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sábado, 4 de novembro de 2023

"Quem sonhou só vale se já sonhou demais..."



Por Fernando Castilho



Aquilo era diferente de tudo o que já tinha ouvido. Não entendia a letra, mas a música parece que dava uma indicação do que se tratava.

Ainda me lembro muito bem, já que acontecimentos que mexem conosco de maneira forte tendem a permanecer na memória.

Era o ano de 1968 e eu tinha 14 anos apenas.

Não era na época ligado em música, muito menos nos Beatles, de quem havia apenas ouvido falar. A televisão não era uma mídia forte como é hoje e a Internet com suas redes sociais não existia. Em casa meu pai tinha uma vitrola com vários LPs de cantores como Frank Sinatra, Nat King Cole e Ray Charles, mas nada de rock, muito menos dos Beatles.

Mas na escola havia um frenesi entre os alunos sobre a banda e rumores de que uma nova e impactante canção tinha sido lançada. Quem traria a novidade era um disc-jóquei (não confundir com os atuais DJs) gordinho chamado Big Boy em seu programa noturno.

Naquela época as novidades musicais demoravam a chegar ao Brasil, já que era preciso importar os discos.

Influenciado pelos colegas, decidi levar pra cama o radinho de pilha de meu pai. Sintonizei na rádio e conheci, afinal a voz empolgante do Big Boy com seu bordão, Hello, crazy people! A todo momento ele anunciava que tocaria em primeira mão a mais nova e incrível música dos Beatles, mas o tempo passava e nada. A estratégia era fazer prender a atenção dos ouvintes durante uma hora aumentando a expectativa para a apoteose final.

E chegou a hora de ouvir Hey Jude.

Aquilo era diferente de tudo o que já tinha ouvido. Não entendia a letra, mas a música parece que dava uma indicação do que se tratava.

Foi como se a pressão atmosférica combinada com a gravidade de repente começasse a pressionar meu coração até ele se tornar tão apertado que parecia querer sair pela boca.

Enfim, veio o famoso refrão meio hipnótico “na-na-na-na-na-na-na-na-na-na-na-Hey Jude”. A música simplesmente não acabava. Aproximadamente 7 minutos de gravação!

Depois que o programa acabou foi difícil pegar no sono. No dia seguinte teria que conhecer essa banda e a professora de Inglês facilitou isso ao utilizar em suas aulas LPs do grupo para que ouvíssemos e tentássemos traduzir as letras.

Passaram-se décadas depois disso. Os Beatles se separam em 1970 e seguiram com suas carreiras solo. John Lennon foi assassinado em 1980, mais tarde, Yoko Ono em 1994 entregou a Paul McCartney algumas fitas demo do marido para que ele e os remanescentes as aproveitassem para lançar como músicas dos Beatles. Free As Bird e Real Love foram aproveitadas e lançadas na coletânea Beatles Anthology, mas Now and Then, pela má qualidade da gravação, foi descartada. Linda McCartney faleceu em 1998 e George Harrison em 2001. Uma legião de fãs acompanhou a banda durante 60 anos!

Escrevo tudo isso para ilustrar como, não só eu, mas toda uma geração dos anos 60, fomos “capturados” pelos Beatles. Quem pertence às gerações que se sucederam dificilmente compreenderá esse tipo de sentimento.

E eis que a tecnologia de Inteligência Artificial resolveu o problema da gravação de Now and Then e McCartney, trabalhando nela com Ringo e aproveitando o violão gravado de Harrison em 1994, a transformou na última música dos Beatles. Peter Jackson se encarregou de produzir um clipe incrível.

Devido às notícias e imagens que nos chegam todos os dias da guerra entre Israel e Hamas, tenho estado muito triste nas últimas semanas. Um misto de revolta, dor e sofrimento pela empatia tem feito muito mal a minha sanidade mental. Por vezes, senti o coração apertado e, ao ver imagens de crianças em meio aos escombros em que Gaza vem se transformando, os olhos algumas vezes ficam marejados.

Por isso, antes de assistir ao clipe de Now and Then, sentia que não seria justo me emocionar por algo infinitamente menos relevante do que os acontecimentos na Palestina. Seria alienação.

