terça-feira, 16 de julho de 2024

A peça de teatro montada por Bolsonaro e Ramagem

Por Fernando Castilho

Imagem: Valter Campanato/Agência Brasil | Evaristo Sa / AFP


Mas, na verdade, parece que foi montada uma peça de teatro que só faltou ser gravada em vídeo.

A divulgação da existência de uma gravação em áudio de uma conversa entre Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), e o ex-presidente Jair Bolsonaro suscitam preocupações sérias sobre a integridade das instituições democráticas no Brasil. Analisar se esse evento constitui um fator de risco à democracia requer examinar vários aspectos relacionados ao conteúdo do áudio, ao contexto político, e às consequências do vazamento.

O conteúdo do áudio trata de analisar estratégias para livrar o filho de Bolsonaro, o senador Flávio, das acusações de rachadinha (prática corrupta que fere a ética e a legalidade no serviço público, configurando-se em crimes como peculato, concussão e corrupção passiva, além de envolver associação criminosa) em seu gabinete.

A gravação, sabe-se, tem a duração de uma hora e oito minutos, portanto é longa e contém grande número de detalhes reveladores do modus operandi da quadrilha que se instalou no Planalto.

Mas, na verdade, parece que foi montada uma peça de teatro que só faltou ser gravada em vídeo.

Vejam os personagens principais:

1 – Alexandre Ramagem, chefe da Abin. Seu papel principal é o de gravar a peça. Porém, em todos os momentos o ator representa o agente republicano que procura rechaçar propostas para a salvação do Flávio que ele considera ilegais.

2 – Advogadas Luciana e Juliana. Seus papéis são o de defensoras da legalidade. Elencam possíveis atos ilegais cometidos por auditores fiscais para justificar que ações devam ser empreendidas pela Abin e pelo GSI contra eles para defender Flávio. São elas as protagonistas.

3 – Augusto Heleno, então ministro chefe do GSI. Seu papel é o de coadjuvante. Porém, ele devia estar um tanto longe do microfone, sendo difícil ouvi-lo e entender o que ele fala. Mau ator.

4 – Jair Bolsonaro, então presidente. A personalidade do capitão impõe a ele que seja o comandante de toda e qualquer reunião, como vimos em duas reuniões ministeriais em que bradava a todo momento amedrontando os demais. Porém, desta vez ele não foi o protagonista e, por isso, se superou como ator. Foi capaz de controlar seus impulsos representando um personagem que mais ouve do que fala. Papel muito difícil para ele. Sua fala mais importante e reveladora foi: “Tá certo. E deixar bem claro, a gente nunca sabe se alguém tá gravando alguma coisa. Que não estamos procurando favorecimento de ninguém.”

Nessa frase o capitão entrega o jogo. A reunião parece ter sido uma armação para tentar emplacar a tese, caso o caso chegasse a PF para uma possível investigação, de que nunca houve intenção alguma de defender seu filho das acusações de peculato. Algo que revela a primariedade de seu raciocínio, pois a reunião em si foi ilegal. Usar a máquina pública para vantagens pessoais é crime.

A ideia parece ser a de tentar se vacinar contra possíveis acusações no futuro. Fica patente, ao deixarem as duas advogadas livres para falarem durante quase toda a reunião, que, se houve alguma coisa ilegal, a culpa foi delas que propuseram soluções criativas (falsamente rechaçadas em sua maioria por Ramagem) para salvar Flávio Bolsonaro.

Portanto, Jair, Ramagem e Heleno procuraram sair blindados da reunião.

Assim como no caso das joias roubadas, em que desconhecemos com que frequência esse crime vinha sendo cometido, já que houve 150 viagens à Arábia Saudita (o que pode implicar em inúmeros outros presentes que conseguiram entrar ilegalmente no país), também não sabemos por quantas vezes conversas entre Ramagem e Bolsonaro foram gravadas e de quais crimes elas trataram.

Que as investigações da PF não parem por aí.





Para você, sua família é única. Mas ela tem origem! Ela tem uma história de luta pela sobrevivência! E ela venceu!

Mas seus filhos, netos e bisnetos conhecerão essa história?

Contrate um profissional para transformar essa história em um livro para que as gerações vindouras de sua família a conheçam.

Uma bela história merece ser documentada!



segunda-feira, 15 de julho de 2024

As histórias das famílias merecem ser contadas

Por Fernando Castilho




Olá, amigos e amigas.

Tendo escrito mais de 640 textos para este blog, escrito vários livros e e-books e tendo me concentrado mais recentemente em revisão de livros, chega a hora de tentar mais um desafio: contar a história das famílias.

Para você, sua família é única. Mas ela tem origem! Ela tem uma história de luta pela sobrevivência! E ela venceu!

Mas seus filhos, netos e bisnetos conhecerão essa história?

É a esse trabalho que me proponho. O de transformar essa rica história em um livro para que as gerações vindouras de sua família a conheçam.

Afinal, uma bela história merece ser documentada, não é mesmo?

Que outro meio de divulgação desse trabalho seria melhor que neste blog frequentado por pessoas qualificadas?


terça-feira, 25 de junho de 2024

Um pronunciamento de Lula à Nação viria em boa hora

Por Fernando Castilho


Imagem: Vaccari

Tínhamos dúvidas sobre se Jair Bolsonaro conseguiria manter sua importância para o bolsonarismo, mas parece que ele já a perdeu.

