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quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Cara presidenta Dilma Rousseff, eles não são decentes

Por Fernando Castilho

Imagem: reprodução da Internet


Dilma foi inocentada pelo TEF-1 das pedaladas fiscais, mas não esqueçamos que ela encontrou no PT quem fizesse eco às acusações que sofreu.


Escreve-se textos também com o coração?

Em março de 2014, indignado pelo que ocorreu nas chamadas jornadas de junho de 2013, decidi escrever um livro a que dei o nome de Dilma, a Sangria Estancada. O título é uma referência à famosa frase do então senador Romero Jucá que afirmou durante o processo de impeachment que era preciso estancar a sangria com o STF, com tudo. O livro é como uma agenda que testemunha o clima, o ambiente e a atmosfera que circundaram aquilo que foi chamado pela mídia e pelos parlamentares de então, de impeachment, mas que na minha visão e de muitos, claramente foi um golpe de estado.

Para o prefácio convidei a deputada e presidenta do PT, Gleisi Hoffmann que escreveu cinco lindas páginas e engrandeceu a obra. Mais para o fim retornarei ao livro.

Dilma foi deposta por pedaladas fiscais, um crime de responsabilidade que nunca existiu.

O Supremo Tribunal Federal (STF) não viu à época nenhuma ilegalidade na condenação, mas há cerca de um ano e meio, o ministro Luís Roberto Barroso escreveu um artigo reconhecendo a ausência de crime, mas, pasmem, justificando a sentença com um argumento inusitado que não encontra respaldo na Constituição, qual seja, o de que o Congresso a depôs por sua incapacidade política.

À época do processo, o jurista Miguel Reale Júnior, foi o encarregado pelo consórcio que pretendia derrubar a presidenta honesta, de dar a forma jurídica necessária para o feito.

A sessão que votou pelo “impeachment”, convocada pelo então presidente da Câmara, foi um show de horrores do qual participou uma verdadeira horda de deputados comprados por Eduardo Cunha. Não faltou nem o voto terrivelmente criminoso do então deputado Jair Bolsonaro que aproveitou seus minutos de exposição televisiva para homenagear o facínora que torturou Dilma durante sua prisão nos tempos da ditadura.

A grande mídia cumpriu seu papel no consórcio golpista com dezenas de editoriais dos vários órgãos de imprensa escrita e televisionada e centenas de artigos escritos por colunistas que perceberam a grande oportunidade de defenestrar o PT do Palácio do Governo.

Porém, algo que não se comenta muito, talvez por vergonha, ou talvez porque o nome Dilma Rousseff tenha se tornado uma espécie de tabu dentro do PT, é que ela encontrou no partido quem fizesse eco às acusações que sofreu. Lembro-me muito bem de artigos escritos por juristas de esquerda que consideraram que os argumentos para a cassação eram sólidos. Não vi nem ouvi ainda nenhum reparo por parte deles.

Agora volto a falar sobre meu livro que ainda não foi publicado e talvez nunca seja.

Após longas conversas com a Fundação Perseu Abramo, braço editorial do PT, em 2021, a possibilidade de publicação ficou condicionada, devido a custos, a uma parceria com a Geração Editorial. Eu mesmo tive que atuar na conexão entre as duas editoras.

O livro, segundo a Geração Editorial, teria o potencial de uma tiragem inicial de 4 mil exemplares, portanto, teria público.

O conselho editorial da Fundação Perseu Abramo deu, enfim, sinal verde em fevereiro de 2022, o que me deixou exultante.

Porém, em maio fui comunicado que o livro não mais seria publicado. Os motivos não ficaram claros, mas fontes do partido me sinalizaram que, devido à campanha de Lula seria mais interessante esquecer Dilma.

Como a Geração Editorial não poderia, segundo ela, arcar sozinha com os custos do projeto, o livro foi pra gaveta onde se encontra até hoje.

