Mostrando postagens com marcador Ciro Gomes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ciro Gomes. Mostrar todas as postagens

sábado, 21 de maio de 2022

Ciro saiu do PDS, mas o PDS nunca saiu dele

Por Fernando Castilho

Foto: Reprodução Youtube


Ciro Gomes talvez deseje derrotar Lula porque gostaria muito de ser Lula, mas nunca poderia sê-lo. Está numa cruzada pessoal na qual luta sozinho porque o ex-presidente o ignora


Quando Ciro Gomes convidou Gregório Duvivier para um debate em seu canal, qualquer um que acompanha minimamente o destemperado candidato já poderia prever o que iria acontecer.

Ciro é oriundo do PDS, a antiga Arena, o partido que deu sustentação à ditadura militar, utilizado apenas para dar aos olhos do mundo e de brasileiros incautos, a ilusão de democracia comandada por um regime cruel e sangrento.

Ao ter a ideia do debate Ciro deve ter pensado que Duvivier seria mais um a ser jantado.

A expressão vem sendo usada por admiradores sempre que ele utiliza de seu estilo autoritário para tentar anular ou desqualificar o outro, numa evidente faceta fascistóide que carrega desde sempre.

Mas o coronel não costuma jantar quem o bajula, como é o caso do ator Pedro Cardoso que, no mesmo canal, Ciro Games, só lhe teceu elogios, merecendo o tempo que quisesse para se expressar.

Duvivier o tempo todo se queixava de que Ciro não o deixava falar, ao que espertamente o cearense, que não nasceu no Ceará,prometia que lhe daria voz. E não dava.

O coronel tinha fome de janta, já tinha até colocado seu babador, mas de repente  imaginou que o debate também serviria bem para dar um up em sua campanha estacionada nos 8 ou 9%, afinal, seria visto por muitos milhares de espectadores (ao escrever este texto, o canal já tinha 750 mil visualizações!), entre eles, muitos petistas e muitos “nem nem”, admiradores de Duvivier.

Por isso, passou a desfilar um rosário de ataques a Lula, a maioria eivados de injúrias, calúnias e difamações.

Lula até agora tem se mantido com foco de sua candidatura, com proposições para restaurar o que foi subtraído do país em termos de civilização e economia, mas também não se furtando às críticas contra Bolsonaro, o verdadeiro inimigo da democracia e do povo brasileiro, aquele de fato precisa ser combatido. É improvável que acione o tagarela na justiça.

Talvez Lula ainda alimente uma esperança, ainda que tênue, de poder contar com Ciro no segundo turno, já que parece impossível um apoio no primeiro.

Mas o que é de fato muito estranho é um candidato que está em terceiro lugar nas pesquisas, lutando para se classificar para a segunda volta, atacar o candidato mais bem colocado. Seu foco deveria ser o capitão, até porque seria mais fácil. Ele deseja (exige?) um debate com o ex-presidente, e não com o capitão, a quem seria muito mais fácil vencer, caso este comparecesse.

Incompreensível também, se considerarmos o coronel um candidato de esquerda, não se unir a Lula neste momento para juntos, derrotarem a extrema-direita.

A conclusão é que Ciro Gomes, na realidade, pretende duas coisas:

1 - derrotar Lula porque gostaria muito de ser Lula, mas nunca poderia sê-lo. Está numa cruzada pessoal na qual luta sozinho porque o ex-presidente o ignora;

2 – não está nem aí para o Brasil, sua democracia e seu povo desempregado e faminto.

Para Ciro, derrotar Bolsonaro e seu autoritarismo não está no horizonte porque ele próprio é autoritário e só está num partido tido como de esquerda por conveniência, a mesma conveniência que o fez membro de várias agremiações ao longo de 40 anos de vida pública, a começar pelo velho PDS.

Na verdade, Ciro saiu do PDS, mas o PDS nunca saiu dele.

quinta-feira, 17 de março de 2022

O mito da terceira via

Por Fernando Castilho




A última pesquisa Genial/Quaest mostrou Moro e Ciro, praticamente empatados em dois cenários, mas muito atrás de Bolsonaro, o segundo colocado. Parece que não decolarão mesmo.


Já muito se escreveu e se falou sobre a tal terceira via para as eleições presidenciais de 2022, mas gostaria de dar minha contribuição para esse debate.

Em primeiro lugar, sou taxativo: não existe a terceira via!

Por quê?

Vamos raciocinar. O termo surgiu porque nossa elite ficou desesperada por ter de escolher entre Bolsonaro e Lula. Acreditam que um está numa ponta e outro na outra. A isso a mídia deu o nome de polarização.

Mas será que ela existe de fato?

É certo e tranquilo que o capitão está realmente na ponta chamada de extrema-direita. Mas é um grande equívoco dizer que Lula está na outra ponta, ou seja, na extrema-esquerda.

