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quinta-feira, 29 de junho de 2023

Afinal, o que é o tempo?

Por Fernando Castilho



Reconstruir uma xícara que se espatifou no chão para deixá-la como era em seu estado inicial seria equivalente a voltar ao passado.


É inevitável. De vez em quando surge alguém nas redes sociais com dúvidas ou perguntas frequentes sobre o que seria exatamente o tempo. E invariavelmente alguém faz um comentário no estilo terraplanista em que vale muito mais sua opinião, mesmo que dissociada dos artigos científicos, das pesquisas e de todo conhecimento já acumulado pela humanidade até hoje.

O tempo é uma dimensão fundamental que usamos para ordenar e medir eventos e mudanças no universo, na verdade, a quarta dimensão que se junta ao espaço, composto das outras três: largura, comprimento e profundidade. É uma parte fundamental de nossa experiência cotidiana e nossa compreensão do mundo ao nosso redor. Porém, não é de todo compreendido ainda.

Na física, ele é considerado uma dimensão contínua e unidirecional, representada no espaço-tempo como uma seta que só aponta no sentido do futuro. É impensável vermos um relógio cujos ponteiros se deslocam no sentido anti-horário.

O tempo é parte integrante da teoria da relatividade restrita de Einstein. Segundo o físico alemão, o tempo pode ser afetado pela velocidade e pela gravidade, o que leva a fenômenos como a dilatação temporal, em que passa mais devagar em regiões de maior gravidade ou em velocidades próximas à velocidade da luz. Se alguém teve a oportunidade de assistir ao filme Interestelar, percebeu como o personagem principal, próximo ao horizonte de eventos de um buraco negro, quase não envelheceu, enquanto sua filha, na Terra, já estaca idosa.

Além da relatividade de Einstein, podemos especular que o tempo também é relativo do ponto de vista emocional. Quando se está esperando ansiosamente a pessoa amada, o tempo parece que não passa. Os minutos se arrastam longamente. Mas quando se está com a pessoa amada, o tempo parece passar de maneira muito rápida. Aquelas horas tão agradáveis, parece que se esvaem em minutos.

A natureza exata do tempo é um tópico complexo e desafiador. Filosoficamente, tem sido objeto de discussão há séculos. Há debates em várias disciplinas sobre se o tempo é uma entidade real e objetiva ou apenas uma construção subjetiva da mente humana. O filósofo Santo Agostinho escreveu que o passado não existe porque já aconteceu, o futuro não existe porque ainda não aconteceu e o presente também não existe porque no instante em que estamos vivendo nele, já virou passado.

Na física quântica, há perspectivas que sugerem que o tempo pode ser emergente de outras propriedades fundamentais do universo, como a mecânica quântica e a teoria dos campos.

A impossibilidade de viajar ao passado está fundamentada principalmente nas leis da física, como a Segunda Lei da Termodinâmica, com a entropia e a teoria da relatividade. A Segunda Lei da Termodinâmica estabelece que a entropia de um sistema isolado tende a aumentar com o tempo. Quando do início do Universo, sua entropia era zero e, desde então, vem aumentando cada vez mais. O aumento da entropia está diretamente associado à seta do tempo. O clássico exemplo é o da xícara que, digamos, logo após ser fabricada teria muito pouca entropia, mas com o passar do tempo, vai ficando cada vez mais desgastada. Um dia, a xícara cai ao chão e se parte em inúmeros pedacinhos. Reconstruir a xícara para deixá-la como era em seu estado inicial seria equivalente a voltar ao passado.

A teoria da relatividade de Einstein é outro pilar que sustenta a ideia de que a viagem ao passado é improvável. De acordo com ela, a velocidade da luz é uma constante fundamental e nada pode viajar mais rápido do que ela. Além disso, a teoria também indica que eventos que ocorrem no espaço-tempo estão sujeitos a uma estrutura causal bem definida, onde a causa precede o efeito e não o contrário.

Há quem diga que, se atravessarmos um buraco de minhoca (buracos de minhoca são formulações teóricas que levantam possibilidade de nos deslocarmos muito rapidamente por distâncias muito grandes, impossíveis de alcançarmos de acordo com as leis da física. Assim, se dobrarmos o tecido do espaço-tempo, conseguiremos um atalho para isso), poderemos chegar a uma estrela distante, por exemplo, um bilhão de anos-luz de nós. Como sua luz levou um bilhão de anos para chegar à Terra, o que vemos no céu à noite é uma estrela que existia há um bilhão de anos atrás e que pode até nem mais existir.