Cheguei a procurar deputados e gente que hoje ocupa ministérios no governo. Em off, me confidenciaram que a ex-presidenta estava em baixa dentro do PT e que não valeria a pena insistir com alguém que estaria queimada no partido.

Acho que nenhuma dessas pessoas falava por Lula, já que um dos primeiros atos do presidente ao se eleger foi o de se empenhar na condução de Dilma à presidência do Banco do Brics, cargo de grande prestígio e importância mundial. Estaria aí revelada a grande consideração que o presidente ainda tem para com ela.

Apesar disso tudo, para muita gente é particularmente conveniente que ela permaneça “escondida” do outro lado do mundo.

No último dia 21 a 10ª Turma do TRF-1, por unanimidade, rejeitou recurso de procuradores da União, mantendo arquivado o processo contra Dilma, o que equivale na prática o reconhecimento oficial do órgão de que ela é inocente do crime de responsabilidade que lhe imputaram.

O correto seria promover sua volta à presidência, de onde nunca deveria ter saído e corrigir a injustiça cometida, mas o tempo passou, Lula cumpre mandato escolhido pelo povo e ela mesma nem desejaria voltar ao executivo.

Mas algo deveria ser feito.

O poder judiciário, na figura do STF, deveria reconhecer publicamente a injustiça e fazer um pedido formal de desculpas.

O Congresso, que foi o grande responsável pelo golpe, deveria fazer seu mea culpa.

E a grande mídia, fazer uma autocrítica e reconhecer que o golpe em Dilma foi a gênese da eleição de Jair Bolsonaro à presidência, aquele que foi o responsável pela morte de centenas de milhares de pessoas e que quase deu um golpe que colocaria o país numa ditadura por vários anos.

Isso tudo, caso as instituições tivessem homens e mulheres com o mínimo de decência. Mas não é o caso.

Os sites da mídia alternativa repercutiram timidamente a sentença do TRF-1, revelando, ainda, um certo mal-estar para com Dilma Rousseff.

Infelizmente não será essa sentença que redimirá a ex-presidenta.

Seu correto trabalho à frente do Banco do Brics também parece não ser suficiente para a melhora de seu conceito.

Não se pretende aqui que se faça uma estátua de Dilma, mas que tão somente se dê a ela o devido reconhecimento por ter tido em maio de 2013, apenas um mês antes das tais jornadas de junho, 60% de aprovação de seu governo por parte do povo brasileiro, índice que despencou artificialmente no mês subsequente.

Os livros de história precisam registrar tudo isso, sob pena de que as futuras gerações não conheçam a injustiça cometida e desconheçam a hecatombe subsequente a sua deposição.

Ah, o livro continua engavetado à espera de alguma editora que o considere importante para a nossa história recente. 

terça-feira, 13 de junho de 2023

O que aprendemos após 10 anos das jornadas de junho de 2013?

Por Fernando Castilho

Créditos da imagem: https://midiainformal.files.wordpress.com/


O ódio, alimentado por anos a fio, desde 2013, foi num crescendo até o processo vergonhoso de impeachment da presidenta em 2016, culminando com a prisão de Lula em abril de 2018 e a eleição de Bolsonaro.


Um movimento contrário ao aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus na cidade de São Paulo deu início às chamadas jornadas de junho de 2013. Começou aos poucos e foi crescendo até se espalhar por todo o Brasil. Qual camaleão, ia assumindo nova identidade e novos propósitos.

Enquanto o Movimento Passe Livre, essencialmente de origem proletária, reivindicava aquilo que lhe parecia justo na época, meu coração e minha mente naturalmente a ele se juntaram, sabedores das agruras com que as pessoas pobres deste país tão desigual, que necessitam de transporte público para trabalhar ou estudar, enfrentam todos os dias. Mas, também aos poucos, fui percebendo com estranheza que, no espaço de alguns poucos dias, a grande mídia, compreendendo os grandes jornais e revistas impressos e as redes de televisão e rádio, que no início apressaram-se em criticar e condenar o movimento, através de colunistas e editoriais, começaram a mudar de opinião acrescentando-lhe uma conotação mais política e ampliando o foco que antes era localizado, para todo o país. Surgiu a figura do gigante adormecido que acordou indignado, ao mesmo tempo simbologia e senha que tomou as redes sociais de maneira avassaladora, como a querer nos mostrar que estávamos errados em conferir aprovação de quase 60% ao governo Dilma Rousseff somente um mês antes, segundo pesquisa Datafolha.