Há apenas um ano, os parlamentares da oposição se diziam “bolsonaristas” e de direita. Hoje, já admitem ser chamados de “extremistas de direita”, porém, ainda reagem ao adjetivo “fascistas”, mas é uma questão de tempo para aceitarem essa alcunha. Alguns, como o deputado Gilvan da Federal, já se levantam de suas cadeiras para agredir frequentadores da Câmara.

Esses parlamentares vinham sendo constantemente criticados por não apresentarem propostas em áreas muito importantes como economia, saúde e educação, se notabilizando apenas em berrar, criticar o governo e defender pautas moralistas de costume.

Porém, resolveram apresentar proposições. Uma delas, a PEC das praias, de autoria do senador Flávio Bolsonaro, foi a primeira a conseguir a proeza de descontentar até os bolsonaristas, pois estes também frequentam praias. Tiro no pé.

Outra propositura, esta mais polêmica, foi o PL do aborto que logo recebeu o apelido de PL do Estuprador, pois previa pena máxima de 20 anos a mulheres e meninas que abortassem após 22 semanas de gravidez.

O resultado foi que, não só a esquerda, mas, principalmente ela, tem saído às ruas para protestar, ou seja, a questão conseguiu furar a bolha.

No último final de semana, porém, surgiu um fenômeno novo: o presidente da Câmara, Arthur Lira, que até então permanecia nas sombras do projeto, ganhou protagonismo. Havia muitos cartazes “FORA LIRA” nas manifestações. Isso, pra quem quer eleger seu sucessor é bastante perigoso.

A maioria da população brasileira já percebe que projetos vindos da extrema-direita não lhe são favoráveis, muito pelo contrário. É possível que outras proposituras prejudiciais ao povo sejam engavetadas, pelo menos por enquanto.

Uma delas é a que diz respeito ao trabalho infantil a partir dos 14 anos e outra que ainda está embrionária é a que reverte a lei do divórcio. Esta última, certamente, mobilizaria ainda mais as massas nas ruas.

Alguém perguntaria: mas não há também pastores divorciados? Sim, pastores e até um ex-presidente que está em seu terceiro casamento.

Porém, devemos lembrar que há um movimento de transformação nas igrejas neopentecostais visando trocar sua figura máxima, Jesus Cristo, pelo Rei Davi do Velho Testamento, o que livraria seus pastores do incômodo de ter que conviver com a grande contradição de seu enriquecimento e a pregação do filho de Deus que dizia que é mais fácil passar um camelo por um buraco de agulha do que um rico ir para o Céu. É a chamada Teologia do Domínio que está ganhando força.

Mas, voltando aos pastores, quando se fala no Rei Davi que conquistou vários povos em guerras com derramamento de sangue, diz-se que ninguém toca num ungido do Senhor, portanto, se os pastores são ungidos do Senhor, podem se divorciar à vontade.

Havia uma dúvida se, com o PL 1904 postergado para o segundo semestre, haveria protestos no último final de semana. E houve! O que se espera é que o movimento cresça ainda mais, principalmente com o lema FORA LIRA.

Em minha opinião, embora tenha dado excelente entrevista à CBN, em que partiu pra cima do PL 1904, Lula ainda está devendo um pronunciamento à Nação, explorando temas como a ajuda ao Rio Grande do Sul, as altas taxas de juros que impedem o povo de comprar usando crediário, a necessidade de vacinação e esse projeto que penaliza as vítimas de estupro.


sábado, 1 de junho de 2024

Governo precisa se livrar de um parasita chamado Congresso Nacional

Por Fernando Castilho

Foto: reprodução Internet

No parasitismo, apenas um dos organismos envolvidos é beneficiado e o outro é prejudicado. Sabemos quem está sendo beneficiado e quem, prejudicado.

Lula está fazendo um ótimo governo, pois os índices, todos positivos, falam por si, mas ainda não há uma clara percepção do povo sobre isso. Enquanto não há, a extrema-direita, agora engrossada pela direita que dizem ser civilizada e de diálogo, cresce assustadoramente no Congresso, impondo sua vitória em pautas que prejudicam o país, mas dão aquele gostinho de derrotar Lula. E fazem estardalhaço com isso.

Os fascistas explodem os vídeos nas redes sociais com seus vídeos feitos pra lacrar e faturar muito dinheiro (estima-se que só Nikolas Ferreira lucre mais de 200 mil reais em monetização) e a percepção do povo começa a ser de que o governo é um fracasso.

Há uma divisão de tarefas. Enquanto o Congresso tenta ferrar com o governo Lula, a mídia se encarrega de minar a confiança nele. Além disso, já começa a apresentar uma alternativa a ele, o Tarcísio. Ações combinadas.

Em 2002, a direita, o mercado e a grande mídia deixaram Lula se eleger porque apostaram em seu fracasso, já que o cara era um simples metalúrgico e não teria a capacidade de governar. Apostaram na queda de Lula e, após ser demonstrada a total incapacidade de o PT governar com um projeto de nação com viés socialista, seria, de uma vez por todas, enterrado de vez.

Mas aconteceu o contrário. Criaram a ficção do mensalão em 2005 para tentar derrubar Lula, mas não deu certo. Porém, a investida seguinte logrou êxito ao provocar um golpe em Dilma e afastar definitivamente a esquerda do poder.

Nesse processo, acabaram por criar o monstro Bolsonaro. Exageraram na dose e perceberam, já bem perto das eleições que poderiam terminar sendo comidos pelo monstro fascista que conduziria o Brasil a uma ditadura duradoura. Tentaram, então, uma terceira via, mas esta não vingou. A única saída foi fazer campanha contra a reeleição de Bolsonaro. Vejam que em nenhum momento fizeram campanha para eleger Lula. Este venceu por pouco.

