenhamos consciência de nossa força, demonstrada no comício de Belo Horizonte.

E que a demonstremos mais uma vez em São Paulo, 20 de agosto!

 


domingo, 14 de agosto de 2022

Nada de MUITA calma nesta hora!

Por Fernando Castilho


Pintura de Stasys Eidrigevicius


Se não há motivos para alarde, pelo menos um sinalzinho amarelo deve estar soando no comando da campanha de Lula. Acredito que ela não deva ser negligente.


Fernando Brito, a quem tenho muito respeito como jornalista, escreveu em seu blog, Tijolaço, um artigo com o título, MUITA CALMA COM OS ALARMISTAS DA ELEIÇÃO.

Poderia concordar com ele, já que não devemos ficar desesperados com a, até agora, pequenina melhora de Bolsonaro nas pesquisas. Porém, não acho que o fato deva ser negligenciado pela campanha de Lula. Vejam que ele não pediu calma, que pode ter como sinônimo cautela, mas MUITA calma, o que é um exagero.

Brito chega a citar alguns fatores que contribuíram para esse respiro do Capitão, como a queda do preço da gasolina e, principalmente, a grana distribuída aos mais pobres de maneira inconsequente e ilegal às vésperas da eleição.

Mas são esses justamente os fatores que podem alavancar mais ainda a campanha do homem que desdenha da morte e que ocupa temporiamente a cadeira presidencial.

Podemos juntar a isso a ofensiva que a primeira-dama, Michelle tem feito para tentar recuperar a imagem de seu marido junto às mulheres, aqueles seres que ele desde sempre os dois consideram inferiores. E vem conseguindo, vamos combinar.

Além disso, a campanha do inominável avança muito entre os evangélicos. Essa população com tendências fundamentalistas é sua aliada ideal numa absurda guerra entre o bem, do qual ele diz ser o representante, e o mal.

Se não há motivos para alarde, pelo menos um sinalzinho amarelo deve estar soando no comando da campanha de Lula. Acredito que ela não deva ser negligente.

Faltam longuíssimos 50 dias até o pleito e os efeitos da ousadia do ser que ocupa a cadeira têm muito tempo para serem sentidos.

Essa postura de não se deixar se alarmar e de tratar tudo com MUITA calma, de certa forma, custou o impeachment de Dilma Rousseff, até porque ela própria confiou nas instituições, já que não havia cometido crime algum.

Quase que exatamente um ano antes da prisão de Lula, obtive a informação de que ele seria condenado e detido. A fonte, hoje membro do grupo Prerrogativas, que pediu à época para que não mencionasse seu nome, me garantiu que isso seria líquido e certo. Cheguei a duvidar, até porque não havia nenhuma prova de crime cometido pelo ex-presidente. Mesmo assim, a fonte me garantiu que a prisão ocorreria e mais, que a segunda instância também estava comprometida com o então juiz, Sérgio Moro.

Publiquei isso em meu blog e fui atacado por muita gente, simplesmente porque ninguém aceitava o “absurdo” da prisão de um ex-presidente inocente. E aconteceu.

Outra coisa que Brito escreveu diz respeito à crítica que André Janones fez aos termos técnicos e complicados de economês que a campanha de Lula utiliza e que o povo mais simples não consegue compreender. O articulista tem razão ao afirmar que o ex-presidente sabe como ninguém se comunicar com as pessoas, mas a coordenação precisa realmente se comunicar melhor. Quem anda fazendo isso é justamente o Capitão Morte.

Estamos em uma guerra entre a civilização e a barbárie e precisamos vencer.

Artigos que contribuem para que baixemos a guarda de nada nos servem agora.

Lula sabe disso e até colocou Alckmin de vice e vem construindo alianças por todo o país.

Ele sabe que não é permitido cochilar até a vitória.

É preciso pressão total e contínua até 2 de outubro e para isso, é necessário que se organizem cada vez mais atos, não só pela defesa da democracia, mas por aquele em que depositamos nossa confiança para recuperar a terra arrasada em que o Brasil se transformou.

