quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O dia em que o juiz Moro prestou depoimento a Zé Dirceu

Por Fernando Castilho





Muitos já escreveram sobre o depoimento de Dirceu a Moro. Vai aqui outra leitura que demonstra que os papeis parecem ter se invertido naquela ocasião.


Zé Dirceu deu um depoimento de mais de 2 horas ao juiz Moro.

Confesso que havia de minha parte uma grande expectativa, uma vez que estavam enfim frente a frente o inimigo público número um da Nação e o justiceiro eleito pela grande mídia e pela classe média brasileira.

Logo no começo foi possível ver um Dirceu magro, envelhecido e com certa aparência de cansaço. Seria logo engolido por Moro.

Mas para minha surpresa, Dirceu foi respondendo pausadamente e com muito preparo a todas as questões que lhe eram formuladas.

Aos poucos fui percebendo que as perguntas a ele dirigidas eram frágeis, quase simplórias.

Já tinha lido alguns despachos de Sérgio Moro que me chamaram a atenção por uma certa dificuldade em escrever em bom Português.

Alguém poderá alegar preconceito meu, uma vez que nosso idioma passa constantemente por transformações. Porém, ao contrário do comum dos brasileiros, um juiz não pode escrever mal, sob pena de ser mal interpretado em seus despachos.

Mas voltando às perguntas.

Moro à certa altura pergunta a Dirceu se ele tinha alguma divergência com relação à delação premiada de Fernando Moura que o isentou do esquema da Lava Jato ao que Dirceu responde de imediato que não. Mas é claro que não. Se ele foi isentado, como iria invalidar a delação?

Moro faz até 5 vezes as mesmas perguntas, demonstrando que, ou não se preparou direito para o embate ou realmente não tinha o que perguntar a alguém que ele certamente já sabe que não está envolvido na Lava Jato. É que a vaidade o impede de simplesmente soltar o preso o que seria ruim para sua imagem.

Ele e o promotor do Ministério Público, de voz adolescente trêmula demonstraram não conhecer o Zé Dirceu de antes de 2005, ano que estourou o Mensalão. Não conhecem sua história.

Por não conhecer sua história não conseguem compreender que alguém dê consultorias à empresas sem que elabore planilhas, tabelas, gráficos e relatórios como faria qualquer técnico médio.

Não sabiam que o trabalho de Dirceu era, aproveitando-se de seu relacionamento com políticos importantes e governos de esquerda da América Latina e Cuba, abrir oportunidades para que empresas brasileiras pudessem disputar concorrências lá fora, com consequente entrada de divisas para o país e contratação de mão de obra brasileira.

À certa altura Moro lhe pergunta se não enriqueceu com isso, ao que Zé lhe responde que seu objetivo de vida nunca foi enriquecer. Incompreensível para lacaios do capital.

O promotor foi ainda mais primário. Indagou o por quê de Dirceu ter parado de dar consultorias. Ele responde: ora, porque eu estava preso! O promotor não sabia disso?

Além disso, ao final, indagou sobre a pensão às filhas de Dirceu, coisa totalmente alheia à Lava Jato.

Moro revelou também desconhecer que Dirceu não é ministro nem deputado desde 2005.

À certa altura um dos inquiridores o chama por excelência, ao que Dirceu responde que dispensa o termo uma vez que não é mais deputado.

Dirceu foi humilde do começo ao fim. Nem ao perceber a fragilidade dos que o ouviam, mudou de comportamento.

Mas Moro sentiu que lhe escapava a capacidade de desestabilizar o homem e induzi-lo ao erro. Por isso, fez questão de demonstrar sua autoridade quando Zé Dirceu ao responder a alguém, virou-se de costas. Lembrou então ao depoente que não se vira as costas para um juiz, ao que Zé reagiu com um pedido de desculpas.

Outra pergunta que demonstra cabalmente o despreparo de Moro foi quando ele indagou a Dirceu sobre seu patrimônio em dinheiro. Este lembrou-lhe que seu sigilo bancário havia sido quebrado, o que só demonstrou o volume de dívidas que vem se acumulando mês a mês.

Ao final, quando Moro deu a palavra a Dirceu para as últimas considerações, la crème de la crème: a mídia sempre martelou que as relações entre ele e Lula estavam muito abaladas pelo fato de o ex-presidente nunca tê-lo defendido, certo? Pois Dirceu afirmou a Moro que Lula não tem qualquer envolvimento em esquemas de propinas da Petrobrás.