A conclamação, muitas vezes vinda da Rede Globo que divulgava dias e horários das manifestações, a protestar contra o governo era difusa e artificial, pois nos ordenava a, como zumbis, sair às ruas com pautas confusas e genéricas como maior liberdade, fim da corrupção, reforma política, etc.

No governo Dilma a liberdade nunca deixou de existir porque é o cerne da democracia e, como sabemos, a ex-presidente é democrata. Nenhuma manifestação foi reprimida por ela. É justo exigir o fim da corrupção, mas Dilma nunca foi corrupta, como as intensas investigações, a imprensa e o tempo comprovaram.

A Polícia Federal e o Ministério Público sempre tiveram por parte de Dilma a autonomia necessária para investigar quem quer que fosse, inclusive o então ex-presidente Lula.

A reforma política estava no Congresso, o responsável por aprovar as leis.

Mas então, o que queriam?

Dilma chegou a se pronunciar em rede nacional de televisão se mostrando favorável às reivindicações e se colocando ao lado dos que protestavam, mas, mesmo assim, as panelas bateram ruidosas.

Nas ruas, enquanto pessoas vestidas com camisas da seleção brasileira desfilavam seu ódio contra tudo que estava aí, os black blocs vandalizam vitrines e equipamentos públicos. Hoje temos fortes indícios de que eles, na verdade, eram agentes do exército chamados de kids pretos. A reportagem da revista Piauí mostra claramente os métodos dessa força especial.

O ódio, alimentado por anos a fio, desde 2013, foi num crescendo até o processo vergonhoso de impeachment da presidenta em 2016, culminando com a prisão de Lula em abril de 2018 e a eleição de Bolsonaro no mesmo ano em meio ao ressurgimento do fascismo no Brasil.

É muito fácil, a quem se dispõe a estudar e a refletir sobre todo esse período histórico, que tudo não passou de um projeto idealizado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos para afastar a esquerda do poder, abrindo caminho para a tomada do pré-sal, através do fim dos êxitos dos governos 378 progressistas desde 2003 e o restabelecimento do neoliberalismo que propicia mais lucros às empresas norte-americanas e protege o império.

Com Dilma morta e enterrada na visão de nossa elite, a Justiça teria, enfim, a oportunidade de aparecer perante a opinião pública como a impoluta e incorruptível guardiã dos direitos fundamentais dos cidadãos, “corrigindo” (antes diria, remendando) a decisão do Congresso, porém, sem reconduzi-la ao cargo, como de direito. Essa mesma justiça que se tornou justiceira com a criação da Operação Lava-Jato cujos “heróis” eram o então juiz Sergio Moro e seu cúmplice, Deltan Dallagnol.

O ministro do STF, Luís Roberto Barroso, há cerca de um ano atrás, já tinha reconhecido que a queda da presidenta não se deu por crime de responsabilidade, mas sim por incapacidade política de aglutinar forças em torno dela. Ele sabia disso desde 2016, o ano do golpe, mas só em fevereiro de 2022, resolveu sair de sua toca para manifestar sua opinião.

Felizmente, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) extinguiu o processo contra ela. “A 7ª Turma Especializada decidiu, por unanimidade, dar provimento ao recurso de apelação de Dilma Vana Rousseff, reformando integralmente a sentença atacada para extinguir o feito sem resolução do mérito”, diz o texto da decisão que demonstra de maneira inequívoca que a ex-presidente foi vítima de um golpe legislativo com total apoio da grande mídia.