Nada de MUITA calma.

 

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

De volta a junho de 2013

Por Fernando Castilho


Imagem: Mídia Ninja


Assustados, os petistas perguntaram o que estava acontecendo.

O pesquisador, então, tentando manter a calma entre os presentes, explicou de onde e de que tempo estava vindo.


Nunca houve desmonte tão grande de nossos institutos de pesquisa como no atual governo.

Em 2019 o diretor do Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Ricardo Galvão, foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro por divulgar imagens dos desmatamentos ilegais na Amazônia.

De lá para cá vários outros pesquisadores deixaram o órgão, mas alguns outros continuaram a trabalhar em seus projetos.

Um deles, altamente secreto, propunha a construção de um dispositivo capaz de anular a 2ª Lei da Termodinâmica através do entrelaçamento quântico, ideia descoberta graças a um feliz acaso, como costuma acontecer na Ciência. Dessa forma, seria possível reverter a entropia e retornar a estados da matéria que já ficaram no passado.

Simplificando, utilizando certa quantidade limitada de energia, seria possível que uma pessoa voltasse a uma época não muito longínqua por curto intervalo de tempo.

Pois bem, como nossos cientistas aprenderam ao longo de muitos anos a trabalhar com parcos recursos, o projeto não sofreu descontinuidade e revelou-se possível de ser executado.

Assim, no começo desta semana, um dos cientistas serviu como cobaia retornando ao dia 8 de junho de 2013.

Como o protótipo ainda não possuía sintonia fina, não foi possível determinar com exatidão o local onde o cientista se materializaria. Por isso, ele tomou forma a partir do nada na mesa de um bar onde um grupo de petistas comemorava o resultado da então última pesquisa Datafolha que dava 65% de aprovação ao governo Dilma Rousseff.

Assustados, os petistas perguntaram o que estava acontecendo.

O pesquisador, então, tentando manter a calma entre os presentes, explicou de onde e de que tempo estava vindo.

Os integrantes da mesa, incrédulos, tomaram uma dose de cachaça e começaram uma espécie de sabatina ao cientista para se certificarem de que não se tratava de uma fraude.

A primeira pergunta feita por um militante barbudo e de cara redonda foi: quem é o presidente em 2022?

- Jair Bolsonaro.

- Como, aquele deputado do Rio, ligado às milícias e que defende a ditadura?

- Ele mesmo.

- Fraude!, exclamou um homem magro e cabeludo entornando um copo de cerveja.

A gargalhada foi geral.

Então, uma moça de cabelos cacheados, com um chale no pescoço, resolve perguntar: e a Dilma, o que aconteceu com ela depois que concluiu seu governo?

- Err... não concluiu, disse o cientista. Foi cassada por impeachment. Alegaram que cometeu crime de responsabilidade, mas que apesar disso é muito honesta, viu?

- Hua, hua, hahaha! Conta outra, riram todos. Mais um gole.

- É verdade, porra!, bradou o pesquisador. Desculpem o palavrão.

À essa altura, todos já estavam cochichando uns com os outros.

- Olha, mais uma, disse o homem do futuro. Lula era o favorito nas pesquisas em 2018, mas foi preso para não poder concorrer. Não havia nenhuma prova de crime contra ele, mas mesmo assim, um juiz até então desconhecido e irrelevante o condenou.

- Ah, vá!, bradou um companheiro já bem mais velho. Mais cachaça!

- Esse cara é um mentiroso contumaz! Ou então é louco! Imagine prender Lula sem provas!

- Bem, mas o povo deve ter reagido à essa injustiça, né? Todo mundo saiu às ruas pra protestar, né?, perguntou outra mulher, um pouco mais velha que a anterior.

- Pior que não, disse o pesquisador. Houve um início de resistência no início no sindicato dos Metalúrgicos do ABC em São Bernardo, mas depois o país voltou ao normal como se nada tivesse acontecido.

- Carácoles!, exclamaram dois em uníssono.

- Ah, e teve uma pandemia que matou quase 700 mil pessoas no Brasil!, disse o cientista.