Se conseguirmos chegar a essa estrela, será que voltamos ao passado de um bilhão de anos atrás? Não, porque nos deslocamos pelo espaço para chegar lá. Portanto, chegaremos a essa estrela no tempo presente dela. E também no nosso.

Isso é muito diferente de voltarmos ao passado sem nos deslocarmos pelo espaço, por exemplo, na nossa rua.

Segundo nosso entendimento atual da física, a viagem ao futuro é considerada teoricamente possível. No entanto, existem algumas considerações importantes a serem feitas.

De acordo com a teoria da relatividade, o tempo não é absoluto, mas sim relativo ao observador e à sua velocidade em relação a outros observadores. Isso significa que o tempo pode passar mais devagar para um objeto em movimento rápido em relação a um objeto em repouso.

Um exemplo prático disso é o chamado "paradoxo dos gêmeos". Se um dos gêmeos embarcar em uma nave espacial e viajar em velocidades próximas à velocidade da luz por um período de tempo, enquanto o outro gêmeo fica na Terra, quando o gêmeo viajante retornar à Terra, ele terá envelhecido menos em comparação ao gêmeo que ficou. Portanto, do ponto de vista do gêmeo que viajou, ele "saltou" para o futuro em relação ao gêmeo que permaneceu na Terra. Lembram-se do exemplo de Interestelar?

No entanto, é importante notar que esse tipo de viagem ao futuro está limitado a efeitos relativísticos e a velocidades extremamente altas. Além disso, a viagem ao futuro não permitiria retornar ao passado e alterar eventos passados, uma vez que a estrutura causal do tempo permanece intacta.

Atualmente, não temos tecnologias que nos permitam viajar ao futuro de forma prática e controlada. As velocidades necessárias para experimentar efeitos significativos de dilatação do tempo são extremamente altas e atualmente inatingíveis para a tecnologia humana. No entanto, teoricamente, não há nenhuma lei fundamental da física que impeça a viagem ao futuro.

Deve-se ressaltar que a teoria da relatividade ainda não foi completamente unificada com a mecânica quântica, e a física nos limites extremos próximos aos buracos negros é objeto de intensa pesquisa e debate. Portanto, as possibilidades de viagem ao futuro perto de buracos negros são especulações teóricas que ainda precisam de investigação adicional.

Além disso, atravessar um horizonte de eventos de um buraco negro é um empreendimento extremamente perigoso e atualmente está além das capacidades tecnológicas da humanidade. Portanto, a viagem ao futuro por meio de buracos negros permanece no reino da especulação teórica.

Se gostou do texto, não gostou, se tem alguma crítica positiva ou negativa, ou se tiver mais alguma dúvida, por favor, comente.

 

 


quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Uma incrível viagem no tempo

Por Fernando Castilho

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil


Eles não acreditaram no que viam, afinal, eu também estava ali na comemoração. Esse é o paradoxo do qual a inteligência artificial me alertava. Sentei-me do lado de mim mesmo, saquei a foto do bolso e a exibi triunfante! Olha aqui, ó! A posse do Lula em 2023!


Logo após a festa da posse de Lula como presidente do Brasil pela terceira vez, ainda eufórico pelo acontecimento histórico, decidi escolher uma das fotos da subida da rampa e, desafiando a Segunda Lei da Termodinâmica, montei em minha máquina do tempo. Queria compartilhar com antigos amigos a alegria de ver restaurada, enfim, nossa democracia.

No painel à minha frente, ajustei a data para 1º de janeiro de 2011, à noite, algumas horas após Dilma Rousseff tomar posse como a primeira presidenta do Brasil, recebendo de Lula a faixa presidencial.  A intenção era clara: se a festa havia sido muito bonita e cívica, a de 1º de janeiro de 2023 foi de um simbolismo até então inédito no país.

A inteligência artificial que, uma vez ligada a máquina, assume seu controle, imediatamente desaconselhou a viagem devido à possível criação de paradoxos temporais, mas mesmo assim, empreendeu a viagem à contragosto.

Após minutos de grande turbulência pelo espaço-tempo, cheguei ao bar onde certamente meus amigos estariam comemorando a vitória. Estacionei a máquina nos fundos do bar e entrei sorrindo.

