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terça-feira, 9 de maio de 2023

Charles III, uma coroa feita de sangue

Por Fernando Castilho



Os grandes impérios foram, com o tempo, reduzindo em tamanho devido às revoluções pela libertação levadas à cabo pelos países colonizados, mas um certo ar de deboche persiste quando Charles exibe uma coroa com essas pedras.

Charles, o primogênito de Elizabeth II, enfim, conseguiu se tornar Charles III.

A cerimônia de coroação reuniu milhares de pessoas admiradoras ou não da família real, como costuma acontecer em eventos como esse.

A coroa, o símbolo maior da realeza de Charles, possui, entre outras joias, um enorme diamante chamado de “Pedra da África”.

Essa pedra não só simboliza a realeza, mas também o imperialismo britânico que dominou e explorou boa parte do continente africano. Países como África do Sul, Egito, Sudão, Gana, Nigéria, Somália, Serra Leoa, Tanzânia, Uganda, Quênia, Malawi, Zâmbia, Gâmbia, Lesoto, Maurícia, Suazilândia, Seicheles e Zimbábue foram colonizados pelos antepassados de Charles que não se preocuparam somente em impor sua cultura, mas, principalmente, saquear suas riquezas e colocar esses povos de joelhos. A Pedra da África é uma dessas riquezas saqueadas.

Os grandes impérios foram, com o tempo, reduzindo em tamanho devido às revoluções pela libertação levadas à cabo pelos países colonizados, mas um certo ar de deboche persiste quando Charles exibe uma coroa com essas pedras.

O fato me fez lembrar de outro império que soçobrou, o japonês.

O Japão, durante a 2ª Grande Guerra, espalhou seus tentáculos por Hong Kong (na época um protetorado britânico) e as outras regiões nas Filipinas. Kuala Lumpur, Singapura, Birmânia e Indonésia.

Quando chegou à China, o bicho pegou porque Estados Unidos e a própria União Soviética trataram de barrar o avanço imperialista.

O Japão planejou avançar sobre território manchu e pleno e rigoroso inverno. O cálculo do estado-maior nipônico previa que, por ser o japonês um ser superior, cada soldado deveria destruir um tanque inimigo com coquetéis molotov.

É aí que entra o depoimento de meu ex-sogro, um imigrante japonês que lutou nessa guerra. Na TV passava uma notícia dando conta da morte do imperador Hirohito. Sempre achei que todo súdito japonês tinha o mandatário como uma divindade na Terra, mas meu ex-sogro avançou em direção à TV xingando Hirohito e quase quebrando o aparelho, tamanha a sua fúria.

A cena me assustou. Esperei o homem se acalmar e perguntei o porquê daquilo.

Daí me contou que ele e seus companheiros saíram para o território manchu com uma mochila de alimentos, a farda e alguns cobertores finos. A neve chegava quase ao joelho.

Os soldados conseguiram avançar até certo ponto quando os víveres acabaram e o que sobrou para comer eram gravetos, pequenos insetos e até cobra.

O frio os congelava e vários deles não aguentaram e sucumbiram.

O Japão foi derrotado, o imperador perdeu sua divindade e meu ex-sogro voltou para casa totalmente arruinado e depressivo. Por isso, o ódio.

Conto essa história individual, mas não podemos esquecer também as atrocidades cometidas pelo exército japonês que, ao chegar numa aldeia ou cidade, o primeiro crime que cometia era o estupro seguido de assassinatos de homens e crianças.

Esse é o imperialismo que também a Grã-Bretanha praticou não só na África, mas também na Ásia e que nunca deveria ser valorizado.

Mas o povo inglês que sabe que foi beneficiado pela exploração feita no passado, ainda comparece em massa para assistir a coroação de um homem que nunca deu duro na vida e que herda o produto da crueldade cometida pelos seus antepassados.