A presidenta Nacional do Partido dos Trabalhadores, deputada federal Gleisi Hoffmann, manifestou-se pelo twitter desta forma: “O TRF-2 extinguiu ação contra Dilma sobre 379 pedaladas fiscais. Não foi provado que houve danos ao erário. A farsa desmontada mostra que a presidenta honesta foi golpeada de forma misógina e midiática, transformando o país no caos que está aí, de autoritarismo, mentiras e destruição”.

Infelizmente a mídia não deu tanto destaque a isso e nem poderia, artífice que foi desse processo.

Uma grande injustiça foi cometida abrindo caminho para a destruição parcial do estado brasileiro e de seu processo civilizatório. Em parte, ela foi consertada, mas só vamos saber a real extensão disso, nos livros de História dos próximos anos ou das próximas décadas. De qualquer forma, uma reputação foi comprometida, mas grande parte da população brasileira já tem noção do que foi cometido contra Dilma.

Dilma tem, enfim, ao presidir o banco dos Brics, a grande oportunidade de demonstrar àqueles que a atacaram sua grande competência.


(Texto também publicado no Jornal GGN) 

Dez anos das jornadas de junho de 2013. O que aprendemos? (jornalggn.com.br)


quinta-feira, 8 de junho de 2023

Juracélio, o pobre de direita

Por Fernando Castilho

Foto: Marcelo Camargo - Agência Brasil


Ficou surpreso ao passar a receber nos finais do ano visita de vários parentes que não via há anos, vindos do Nordeste, de avião. Veio até a vovozinha com quase 90 anos. Esse povo tá ficando abusado!

 

Juracélio, vindo família de migrantes nordestinos, ingressou cedo no Bradesco como contínuo.

Inspirado em seu fundador, pretendia seguir o exemplo de meritocracia dado por Amador Aguiar que, de simples contínuo como ele, chegou a ser banqueiro.

Jerecélio não sabia, em seus 16 anos, que Aguiar havia aplicado um desfalque no banco em que trabalhara e, com o dinheiro, fundado seu próprio banco. Quando lhe contaram, deu de ombros e não acreditou.

Quando eclodiu em 1985 a maior greve dos bancários, Jerucélio a furou e se apresentou orgulhoso ao trabalho, certo de que vestindo a camisa, sua almejada promoção seria alcançada. Não veio.

Jarecélio furou não só essa, mas todas as greves subsequêntes, pois isso era coisa de comunista vagabundo. Vão trabalhar que seu suor será recompensado, bradava.

Mas Jaracélio nunca recusou os aumentos de salário conquistados pelos grevistas. Pelo contrário, sua vida com isso melhorou e logo ele pôde comprar seu primeiro carrinho.

Veio a campanha à presidência de Collor e Juricélio foi um dos primeiros a se definir a favor do moço bonito, caçador de marajás que, claro, era infinitamente superior àquele sapo barbudo de meia furada e analfabeto chamado Lula. Fez até boca de urna.

Jucerélio tinha uma boa graninha depositada na caderneta de poupança do próprio banco. Perdeu. Tendo sua economia confiscada por Collor, seguiu firme e, mesmo depois que soube que a diretoria do banco, avisada pelo presidente antes dos correntistas, tratou de salvar o dela, continuou a defender o patrão.

O tempo passou e veio Fernando Henrique.

Jecerélio se sentiu em sua zona de conforto, afinal o ''príncipe'' estava seguindo o conselho do capital e, numa fúria louca, vinha privatizando tudo quanto era estatal.

Então os bancos alegaram dificuldades financeiras.

Ôpa! Para Jecerílio isso era mortal. Se o patrão estava em dificuldades, teria que ser auxiliado, pois disso dependia seu emprego.

Jacecélio respirou aliviado e soltou até fogos para comemorar o socorro que FHC deu aos bancos com recursos do BNDES.

Mas veio a era Lula, o que Jucecélio mais temia.