Eles não acreditaram no que viam, afinal, eu também estava ali na comemoração. Esse é o paradoxo do qual a inteligência artificial me alertava. Sentei-me do lado de mim mesmo, saquei a foto do bolso e a exibi triunfante! Olha aqui, ó! A posse do Lula em 2023!

Todos se entreolharam e ninguém entendeu nada.

Meu eu de 2011 pegou a foto e a examinou demoradamente.

Finalmente, arriscou-se a comentar com os demais: olha, gente, Lula tá velhinho, quase sem cabelo, mas é ele mesmo, sem dúvida. Quer dizer que você, digo eu, voltei mesmo do futuro para nos mostrar que Lula se elegeu pela terceira vez? Dê cá um abraço!

Isso! Respondi. Todos se abraçaram.

- Mas tem um monte de gente subindo a rampa com ele! Este aqui atrás é o Alckmin? Por que ele está aqui?

- Porque ele é o vice-presidente.

- O quê? Perguntou o Miguel com sua barba sempre espessa. Como pode?

Outro amigo, bigodudo Luiz, notou o indígena ao lado de Lula.

- É o Raoni? Ele está aqui por quê?

Tive que explicar que o governo anterior adotou uma política de dizimar aos poucos os indígenas e que, por isso, Raoni simbolizava a redenção dos povos originários.

Os olhares agora eram de pavor.

A Natália comentou: esse presidente que saiu devia ser terrível, não? Mas, cadê dona Mariza?

Expliquei que a ex-primeira-dama falecera e que Lula havia se casado com a moça de calças compridas de seda que segurava uma cadela chamada Resistência.

- Fale mais sobre isso, pediu a ansiosa Natália.

- Bem, a Janja era uma das pessoas que permaneceram 580 dias na vigília próxima onde Lula estava preso em Curitiba. A cadelinha havia sido adotada por ela.

- LULA PRESO? Perguntaram em uníssono.

Tive que me demorar em longas explicações, enquanto os copos secavam rapidamente.

- MAIS CERVEJA!!! Todos pediram berrando. E CACHAÇA! MUITA CACHAÇA! Porque o baque está sendo grande!

- E essas outras pessoas? Quem são? Perguntou Laura, a morena esguia.

São um deficiente físico, um professor, um menino negro de 10 anos, uma catadora... Foi ela quem passou a faixa pro Lula. Todos simbolizam a diversidade do povo brasileiro.

- Muito legal a ideia e é muito bom que tanta gente tenha comparecido como a gente vê ao fundo tomado pela cor vermelha, mas o antecessor não passou a faixa? Quem é ele? Perguntou o barbudo Miguel.

Tive então que explicar o que foram os 4 anos de Bolsonaro.

- Pera lá, esse Bolsonaro não era um deputado reacionário? Esse cara chegou a ser presidente? Cê tá de brincadeira? A comemoração virou uma zona com todos falando ao mesmo tempo.

- Sei que tudo parece uma loucura, mas é isso mesmo, tentei acalmar. Ele fugiu pra Orlando e, pelos inúmeros crimes cometidos, deverá ser preso em breve.

Meu eu antigo não se conteve.

- Olha, eu sei que você não mentiria para mim porque você sou eu no passado, mas dizer que Alckmin virou vice de Lula, que Lula ficou preso injustamente por causa de um juiz que o perseguiu e que a vitória foi apertada contra um ex-deputado medíocre que zombou da população que morria por causa de um vírus que vitimou 700 mil pessoas é demais! A viagem no tempo não mexeu com sua cabeça? Ou minha cabeça? Nem sei mais o que estou falando.

- É tudo verdade e tem muito mais, mas não quero colocar água no chope, já que vocês estão comemorando.

Essa foi a coisa mais besta que falei. Já tinha colocado.

Todos se entreolharam demoradamente, já bêbados. Os olhares eram um misto de pavor e de tristeza.

Meu eu antigo eu, então, levantou um copo e propôs um brinde.

- Comemoremos então a vitória de Dilma e de Lula!

- VIVA A DEMOCRACIA! VIVA O PROGRESSO! VIVA O POVO BRASILEIRO!

Enquanto a euforia voltava, Laura levantou-se e veio cochichar em meu ouvido: e quem será o sucessor de Lula em 2026? Alckmin?

- Xiiii...