Quando digo que desconfio que Moro e o promotor desconhecem a história de Dirceu é porque foram surpreendidos. Esperavam entrevistar um homem destruído psicologicamente mas não esperavam que ele tivesse aquela fibra moldada em anos de treinamento de guerrilha, vida clandestina, privações de toda ordem. 

E Dirceu não se utilizou disso para crescer frente a eles. Eles é que se assustaram e se apequenaram diante do mito.

Por tudo isso, a impressão que se tem foi de que Moro prestou um depoimento a Zé Dirceu.

Nesse depoimento, Moro revelou que é um juiz despreparado, não conhece História, não se aprofundou em saber qual trabalho Dirceu desempenhou em suas consultorias e nem tinha perguntas objetivas que o pudessem incriminar.

A impressão que fica é que, devido à juventude e imaturidade, Moro e o promotor do MP estiveram juntos jogando games na véspera do depoimento.

E após o depoimento, Moro deve ser condenado a libertar Zé Dirceu.

Se continuar preso será a prevalência da vaidade de Moro sobre a Justiça.







segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

O barco e a farofa de Lula

Por Fernando Castilho


Foto: Lúcio Távora, O Globo


Esperava-se que Lula tivesse se tornado um homem refinado, que tivesse trocado a cachacinha por uísque 21 anos e sua esposa, Marisa Letícia, a sacola da 25 de março por uma bolsa Prada.



Sempre houve dúvidas com relação ao padrão de vida levado por Lula e sua esposa.

Afinal, o Lula metalúrgico todo mundo sabe que vivia de acordo com o que sua classe de proletário poderia lhe proporcionar.

A origem de retirante nordestino, de família numerosa, impôs-lhe o padrão típico dos que procuravam trabalhar em uma fábrica, usufruir de uma vida simples e lutar para melhorar.

A partir do momento em que Lula se elegeu deputado em 1986 com consequente aumento de renda, tornou-se difícil conhecer acerca da mudança de hábitos que o maior poder aquisitivo poderia proporcionar à sua família.

Sabe-se, porém que ele conseguiu comprar um apartamento de classe média em São Bernardo do Campo, seu reduto eleitoral, sendo muito criticado pela imprensa na época, como se vivêssemos num país como a Índia cuja sociedade, organizada por castas, impede a mobilidade social das pessoas. Lula, segundo a mídia preconceituosa, deveria continuar a viver humildemente.

Após dois anos na presidência da República, era de se esperar que com o soldo somado à sua aposentadoria pela Lei da Anistia, Lula passasse a construir um patrimônio como todo presidente faria.

Após sua saída, com a criação do Instituto Lula, o ex-presidente passou a dar palestras no Brasil e no mundo, sendo bem pago por isso.

Embora continue a ter trânsito entre os movimentos sociais e o povo mais pobre do país, agora Lula também se encontra com líderes mundiais, empresários milionários, reis e doutores. Torna-se por várias vezes ele próprio doutor honoris causa em várias universidades brasileiras e estrangeiras.

Ou seja, espera-se que Lula tenha se tornado agora um homem refinado que tenha trocado a cachacinha por uísque 21 anos e sua esposa, Marisa Letícia uma madame com bolsa Prada.

Mas a fofoca contada pela Folha de São Paulo acerca do barco comprado por Marisa para Lula pescar em fins de semana no sítio de amigos e de seu filho, sem querer revela algo muito interessante.

1) O barco de alumínio sem motor, ao preço de 4100 reais é dos mais modestos do mercado. Dona Marisa poderia ter comprado uma lancha ou algo mais luxuoso, talvez 10 vezes mais caro. Dinheiro há para isso.

2) Lula, como aquele nordestino de décadas atrás ainda prefere num final de semana pegar seu barquinho com a esposa, pescar uns lambaris, fazer um churrasquinho e tomar umas cervejas.  Fosse um FHC, ele estaria na Côte d'azur em um barco bem mais luxuoso, usufruindo de serviço de hotel com todas as mordomias e fotografado pela Caras. 

3) Além disso, a foto da capa de O Globo de janeiro de 2010, mostra Lula carregando uma caixa de isopor com dona Marisa a lhe seguir em sandálias havaianas. A manchete ainda meio que zomba um pouco dele ao chamá-lo de farofeiro, coisa de pobre, afinal. Essa capa, por si só é por demais reveladora da simplicidade do homem.