O Brasil iria para o fundo do poço guiado por um analfabeto e, como ele, veja só, nordestino! Quanta audácia! Tudo que conquistara seria perdido. Esse governo não podia dar certo.

E não deu. Para ele.

Embora nesse período a vida de Jaricélio tivesse melhorado bastante, afinal ele conseguira comprar sua casinha e o segundo carro financiado, nunca admitiu que seriam as políticas de governo acertadas que lhe propiciaram essas conquistas. Tudo teria sido somente fruto unicamente de seu esforço, enfim recompensado.

Em seguida, Dilma foi eleita e Jurecélio enfim foi promovido a gerente de agência.

Ficou surpreso ao passar a receber nos finais do ano visita de vários parentes que não via há anos, vindos do Nordeste, de avião. Veio até a vovozinha com quase 90 anos. Esse povo tá ficando abusado, pensou.

Jucerélio se aposentou como gerente.

Não conseguiu, apesar de seu esforço, nada além disso. Não conseguiu ser diretor ou banqueiro como Amador Aguiar, seu ídolo.

Recebeu, à saída, um cartão de agradecimento padrão com assinatura impressa de um diretor de RH do banco, que nunca vira. Mas tava bom. Fora reconhecido. Bastava.

Sentiu-se realizado.

Com muito sacrifício, segundo ele, formou um filho pelo PROUNI e teve a mais velha no Ciências sem Fronteiras. Muito orgulhoso.

Enfim, Jurecélio, sem ter muito o que fazer na vida, resolveu fazer política.

Passou a comparecer à todas as manifestações a favor do impeachment de Dilma e da volta da ditadura militar. Ele achava que o melhor período do Brasil foi sob a ditadura, embora ainda fosse uma criança quando se deu o golpe.

Foi um dos batedores de panela. Quando Dilma foi derrubada, fez um churrasco quase solitário.

Em 2018 fez arminha com as mãos e votou orgulhoso em Bolsonaro.

Quando começou a pandemia, acreditando que a Covid-19 não passava de uma gripezinha, como Bolsonaro a chamou em rede de televisão, Jiracélio não usou máscaras e contraiu a doença. Ficou entubado por dois meses, conseguiu se recuperar, porém, não dispensou a cloroquina, seguindo a orientação do presidente. Sua esposa não teve melhor sorte, vindo a falecer no hospital.

A vida de Jiracélio degringolou.

O capitão bem que tentava melhorar a vida dos brasileiros, mas o maldito STF e a esquerda não o deixavam governar. Só restava ao presidente aliviar o estresse praticando jet-ski e participando de motociatas. As eleições serão fraudadas para Bolsonaro não vender, pensava.

Logo após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, Jaçurélio aproveitando um ônibus fretado por um político bolsonarista, viajou para Brasília e ficou dois meses acampado em frente ao quartel, tomando chuva e enfrentando com valentia os fedorentos banheiros químicos colocados à disposição dos acampados por um empresário do agronegócio. Afinal, valia qualquer coisa para ajudar Bolsonaro a voltar ao poder.

Apesar das privações, valia a pena aguardar, pois o general Braga Netto havia pedido para terem paciência, pois nos próximos dias teriam boas notícias.

No dia 7 de janeiro de 2023, Jaracélio recebeu com euforia e alívio a convocação para comparecer no dia seguinte à Praça dos Três Poderes. Lá, a República seria, com apoio do exército, derrubada. O Congresso e o STF seriam fechados e uma nova ordem seria determinada por Bolsonaro que, mesmo fora do país comandaria as ações. O capitão não abandonaria os seus!

Jiricélio, porém, não contava com a rápida ação do novo governo.

Acabou, aos 70 anos, preso e virou réu no STF.

Caberá a seu filho, formado advogado graças ao PROUNI, defendê-lo.

Há milhões de Jorocélios no Brasil.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Barroso confessa que prevaricou!