Todos se entreolharam, assustados e incrédulos.

- E o presidente desdenhou da pandemia e boicotou a compra de vacinas...

- Agora já chega!, bradou o petista gordinho e barbudo. Chega de mentiras! Quer enganar a quem? Seu infiltrado!

- Não, não quero enganar ninguém! É a pura verdade! A inflação voltou, a fome voltou e não há emprego! Trouxe até um jornal pra mostrar!

Todos se juntaram em torno das manchetes do dia.

- Não é possível! Esse jornal deve ser falso!

- As eleições estão próximas, não estão? Acontecem em outubro, não? Então ele não se reelege, certo? Simples assim, disse o magrinho. Quem concorre com ele?

- Bem, não é bem assim. Lula está em primeiro lugar nas pesquisas e pode vencer já no primeiro turno!

- Ôpa! Aí sim! Mas, quem é o vice do Lula?, perguntou a jovem de cabelos cacheados.

- Err, bem... é, é o Alckmin...

- Não, não e não! Não é possível! Mentiroso! Vá enganar outros, seu tucano!

- Gente, é isso mesmo. Lula precisou colocar o Alckmin de vice para poder dialogar com a elite e os empresários. Ao mesmo tempo o afastou da candidatura a governador de São Paulo para abrir caminho ao Haddad que já está em primeiro lugar nas pesquisas.

À essa altura, todos já tinham bebido muito e permaneciam calados, taciturnos, talvez por medo de novas revelações do cientista.

Mas ele não desistiu.

- Tem mais! O presidente está armando um golpe para o 7 de setembro. Não pretende entregar o poder para Lula, caso este vença. Está afirmando que as urnas eletrônicas são fraudáveis.

- Mas ele não se elegeu várias vezes deputado através das urnas eletrônicas? Ele quer a volta do voto de papel?

- Isso!

- Olha, chega! Volte pro lugar de onde você veio, disse o mais velho com voz trêmula. Mais uma dessas e eu tenho um enfarte fulminante.

Percebendo que precisava exorcizar os demônios que dele se apoderaram durante 3 anos e meio de desgoverno, prosseguiu:

- O presidente quer filmar as pessoas votando nas cabines.

O petista mais velho caiu morto da cadeira.

A bateria do dispositivo já estava na reserva obrigando o cientista a voltar.

Os companheiros chamaram a ambulância, mas já era tarde.

Todos voltaram em silêncio para suas casas.


sábado, 30 de julho de 2022

Mudanças repentinas no xadrez eleitoral

Por Fernando Castilho

 

Gustave Doré - Nono círculo do Inferno, reservado aos traidores


Quando os prazos para a eleição vão ficando próximos de se esgotarem, mudanças repentinas sempre ocorrem. E os traidores, como ratos, vão saindo de suas tocas.

 

Escrevi em meu último texto sobre a relatividade do tempo.

Muito curto para alguns, muito longo para outros.

Pois é, 24 horas depois desses escritos, grandes mudanças no cenário eleitoral da disputa para a presidência da República.

Não havia saída possível para o capitão poder escapar de uma enxurrada de processos que viriam a partir do início do próximo ano, já que sua candidatura está fadada a um retumbante fracasso e a tentativa de golpe se mostrará inócua.

Mas, segundo a coluna de Mônica Bergamo, articula-se nos bastidores possível perdão ao criminoso que ocupa por enquanto a cadeira presidencial, condicionado à sua desistência em criticar as urnas eletrônicas, o TSE, o STF e seus ministros.

Acho muito difícil o sucesso dessas negociações, já que o capitão tem muito pouco a oferecer para se livrar de crimes muito graves. O nome de nosso judiciário ficaria manchado para todo o sempre. A ver.

Outra notícia que surgiu após meu texto é a tentativa do Aliança Brasil e seu cacique, Luciano Bivar, apoiar Lula já no primeiro turno.

Esse apoio, se se concretizar, seria determinante para a vitória antecipada do ex-presidente, em que pese a contrapartida do PT que pode vir a ser uma carga muito pesada. Porém, se Lula precisa de maioria no Congresso para garantir-lhe governabilidade, esta estaria praticamente assegurada.