Agora a mídia fica num beco sem saída.

Se Lula fosse flagrado ostentando hábitos luxuosos e extravagantes, seria criticado por, sendo socialista, trair o povo que o elege. Colunistas iriam chamá-lo de socialista caviar.

Como Lula foi pego de surpresa mostrando de maneira sincera que continua a ser o mesmo homem com hábitos simples dos tempos em que era pobre, não é possível acusá-lo de populista ou hipócrita, mas sim de verdadeiro.

E isso não vão fazer.

Para mim fica a grata satisfação dessa revelação.

Lula não é um Pepe Mujica mas não esqueceu sua origem.


Por isso confio em Lula.

domingo, 31 de janeiro de 2016

Lula errou mesmo em ser conciliador?

Por Fernando Castilho
Charge por Pataxó http://pataxocartoons.blogspot.jp/





Imaginar um futuro alternativo àquele que já aconteceu é um exercício complexo e inútil, mas acho que dá para imaginar o que teriam sido os governos Lula sem a conciliação de classes proposta na Carta aos Brasileiros


O jornalista Luiz Carlos Azenha publicou artigo em seu site Viomundo onde afirma que o erro de Lula foi ter acreditado na conciliação de classes. Será?

A única forma de saber se a afirmação está correta é analisá-la do ponto de vista do materialismo histórico, ou seja, Marx.

Marx dizia que há duas classes, a saber, a burguesia e o proletariado.

A burguesia é a classe bem pouco numerosa que detém os meios de produção e o proletariado é a classe bem mais numerosa que detém a força de trabalho.

Enquanto a burguesia deseja o lucro e luta por ele, o proletariado deseja salário e também luta por ele. Daí a luta de classes, ok?

Mas Lula, ao publicar a famosa Carta aos Brasileiros no início de seu governo, celebrou um pacto com a burguesia, os grandes empresários do país que estavam com medo de sua eleição.

Com este pacto ficou claro que Lula evitaria a luta de classes e não permitiria a revolução prevista por Marx.

Ou seja, Lula passou a ser um amortecedor muito útil à burguesia. Neste sentido, os governos Lula e mesmo o de Dilma, apesar de muitos avanços sociais, foram burgueses.

É a chamada conciliação de classes que permitiu a Lula, além de melhorar muito a vida dos pobres, criar condições para que os detentores dos meios de produção enriquecessem ainda mais.

Perfeito, não? Todo mundo ganhou.

Se não houvesse essa conciliação, será que 30 milhões de pessoas teriam saído da linha pobreza?

Será que haveria, Minha Casa, Minha Vida, Mais Médicos e outros programas exitosos?

Mas então, se foi bom pra todo mundo, como explicar esta sanha em prender Lula usando para este fim até mesmo um ridículo barco de 4 mil reais adquirido com nota fiscal? Por que não o querem de volta, afinal?

Parece-me simples. Vou tentar explicar.

A oposição, que pela ótica de Marx não poderia ser chamada de burguesia pois não detém meios de produção, sendo entidade somente política, está toda na lista das operações Lava Jato, Zelotes e HSBC.

A mídia só noticia a Lava Jato pois lá estão alguns nomes do PT, além de empreiteiros, estes sim, burgueses.

Mas é na Zelotes e HSBC que estão os peixes grandes.

Dilma desde a campanha eleitoral avisava que não restaria pedra sobre pedra.

Esperava-se que ela interferisse na Polícia Federal e na Procuradoria Geral da República, mas, fiel às ideias que defende, manteve a autonomia dos órgãos.

Era urgente então derrubá-la, mas isto também se mostrou muito difícil pela sua imagem honesta reconhecida até por gente da oposição.

Lula então apareceu como possível candidato em 2018.

O PSDB, teoricamente o partido com mais chances de enfrentá-lo, olhou para seu próprio umbigo e não gostou do que viu: Aécio, que tem farto material contra si a ser utilizado durante a campanha; Serra, velho postulante a qualquer coisa e destacado representante dos interesses da Chevron americana com relação ao pré-sal; Alckmin que vem acumulando desastres em seu governo de São Paulo, como a gestão hídrica, a paralisação e os escândalos do Metrô, a matança de jovens da periferia e a truculência da PM contra simples estudantes que lutam contra o fechamento de suas escolas. Aparece agora também o crime hediondo, na minha opinião, de desvios de recursos das merendas escolares.

