Por Fernando Castilho
Mayke Toscano/Secretaria de Comunicação Social do mato Grosso/Divulgação |
Os 0,75% de milionários garantirão, com a construção de bunkers climatizados, sua própria sobrevivência e a perpetuação da espécie humana quando as alterações climáticas não puderem mais ser reversíveis.
Há
cerca de dez mil anos atrás o ser humano era nômade e vivia em pequenas tribos.
Sempre
que determinado indivíduo sentia fome, saía para coletar tubérculos e frutas e
para caçar.
Tudo
mudou quando uma era do gelo comprometeu seriamente a alimentação dos seres
humanos. Por pouco não fomos extintos. Mas quem sobreviveu?
Naturalmente
os mais fortes e mais aptos puderam se refugiar em cavernas e adotar uma nova
estratégia para se alimentar.
Agora
não mais sairiam individualmente, mas em grupos para caçar animais de grande
porte. Assim, uma vez caçado o mamute, este poderia ser consumido durante
muitos dias e até semanas pela tribo.
Foi o
surgimento da necessária cooperação entre os seres humanos que garantiu que
estivéssemos vivos hoje.
De
lá para cá muita coisa mudou, mas a principal mudança foi o modo de vida que
passou do nomadismo para o sedentarismo.
A
fixação do homem na terra deu origem à propriedade, à riqueza e às leis que
favorecem ainda hoje os mais abastados.
Lula,
em seu discurso na ONU, afirmou que 735 milhões de pessoas em todo o mundo
vão dormir "sem saber se terão o que comer amanhã". As agências de
checagem verificaram que esse número é absolutamente real. Assustadores 9% da
população!
Na contrapartida
há no mundo hoje, 59,4 milhões de milionários, ou seja, 0,75% de toda a
população mundial. O resto é um espectro que vai desde o pobre até o classe
média alta.
Toda
essa introdução se presta a demonstrar que é essa a “grande” minoria de
milionários que garantirá, com a construção de bunkers climatizados, sua
própria sobrevivência e a perpetuação da espécie humana quando as alterações
climáticas com seus desastres naturais e aquecimento acima do tolerado pelas
espécies animais e vegetais não puderem mais ser reversíveis.
Já há
vários relatos dessas fortalezas sendo construídas secretamente em todo o
planeta. São projetadas para serem sustentáveis e resistirem às tentativas de
invasão das hordas de famélicos e refugiados dos países mais quentes.
O
IPCC, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas concluiu, entre os
cenários estudados, que há mais de 50% de chance de a temperatura global
atingir ou ultrapassar 1,5°C entre 2021 e 2040. Porém, como tudo está
acontecendo de maneira acelerada, cientistas climáticos projetam esse aumento
já para 2024 devido ao efeito El Niño 2.
Esse
aumento é uma média global, o que nos faz raciocinar que em alguns lugares a
temperatura se elevará ainda mais do que isso e em outros, menos.
É
justamente o encontro entre massas de ar muito quentes e muito frias que cria
os furacões e as grandes tempestades como o ocorrido no Rio Grande do Sul
recentemente, causando grande número de mortos e desabrigados. Esse fenômeno será
cada vez mais frequente e se estenderá por outras regiões do Brasil e do mundo.
Tenho receio em pensar nas águas de março do ano que vem.
Tivemos
este ano no Sudeste o inverno mais quente de que temos memória. Cabe lembrar
que se projeta para o fim deste mês e início da primavera temperaturas da ordem
de 36°C, o que é extremamente perigoso.
O
que vai acontecer com o planeta nos próximos anos? (já não se fala em próximas
décadas, mas sim, em próximos anos porque as mudanças estão ocorrendo
exponencialmente)
-
Mortes devido ao calor, principalmente crianças e idosos;
- Desastres
naturais causando mortes, desabrigados e devastação;
-
Desaparecimento de pequenas ilhas como as do Arquipélago de Tovalu que contava
com 12 atóis e agora possui 2.
- Avanço
do mar nas costas e litorais devido ao derretimento das geleiras. Quem vive em
cidades litorâneas já testemunha esse processo;
- A
médio ou longo prazo, desaparecimento de ilhas maiores como a da Madeira. Não é
desproposital imaginar a perda da Inglaterra, de Taiwan e do Japão;
- Grande
aumento de refugiados tentando escapar do calor e dos grandes desastres,
causando revoltas, resistências e violência;
- Aparecimento
de vírus que estavam aprisionados no permafrost das grandes geleiras aos quais
não temos proteção, causando novas pandemias.
Enfim,
a lista é grande e não é pessimista.
Lula
tem razão ao denunciar ao mundo que muito pouco ou nada se fez de concreto ou
eficaz para combater as mudanças climáticas. Há inúmeros discursos, mas nada se
faz de maneira efetiva.
Infelizmente
a busca incessante pelo lucro impede que governos adotem as atitudes radicais
das quais precisamos agora para tentar reverter o caos que já está acontecendo.
Não
há outro planeta no horizonte para o qual possamos nos mudar e continuar a humanidade.
Temos que tentar consertar o erro que cometemos, principalmente após o início
da década de 1960 quando imaginávamos que o mundo era um grande parque de
diversões. Abusamos da queima de combustíveis fósseis sem nos preocuparmos com
a poluição que estávamos causando. Construímos carros enormes que consomem
grande volume de combustíveis. Erguemos, impulsionados pelas campanhas
publicitárias, grandes fábricas poluidoras para produzirem aquilo que nem
precisávamos. Abraçamos a ideia da obsolescência programada quando a mídia nos
diz que está na hora de trocarmos nossos celulares. E produzimos lixo como
nunca.
Enfim,
aproxima-se o fim da farra, mas a ficha ainda não caiu.
Alguém
pegou um sapo, colocou-o numa panela e acendeu o fogão.
O
sapo não ligou, afinal, a água estava ficando quentinha e isso era muito
confortável, a princípio.
À medida
que a água esquentava, o sapo ia se adaptando ao aumento da temperatura e nem
pensava em pular da panela. Até que a água ferveu e ele morreu.
Estamos
nos comportando como o sapo.
Os
0,75% de milionários que teriam o poder de salvar o planeta estão se preocupando
somente em salvar sua própria pele. Eles herdarão um mundo com menos gente e
com menos gente é muito mais fácil reduzir drasticamente a emissão de gases de
efeito estufa e reverter o caos climático. Depois continuarão a viver suas
vidas privilegiadas.
É urgente
que nós, sapos, pulemos agora da panela e façamos uma revolução capaz de nos salvar.
Em
2018 surgiu uma liderança jovem capaz de mobilizar milhares de outros jovens em
defesa do planeta, afinal, o abacaxi ficará para eles descascarem.
Greta
Thunberg, a ativista que foi presa recentemente um durante um protesto contra a
demolição de uma vila para a construção de uma mina de carvão
(um anacronismo, já que minas de carvão vêm sendo atualmente desativadas), tem
sido duramente atacada pelos governantes dos países mais ricos por verem nela
uma rebelde que simplifica demais questões tão complexas. Essa é a desculpa que
os que não estão preocupados costumam adotar. Parece que só o Brasil de Lula
está entendendo isso.
Se
não aparecerem novas lideranças capazes de conscientizar os mais afetados pelas
mudanças climáticas para que saiamos do marasmo e nos unamos numa verdadeira
revolução pela nossa sobrevivência, ferveremos como o sapo na panela.
Gostaria
que comentassem sobre o assunto.