Por Fernando Castilho


Charge: Estadão


Poderíamos ser muito brandos com ele, chamando-o de leniente. Amentando o tom, ele seria tolerante. Subindo um pouco mais, omisso. Mas podemos afirmar, de acordo com sua entrevista, que está prevaricando.


O ministro do STF e que está de saída do TSE, Luís Roberto Barroso é odiado por 11 entre 10 bolsonaristas-raiz e consegue a façanha de não agradar também grande parte da esquerda também.

Lavajatista de carteirinha, ignorou a parcialidade com que o ex-juiz Sergio Moro condenou o presidente Lula sem nenhuma prova de corrupção.

Barroso, neste período em que esteve à frente do TSE, enfrentou poucas e boas, desde as ameaças do presidente de que teria provas de que a urna eletrônica é fraudável, passando pelos seus xingamentos e o quase golpe de 7 de setembro último. A vida não lhe tem sido fácil.

Mas a verdade é que o ministro polemiza. Anda doidinho pra isso. 

Há algumas semanas atrás declarou que o impeachment da ex-presidenta Dilma não se deu por crime de responsabilidade, mas sim de incapacidade política.

Leia artigo completo do blog em https://bloganaliseeopiniao.blogspot.com/2022/02/o-golpe-com-o-supremo-com-barroso-com.html

Ora, se ele tinha na época essa percepção, por que ficou calado e só agora emitiu sua opinião? Omisso.

Bem, hoje Barroso deu entrevista à Folha em que, entre outras perguntas, respondeu a esta, que reproduzo pela atenção que me chamou.

Folha: O presidente deve ser responsabilizado por esses ataques, na sua visão? 

Barroso: Eu optei por não entrar com ação penal, queixa-crime [contra o presidente], por muitas razões, mas a principal é que eu não trato isso como uma questão pessoal. A democracia foi a causa da minha geração e eu me mobilizo para defendê-la, mas eu não paro para bater boca. Acho que algumas pessoas são espiritualmente desencontradas, mas eu não dou a elas o poder de me tirar do meu centro.

Poderíamos ser muito brandos com ele, chamando-o de leniente. Amentando o tom, ele seria tolerante. Subindo um pouco mais, omisso. Mas podemos afirmar, de acordo com sua entrevista, que está prevaricando.

Ele optou por não entrar com ação penal contra o presidente por não tratar isso como questão pessoal! Vejam só!

Não se trata de questão pessoal. Acontece que Bolsonaro está cometendo muitos crimes livremente sem que ninguém o responsabilize de fato.

E não é só Barroso. É todo o STF, inclusive Alexandre de Moraes.

Inúmeras ações já foram protocoladas no Tribunal e enviadas ao PGR, Augusto Aras que, ou pede arquivamento ou segura. E fica por isso mesmo.

O governo federal não fez, ao contrário anos anteriores, nenhuma campanha de vacinação! A vacinação no Brasil tem tradição e é eficiente devido à conscientização da população através das campanhas na televisão e outros veículos de imprensa, mas agora só os infectologistas orientam a população a se imunizar.

Como se não bastasse, o próprio presidente boicotou as vacinas e inclusive defendeu que nenhum pai deveria vacinar seus filhos!

Pergunto, quantas crianças contraíram Covid e morreram diante dessa irresponsabilidade?

Acaso, os ministros, incluindo Barroso, não são corresponsáveis por isso?

Quem paga essa conta?

O que estão esperando? Que chegue o dia das eleições e o Capitão Morte seja derrotado nas urnas e todos se esqueçam dos mau-feitos e voltem a ser felizes para sempre?

E se Bolsonaro vencer nas urnas?

E se ele imitar Trump se recusando a aceitar o resultado da eleição e comande uma invasão no STF e no congresso?

Vão continuar a se omitir criminosamente, esquecendo-se de sua função constitucional de defender as leis, porque não querem bater boca com o capitão?

Além de Bolsonaro, nosso judiciário também terá que no futuro prestar contas à sociedade.

