Por Fernando Castilho
Acompanhei todo o processo de cassação de Gláuber Braga na
Câmara dos Deputados e, convenhamos, o deputado do Psol do Rio de Janeiro não
arredou um centímetro de suas convicções. Se tivesse feito o teatrinho básico,
pedido desculpas, retirado o que disse a Arthur Lira sobre o escândalo das
emendas, teria escapado bem antes da via crucis que lhe armaram. Mas não:
preferiu sair de cabeça erguida, vitorioso e honrado.
Do outro lado, Jair Bolsonaro, quando encarou Alexandre de
Moraes em seu julgamento, fez o que sabe de melhor: pediu desculpas, jurou que
nunca viu os milhões que tinha afirmado que Moraes recebera e, para coroar,
ainda convidou o ministro para integrar seu futuro governo. Brio? Fibra? Nada
disso. Saiu com aquela cara de bobo típica dos covardes que se humilham para
salvar a própria pele.
Agora, o mesmo Bolsonaro repousa em uma sala especial (não
cela, veja bem) na superintendência da Polícia Federal em Brasília. Doze metros
quadrados com ar-condicionado (que já reclamou porque faz barulho), frigobar,
cama com colchão, banheiro privativo e chuveiro quente. Um verdadeiro spa
carcerário. Ah, e duas horas de banho de sol por dia, podendo circular
tranquilamente como se fosse hóspede de resort.
Mesmo assim, o deputado Paulo Bilynskyj, em vistoria, teve a
coragem de dizer que seu Jair estava sendo submetido a “verdadeira tortura”.
Tortura, aliás, que ele defende para os outros sem pestanejar. Enquanto isso,
Lula, também idoso, enfrentou 580 dias de prisão preventiva numa sala da PF de
Curitiba sem reclamar, sem pedir anistia, e isso já depois de ter enfrentado um
câncer.
Seu Jair, o homem com “histórico de atleta” que classificou
a Covid-19 como “gripezinha” e chamou todos os brasileiros que se resguardavam
dela de “maricas”, o homem que até ontem exibia vigor ao passear de jet-ski e
participar de motociatas, de repente virou um paciente terminal, quase à beira
da morte. Por isso, precisa de prisão domiciliar, de preferência com piscina,
sauna e quem sabe até uma jacuzzi.
Curiosamente, também, o general Heleno, homem de perfil
notoriamente autoritário, agora alega Alzheimer. Alexandre Ramagem, para não
cumprir pena, simplesmente fugiu para os Estados Unidos, assim como Carla
Zambelli para a Itália. E o que falar de Eduardo Bolsonaro? Além de covardes,
são fujões.
E o ex-ajudante de ordens, Mauro Cid? Ao ouvir os conselhos
dos advogados, não pensou duas vezes: entregou todos os golpistas para salvar a
própria pele.
É isso: não têm fibra. Não aguentam uma hora de
interrogatório mais duro. Bastaria a menção de uma “pau-de-arara” para que
borrassem as calças e entregassem até o cachorro da vizinha.
A extrema direita é frouxa. São guerreiros de frigobar,
mártires de ar-condicionado barulhento e heróis de motociata.