E é claro, teremos que dar boas risadas do ex-juiz Sergio Moro, arqui-inimigo de Lula, que disputa o Senado no Paraná pelo mesmo partido.

Outra grande novidade é o twitter de André Janones sinalizando sua desistência da disputa para apoiar Lula já no primeiro turno.

Detentor de 8 milhões de seguidores e forte junto aos caminhoneiros, Janones havia procurado Ciro e Tabet para conversar, mas não foi recebido. O único que se dispôs a com ele dialogar foi o ex-presidente.

Como havia adiantado em meu último texto, já há muitos candidatos ligados ao presidente que estão evitando colar sua imagem à dele. Alguns já desembarcaram e outros, como Arthur Lira e Ciro Nogueira, escondem a figura do capitão em sua campanhas. Essa é a gente que iria para o nono círculo do Inferno, caso ele existisse.

A política é assim. Dinâmica e, quando os prazos para a eleição vão ficando próximos de se esgotarem, mudanças repentinas sempre ocorrem.

Por isso, é necessário aguardar, ficar antenado a novas ocorrências e ser ágil na escrita.

 


sexta-feira, 29 de julho de 2022

Dois longuíssimos meses até a volta da esperança

Por Fernando Castilho




O que resta ao ocupante da cadeira presidencial nesses próximos dois longuíssimos meses?


O tempo é relativo.

Para quem, em frente ao coqueiro verde, já tinha fumado um cigarro e meio e nada de Narinha chegar, o tempo parece uma eternidade.

Para quem está desenganado pelos médicos, dois meses passam num piscar de olhos.

Para Lula, que tem a real possibilidade de vencer as eleições presidenciais em 2 de outubro, dois meses é tempo longo demais, pois nesse período relativamente curto, reviravoltas são possíveis, mas não prováveis.

Considerando que já há mais de dez meses as posições de primeiro e segundo colocados permanecem praticamente inalteradas, somente um acontecimento totalmente fora da curva pode arrancar a vitória de Lula.

Além disso, há um empenho pessoal do capitão em ser derrotado. Até seus aliados mais próximos perceberam, ainda que tardiamente e já se desesperam.

O discurso golpista durante o lançamento de sua campanha assustou a elite que correu a assinar a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito! (assine aqui)

O capitão não falou de controle da inlação, recuperação da economia e do emprego ou de crescimento do país.

Por isso, até Febraban e Fiesp, dois dos alicerces que congregam o filé do empresariado brasileiro, se fizeram presentes.

Restou ao mandatário da nação, apressadamente, desdenhar da iniciativa e, mais tarde, escrever ele próprio um manifesto com as únicas ferramentas que tem à mão: 27 palavras e o Twitter.

Se em 2018 essa elite apoiou decisivamente sua campanha, agora, preocupada com as consequências econômicas de um golpe, desembarca solenemente dela. O que será que o capitão imaginava? Que dariam apoio a essa aventura?

Além disso, o secretário de defesa norte-americano, Lloyd J. Austin III, em reunião com o ministro da defesa brasileiro, general Paulo Sérgio, manifestou sua confiança nas urnas eletrônicas, sugerindo que nenhuma ousadia golpista teria o apoio de seu país.

Com isso, as Forças Armadas, enquanto instituição, não deverão apoiar uma ruptura, embora haja alguns focos que permanecerão isolados, mas sem muita força.

O resultado é que o capitão está ficando só.

Não vence no voto e não consegue dar um golpe, embora continue a seguir na tentativa.

O que resta a ele, afinal?

Se Lula vencer em primeiro turno, imediatamente o capitão se transformará em cachorro morto.

As traições, que já estão acontecendo principalmente no Nordeste, aumentarão exponencialmente, afinal, para que ficar do lado de quem já não distribui mais recursos de orçamentos secretos?

A partir de janeiro próximo as denúncias de crimes de responsabilidade, que já somam mais de 40, começarão a gerar enxurradas de processos na primeira instância, já que o capitão perderá o foro privilegiado.