Mas não teve jeito. Peter Jackson pegou pesado ao adicionar imagens dos Beatles quando jovens às atuais de Paul e Ringo, acrescidas das de George em 1994.

Enquanto a música rolava junto com o vídeo, 60 anos de fatos que aconteceram na minha vida desfilaram em apenas 4 minutos e 35 segundos! Impossível dissociar a banda da minha vida. Devo tê-la em meu DNA e não há como explicar a quem não viveu isso.

Como sempre, críticas estão aparecendo aqui e ali. Uma diz que Paul, movido pela ganância em faturar, usou Lennon e os demais. Ora, um astro do rock com 81 anos, detentor de uma fortuna estimada em 1,2 bilhão de dólares e que alcançou o máximo da fama, estaria mesmo procurando faturar?

Outra crítica afirma que se trata apenas de mais uma música de Paul e que nada tem a ver com Beatles. Faltam ouvidos atentos e background a essa gente. No clipe de Now and Then estão os elementos típicos das músicas dos Beatles, além de sutis inserções de A Day in the Life, Norwegian Wood, Eleanor Rigby e Because.

Tem gente também que se diz decepcionada por que esperava algo mais grandioso, talvez incomodada pela mediocridade das músicas atuais. Acho que a música não perfila entre as melhores de John. Realmente, nada tem a ver com Strawberry Fields ou In My Life. Porém, o tratamento que foi dado a ela com arranjos de Paul e de Giles Martin, lapidou um diamante bruto.

Fica muito difícil aos críticos atuais, sem terem vivido aqueles anos, sem terem sentido o que uma geração inteira vivenciou e se atendo somente a aspectos superficiais como a técnica (ah, modificaram a voz do John!), compreenderem.

Para encerrar, a imagem mais emocionante para mim é a do fade out no final do clipe. Aquela imagem dos 4 Beatles que vai desaparecendo aos poucos, indicando que se encerra definitivamente uma época, que o sonho acabou para sempre e que Now and Then é realmente o canto de cisne da maior manda de rock de todos os tempos.

 

Canção do Novo Mundo

Por Beto Guedes e Ronaldo Bastos

Quem sonhou
Só vale se já sonhou demais
Vertente de muitas gerações
Gravado em nossos corações
Um nome se escreve fundo
As canções em nossa memória
Vão ficar
Profundas raízes vão crescer
A luz das pessoas
Me faz crer
E eu sinto que vamos juntos

Oh! Nem o tempo amigo
Nem a força bruta
Pode um sonho apagar

Quem perdeu o trem da história por querer
Saiu do juízo sem saber
Foi mais um covarde a se esconder
Diante de um novo mundo

Quem souber dizer a exata explicação
Me diz como pode acontecer
Um simples canalha mata um rei
Em menos de um segundo
Oh! Minha estrela amiga
Porque você não fez a bala parar

Oh! Nem o tempo amigo
Nem a força bruta
Pode um sonho apagar

Quem perdeu o trem da história por querer
Saiu do juízo sem saber
Foi mais um covarde a se esconder
Diante de um novo mundo




 

 

 


quarta-feira, 1 de novembro de 2023

A última música do Beatles

Por Fernando Castilho



Neste ano a Inteligência Artificial possibilitou separar a voz de Lennon em Now and Then, como foi feito com o Álbum Revolver de 1966 em que os sons de todos os instrumentos foram separados resultando numa qualidade final muito boa.

 

2 de novembro de 2023, a data do lançamento da última (última mesmo) música dos Beatles.

A maior banda da Terra foi oficialmente desfeita em 10 de abril de 1970, portanto, há 53 anos e 7 meses. Em 1995 os três remanescentes (John Lennon foi assassinado em 1980), Paul, McCartney, George Harrison e Ringo Starr se reuniram para gravar 3 músicas deixadas por Lennon em uma fita cassette cedida pela viúva, Yoko Ono, a saber, Free as Bird, Real Love e Now and Then.

Nas duas primeiras o trio conseguiu isolar a gravação de Lennon ao piano, eliminando ruídos e imperfeições típicos das fitas cassettes, acrescentando suas vozes, instrumentos e arranjos, resultando em duas músicas com todas as características dos Beatles. Seriam elas as últimas músicas gravadas pelo grupo.