Ou seja, Lula nadaria de costas, venceria e seria sério candidato à reeleição em 2022. Brrrrrr!

Os tucanos querem voltar ao poder não só para jogar uma pá de cal sobre as operações da PF, mas também para revitalizar seus velhos esquemas que já sofrem jejum de 13 anos.

Mas então, por que a mídia está tão empenhada em prender Lula ou destruir sua reputação?

Ora, já expliquei antes neste blog.

A mídia, toda ela, está financeiramente acabada. Precisa de socorro.

Já há um acordão com o PSDB há muitos anos, desde o primeiro governo Lula, que prevê, em troca de içar a oposição de volta ao poder, receber generosa ajuda do BNDES.

Então, não considero erro de Lula acreditar numa conciliação de classes. Era o que tinha naquela época. Ou emergia como um ser da esquerda conciliador ou sua cabeça seria cortada rapidamente.

Agora, se a oposição e a mídia, para chegar ao poder apostam em seu projeto atual inconsequente de prender Lula sem que haja crime cometido por ele, esperando que todo mundo aceite sem problemas a injustiça, ignoram a possibilidade de convulsão social que pode levar o país a uma crise econômica, política e institucional profunda, terrivelmente ruim, não só para o povo, como também para eles.


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Lula, da humilde casa de Roberto Teixeira ao triplo X

Por Fernando Castilho



Qualquer pessoa minimamente informada sabe que triplex TEM que ser grande e luxuoso. Quem compraria um triplex de 270 m² em cotas, tendo condição de pagar à vista, afinal? Tem que ser alguém que pense de forma modesta, vamos combinar.


Ok, antes de mais nada, se alguma falcatrua for provada contra Lula, eu disse PROVADA, tá, pego meu chapéu e saio de cena.

Na década de 80 Lula morava de favor numa casa simples em São Bernardo do Campo, cedida por seu amigo, o advogado Roberto Teixeira.

Virou um escândalo. As manchetes questionavam como poderia um advogado ceder uma casa a um metalúrgico?

Tentaram criminalizar o fato.

Lula poderia ter morado lá pelo tempo que quisesse, mas como não é populista nem hipócrita, assim que melhorou de vida ao se eleger deputado federal e receber aposentadoria pela Lei da Anistia, tratou de comprar um apartamento na mesma cidade.

Não é enorme nem luxuoso, mas é bom.

Como presidente, ao auferir salário de 39 mil reais em valores atuais, além de 5 mil da Anistia, Lula poderia comprar muitos imóveis e ficar rico com isso, se quisesse. Não quis. Preferiu sempre ajudar com dinheiro comunidades carentes, entidades sociais, etc..

Mas resolveu comprar cotas de um imóvel em construção no Guarujá.

Parece que as cotas seriam de dona Marisa, sua esposa, talvez preocupada em garantir algum tipo de patrimônio caso o marido viesse a falecer daquele câncer de alguns anos atrás. Qualquer um faria isso.

Como os apartamentos mediam apenas 90 m², o projeto incorporou outros dois, transformando-se num triplex de modestos 270 m².

Explico o porquê do termo ''modestos''.

Qualquer pessoa minimamente informada sabe que triplex TEM que ser grande e luxuoso. Quem compraria um triplex de 270 m² em cotas, tendo condição de pagar à vista, afinal? Tem que ser alguém que pense de forma modesta, vamos combinar.

Pois bem, então a Lava Jato desloca todo um efetivo, incluindo o japonês bonzinho, para investigar café pequeno. E que nem irregularidade tem, uma vez que Lula não consta como proprietário pois ainda nem há escritura!

Além disso, a participação já foi vendida.

Posto isto, o que pretende a Lava Jato?

A PF e o MPF não é composta de néscios, podemos crer.

Eles sabem que não há elementos para incriminar Lula.

Pausa.

O que pretende a mídia ao divulgar de maneira histriônica a operação Triplo X?
Voltar atrás no tempo e reeditar a velha denúncia de que Lula morava de favor na casa de Roberto Teixeira e incriminá-lo onde não há crime.

Pausa.

E o que pretende a classe média, a classe alta e um bando de pobres analfabetos políticos que viram sua vida melhorar durante os governos Lula e que agora agem como cães raivosos à espera dos ossos que a PF, o MPF, o juiz Moro e a elite que mandou no país durante 500 anos lhes oferecem?