A direita não vai querer correr o risco de ver o PT vencer novamente eleições seguidas. Desta vez, não. Vai tentar destruir Lula antes que ele consiga mais êxitos e consiga mostrar à população que o governo é ótimo.

Não tenho dúvidas de que a guerra contra ele será antecipada e violenta. E já começou. Percebam que toda a ajuda bilionária e inédita ao Rio Grande do Sul ainda não foi reconhecida devido ao trabalho incessante dos fascistas em propagar fake news. Lula, porém, não é neófito e já deve estar se preocupando com isso. O problema é que ele parece estar sozinho. Nenhum de seus ministros consegue acompanhar seu raciocínio e fazer uma análise de conjuntura afiada como ele. Principalmente os de direita que estão no governo, mas também Haddad, que parece preocupado em tentar agradar o mercado, esse mesmo que lhe dá índices pífios de aprovação em pesquisas.

Porém, algo me diz que Lula prepara alguma coisa para reagir. Uma boa ideia, creio que seria, chamar o Zé Dirceu para o governo. Para estar próximo de Lula. Para fazer articulações. Ele é o único que acompanharia o raciocínio de Lula.

Mas, seja isso ou não, é preciso uma reação forte do governo. E tem que ser rápida.



segunda-feira, 27 de maio de 2024

DILMA - A Sangria Estancada

Por Fernando Castilho

Capa: Fernando Castilho


        INTRODUÇÃO DE DILMA – A Sangria Estancada

 

“O Inferno está cheio de boas intenções”

Samuel Johnson

 

“Não quero o impeachment, quero ver a Dilma sangrar.”

Aloysio Nunes Ferreira

 

“Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria.”

Romero Jucá

 

 

Um movimento contrário ao aumento de 20 centavos nas passagens de ônibus na cidade de São Paulo deu início às chamadas jornadas de junho de 2013.

Começou aos poucos e foi crescendo até se espalhar por todo o Brasil enquanto, qual camaleão, ia assumindo nova identidade e novos propósitos.

Enquanto o Movimento Passe Livre, de origem proletária, reivindicava aquilo que lhe parecia justo na época, meu coração e minha mente naturalmente a ele se juntaram, sabedores das agruras com que as pessoas pobres deste país tão desigual, que necessitam de transporte público para trabalhar ou estudar, enfrentam todos os dias.

Mas, também aos poucos, fui percebendo com estranheza que, no espaço de alguns poucos dias, a grande mídia, grandes jornais e revistas impressos e as redes de televisão e rádio, que no início apressaram-se em criticar e condenar o movimento, através de colunistas e editoriais, começaram a mudar de opinião acrescentando ao caso uma conotação mais política e ampliando o foco que antes era localizado, para todo o país.

Surgiu a figura do gigante adormecido que acordou indignado, ao mesmo tempo simbologia e senha que tomou as redes sociais de maneira avassaladora, como a querer nos mostrar que estávamos errados em conferir aprovação de quase 60% ao governo Dilma Rousseff somente um mês antes, segundo pesquisa Datafolha.

A conclamação a protestar contra o governo era difusa e artificial, pois nos ordenava a, como zumbis, sair às ruas com pautas confusas e genéricas como maior liberdade, fim da corrupção, reforma política etc.

No governo Dilma a liberdade nunca deixou de existir porque é o cerne da democracia. Nenhuma manifestação foi reprimida pela presidente.

É justo exigir o fim da corrupção, mas Dilma nunca foi corrupta, como as intensas investigações, a imprensa e o tempo comprovaram. A Polícia Federal e o Ministério Público sempre tiveram por parte de Dilma a autonomia necessária para investigar quem quer que fosse, inclusive o ex-presidente Lula.

A reforma política estava no Congresso, o responsável por aprovar as leis.

Mas então, o que queriam?

Dilma chegou a se pronunciar em rede nacional de televisão se mostrando favorável às reivindicações e se colocando ao lado dos que protestavam, mas, mesmo assim, as panelas batiam ruidosas em protesto.

Mas quem era essa presidente que de uma hora para outra passou do paraíso para o inferno?

Nossa primeira presidente mulher é uma figura com personalidade complexa. Ainda jovem, insurgiu-se contra a ditadura militar, ingressando na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Passou quase três anos em reclusão, de 1970 a 1972, período em que foi brutalmente torturada.

Graduada em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ingressou no Partido Democrático Trabalhista (PDT) de Leonel Brizola.

Foi Secretária da Fazenda na Prefeitura de Porto Alegre, em seguida, Secretária de Energia, Minas e Comunicações do governo Alceu Collares, e mais tarde do governo Olívio Dutra, ambos no Rio Grande do Sul.

Durante o governo Lula foi ministra de Minas e Energia.

Como se vê, Dilma Rousseff não era nenhuma neófita quando foi escolhida para ser a sucessora de Lula e isso foi demonstrado em seu primeiro mandato considerado exitoso, de 2010 a 2014, mas isso não impediu que ela fosse chamada a partir de 2015 de ignorante, burra ou anta. Chegaram à grosseria de vaiá-la e xingá-la com palavrões em pleno Itaquerão lotado quando da abertura da Copa do Mundo, viabilizada por ela, contra todos os prognósticos negativos da mídia e dos partidos de oposição que já se articulavam para o golpe de estado que a derrubaria.

Dilma também errou. Dona de uma personalidade de característica mais técnica que política, não ouviu Lula e seus conselheiros mais próximos quando estes a alertaram do risco do golpe que se avizinhava, mantendo-se inflexível em sua postura republicana, acreditando que, por não ter cometido crime algum de responsabilidade e por não ser corrupta, o processo de impeachment que já se tramava não prosperaria na Câmara dos Deputados.