Porém, a demo de Now and Then estava muito ruim. A tecnologia da época não permitia separar a voz de Lennon do piano. Os três chegaram a gravar seus instrumentos, mas o resultado não agradou. Harrison chegou a desprezar a música.

Ocorre que neste ano de 2023 a Inteligência Artificial possibilitou separar a voz de Lennon como foi feito com o Álbum Revolver de 1966 em que os sons de todos os instrumentos foram separados resultando numa qualidade final muito boa.

Com a separação da voz de Lennon em mãos, McCartney (81 anos) arregaçou as mangas, fez arranjo, inseriu as gravações feitas em 1995, e introduziu sua voz.

Ouvi Now and Then e, particularmente, não gostei da música porque acho que faz parte da última fase de Lennon que não perfila junto a Strawberry Fields Forever ou In My Life, por exemplo. Mas essa é só uma opinião minha que pode cair por terra caso McCartney tenha logrado realmente tornar a canção, com méritos, a última música dos Beatles.

Que McCartney tem competência para isso, não se discute. Portanto, aguardaremos ansiosos por 2 de novembro.

Antigamente aguardávamos ansiosos pelo último álbum dos Beatles no sentido de "o mais novo".

Hoje, aguardamos ansiosos por uma única música. Verdadeiramente a última.


Editado em 02/11/23.



 


sexta-feira, 21 de julho de 2023

O que a Inteligência Artificial está fazendo com os Beatles e Elis Regina?

Por Fernando Castilho

Trabalho gráfico de Alper Yesiltas utilizando Inteligência Artificial e outros programas

Uma IA altamente desenvolvida poderá, num futuro bem próximo, produzir vídeos e áudios em que até peritos tenham dificuldade em atestar sua veracidade.


Em 1994 os remanescentes dos Beatles, Paul, George e Ringo, se reuniram para gravar algumas músicas que John Lennon havia deixado como demo em um gravador doméstico. Após esse trabalho, decidiram lançar somente duas músicas, Free as a Bird e Real Love, que seriam as últimas do quarteto. Como o som de Lennon estava ruim, tiveram que fazer um esforço para subtrair ruídos, além de fazer arranjos típicos dos Beatles.

Uma das músicas de Lennon, Now and Then, não foi incluída porque foi considerada ruim, principalmente por George. A última fase de John, antes de sua morte, não pode ser considerada das mais criativas.

Naquela época nem se cogitava que a ainda inexistente Inteligência Artificial pudesse promover milagres. Mas Paul McCartney percebeu a possibilidade de gravar essa última música utilizando justamente a IA que, no caso, só serviria para “limpar” a voz de Lennon sem mudar absolutamente nada.

E foi assim que surgiu a “nova” música dos Beatles. A guitarra do falecido George, gravada ainda em 1994, foi incluída, assim como a bateria de Ringo.

O resultado, com os típicos arranjos à la Beatles, é bom, embora, insisto, a música não é lá essas coisas.

Após isso, tem aparecido no YouTube alguns outros “milagres” utilizando a IA.

Ouvi duas músicas de McCartney, Band on the Run e Uncle Albert, na voz de Lennon, com resultados muito ruins. A IA talvez ainda não tenha aprendido como John Lennon se comportaria ao cantar músicas de Paul McCartney.

Há também uma gravação com a voz de Elis Regina cantando Nos Bailes da Vida, de Milton Nascimento. Ela nunca gravou essa música e, caso pudesse ouvi-la, acho que ficaria vermelha de raiva qual uma pimentinha. Pela primeira vez ouvi Elis desafinar e sair do tom.

Pode parecer divertido ouvir essas gravações, mas elas representam alguns perigos.

Primeiro, para quem conhece Beatles e Elis Regina, pode ser realmente interessante, mas para quem não conhece e está apenas começando a tomar conhecimento dos artistas, soa como fraude, já que serão enganados.

Pensando por outro lado, uma IA altamente desenvolvida poderá, num futuro bem próximo, produzir vídeos e áudios em que até peritos tenham dificuldade em atestar sua veracidade.

Provas de crimes poderão ser adulteradas enganando o sistema judiciário.