Querem a prisão de Lula.

Para essa gente, Lula não deveria ter sido eleito.

Se foi, não poderia conseguir governar.

Se governou, não poderia ter tido êxito.

Mas teve. Foi o melhor presidente de toda a História do Brasil! Maior que Getúlio e Juscelino!

Para eles, Lula tinha que morar numa casa muito humilde como seu quase ídolo, José Mujica faz.

Para eles, socialista tinha que morar na caverna, nordestino que é.

Lula, em oito anos de governo se precaveu. Não deixou linha com ponta.

Lula não podia errar. A responsabilidade em suas costas era muito grande.

Lula foi o primeiro operário a governar o Brasil, por si só, um fato histórico.

Lula quer deixar uma biografia irreparável.

Não tenho dúvidas. Já desistiram de procurar algo contra Dilma, portanto, ela vai até o fim.

Mas Dilma não pode ser reeleita. Então, pra que continuar dispendendo energia contra ela?

Lula, ao contrário, pode ser candidato em 2018. E pior, pode ser reeleito em 2022. E isso é inadmissível!

Não vão achar nada contra Lula, estou certo.

Porém, a Justiça não anda bem das pernas, como fica evidente no fato de Eduardo Cunha continuar solto e ganhando força dia a dia. O STF já declarou que não há elementos contra ele.

Então, não há como afirmar que Lula não seja preso por algum artifício.

E vimos artifícios serem usados no Mensalão.

Mas acredito que a verdadeira intenção ao veicular todos os dias alguma acusação contra Lula seja o de destruir sua credibilidade e reputação para deixá-lo enfraquecido durante a campanha e principalmente durante os debates onde todas essas ilações serão muito exploradas por seus adversários.

P. S. Enquanto escrevo este texto, mais uma denúncia contra Lula foi divulgada.



quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Moro, Dirceu e a extorsão do lobista

Por Fernando Castilho




Não se deram ao trabalho de ler em outras fontes, não se deram ao trabalho de questionar incongruências e contradições sérias, e pior, desconhecem o que diz nossa Constituição cidadã, carta magna do Estado de Direito, conquistado a duras penas.


Já escrevi algumas vezes sobre o saco de pancadas chamado Zé Dirceu.

Não, ele não é um santo como alguns pretendem. E sei do que estou falando.

E sei também que muitos dos que lerão este texto destilarão seu ódio porque não acompanharam com rigor os desdobramentos de tudo que envolveu o ex-ministro desde o Mensalão até agora. Por preguiça ou desinteresse.

Não se deram ao trabalho de ler em outras fontes, não se deram ao trabalho de questionar incongruências e contradições sérias, e pior, desconhecem o que diz nossa Constituição cidadã, carta magna do Estado de Direito, conquistado a duras penas.

Afinal, queriam um medalhão do governo preso, um ineditismo a lavar a alma de um povo habituado à impunidade desde sempre. Podia ser qualquer um, desde que fosse político.

O ex-ministro foi condenado com base na Teoria do Domínio do Fato, uma excrescência criada na Alemanha após a queda de Hitler para responsabilizar os criminosos de guerra e que não vinha mais sendo usada desde então.

Serviu, porém, como o artifício conveniente, um achado de Joaquim Barbosa, fora da Constituição e que pressupõe que se Dirceu era o chefe de gabinete, ele tinha por obrigação saber de toda e qualquer falcatrua que tenha acontecido em todo o governo federal.

É como se um diretor de uma empresa tivesse pleno domínio de tudo o que seus subalternos fazem ou conversam, mesmo fora do expediente. E uma empresa não tem nem de longe o mesmo número de funcionários de um governo federal.

Zé Dirceu, quer aceitem ou não aqueles que o odeiam, foi condenado sem provas. Isto é fato pois a ministra Rosa Weber admitiu que não havia provas contra ele mas que mesmo assim o condenaria porque a literatura jurídica assim lhe permitia.

Ponto.

Mas Dirceu foi preso novamente por ter sido citado em delação premiada pelo lobista Fernando Moura em agosto de 2015.

Enquanto vemos o presidente da Câmara, Eduardo Cunha escarnecendo devido à sua impunidade, apesar das inúmeras provas já colhidas contra ele, sem que a imprensa peça sua cabeça diariamente, Dirceu foi preso imediatamente à delação, de maneira irregular pois seria preciso que antes o delator apresentasse provas do que afirmou.