Foi no início de 2014, ano eleitoral em que a presidente e seu projeto de continuidade com os projetos sociais iriam ser postos a prova, que cerca de 380 textos analíticos, dos quais 89 compõem este livro, começaram a ser escritos. Esses textos foram publicados em blog próprio, em outros blogs de esquerda e também nas redes sociais.

Naturalmente, alguns geraram debates intensos e relativa repercussão.

Neles há análises que incluíram previsões que se realizaram e outras que não. A maioria sim. Por exemplo, quando já antes das eleições de 2014, este escriba era voz quase solitária a defender que haveria golpe de estado. Ou quando, muito antes de se aceitar o fato, falava da prisão de Lula num texto contestadíssimo pela esquerda republicana que confiava piamente nas instituições.

Em 2016 já aventava a possibilidade da eleição de Jair Bolsonaro em 2018, embora a descartasse como certa porque seu adversário seria Lula e este, naquele momento era imbatível. O tempo mostrou que com Lula preso e com um atentado a faca ainda nebuloso que provocou comoção nacional, o capitão aproveitou para ser eleito.

Os textos foram aqui reunidos sem artificialismos destinados a corrigir ou atualizar as análises feitas na época, portanto, a não ser por revisões de eventuais erros de português, são originais.

Logicamente, não compareço aqui como visionário, mas tão-somente como uma testemunha ocular de um período de nossa História cujos detalhes temos a tendência de esquecer. Em cada um deles houve empenho na pesquisa, olhar arguto e capacidade de análise.

O livro é quase um diário. Foi escrito quase que diariamente e se colocasse aqui todas as palavras, o número de páginas seria muito grande. Preferi, por isso, publicar apenas os textos mais significativos. Alguns poderão ser acessados através de leitura de QR Code.

Na maioria das análises acrescentei ao final comentários que remetem aos dias atuais a título de comparação, o que permite iniciar reflexões sobre os desdobramentos dos acontecimentos passados e explicitar a evolução surpreendente dos fatos iniciados naquele ano de 2014 que culminaram na eleição de um governo de características fascistas destinado a destruir todos os avanços civilizatórios construídos não sem esforço durante muitos anos, tentar um retrocesso de volta a ditadura e contribuir decisivamente para a morte de mais de 700 mil pessoas pela Covid-19.


Adquira em 

https://clubedeautores.com.br/livro/dilma



quinta-feira, 16 de maio de 2024

A arte de escrever

Por Fernando Castilho


Meus amigos, há mais de 10 anos escrevo para este blog.

No meio dessa caminhada, escrevi 4 livros, além de um, ainda em construção, composto por haikus (poesia japonesa constituída pela métrica de fonemas 5-7-5) escritos em japonês.

Colaboro com sites como Brasil 247, Revista Fórum, Construir Resistência e Piauí Hoje.

Sou colunista semanal do Jornal GGN.

Ao mesmo tempo, exercia a profissão de professor, porém, envolvido com trabalhos free lancer de revisão de textos, decidi me dedicar somente à atividade literária.

A revisão de textos é atraente, desde que o revisor consiga penetrar na mente do escritor e descobrir seu estilo. O desafio é manter esse estilo e não impor o próprio. Penso que isso é tão importante quanto dar ao texto o português correto.

Já havia, em meus 4 livros, feito também a diagramação e, por isso, adquiri também essa experiência.

Um desafio na arte literária a que me proponho é ser ghost writer, aquele escritor que coloca no papel as palavras de alguém que não tem muita familiaridade com textos ou sente dificuldades com a redação. Anseio muito por isso e espero que surja logo essa oportunidade.

Outro desafio é biografar. Acho fascinante escrever sobre a vida de uma pessoa.

Contar a história de uma família também é uma atividade atraente e desafiadora.

Portanto, leitor, se tiver conhecimento de alguém que esteja necessitando de meus préstimos, por favor, me recomende. O trabalho será feito com muita dedicação e correção. Podem me contatar pelo WhatsApp (11) 99717-9838.

Enquanto isso, continuem a acompanhar meus textos neste blog. Em breve darei continuidade.

Obrigado!





terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Bolsonaro Nostradamus

Por Fernando Castilho

Foto: G1, por Daniela Lima, Bruno Tavares e Fábio Santos


Se a Abin, durante o governo anterior se prestava a isso, não se pode admitir de forma alguma que, passado um ano de administração Lula, ela ainda esteja a serviço da família do ex-presidente.


Quarta-feira, 24 de janeiro.

 

Jair Bolsonaro publica uma postagem enigmática no X, no melhor estilo Nostradamus:

- As próximas semanas poderão ser decisivas.

- Vivemos momentos difíceis, de muitas dores e incertezas.

- "Quando um ímpio não quer que você olhe para um lado da estrada, ele bota fogo no outro lado da mesma, pois assim ninguém saberá do mal maior que ele fez do lado que você não olhará."

- Deus, Pátria, Família e Liberdade.

- Jair Messias Bolsonaro

A postagem causou alvoroço nas redes sociais e nos jornalões. Parecia que o ex-presidente previa que num futuro muito próximo algo iria lhe acontecer. Ou a um de seus filhos, talvez.

Domingo, 28 de janeiro.

