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quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

O xadrez de Bolsonaro

Por Fernando Castilho


Quando Jair Bolsonaro montou seu governo no final de 2018, se apoiou em vários pilares:

1 – Eleitores. 55% dos eleitores votaram no capitão, o que teoricamente significaria que cerca de 117 milhões de pessoas o apoiariam em seu governo. Num tabuleiro de xadrez, eles seriam os peões;

2 – Militares. Bolsonaro nunca escondeu de ninguém seu apreço e saudosismo pela ditadura militar. Por várias vezes o vimos enaltecer torturadores. A ideia é ter uma retaguarda que amedronte pela força qualquer um que se opusesse a sua forma de governar. Seriam os cavalos no xadrez.

3 – Lideranças evangélicas. Os pastores que têm amplo espaço nas TVs e também no congresso tratariam de estabelecer entre os fiéis um link dele com o divino. No ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, o capitão colocou Damares Alves, evangélica fundamentalista. Seriam os bispos no xadrez;

4 – Mídia. Nas televisões a Rede Record do bispo Macedo da Universal e o SBT de Sílvio Santos se encarregariam entrevistá-lo sem questioná-lo sobre temas polêmicos sempre que ele quisesse e destacariam os feitos de seu governo. Alguns jornais menores e rádios populares Brasil afora também se prestariam ao mesmo serviço. Uma das torres;

5 – Olavo de Carvalho. A ala olavista do governo do Capitão Morte assumiria o papel de dar suporte teórico a sua ideologia. O chanceler Ernesto Araújo trataria de mostrar ao mundo a nova cara da diplomacia brasileira, isolacionista e antiglobalização, de acordo com Donald Trump. O ministro da Educação que sucedeu a Ricardo Veléz Rodriguez, Abraham Weintraub, se encarregaria de incutir na mente do brasileiro comum a mentira de que os estudantes brasileiros nada produzem e só consomem maconha plantada em suas faculdades. Trataria também de destruir o Enem e qualquer iniciativa que visasse a melhoria do ensino no país. Já o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, promoveria o desmonte da fiscalização do Ibama, incentivo ao desmatamento e ao garimpo na Amazônia legal e os incêndios criminosos Brasil afora. Descobriu-se depois que ele tentava vender madeira ilegal para os Estados Unidos. Outros menos importantes, mas nem por isso destruidores em suas ações como o secretário de cultura, Mário Frias, o quinto da pasta até agora. Mais uma torre;

6 – Elite financeira. O instrumento para ganhar a confiança dessa elite é o ministro da economia, Paulo Guedes. Este estaria encarregado de proceder às reformas que garantiriam o aumento dos lucros do mercado financeiro e dos donos do poder econômico do país. Essa era a rainha.

Pronto, estava montado o xadrez do governo.

Passados três anos, como está esse tabuleiro?

1 – Eleitores. Bolsonaro perdeu metade dos peões. Possui agora cerca de 25% a 30% do apoio popular que tinha antes. Agora tem 4 peões;

2 – Militares. Alguns saíram do governo, como o general Santos Cruz. Outros estão desembarcando agora e até flertando com Lula. Os que têm boquinha com altos salários, ainda se mantém fiéis. Agora o capitão tem apenas um cavalo;

3 – Lideranças evangélicas. Pesquisa recente mostrou que quase metade dos evangélicos já apoia Lula. Restam os Malafaias da vida. Um bispo agora, somente;

4 – Mídia. Os veículos que apoiavam o Capitão Morte há três anos atrás ainda o apoiam, porém outros maiores como a Globo e a Folha de São Paulo fazem oposição a ele, embora não contundente. Essa torre continua;

5 – Olavo de Carvalho morreu, mas antes disso declarou que não mais apoiava esse governo. Weintraub já concorre ao governo de São Paulo, rompido com o governo. Ernesto Araújo tem feito críticas fortes a Bolsonaro e seus filhos. Uma torre a menos;

6 – Elite financeira. A decepção com Paulo Guedes enfim chegou. O ministro não conseguiu fazer as reformas pretendidas e agora tem fama de falastrão e homem preocupado em enriquecer mais ainda. Essa elite começa a flertar com Lula e Alckmin, afinal, se lembra de que nos governos do ex-presidente, lucraram muito. Meio pilar agora. A rainha agora está debilitada;

Mas Bolsonaro substituiu a rainha por outra: o centrão liderado por Arthur Lira e Ciro Nogueira. Mas esta está começando a mudar de cor, passando pro outro lado. As campanhas dos deputados e senadores começam agora e estes vão continuar a levar a grana das emendas do orçamento, mas se desvincularão do capitão em seus redutos eleitorais. Muitos se ligarão a campanha de Lula.

Resumidamente, o capitão agora tem 4 peões, 1 bispo, 1 cavalo, 1 torre e 1 rainha.

Isso basta para se reeleger?