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segunda-feira, 28 de março de 2022

Quem não pode com a formiga, não atiça o formigueiro

Por Fernando Castilho


Foto: Reprodução | Twitter


Governos costumam não dar muita atenção aos jovens. E muitas vezes são eles que os derrubam.

Durante a ditadura militar, a UNE (União Nacional dos Estudantes) e a UNES (União Nacional dos Estudantes Secundaristas) tiveram grande protagonismo na organização da luta dos jovens contra a ditadura.

O senador e ex-presidente Collor de Mello deve ter pesadelos até hoje com os chamados caras-pintadas, rapazes e moças que saíam às ruas para protestar contra seu governo e que tiveram importantíssimo papel em sua queda.

Bolsonaro tem sido “controlado” nos últimos meses pelo centrão do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira para falar menos e não se envolver em polêmicas, já que precisa reduzir sua grande diferença para Lula nas pesquisas eleitorais.

Não há dúvida de que, desde 2019, o primeiro ano de seu mandato, o capitão vem sendo muito menos um presidente e muito mais um fantoche nas mãos dos filhos olavistas, principalmente Carlos, de Paulo Guedes, dos generais, dos evangélicos e, mais recentemente, do centrão. Bolsonaro só é autêntico quando fala alguma bobagem. No mais, ele é bolinha de tênis, como ficou demonstrado no caso da propina dos pastores do ministro Milton Ribeiro.

Mas desta vez não foi um de seus costumeiros rompantes autoritários que fez com que ele se insurgisse contra o evento musical Lollapalluza após a artista Pabllo Vittar ter descido até a plateia com uma bandeira com a estampa de Lula. Foram os advogados de seu PL (Partido Liberal) que entraram com ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por crime eleitoral, rapidamente aceita em parte pelo ministro Raúl Araújo, ao que tudo indica, simpatizante dele. A decisão é inconstitucional porque fere o art. 5º, inciso IV da Carta Magna, que diz: "é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato". Deve ser derrubada em plenário, mas como o evento já terminou, ficará valendo seu aspecto simbólico.

Bolsonaro se esqueceu que jovens unidos por uma característica em comum, como o Lollapalluza, costumam reagir coletivamente. Além disso, a rebeldia, a transgressão e a necessidade de se expressar livremente fazem parte dessa fase da vida.

Se o capitão não tivesse tomado nenhuma atitude, o episódio da Pabllo poderia ter se configurado como uma manifestação isolada sem maiores consequências e esquecida no dia seguinte, mas seu perfil e de seu partido, marcados pelo autoritarismo os impede de raciocinarem friamente nessas horas e o resultado não poderia ser outro.

Grande parte dos artistas que se apresentaram se insurgiram contra a censura e puxaram o coro “Ei Bolsonaro, vai TNC!”

Como se não bastasse, Marcelo D2 do grupo Planet Hemp ainda puxou o clássico “Olê, olê, olê, olá, Lula”. E o povo correspondeu!

Qual o alcance dessa patuscada?

Milhares de jovens com idade entre 16 e 18 anos presentes, podem, enfim, ter se decidido a tirar o título de eleitor e votar em Lula, a antítese de Bolsonaro, seu novo inimigo. Além disso, temos que considerar os que já têm mais de 18 anos que também são inúmeros.

Não nos esqueçamos das famílias desses jovens e do alcance que os veículos de comunicação deram ao caso. O Brasil inteiro repercutiu.

Isso pode ser o início de uma reação do povo contra esse governo que já destruiu boa parte do país e de seu processo civilizatório.

Bolsonaro impôs sua marca, a da censura. 

E censura nunca é coisa boa, pois cala a boca já morreu, como disse Lulu Santos.

Censura é marca da ditadura.

Bolsonaro atiçou o formigueiro.

 

 

 


segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

A agromúsica é pop

Por Aquiles Marchel Argolo


Nos anos 90, o cantor Lulu Santos desabafou no programa do Faustão sobre como os sertanejos e a agromúsica ajudaram a eleger Fernando Collor. Como prêmio ele ficou anos na geladeira da emissora, só que ele estava certo e a coisa hoje é pior.

Acontece que esse estilo de música não domina as rádios, as paradas do Spotify à toa. Ele faz parte de um projeto do agronegócio para fazer sua boa imagem por meio da indústria cultural e sua maior arma é fazer acreditar que o agro é pop por meio do sertanejo universitário.

Nos anos 90 as duplas sertanejas dominaram as paradas e foram símbolo da era Collor, com os mais pobres perdendo suas poupanças, enquanto grandes latifundiários continuaram enriquecendo ao som de Leandro e Leonardo e Zezé Di Camargo e Luciano.

Nos anos 2000, novas duplas surgiram e com a saturação do estilo romântico pop, apareceram os universitários, que traziam roupagem mais pop, próxima ao rock e eletrônico e cooptava o visual vaqueiro mas jamais falando sobre as agruras do homem do campo.

Na verdade, o sertanejo pop romântico e o universitário sempre negaram pautas que seriam de interesse do homem comum do campo, como reforma agrária, grilagem de terra, morte de pequenos agricultores e focou a produção em falar de amores alcoólatras e sexo.

A pauta sempre foi não ter pauta e ser uma arma de alienação em massa.

Já repararam na quantidade de rádios sertanejas que existem? Não é como se houvesse escolha. Esses artistas são forçados goela abaixo, muitos ganhando prêmios sob critérios bem duvidosos.

Enquanto escrevia essa sequência de tweets, só três músicas entre as vinte mais tocadas do Spotify não eram de sertanejo universitário.

Enquanto esses artistas distantes politicamente da realidade do Brasil ganham dinheiro como clones um dos outros, artistas independentes são sufocados pela ausência de espaço e investimento.

A música "batom de cereja" da dupla Israel e Rodolfo concorreu a prêmios na Globo, enquanto trabalhos incríveis foram sumariamente ignorados.

E o público? Ah, o público...

O público jamais admite que seu gosto está sendo guiado. Que estamos em um mar de monocultura onde a variedade é tirada, consequentemente o poder de escolha.

A ilusão que o sertanejo universitário representa o Brasil serve aos interesses de homens por trás dessas duplas parecidas.

É coincidência que a classe sertaneja que apoiou Collor hoje apoia Bolsonaro, que por sua vez serve ao lobby dos grandes pecuaristas?

Pois é. A indústria cultural controla a gente como marionete e a gente engole bonitinho sem nem questionar"

Aquiles Marchel Argolo é jornalista


Título por Fernando Castilho