 

Bolsonaro, junto a seus 3 primeiros filhos (o 04, Jair Renan e a ex-primeira-dama, Michelle, não estavam presentes porque o patriarca somente leva em consideração seu núcleo familiar mais duro), faz uma live para entre outras coisas, desacreditar mais uma vez o sistema eleitoral e sugerir perseguição no caso do escândalo da Abin. O outro assunto foi o lançamento de um curso para conservadores a ser ministrado por Eduardo e Carlos, ora vejam. Se passou pela sua cabeça, leitor, que esse curso que custa 300 reais poderá servir como lavagem de dinheiro, você só está sendo maldoso e imaginando coisas, viu?

Segunda-feira, 29 de janeiro.

 

A Polícia Federal faz busca e apreensão nos endereços de Carlos Bolsonaro, tanto na Cãmara de Vereadores do Rio de Janeiro, como no Condomínio Vivendas da Barra onde reside. Além disso, não escapou à PF bater à porta da mansão de Bolsonaro em Angra dos Reis, onde foi gravada a live.

Os Bolsonaro não estavam em casa. Teriam saído para pescar entre 5 horas da madrugada e 6 e meia, de acordo com várias versões.

A PF, incumbida de apreender os celulares de Carluxo, aguardou pacientemente até o meio-dia quando o vereador voltou à casa. Não se sabe se trazia peixes com ele. O celular foi apreendido.

O que temos, então?

Numa escala de 0 a 10, a suspeita de que a familícia foi avisada por alguém da PF (ou mesmo da Abin) pode estacionar no número 9.

Uma comunicação via WhatsApp de uma assessora de Carluxo foi interceptada pela PF. Na mensagem, a assessora pedia ao delegado Ramagem, então ainda chefe da Abin, informações sobre a família Bolsonaro, demonstrando cabalmente que a agência atuava para sua blindagem, uma nova forma de corrupção e apropriação do Estado para benefício particular do governante.

E se a Abin, durante o governo anterior se prestava a isso, não se pode admitir de forma alguma que, passado um ano de administração Lula, ela ainda esteja a serviço da família do ex-presidente.

Durante o governo de transição, ainda em 2022, Lula já deveria ter dado ordens ao general GDias, escolhido como ministro do GSI, para que mapeasse todos os funcionários da pasta para cortar as cabeças dos bolsonaristas com algum poder de comando, mas não o fez. O resultado todos sabemos, pois ficou explícito no famigerado dia 8 de janeiro de 2023.

O que não sabíamos é que a Abin, um dos órgãos mais sensíveis, pois trabalha essencialmente com informação, um dos bens mais importantes para um governo, manteve durante todo o ano de 2023 bolsonaristas, incluindo aí o nº 2 da pasta!

Isso significa pouco? Não, significa que, tanto Ramagem (que mantinha ainda um computador em casa pertencente a Abin, o que tem que lhe custar uma acusação por crime de peculato) quanto Carlos Bolsonaro e, por consequência, Jair Bolsonaro, recebiam diariamente informações sensíveis sobre o governo, os ministérios e o próprio Lula. Quiçá, também sobre ministros do STF e presidentes da Câmara e do Senado. E se isso pode se caracterizar como sendo de uma gravidade extrema, o mesmo se pode dizer da responsabilidade do governo em manter essa estrutura.

Não se defende aqui, de maneira nenhuma, a extinção da Abin. A agência tem muita importância estratégica para o Estado. Não se pode derrubar a floresta para matar a onça. É preciso que muito rapidamente se faça a tardia limpeza.

Para encerrar, uma pitadinha do que a burrice e incompetência podem causar. Jair Bolsonaro, em entrevista à Jovem Pan, ao ser indagado sobre o fato de a assessora de Carluxo ter consultado Ramagem sobre a família, perguntou: “qual é o problema nisso?” É sério, ele admitiu o crime.

Fábio Wajngarten, o advogado de seu Jair, talvez tenha um dos piores empregos do mundo, pois, a todo momento tem que lidar com a língua destravada de seu cliente que insiste em produzir provas contra si mesmo.

 


sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

So this is Christmas and what have you done?

Por Fernando Castilho

Foto: Yasser Qudih / AFP

O que importa é que enquanto comemos peru e chester com os nossos e vemos os caminhões da Coca-Cola passarem nas ruas, milhares defamílias destroçadas não têm o que comemorar na Palestina.

O dia 25 de dezembro, segundo a tradição cristã, comemora a vinda ao mundo do espírito que se fez homem para vir nos salvar, porém, grande parte dos cristãos evangélicos considera a data como sendo pagã porque é nela que ocorre o solstício de verão cultuado pelos antigos que adoravam o deus Sol.

Mesmo assim, países cuja maioria da população não é cristã, como o Japão, desde novembro começam a enfeitar as ruas das grandes cidades com motivos natalinos onde não faltam árvores de Natal e papais-noéis. E embora não haja o espírito cristão, é nesse dia que as pessoas se presenteiam.

No Ocidente, Brasil no meio, o Natal é o dia em que se reúnem as famílias, os parentes e os amigos para trocarem presentes, participarem da tradicional ceia e, principalmente, refletirem sobre a vida, a fraternidade e a harmonia. É o sentido de ser humano aflorando desde nossos corações. Pelo menos deveria ser assim.

Ocorre que é também nesse momento que não lembramos dos nossos irmãos que estão sendo dizimados aos milhares na Palestina.

Mas como alguém, neste momento tão lindo, tão cristão, tão humano que estamos começando a viver, vem agora tirar nossos corações deste conforto tão mágico, tão gostoso?