Tomemos como exemplo as três pessoas que agrediram com palavras o ministro do STF, Alexandre de Moraes e que desferiram um tapa em seu filho.

Um dos agressores, Alex Zanatta, apresentou à PF um vídeo gravado por ele, mostrando a reação do ministro, mas cortou a parte em que ele foi agredido.

Caso Zanatta tivesse feito uso de uma IA, o vídeo não poderia ser considerado autêntico por um perito e, por isso, jamais poderia ser considerado como prova. De qualquer forma, nesse caso, a prova definitiva virá das câmeras do aeroporto.

Outro exemplo são as gravações da Vaza Jato tornadas a público pelo hacker Walter Delgatti. Se ele tivesse a oportunidade de na época ter usado a IA, essas gravações jamais poderiam ter sido usadas para que o STF considerasse o ex-juiz Sergio Moro suspeito e cancelasse todos os processos contra Lula. Uso esses exemplos para demonstrar o risco que nosso sistema jurídico poderá correr daqui para frente.

A IA é um avanço da tecnologia e não pode ser renegada por quem não é conservador, mas, como em qualquer novidade, é preciso que seja usada para o bem, além de ser necessário que se criem mecanismos para conter abusos.

Como disse Lula, o que é crime na vida real, é crime na vida digital.

Ah, ainda prefiro ouvir Beatles e Elis no original.


Link para Band on the Run com John Lennon: 

https://www.youtube.com/watch?v=Qo6e_DrhxZU

Link para Uncle Albertt com John Lennon:

https://www.youtube.com/watch?v=7QNBDcY85ds

Link para Nos Bailes da Vida com Elis Regina:

https://www.youtube.com/watch?v=8xZJc2AzupQ






terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Get Back - The Rooftop Concert

Por Fernando Castilho



Eles tocam Get Back, Don’t Let Me Down e daí começa um jogo de imagens para dividir a tela e mostrar simultaneamente o show e o que acontece na rua


Há 10 câmeras espalhadas por toda parte! Todas analógicas! Cinco no telhado, uma na cobertura de um prédio em frente, três na rua (uma delas nas mãos de um repórter que entrevista as pessoas) e uma última escondida na recepção do prédio da Apple. Michael Lindsay-Hogg parece que desconfiou que policiais poderiam tentar entrar no edifício e quis filmá-los.

Ringo usa uma capa de chuva vermelha, George um casaco preto grosso sobre uma calça verde, Paul vai de blazer preto e um par de old brown shoes. John veste um casaco de pele emprestado de Yoko que lhe fica curto nos braços.

O show enfim começa e mostra os Beatles com uma desenvoltura surpreendente para um grupo que se mostrava inseguro apenas alguns dias atrás. Mas é revelado que até a hora de subir, eles resistiam a ideia.

Eles tocam Get Back, Don’t Let Me Down e daí começa um jogo de imagens para dividir a tela e mostrar simultaneamente o show e o que acontece na rua.

À certa altura John reclama que seus dedos estão doendo por causa do frio.

As pessoas começam a chegar na hora do almoço. Há muitos funcionários de escritório, mas também senhoras aposentadas.

O repórter pergunta se sabem quem está tocando. Claro que todos sabem.

O que estão achando? A grande maioria está gostando muito, mas um homem, possivelmente um empresário ou chefe de departamento diz que naquele horário o show atrapalha os negócios.

Outro senhor mais idoso diz que gostaria que sua filha namorasse com um dos Beatles porque eles eram ricos.

Dois policiais chegam ao prédio da Apple e dizem na recepção que o barulho está incomodando e que era preciso parar sob pena de começarem a fazer prisões. Não sabem que estão sendo filmados. A recepcionista diz que os Beatles estão gravando um filme. Um funcionário aparece para dizer que vai ver como resolver o caso.

John reclama que seus dedos doem por causa do frio.

Passa-se algum tempo e aparece na recepção Mal Evans, o faz-tudo do grupo. Conversa com os policiais para enrolá-los ao máximo. Sai para ver como pode resolver a situação enquanto os policiais aguardam na recepção. Mais tarde, já com o show no fim, os leva para o telhado.

Um sargento. muito educadamente, pede para entrar.

Com os policiais já no telhado, Mal desliga os amplificadores, mas George os religa.