 

 


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

O golpe, com o Supremo, com Barroso, com tudo

Por Fernando Castilho



Passados quase seis anos daquele domingo, há a percepção geral de que Dilma jamais praticou corrupção, embora a mídia permanecesse muda por todo esse período

Domingo, 17 de abril de 2016, um dos dias mais vergonhosos da história do Brasil.

Foi nesse dia que a Câmara, abarrotada de deputados, votou o impeachment de Dilma Rousseff.

Vimos com indignação e horror, parlamentares citarem a família, a esposa, os filhos, o cachorro, o papagaio para darem seus votos a favor da derrubada da presidenta.

Não faltou, claro, o voto do então deputado Jair Bolsonaro que prestou homenagem ao maior torturador do país, aquele mesmo que torturou Dilma barbaramente, o coronel Brilhante Ustra.

Voltando mais ainda no passado, uma conversa telefônica gravada do então senador Romero Jucá com um empresário expunha como as coisas eram tramadas nas sombras. Jucá afirmava que era preciso tirar Dilma e por Temer. Que era preciso estancar a sangria. Que tinha que ser com o Supremo, com tudo, embora poupasse o então ministro Teori Zavascki que, segundo ele, não compactuaria do golpe.

Ou seja, o ministro Luís Roberto Barroso, indicado pela própria Dilma, estaria no bolso do colete de Jucá.

Quem acompanhou todo o processo que começou bem lá atrás em 2013 quando inicialmente pessoas ligadas ao Movimento Passe Livre saíram às ruas para protestar contra o aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus e metrô em São Paulo. O movimento cresceu, impulsionado pela mídia e tomou as ruas de todo o Brasil. Agora não seria mais o preço das passagens, mas um descontentamento com a presidenta que viu sua aprovação cair de 60 para 30% em apenas um mês.

A partir daquele ano, os ataques contra Dilma começaram a aumentar e tornaram sua reeleição bem mais difícil do que se pensava.

Uma vez reeleita, Dilma viu não só aumentarem os ataques, mas também os boicotes a sua administração. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha trabalho para que nenhum projeto fosse aprovado, amarrando as mãos do governo e criando o clima favorável para o impeachment.

Dilma seria defenestrada pelo poder devido a um crime de responsabilidade inventado de última hora, as tais pedaladas fiscais que não significaram apropriação indébita de recursos, ou seja, sem corrupção.

Mas o que deputados e senadores queriam de fato era espaço para corrupção, já que Dilma fechara as comportas do dinheiro ilegal.

Passados quase seis anos daquele domingo, há a percepção geral de que Dilma jamais praticou corrupção, embora a mídia permanecesse muda por todo esse período.

Agora a Folha de São Paulo publicou um artigo que reaviva aqueles tempos.

O ministro Barroso resolveu escrever um artigo para a revista do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) em que defende que o motivo real para o impeachment não foram as pedaladas, mas sim, a falta de apoio político.

“Creio que não deve haver dúvida razoável de que ela não foi afastada por crimes de responsabilidade ou corrupção, mas, sim, foi afastada por falta de sustentação política. Até porque afastá-la por corrupção depois do que seguiu seria uma ironia da história”.

Em artigo publicado em 2019 no livro Estado, Democracia e Direito no Brasil, Barroso já tinha defendido essa mesma tese. 

Ora, se não houve crime de responsabilidade nem corrupção, houve motivo razoável para o impeachment? Por que essa gente insiste em não usar o termo “golpe”? Pior, ele sustenta que não houve golpe!

Essa reflexão de Barroso acontece somente agora porque só agora ele tem um termo de comparação com Jair Bolsonaro, perto de quem, Dilma é uma madre Tereza?

Ou Barroso já tinha essa opinião em 2016, mas guardou para si, mesmo tendo sido indicado por Dilma?

Ele não poderia pelo menos declarar que não havia crime de responsabilidade?

Realmente Romero Jucá tinha razão. O golpe seria com o Supremo, com tudo.

Com cinismo, com tudo.