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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

O que Monark, Bolsonaro e o assassinato de Moïse tem em comum?

Por Fernando Castilho



Todos sabemos do assassinato violento do congolês Moïse Kabagambe.

Há uma polêmica se o crime envolveu racismo e xenofobia, mas talvez a resposta seja a pergunta: se Moïse fosse um suíço loiro de olhos azuis, a história seria outra?

Claro que não.

Portanto, houve racismo e xenofobia sim. E o caso só teve grande reação devido a uma grande comoção nacional. Observem que o crime só foi divulgado dias depois e três homens envolvidos foram presos somente oito dias após o ocorrido. Foi graças a indignação do povo que a imprensa começou a dar maior destaque, senão, talvez passasse batido. Mais um preto morto, apenas.

Apesar da grande comoção, o presidente Jair Bolsonaro não se manifestou sobre o episódio, mas aproveitou para fazer campanha eleitoral ao se manifestar no cercadinho contra militantes ligados a partidos de esquerda, como o Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido Comunista Brasileiro (PCB), que entraram em uma igreja católica de Curitiba, no último final de semana: “É de nosso desejo, inclusive, que outras organizações que promovem ideologias que pregam o antissemitismo, a divisão de pessoas em raças ou classes, e que também dizimaram milhões de inocentes ao redor do mundo, como o Comunismo, sejam alcançadas e combatidas por nossas leis.”

Para o Capitão Morte, o assassinato violento de um imigrante negro não tem importância, mas a criminalização do Comunismo, sim.

É preciso agora estabelecer uma conexão com outro fato ocorrido na segunda-feira (07) para alinhavar o raciocínio.

Naquele dia o influencer Monark, em um podcast, entrevistou os deputados Tabata Amaral e Kim Kataguiri. À certa altura o rapaz afirmou que em sua opinião o nazismo deveria ser legalizado no Brasil: “Eu acho que tinha que ter um partido nazista reconhecido pela lei”, disse o apresentador. “Se o cara quiser ser um antijudeu, eu acho que ele tinha direito de ser”, acrescentou.

Kataguiri foi mais ou menos na linha dele ao afirmar que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo: “Qual é a melhor maneira de impedir que um discurso mate pessoas e que um grupo étnico racial morra? É criminalizar? Ou é deixar que a sociedade tenha uma rejeição social?”, perguntou o deputado.

Tabata se opôs aos dois evocando o holocausto dos judeus e ao final do podcast posou para uma foto ao lado deles, quando poderia ter-lhes dado voz de prisão.

A reação foi muito negativa, principalmente da comunidade judaica e suas associações, a ponto de Monark ser defenestrado da sociedade mantenedora do podcast e ainda, junto a Kataguiri, ter que prestar esclarecimentos à PGR.

Curioso é que ontem (09), Adrilles Jorge, comentarista da Jovem Pan, foi demitido por fazer uma saudação nazista, ao melhor estilo Hitler. É, o pessoal está saindo das sombras, estimulado por três anos de um governo autoritário, preconceituoso e intolerante com as minorias.

Agora, voltando a Bolsonaro.

Na sua fala ao cercadinho, o capitão aproveitou para nivelar o nazismo ao comunismo, ostentando aos seguidores sua mais completa ignorância (ou má-fé) sobre o assunto.

O Manifesto Comunista de Marx e Engels, publicado em 1848 não prega discriminação, perseguição ou execução de quaisquer minorias (embora Stalin tenha promovido execuções em massa de opositores), ao contrário, considera-as integrantes do proletariado, enquanto o nazismo faz exatamente o oposto, caracterizando-se como um partido de supremacistas brancos que se sentem destinados a dominar todo o resto da humanidade.

Mas, abraçar teses nazistas não é uma das características de Bolsonaro?

Não foi ele que, em campanha à presidência, conclamou, utilizando um tripé de fotógrafo para imitar um fuzil, o povo do Acre a metralhar os petralhas?

Não foi o capitão, ainda em campanha, que afirmou que, ou as minorias se subjugavam às maiorias, ou seriam exterminadas e que a ditadura deveria ter matado trinta mil pessoas?

Então, por que falou contra o nazismo no cercadinho?

Foi por medo da reação da comunidade judaica. Ele que sempre tem flertado com o governo de Israel e que tem entre seus seguidores, evangélicos que ostentam bandeiras daquele país nas manifestações pró volta da ditadura, imagina que seus votos irão pra ele.

Para finalizar a conexão, lembro que, ainda durante a campanha, Bolsonaro esteve num evento no Clube Hebraica no Rio de Janeiro. “Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais. Mais de R$ 1 bilhão por ano é gasto com eles”.

O desprezo não é exatamente pelos quilombolas, mas pelos negros, como Moïse.

E para concluir, é por isso que o capitão não deu nenhuma atenção para o assassinato de Moïse Kabagambe. Não tem a mínima empatia.

Mas tem de sobra oportunismo para utilizar o repúdio a uma defesa do nazismo para fazer campanha eleitoral antecipada.

O consolo é que essa coisa amarga, indigesta, esse astral negativo, essa nuvem escura está com os dias contados, vai passar e teremos a chance de redirecionarmos o Brasil de volta para a civilização.