O show, enfim, termina.

Uma coisa que não sabia é que algumas músicas foram repetidas algumas vezes, como Get Back (3 vezes) e Don’t Let Me Down (2 vezes), o que acaba sendo um tanto cansativo para quem vê o documentário, mas já para quem está na rua, as músicas são novidade. Em Don't Let Me Down, John errou a letra e todos riram, menos Paul. Dali em diante um dos auxiliares se ajoelha segurando as letras das músicas.

Algumas delas receberam também a legenda “esta é a versão que aparece no  álbum Let it Be”, cumprindo assim o propósito de um álbum gravado ao vivo, ou quase. É por isso que as músicas eram repetidas. Precisavam encontrar a melhor performance.

Terminado o concerto, restava ainda gravar no estúdio as faixas que não foram tocadas no telhado. George perguntou se havia uma lei que proibisse shows como aquele e profetizou que dali pra frente todos os grupos de rock de Londres iriam fazer shows em telhados. Certo, U2?

Por fim, depois que Glyn falou que ficou tudo muito bom, Paul convoca todos a tentar mais uma gravação.

Só o Paul mesmo.

A ideia do concerto foi genial e agitou a sisuda e cinzenta Londres na hora do almoço.

O intuito de promover o novo álbum funcionou, mas o projeto de gravá-lo integralmente no terraço foi frustrada, pois os Beatles precisavam de mais tempo para tocar, impedidos que foram pelos policiais.

A imagem em 4K permite uma definição muito boa não parecendo que o show foi gravado há 53 anos!

É preciso falar também do som, excelente, mesmo se tratando sda tecnologia analógica de apenas oito canais da época. Logicamente Peter Jackson trabalhou também para digitalizar as músicas.

Não sei se Michael Lindsay-Hogg teve a intenção ou não de “esconder” Billy Preston durante o concerto, mas o fato é que o espectador desavisado dificilmente o notará. Billy deveria naquele momento aparecer como um quinto beatle pois foi ele quem motivou o grupo a continuar e emprestou seu talento para que as músicas ficassem realmente boas.

Enfim, para encerrar, fica um documento com sabor de quero mais. Surpreende quem é fã desde aquela época e pode empolgar novas gerações que não conheceram os Beatles e sua obra fantástica.

Não há como, para alguém como eu, que vivenciou o auge e o fim do quarteto de Liverpool e que tinha assistido ao filme Let It Be algumas vezes, tentando decifrar como se dava a criação de suas músicas, não se emocionar com os detalhes que Michael Lindsay-Hogg captou tão bem e que Peter Jackson condensou nassas quase oito horas de documentário.

Que venha mais!

Agradeço a todos por acompanhar esta série de análises e comentários. É graças a isso que me sinto motivado a escrever cada vez mais.



           

 

 

 


domingo, 6 de fevereiro de 2022

Get Back, o filme - episódio 3

Por Fernando Castilho



Billy continua a fazer a diferença nos teclados. Inova em Let it Be e Paul lhe faz uma revelação em tom de elogio: “vir do norte da Inglaterra não facilita nada essa pegada mais soul”


Após ter analisado e comentado os episódios 1 e 2 de Get Back, decidi separar a análise e os comentários do episódio 3 em duas partes para que o texto não ficasse longo demais.

Desta forma, vai aqui o episódio 3 sem o concerto no rooftop, pois este será tratado à parte, pois demandará mais descrições de como ele se deu.

No fim do episódio 2 a câmera capta o exato momento e não deixa dúvidas. A ideia de fazer o show no telhado da Apple foi apresentada a Paul por Michael Lindsay-Hogg e Glyn Johns. A expressão de Paul mostra o quanto ele se surpreendeu e gostou logo de cara.

Michael Lindsay-Hogg

O terceiro episódio começa com Ringo tocando uma parte de Octopus’s Garden ao piano. O pessoal gosta e John vai à bateria para marcar o ritmo. Ringo revela que só tem a primeira parte. A música não fará parte de Let It Be, mas será incluída em Abbey Road.

George agora parece bem à vontade no grupo. Apresenta ao grupo Old Brown Shoe bem mais elaborada e Paul se empolga com a música. Parece que George percebeu que precisava trazer músicas em estágio um pouco mais avançado para mostrar aos companheiros. Agora temos um grupo coeso novamente.