Lula já governou o país por duas vezes e sua sucessora, Dilma Rousseff, por um mandato completo e outro interrompido pela metade devido ao golpe que sofreu. Em nenhum momento o ex-presidente assumiu posições que nos levaram ao socialismo e, muito menos, ao comunismo. Pelo contrário, enquanto, com seus programas sociais, tirava 35 milhões de pessoas da linha da miséria, conferia bem-estar à classe média e possibilidades de lucro à elite econômica do país. Ninguém saiu perdendo com Lula.

Então, o ex-presidente se situa no ponteiro da centro-esquerda.

Para reafirmar essa posição junto ao mercado, leva junto à tiracolo, o ex-governador e ex-tucano, Geraldo Alckmin, como seu vice.

Para se estabelecer a terceira via, ou seja, um meio-termo entre Bolsonaro e Lula, seria preciso um candidato não de centro, mas de direita!

Vamos analisar quais seriam os pretendentes a essa vaga.

Sergio Moro já demonstrou, por suas posições, principalmente em relação à segurança pública, como a excludente de ilicitude, entre outras posturas próximas ao fascismo, que se situa no mesmo lugar onde o ponteiro do espectro político aponta para Bolsonaro. Ele é um Bolsonaro com um pouco mais de verniz, embora fale também muita besteira. Além disso, já foi ministro do capitão por ter ideias parecidas.

Ciro Gomes se situa no mesmo lugar de Lula, a centro-esquerda, embora pessoalmente fale mais como direita. Poderia muito bem ser vice dele, mas a vaidade o impede.

Sobrou quem? João Doria? Este, durante a campanha de 2018 adotou o codinome de Bolsodoria, justamente por se confundir com o capitão.

Então fica demonstrado que não há terceira via.

A última pesquisa Genial/Quaest mostrou Moro e Ciro, praticamente empatados em dois cenários, mas muito atrás de Bolsonaro, o segundo colocado. Parece que não decolarão mesmo.

Se não decolarem, há possibilidade de desistência antes do primeiro turno?

Não há dúvida, pela personalidade, que Ciro não desiste de jeito nenhum, mas, na hipótese improvável de sua desistência, creio que, dos 7% que ostenta hoje, uns 5% poderiam ir para Lula, que ficaria com confortáveis 49%, podendo vencer já no primeiro turno.

Deputados do Podemos, partido de Moro, já deram um prazo para ele esboçar reação. Caso desista, poderá tentar uma vaga no Senado. Mas seus eleitores, para onde irão?

Essa é uma pergunta dificílima de responder, pois eles odeiam tanto Lula quanto Bolsonaro. Possivelmente, votariam em branco ou anulariam o voto, favorecendo Lula para vencer no primeiro turno devido à contagem dos votos válidos.

Agora que já se percebe que a terceira via não vai mesmo emplacar, aqueles que lançaram essa hipótese vão ter que se decidir por Lula ou por Bolsonaro.

Já há pelo menos um mês, o capitão se mantém mais quieto para evitar falar bobagens e a mídia parou de atacá-lo.

Isso sinaliza que a opção de nossa elite já é por Bolsonaro, embora haja dúvidas porque o capitão não conseguiu implementar a política neoliberal de Paulo Guedes na sua totalidade.

E é preciso por nesse tabuleiro a memória que ela tem dos tempos em que ganhava muito dinheiro durante os governos Lula.

Enquanto outubro não chega, vamos acompanhando o andar da carruagem, analisando os fatos novos que vão surgindo.

 


sábado, 12 de fevereiro de 2022

Sentado numa pedra, para respirar

Por Valter Moraes



Nessa semana, dois eventos do meu entorno me tiraram as forças. No primeiro, um amigo não entendeu uma ironia (em que eu depreciava a mim mesmo) e foi de uma grosseria doentia; noutro, uma pessoa querida demais me vem com um "nem Lula nem ... (aquilo lá).

Apesar de o primeiro caso ter me deixado bem chateado (é uma pessoa que admiro e respeito), aceitei com o tempo. Estamos todos meio malucos mesmo e é um erro falar com contatos virtuais como se estivéssemos num bar tomando chope. Vida que segue.

O segundo, porém, abriu um ralo sob meus pés e fez o ânimo escoar. Já é muito difícil para mim, aceitar que 1/4 da população ainda apoie esse inferno que vivemos, mas o flagelo aumenta quando vemos que há ainda pessoas - esclarecidas! - que ponham no mesmo nível um homem comum e um ser que representa o fascismo. "É pacabá!"

Eu sou petista, mas não tenho energia para militar do modo tradicional, tentando convencer quem quer que seja de uma obviedade desse tamanho.