Na grande maioria deles, o então ex-presidente será condenado e, dependendo da celeridade das instâncias superiores, será preso daqui a pouco tempo, quando se esgotarem os recursos em terceira instância e não em segunda, como ele sempre defendeu.

É o futuro de quem desde cedo se propôs a entrar para a lata de lixo da história.

Enquanto isso, seguimos aguardando esses longuíssimos próximos dois meses.


quinta-feira, 28 de julho de 2022

É urgente abafar o ensaio golpista de 7 de setembro!

Por Fernando Castilho


Pintura: Evandro Prado


A partir da ousadia do capitão, o caos poderá se instalar até com mortos e feridos. Mesmo esperando que não, a lógica impõe que sim.


Às vezes fico na dúvida se escrevo ou não algumas linhas que podem ferir suscetibilidades. Felizmente, crio coragem.

A sociedade civil, finalmente, caiu na real e já assina um manifesto, a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!

Até agora são mais de 180 mil assinaturas, incluindo a minha. Isso não é pouco.

Porém, parece que ainda falta algo. O povo.

Precisamos sair às ruas antes do 7 de setembro e em número muito maior que o evento golpista.

Temos a real possibilidade de abafar qualquer ensaio que esteja sendo tramado.

Outra coisa é uma crítica à parte da esquerda que parece ter dificuldade de assimilar o que está por vir.

Leio aqui e ali que podemos dormir sossegados porque não haverá golpe.

Concordo que uma ruptura como deseja freneticamente o presidente da República está num horizonte que só ele enxerga porque não consegue aglutinar as forças necessárias para o feito.

Mas, se não haverá golpe, haverá a tentativa de golpe, pois o crápula que ora ocupa o Palácio do Planalto já convocou. Isso ficou claríssimo quando, durante o lançamento de sua candidatura, em que normalmente se faz discurso sobre programas de governo, o crápula preferiu chamar seus seguidores para o ato do Dia da Independência. E ainda disse que será a última vez que o cercadinho sairá às ruas.

O bandido não quer eleições porque já sabe que será derrotado. Ao tomar conhecimento da mais recente pesquisa Datafolha que crava 47% para Lula e apenas 29% para ele, resta apenas tentar virar a mesa.

E é esse o perigo.

A partir da ousadia do capitão, o caos poderá se instalar até com mortos e feridos. Espero que não, mas a lógica impõe que sim.

O país pode ser virado de cabeça pra baixo!

É isso que precisa ser combatido agora.

Leio também análises ingênuas que tentam explicar a blindagem que o PGR, Augusto Aras oferece ao mandatário do país.

Dizem que Aras persegue um posto de ministro do STF e que por isso arrisca todas suas fichas no capitão.

O inominável perderá a eleição! Portanto, Aras se arrisca inutilmente a ser cúmplice de seus crimes por prevaricação.

A menos que também deseje um golpe.

Ou, o que me parece muito mais lógico, tem grana envolvida para que ele se exponha dessa forma blindando o capitão contra qualquer acusação. Vamos acordar!

Muita grana, até porque ninguém mais está controlando nada. Dinheiro sai secretamente e entra secretamente em contas secretas.

Enquanto isso, permanecemos aguardando uma convocação às ruas pela resistência, que deveria já estar sendo articulada pelos partidos que compõem a chapa Lula/Alckmin.

Enquanto isso, produzimos e compartilhamos uma infinidade de memes engraçados, imaginando que com isso estaremos furando a bolha da esquerda e atingindo os bolsonaristas.

Enquanto isso, textos como este, de alerta, não são lidos. Talvez nem pelos sites em que publico. Porque não têm legitimidade.

Enquanto isso, a vida segue.


segunda-feira, 25 de julho de 2022

O Capitão Morte e a inexorabilidade do matadouro

Por Fernando Castilho


 

Hieronymus Bosch



(...) percebeu que as intenções de voto já estão cristalizadas há muito tempo e não existe até o momento nenhum fato novo, nenhuma facada, capaz de alterar esse estado de coisas. 