Não importa se há poucos cristãos na Palestina. O que importa é que enquanto comemos peru e chester com os nossos, milhares de famílias destroçadas não têm o que comemorar na Palestina. Há maridos sem esposas, esposas sem maridos, filhos sem pai nem mãe, maridos e esposas sem filhos, ou seja, famílias sem teto, amputadas de seus membros tão queridos por causa de uma guerra cuja causa há 70 anos nos vem sendo vendida como religiosa, motivada por uma entidade que teria escolhido o povo judeu como seu preferido, e concedido direito às terras ocupadas há milênios pelos palestinos. Justamente Deus, o pai de Jesus, teria dado início ao genocídio que se pratica na Palestina em nome dele?

Então é Natal. E o que você tem feito?

Hora de dar as costas ao massacre porque não é momento de pensarmos nisso, afinal, estamos com nossos familiares, parentes e amigos, nos congraçando, falando de amor e harmonia, trocando presentes, nos empanturrando de peru e chester e expressando o que temos de melhor como seres humanos. Não é hora de pensarmos nisso. Porque somos cristãos e tudo que precisamos agora é pensar em Jesus.

War is over
If you want it

 

Créditos da música Happy Xmas (War Is Over):

John Lennon/Yoko Ono


O tapa que Quaquá deu em Donato

Por Fernando Castilho

Foto: reprodução

A CPMI do 8 de janeiro perdeu uma grande oportunidade de indiciar os deputados golpistas, talvez por receio de cortar na própria carne. Agora eles continuam a tentar o golpe.


Ficamos chocados com os deputados bolsonaristas que deram as costas para a bandeira do Brasil no plenário da Câmara durante a cerimônia de promulgação da emenda constitucional que reforma o sistema tributário do país? Por quê?

Era totalmente esperado que Lula seria vaiado pela extrema-direita, afinal, ele coroa a finalização de um ano de recuperação com um projeto que impactará economicamente a médio e a longo prazo a vida dos brasileiros. Vale ressaltar que a grande imprensa noticiou que o presidente recebeu aplausos e vaias, como se essas duas manifestações fossem geradas pelo mesmo número de pessoas, o que é totalmente falso, até porque foi a maioria dos parlamentares que votou a favor do projeto.

Já estava tardando uma reação mais violenta às provocações dos bolsonaristas e esta aconteceu pela palma da mão do deputado Washington Quaquá (PT-RJ) que foi parar no rosto do extremista de direita Messias Donato (Republicanos-ES).

Não, não se trata aqui de apoiar ou justificar a atitude de Quaquá, mas lembrar que Donato o provocou. E sabe-se lá o que foi falado.

No ensino fundamental II é muito comum um aluno de repente bater em outro, aparentemente sem motivo algum, mas quase sempre se trata de uma reação a uma grave ofensa. A diferença é que deputados não são pré-adolescentes, mas sim, pessoas eleitas para representar o povo no Congresso Nacional. Por isso, a atitude de Quaquá deve ser criticada.

Donato, mais tarde, foi chorando ao plenário fazer aquele discursinho de que é homem de bem, cristão de família. Aproveitou bem o incidente para se fazer de vítima ao dizer que agora sente muito medo.

No Instagram, Quaquá postou vídeo de Donato chorando e chamou o colega de "fascista chorão". "Adora xingar e agredir os outros, mas não aguenta uma porrada", afirmou.

Se não aprendermos com quem estamos lidando, não saberemos combatê-los. E essa gente só aprenderá debaixo da vara da Justiça.

Às vezes parece que esquecemos que deputados e senadores bolsonaristas foram influenciadores da tentativa de golpe de 8 de janeiro e que ainda estão tentando aglutinar forças para novas investidas.

A CPMI perdeu uma grande oportunidade de indiciar esse pessoal, talvez por receio de cortar na própria carne. Se fossem indiciados, talvez a esta altura se comportassem melhor.

Infelizmente, apesar de Lula ter durante este ano demonstrado a diferença entre os dois governos, Jair Bolsonaro, inacreditavelmente, ainda possui um grande número de apoiadores.

O fato é que os bolsonaristas estão perdidos em seus discursos que não contém propostas para o Brasil nem argumentos para contrapor as medidas que o governo Lula tem tomado. A todo momento só sabem falar de aborto, dama do tráfico e ida de Flávio Dino ao Complexo da Maré.

Nesta semana chegaram à ousadia de tentar encaminhar um processo de impeachment da ministra da saúde, Nísia Trindade por ela ter faltado a uma convocação na comissão de saúde da Câmara, plenamente justificada pela reunião ministerial do presidente Lula. Lembrando que ela já atendeu a inúmeras convocações para falar sobre aborto, drogas e consequências malignas da vacina da Covid. Jamais a questionam sobre a eficiência do SUS, da farmácia popular ou de outras políticas. E ela sempre repete as mesmas coisas. O objetivo é claro: fazer com que os ministros percam seu precioso tempo para boicotar o governo.

Foram contrários a reforma tributária, mas não disseram o que colocariam nela ou dela tirariam porque não têm, repito, propostas.

Esperemos que o novo Procurador Geral da República, Paulo Gonet, comece a aceitar denúncias contra os nomes mais ligados ao fundamentalismo, às fake-news e ao golpismo para que possamos em curto espaço de tempo ver essa gente ser cassada e pagar pelos seus crimes na Papuda, Bangu 8 ou Colmeia.

Parece que agora vai.

 


domingo, 12 de novembro de 2023

Os motivos da guerra são muitos, nenhum religioso

Por Fernando Castilho


O fato, porém, é que na realidade, os motivos para se dizimar ou expulsar o povo palestino são vários e nenhum é religioso. Nem Netanyahu acredita nisso.