Mas para o juiz Sérgio Moro, que inclusive, desprezando a ética do Judiciário, já foi premiado pela Globo, Dirceu era um troféu a ser conquistado.

Os colunistas dos órgãos de imprensa comemoraram sua prisão, se não com fogos, com textos exaltando a coragem e determinação de Moro.

Aliás, sobre esses colunistas, cabe abrir um parênteses. Hoje eles se parecem mais com soldados num front de guerra contra a internet, na necessidade diária de combater não só o petismo, mas também toda a esquerda para agradar seus patrões e tentar evitar dessa forma uma possível demissão em virtude de cortes que estão ocorrendo amiúde devido a problemas financeiros de seus empregadores que só podem ser mitigados com a volta dos tucanos ao poder, via BNDES.

É por isso que a Folha contrata um Kim Kataguiri da vida, certamente com salário bem inferior aos dos outros colunistas e muito provavelmente como pessoa jurídica para escapar de encargos.

A classe média e alta, além de muitos que expressam seu ódio nos comentários publicados nos jornais, também comemoraram a prisão de Dirceu. A eles, assim como aos colunistas, não interessa se a Constituição está sendo aviltada. Não vem ao caso, como diria Moro.

Mas o lobista em novo depoimento isentou Zé Dirceu de culpa.

E agora, o que fazer? Meu troféu escapa de minhas mãos, pensou o juiz Moro.

Quando perguntaram a Fernando Moura se ele estaria mudando sua versão dos fatos, ele disse estranhar que tenha afirmado o que lhe disseram que afirmou antes.

Zé Dirceu então pediu a gravação do primeiro depoimento. Estranhamente o MPF alegou que o depoimento não fora gravado.

Como assim, se todos os depoimentos são meticulosamente gravados pelo juiz Moro? Aliás, este é um estilo bastante pessoal dele.

Agora Moro ameaça Fernando Moura de anulação de sua delação premiada pelo motivo de que teria alterado seu depoimento.

Na realidade o que Moro pretende é extorquir a delação do lobista e manter seu troféu, Dirceu, preso, sob o risco de desmoralização de toda a operação.

Possivelmente teremos uma mentira valendo como prova contra Dirceu.

E mais uma vez ele será condenado injustamente.

E os mesmos de sempre novamente comemorarão.





sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O Waze, o mundo líquido e a paisagem urbana

Por Fernando Castilho





Waze é uma ferramenta muito útil para você se livrar de congestionamentos encontrando a rota mais favorável para atingir seu destino. Ele processa as informações dos celulares dos próprios motoristas. Ou seja, você vai direto ao ponto.

Mas o que isso tem a ver com a modernidade líquida de Zygmunt Bauman?


Um artigo da Folha de São Paulo me chamou a atenção por ser extremamente ilustrativo do que afirma Zygmunt Bauman sobre a tese da pós modernidade ou, como ele acha melhor chamá-la, a modernidade líquida que estamos vivendo.

Antes de tudo, um approach sobre o tema.

Bauman defende resumidamente, que vivíamos até cerca dos anos 50 num mundo sólido, onde as instituições eram duradouras, as coisas se resolviam em três dimensões e as relações eram pessoais.

Hoje vivemos num mundo líquido em que tudo escapa pelas nossas mãos. As relações são fugazes e virtuais, como amizades no Facebook com as quais não se pode contar. Se você precisar de um amigo do Facebook para alguma coisa importante como passar a noite no seu quarto de hospital, esqueça. Com exceções, claro. E você adiciona amigos com a mesma facilidade com que os bloqueia ou exclui.

Tudo gira numa velocidade frenética e cada vez mais acelerada.

Nosso dia de 24 horas já não consegue mais dar conta do número de atividades que temos que executar.

E no sistema capitalista, se você não dá conta, há quem o faça.

É por isso que, ao final do ano cansamo-nos de ouvir que o ano passou tão rápido...

Não há mais tempo para reflexões, para leitura ou para o simples lazer ou ócio.

Pois bem, segundo o artigo da Folha, o israelense Uri Levine criou o aplicativo Waze e o vendeu rapidamente ao Google por US$1,1 bilhão em 2013.

Ficou muito rico e se ocupa hoje em desenvolver outros aplicativos para facilitar a vida das pessoas.

Mas o que é o Waze?