Sou uma pessoa guiada fortemente pela razão e, por isso, tenho como hábito estranhar certos comportamentos que fogem da lógica mais elementar.

Todos vimos o presidente da República pagar pra ver, se arriscando a passar por um vexame internacional cujas consequências à sua campanha pela reeleição seriam logicamente danosas. A imprensa, dois dias antes, já alertava para o desastre.

A apresentação a 40 embaixadores foi, mesmo assim, posta em prática e não deu outra. A grande maioria dos diplomatas presentes conhece muito bem nosso sistema de apuração de 

A mídia internacional condenou a fala de Bolsonaro e o Departamento de Estado norte-americano deu-lhe um puxão de orelhas ao afirmar que as urnas eletrônicas são um exemplo para o mundo.

Mas a tresloucada aventura do capitão não foi um coelho retirado da cartola somente por ele. Os cupinchas presentes no evento compartilham das mesmas ideias e das mesmas estratégias que, aos poucos, vão minando sua candidatura frente um adversário que vem ostentando até agora uma sólida campanha.

Os generais Braga Netto e Augusto Heleno estavam presentes, o que indica apoio à estratégia suicida.

Mas não é só isso.

Embora não presentes, observa-se, por declarações em redes sociais, que os filhos do presidente também compartilham de sua jornada em direção à derrota.

É aí que precisamos parar para pensar no que pode estar por trás disso.

Estamos assistindo quase todos os dias Bolsonaro participando de motociatas e fazendo discursos direcionados à parcela da população que o apoia cegamente, em que, invariavelmente ataca o TSE e as urnas eletrônicas. Para o senso comum, esse comportamento parece campanha eleitoral, mas, na verdade, não é. Se fosse mesmo campanha eleitoral, ele estaria falando em reduzir a inflação, anunciando medidas econômicas para gerar empregos, etc.

O mais lógico parece ser a intenção de Bolsonaro de não chegar a 2 de outubro, dia da eleição, porque percebeu que as intenções de voto já estão cristalizadas há muito tempo e não existe até o momento nenhum fato novo, nenhuma facada, capaz de alterar esse estado de coisas. O que ele está fazendo, na realidade, é campanha para preparar seus seguidores para se insurgirem contra o processo eleitoral. Preparando para um confronto.

O capitão está tentando aglutinar forças entre seus seguidores, as polícias, federal, dos estados e municípios, setores das Forças Armadas e parlamentares de sua base de apoio para melar as eleições, já em 7 de setembro.

Temendo a enxurrada de processos e consequente prisão por mais de 40 crimes de responsabilidade que estão elencados em mais de 150 pedidos de impeachment sobre os quais o presidente da Câmara, Arthur Lira olimpicamente se senta, não resta ao capitão outra alternativa que não um golpe.

É por isso que os cupinchas mais próximos e seus filhos parecem marchar resolutamente em direção ao precipício. Não são bobos. Sabem que não podem vencer as eleições.

Porém, as Forças Armadas, em sua grande maioria, não estão interessadas nessa aventura. Isso já foi demonstrado pela falta de adesão dos principais comandantes militares, ainda mais depois da declaração do Departamento de Estado norte-americano.

A grande imprensa, que até outro dia vinha sendo reticente, agora, talvez já percebendo a real possibilidade de tentativa de golpe, já se posiciona contrariamente a Bolsonaro, principalmente depois dos assassinatos do jornalista britânico Dom Philips, do indigenista Bruno Pereira e do petista Marcelo Arruda, além da apresentação vexatória aos embaixadores.

Os movimentos sociais, a sociedade civil, os artistas, os intelectuais e, mais recentemente, os procuradores do ministério público, já se organizam para rechaçar qualquer tentativa de golpe.

Bolsonaro a cada dia mais parece um touro inconformado em direção a um inevitável matadouro.

Vai mugir, soprar forte pelas ventas, se sacudir e espernear inutilmente até seu destino implacável que será a prisão por tentativa de golpe.