Meu Deus, não se trata de gostar desse ou daquele líder, é uma questão de princípios, de História, de ciência. De um lado, a democracia; de outro, o Fascismo; de um lado, uma pessoa que pode não agradar; de outro, um verme que flerta com a morte desde o começo; de um lado, uma pessoa que perdeu várias eleições e respeitou o jogo democrático; de outro, uma escória que só se elegeu por meio de mentiras!

Eu nem gosto de pensar no vice do Lula, me dá náuseas, mas isso é política. Porém, se o Ciro - que eu detesto - fosse a opção contra esse pesadelo, seria ele a saída. Não se trataria de política, mas da manutenção de conquistas por que gerações antes da minha tanto lutaram. Muita gente foi torturada e morreu por isso!

O cara que se me mostrou arrogante e me destratou é mais velho do que eu; a pessoa que sugeriu se abster de escolher entre fascismo e democracia, mais jovem. Acho que isso também diz muito acerca do meu cansaço. Ele se soma ao medo do que pode vir: é só a ponta do iceberg.

O amigo nervoso deve ser ateu. Ao menos no caso dele, há uma possibilidade de tudo ficar bem e voltar ao normal. No outro cenário, o desalento: não sei até que ponto montagens de quinta categoria de Lula fazendo pacto com o demônio estão contaminando a mente dessa minha tão querida.

Mas já nem quero saber: nem de uma coisa, nem de outra. Preciso sentar numa pedra, respirar, tomar fôlego e ir deixando tudo para trás. Seguir adiante, sei que não estou só.

 


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Os sonhos de Ciro

Por Fernando Castilho


"Creio que teremos um segundo turno de Lula contra Ciro.”

Carlos Lupi, presidente nacional do PDT deu entrevista ao Uol em que afirmou, entre outras coisas, que Ciro vai até o fim das eleições porque, segundo ele, não há chances dele abandonar a disputa ao Palácio do Planalto em 2022. "Ciro passou a ser candidato desde que ele perdeu a eleição, em 2018. A candidatura dele vai até o dia da próxima eleição. E para vencer.”

"Hoje temos um cenário em que o Lula tem vantagem sobre Bolsonaro. Bolsonaro hoje está com um terço de eleitores que tinha em 2018. Isso é resultado do desmando de um governo antidemocrático e genocida. Creio que teremos um segundo turno de Lula contra Ciro.”

Realmente não dá pra entender o que se passa na cabeça dos pedetistas. Imaginar que Ciro Gomes, hoje com cerca de 3% das intenções de votos, vá com Lula para o segundo turno e o vença, é sonhar muito alto, embora não seja impossível.

Se é essa a estratégia do candidato, por que direciona suas baterias preferencialmente contra Lula em vez de atacar o segundo colocado, o Capitão Morte? Acaso imagina que conseguirá tirar votos dele? Vejam que, apesar de todos os disparates e as notórias mentiras, além do negacionismo que contribuiu para ceifar centenas de milhares de vidas, o presidente mantém cerca de 30% de eleitores. Ciro não conseguirá tirar um só voto dele.

Carlos Lupi ainda afirmou: "Lula não tocou nessa ferida, que é o sistema financeiro do Brasil. Precisamos taxar os grandes bancos, cobrar das grandes fortunas. Essa é nossa principal diferença e vamos explorar permanentemente."

Gente, Lula nem é oficialmente candidato ainda, embora esteja se movimentando para isso. Essa questão de sistema financeiro deve fazer parte de seu programa de governo e não será tratada agora. Se Ciro já se adiantou, problema dele.

Outra coisa a se discutir agora é pra onde vai a Rede Sustentabilidade.

A maioria do partido trabalha para um possível apoio a Lula (o senador Randolfe Rodrigues já está conversando com a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann), mas Marina Silva se move no sentido contrário e, ao que parece, irá de Ciro, não se sabe se como vice dele.

Isso era de se esperar porque o rancor de muitos anos ainda predomina na mente da ex-senadora, algo que não combina com seu pensamento cristão.

Se Ciro e Marina decidissem apoiar Lula já, nem teríamos segundo turno e a fatura estaria liquidada.

Mas o ego e a ambição são muito maiores que a necessidade de livrar o Brasil do genocida que está no poder.

A mídia e a elite financeira ainda alimenta sonhos com Moro na presidência, uma espécie de Bolsonaro menos pândego, mas Lula já começa a penetrar nesses sonhos e a tendência é que com Geraldo Alckmin de vice ela passe a sorrir um pouco mais para o ex-presidente.

Dito isso tudo, talvez tenhamos que aguardar o resultado do primeiro turno.

Saberemos se Ciro viajará a Paris de novo (talvez o faça por pura provocação) e se Marina fará como fez em 2014 apoiando Aécio Neves contra Dilma Rousseff, agora trocando o mineiro por Bolsonaro. Improvável, mas não impossível.