Desde sempre sabemos que Israel, incluindo os territórios palestinos, seria a terra prometida por Deus ao povo judeu, seu escolhido.

Essa seria a explicação mais fácil para a ocupação ao longo de décadas daqueles territórios, acabando por restringir toda uma população de mais de 2 milhões de pessoas numa área muito pequena (apenas 365 km²), a Faixa de Gaza. Afinal, Deus está acima de todos, não é mesmo?

Os evangélicos brasileiros aguardam pacientemente a volta de Jesus Cristo preferindo esquecer que os judeus não acreditam no filho de Deus. De maneira oportunista, tentam pegar carona com eles para encurtar o caminho até o Paraíso, já que seriam eles os primeiros a lá chegar.

Vale, para isso, apoiar incondicionalmente o estado de extrema-direita de Benjamim Netanyahu? Vale apoiar o genocídio contra o povo palestino que pode varrê-los do mapa, como quer o primeiro-ministro? Vale ignorar o massacre de 5 mil crianças palestinas contabilizadas até o dia de hoje? Vale essa hipocrisia para garantir seu lugarzinho no Céu?

As consciências, como ficam? Deus não está vendo?

O fato, porém, é que na realidade, os motivos para se dizimar ou expulsar o povo palestino são vários e nenhum é religioso. Essa gente evangélica está sendo enganada.

Nem Netanyahu acredita nessa balela de terra prometida. A questão é geopolítica e, portanto, econômica, apenas, tolinhos.

Não faz muito tempo, como fartamente documentado pela imprensa, Israel detectou jazidas de petróleo e gás no mar de Gaza e precisa extraí-lo para ter autossuficiência, mas se o território pertence a Palestina, esse é um entrave que precisa ser eliminado, pois se o petróleo está em Gaza, pertenceria a Autoridade Palestina. A intenção é roubar, pura e simplesmente.

Israel, em 2021, elaborou um plano de construção do Canal Bem-Gurion, alternativa ao Canal de Suez, cujo traçado inicial faz uma curva para desviar da Faixa de Gaza passando pelo norte do território. Seria muito mais lógico e muito mais barato, em vez de desviar, seguir reto atravessando Gaza para chegar ao mar. Trata-se de uma obra bilionária que facilitará o transporte marítimo e impulsionará enormemente a economia do país.

Esses dois motivos para acabar com Gaza, por si só já são suficientes para explicar a guerra e nenhum deles é religioso.

O primeiro-ministro, Netanyahu, está envolvido até o pescoço em denúncias de corrupção e já era, inclusive para estar preso. As pesquisas de opinião indicam que o povo israelense quer vê-lo pelas costas. Um grande triunfo sobre os palestinos poderia amenizar as críticas ao governo. Pelo menos é o que ele imagina. Além disso, é preciso tentar compreender o apoio incondicional do governo Joe Biden a Netanyahu. E esse apoio também não tem cunho religioso.

Os Estados Unidos dia a dia veem sua hegemonia econômica ser enfraquecida, não só pelo fenômeno China, mas, mais do que isso, pelo fortalecimento do Brics, o bloco econômico que inicialmente era composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, mas que hoje já está engrossado por outros países. Inclusive, a moeda de troca para transações comerciais entre os países do bloco deixará de ser o dólar, passando a ser moedas locais ou o Yuan chinês.

Além disso, o Irã, um dos países que os EUA escolheram para fazer parte do chamado eixo do mal, potência nuclear, ingressou no Brics.

A venda de armas por parte dos EUA é uma grande fonte para aumento de recursos daquele país, mas a tentativa agressiva de se reposicionar como a maior potência do planeta, fazendo frente à China e à Rússia que são contrárias a política de genocídio dos palestinos é que move hoje Joe Biden, desesperado para tentar melhorar sua posição nas pesquisas para as eleições de 2024 lideradas por Donald Trump.

Não há justificativa baseada na palavra de Deus para o genocídio de um povo.

Os motivos são sempre econômicos.

 

 

 


sábado, 4 de novembro de 2023

"Quem sonhou só vale se já sonhou demais..."



Por Fernando Castilho



Aquilo era diferente de tudo o que já tinha ouvido. Não entendia a letra, mas a música parece que dava uma indicação do que se tratava.

Ainda me lembro muito bem, já que acontecimentos que mexem conosco de maneira forte tendem a permanecer na memória.

Era o ano de 1968 e eu tinha 14 anos apenas.

Não era na época ligado em música, muito menos nos Beatles, de quem havia apenas ouvido falar. A televisão não era uma mídia forte como é hoje e a Internet com suas redes sociais não existia. Em casa meu pai tinha uma vitrola com vários LPs de cantores como Frank Sinatra, Nat King Cole e Ray Charles, mas nada de rock, muito menos dos Beatles.

Mas na escola havia um frenesi entre os alunos sobre a banda e rumores de que uma nova e impactante canção tinha sido lançada. Quem traria a novidade era um disc-jóquei (não confundir com os atuais DJs) gordinho chamado Big Boy em seu programa noturno.

Naquela época as novidades musicais demoravam a chegar ao Brasil, já que era preciso importar os discos.

Influenciado pelos colegas, decidi levar pra cama o radinho de pilha de meu pai. Sintonizei na rádio e conheci, afinal a voz empolgante do Big Boy com seu bordão, Hello, crazy people! A todo momento ele anunciava que tocaria em primeira mão a mais nova e incrível música dos Beatles, mas o tempo passava e nada. A estratégia era fazer prender a atenção dos ouvintes durante uma hora aumentando a expectativa para a apoteose final.