Billy continua a fazer a diferença nos teclados. Inova em Let it Be e Paul lhe faz uma revelação em tom de elogio: “vir do norte da Inglaterra não facilita nada essa pegada mais soul”. Realmente essa pegada de Billy dá um tempero bem melhor às músicas.

Os Beatles trabalham como nunca. Get Back fica praticamente pronta e Don’t Let me Down ainda é um problema para John, principalmente na letra.

I’ve Got a Feeling fica pronta.

George insiste em Something e revela que não sai do lugar há seis meses. Apesar de John voltar ao “me atrai como uma couve-flor”, agora eles gostam da música. Ela também fará parte de Abbey Road.

Interessante ver nesse episódio o grande consumo de champanhe, sei lá por quê. George também aparece tomando uísque enquanto compõe.

Os Beatles sempre se ressentiram da morte de Brian Epstein, o paizão que mantinha o grupo coeso e, por isso buscam um novo empresário já que não admitem a liderança de Paul como foi demonstrado no episódio 1. John fala pela primeira vez de Allan Klein e elogia suas qualidades para se tornar o novo empresário do grupo. “Impressionante como conhece todos, sabe tudo de cada um”.

Paul vira a cara. Mais tarde saberemos que ele preferia que seu sogro empresariasse os Beatles.

George expõe a John seu projeto de um álbum solo. Este fica um pouco surpreso, mas o primeiro se justifica dizendo que todos poderiam enveredar por esse caminho para dar vazão aos seus projetos próprios. Sabemos que o resultado, Wonderwall Music não foi tão bom assim.

Uma das passagens mais engraçadas é quando Jonh e Paul cantam Two of Us entre os dentes, sem mover a boca. Hilário. Eles se divertem muito e, por incrível que pareça, conseguem, mesmo quando tem que cantar trechos como “Not arriving on our way back home” que tem a palavra “back” que começa com “B”, muito difícil de falar dessa forma. Nada indica que eles se desentenderão e se separarão.

Algo que chama a atenção é como John se desconcentra o tempo todo. Faz piadas sem muita graça, imita outras pessoas cantando (Well you can imitate ev'ryone you know) e faz caretas de todo tipo. O grupo precisava focar nas músicas devido ao prazo curtíssimo, mas John atrapalhava. Nem por isso os demais o repreenderam, muito menos Paul, que até parece que curtia. He just let it be.

Diz-se por aí que Yoko era a mala que John carregava (she’s so heavy), mas talvez fosse o contrário, pelo menos durante as filmagens. In that respect he let me down.

Sem querer defender que Paul era realmente o mais profícuo criador dos quatro, fica patente que John não está em seus melhores momentos criativos, apesar de Don’t Let Me Down ser realmente uma grande música, mas que não fará parte de Le It Be.

No documentário aparecem legendas do tipo “esta é a versão que aparece no álbum” quando algumas músicas já tiveram suas gravações concluídas por Glyn Johns.

Glyn Johns

Enfim chega a véspera do concerto no telhado da Apple e todos estão apreensivos. Fará frio, mas não choverá. De qualquer forma, Ringo vestirá uma capa vermelha impermeável. One of us will wear a raincoat.

Peter Jackson tem um valiosíssimo tesouro em mãos e só compartilhou conosco cerca de 15% dele.

Pode ser que a maior parte seja entediante e sem importância, mas ficou claro que houve um hiato no documentário, já que, de uma hora para outra, as músicas que ainda estavam muito embrionárias, aparecem já quase prontas no episódio 2, quando surge Billy Preston.

Além disso, há trechos que poderiam ser cortados, principalmente no episódio 2.

Portanto, não há como, sem ver o restante das quase 45 horas de gravação, avaliar se a edição feita por Jackson foi a melhor possível.

Podemos dizer que Michael Lindsay-Hogg, o diretor que gravou as 53 horas, foi visionário e que Glyn Johns fez um grande trabalho de mixagem e gravação numa mesa de oito canais, como George queria.

Bem, espero que todos tenham gostado.

Acompanhe a análise do concerto no telhado da Apple, The Rooftop Concert, o último dos Beatles.