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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Adeus, Rayan

Por Fernando Castilho



Rayan tinha apenas cinco anos e, por isso, eu gostaria que o leitor fizesse um esforço de empatia para tentar sentir o que o menino sentia ali, num lugar escuro, apertado, a 32 metros da superfície, longe dos pais e com muito frio


O acidente sofrido por Rayan Awran gerou comoção e solidariedade nas redes sociais em todo o mundo. "Resista pequeno Rayan, por favor, resista", implorou um internauta no Twitter.

"Nossos corações estão com a família e oramos a Deus para que ele se reúna com seus parentes o mais rápido possível", disse o porta-voz do governo Mustapha Baitas.

Rayan caiu num poço de 32 metros de profundidade na terça-feira passada. A família custou um pouco a encontrar o local, mas logo em seguida as tentativas de resgatá-lo começaram.

Por mais que água e alimento tenham sido baixados para o fundo do poço, não se sabe se a criança chegou a usufruir disso.

Rayan tinha apenas cinco anos e, por isso, eu gostaria que o leitor fizesse um esforço de empatia para tentar sentir o que o menino sentia ali, muito machucado pela queda, no escuro da noite, num lugar apertado, a 32 metros da superfície, longe dos pais e com muito frio.

Se você conseguiu sentir a dor e o desespero, parabéns. Eu não consegui. Porque devem ter sido indescritíveis.

Ontem fiquei prostrado após saber da notícia. O choro foi inevitável.

Comparo Rayan com minha netinha quando tinha essa idade. Tão frágil, tão dependente dos pais, tão cheia de vida.

Mas ela leva uma vida boa, tendo acesso a comida boa e farta, brinquedos e celular, além de escola.

Mas, e Rayan? O pequeno Rayan nascido em uma família muito pobre. Rayan, o menino cujo brinquedo era o quintal de sua casa, que se alegrava com o pouco que tinha para brincar e que não teria na vida as mesmas oportunidades de quem nasceu em berços mais privilegiados.

Rayan sofreu uma das piores torturas que uma criança já pode ter sofrido.

Mustapha Baitas orou a Deus, mas não foi atendido. O mesmo a família deve ter feito, mas também não foi atendida.

Sofrerei críticas por minha indignação, é certo, mas não há como aceitar que um Criador, também chamado de Pai, que tudo pode e tudo vê, não tenha tido a sensibilidade de salvar esse menino. Seria um milagre? Ora, não dizem que milagres em condições menos desfavoráveis e até menos importantes, acontecem todos os dias?

Que mal fez essa criança de apenas cinco anos para não ser salvo?

A mãe disse que essa foi a vontade de Deus.