E chegou a hora de ouvir Hey Jude.

Aquilo era diferente de tudo o que já tinha ouvido. Não entendia a letra, mas a música parece que dava uma indicação do que se tratava.

Foi como se a pressão atmosférica combinada com a gravidade de repente começasse a pressionar meu coração até ele se tornar tão apertado que parecia querer sair pela boca.

Enfim, veio o famoso refrão meio hipnótico “na-na-na-na-na-na-na-na-na-na-na-Hey Jude”. A música simplesmente não acabava. Aproximadamente 7 minutos de gravação!

Depois que o programa acabou foi difícil pegar no sono. No dia seguinte teria que conhecer essa banda e a professora de Inglês facilitou isso ao utilizar em suas aulas LPs do grupo para que ouvíssemos e tentássemos traduzir as letras.

Passaram-se décadas depois disso. Os Beatles se separam em 1970 e seguiram com suas carreiras solo. John Lennon foi assassinado em 1980, mais tarde, Yoko Ono em 1994 entregou a Paul McCartney algumas fitas demo do marido para que ele e os remanescentes as aproveitassem para lançar como músicas dos Beatles. Free As Bird e Real Love foram aproveitadas e lançadas na coletânea Beatles Anthology, mas Now and Then, pela má qualidade da gravação, foi descartada. Linda McCartney faleceu em 1998 e George Harrison em 2001. Uma legião de fãs acompanhou a banda durante 60 anos!

Escrevo tudo isso para ilustrar como, não só eu, mas toda uma geração dos anos 60, fomos “capturados” pelos Beatles. Quem pertence às gerações que se sucederam dificilmente compreenderá esse tipo de sentimento.

E eis que a tecnologia de Inteligência Artificial resolveu o problema da gravação de Now and Then e McCartney, trabalhando nela com Ringo e aproveitando o violão gravado de Harrison em 1994, a transformou na última música dos Beatles. Peter Jackson se encarregou de produzir um clipe incrível.

Devido às notícias e imagens que nos chegam todos os dias da guerra entre Israel e Hamas, tenho estado muito triste nas últimas semanas. Um misto de revolta, dor e sofrimento pela empatia tem feito muito mal a minha sanidade mental. Por vezes, senti o coração apertado e, ao ver imagens de crianças em meio aos escombros em que Gaza vem se transformando, os olhos algumas vezes ficam marejados.

Por isso, antes de assistir ao clipe de Now and Then, sentia que não seria justo me emocionar por algo infinitamente menos relevante do que os acontecimentos na Palestina. Seria alienação.

Mas não teve jeito. Peter Jackson pegou pesado ao adicionar imagens dos Beatles quando jovens às atuais de Paul e Ringo, acrescidas das de George em 1994.

Enquanto a música rolava junto com o vídeo, 60 anos de fatos que aconteceram na minha vida desfilaram em apenas 4 minutos e 35 segundos! Impossível dissociar a banda da minha vida. Devo tê-la em meu DNA e não há como explicar a quem não viveu isso.

Como sempre, críticas estão aparecendo aqui e ali. Uma diz que Paul, movido pela ganância em faturar, usou Lennon e os demais. Ora, um astro do rock com 81 anos, detentor de uma fortuna estimada em 1,2 bilhão de dólares e que alcançou o máximo da fama, estaria mesmo procurando faturar?

Outra crítica afirma que se trata apenas de mais uma música de Paul e que nada tem a ver com Beatles. Faltam ouvidos atentos e background a essa gente. No clipe de Now and Then estão os elementos típicos das músicas dos Beatles, além de sutis inserções de A Day in the Life, Norwegian Wood, Eleanor Rigby e Because.

Tem gente também que se diz decepcionada por que esperava algo mais grandioso, talvez incomodada pela mediocridade das músicas atuais. Acho que a música não perfila entre as melhores de John. Realmente, nada tem a ver com Strawberry Fields ou In My Life. Porém, o tratamento que foi dado a ela com arranjos de Paul e de Giles Martin, lapidou um diamante bruto.

Fica muito difícil aos críticos atuais, sem terem vivido aqueles anos, sem terem sentido o que uma geração inteira vivenciou e se atendo somente a aspectos superficiais como a técnica (ah, modificaram a voz do John!), compreenderem.

Para encerrar, a imagem mais emocionante para mim é a do fade out no final do clipe. Aquela imagem dos 4 Beatles que vai desaparecendo aos poucos, indicando que se encerra definitivamente uma época, que o sonho acabou para sempre e que Now and Then é realmente o canto de cisne da maior manda de rock de todos os tempos.

 

Canção do Novo Mundo

Por Beto Guedes e Ronaldo Bastos

Quem sonhou
Só vale se já sonhou demais
Vertente de muitas gerações
Gravado em nossos corações
Um nome se escreve fundo
As canções em nossa memória
Vão ficar
Profundas raízes vão crescer
A luz das pessoas
Me faz crer
E eu sinto que vamos juntos

Oh! Nem o tempo amigo
Nem a força bruta
Pode um sonho apagar

Quem perdeu o trem da história por querer
Saiu do juízo sem saber
Foi mais um covarde a se esconder
Diante de um novo mundo

Quem souber dizer a exata explicação
Me diz como pode acontecer
Um simples canalha mata um rei
Em menos de um segundo
Oh! Minha estrela amiga
Porque você não fez a bala parar

Oh! Nem o tempo amigo
Nem a força bruta
Pode um sonho apagar

Quem perdeu o trem da história por querer
Saiu do juízo sem saber
Foi mais um covarde a se esconder
Diante de um novo mundo