Waze é uma ferramenta muito útil para você se livrar de congestionamentos encontrando a rota mais favorável para atingir seu destino. Ele processa as informações dos celulares dos próprios motoristas. Ou seja, você vai direto ao ponto.

O terrível efeito colateral, a meu ver, é que devido ao aplicativo, deixamos de fazer uma leitura da paisagem urbana que percorremos.

Afinal, o que mais importa a você é chegar o mais rápido possível ao seu local de trabalho e mais tarde à sua casa. E é claro que você vive para o trabalho e não trabalha mais para viver, como nos tempos do mundo sólido.

E é um olho no trânsito e outro no celular.

Este trecho da entrevista de Levine, caso não se interesse em ler toda a entrevista, é especialmente revelador.



Entendeu? As pessoas não pensam mais por onde estão indo. Nem sabem mais os nomes das ruas. O Waze te leva lá e pronto. Quase que um piloto automático.

Bingo! Bauman tem razão!

Antigamente (e isso não faz muito tempo) podíamos atravessar São Paulo admirando sua paisagem ou odiando-a. Mas de qualquer forma, fazíamos uma leitura dela, o que nos capacitava a tecer críticas e sugerir mudanças.

A gente se apropriava da cidade. Agora a força da grana ergue e destrói coisas belas virtualmente, já que você deixa de vê-las e senti-las.

O Waze, neste aspecto, tem semelhança com o metrô subterrâneo. Não vemos nada da paisagem, só queremos chegar à estação desejada e fim. Nosso dia é corrido e não temos tempo para essas coisas que pertencem ao mundo sólido.

Quando o teletransporte chegar, será muito pior que isso.

Meu texto não é uma ode ao passado, visto que sou progressista, mas uma perspectiva histórica pode nos indicar aonde poderemos chegar, se levados por pessoas que estão mais preocupadas em se tornar bilionárias, como Levine.

A modernidade líquida está aí, não adianta reclamar nem lutar contra ela pois que é inexorável.

Mas ainda há iniciativas pertencentes ao mundo sólido que podem contrabalançar e reduzir um pouco a velocidade das coisas. E são muito legais.

Uma delas é a iniciativa da criação de ciclovias na cidade de São Paulo, de autoria do prefeito Fernando Haddad.

Sei que há muita gente revoltada com isso, mas isso acontece porque entraram inconscientemente de cabeça na modernidade líquida, preocupam-se somente em ganhar dinheiro o mais rápido possível e se esqueceram de tolerar aqueles que vivem mais distendidos.

Com as ciclovias é possível que se desloque de maneira menos tensa (desde que os motoristas respeitem as faixas e os ciclistas), que se interaja mais com a paisagem urbana e que se pratique mais exercícios reduzindo o sedentarismo. Além de contribuir para a redução de emissão de gases.

Outra iniciativa é a abertura da Av. Paulista aos domingos para o lazer.

As pessoas ainda gostam de dançar, cantar, fazer piquenique, papear, namorar, passear a pé ou de bicicleta com as crianças ou tomar sol.

Nessas horas esquece-se até os lap-tops e i-phones.

Afinal, temos um corpo físico e ainda não deixamos totalmente o mundo sólido.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O que 1% da população mundial tem a nos dizer?

Por Fernando Castilho



Grande parte da situação de intolerância de hoje em dia se deve a um sentimento de impotência diante de um sistema opressor que não permite ao pobre o consumo de bens que a própria mídia exige dele.

Esse sentimento vai se acumulando até que uma hora explode em violência urbana.


O jornal Valor Econômico noticiou esta semana que 1% da população mundial passa agora a deter mais riqueza que os restantes 99%.

Além disso, 62 pessoas tem tanto dinheiro quanto a metade mais pobre da população mundial.

Há apenas 5 anos atrás eram 388 pessoas que acumulavam esse capital.

Ou seja, esse gráfico cresce numa proporção assustadora e nos faz imaginar se pode piorar ainda mais.

Mas se esses números, mesmo que sem uma análise mais apurada, já revelam uma situação extremamente preocupante, compreender o que eles significam pode nos tirar noites de sono.

Antes de mais nada, embora o capitalismo afirme que é o único capaz de gerar riqueza, não nos iludamos pois nos encontramos num sistema isolado chamado Planeta Terra cujos recursos são limitados.

Para agravar o quadro, esses recursos naturais e energéticos vão se esgotando à medida em que a população cresce em ritmo exponencial.

Então, primeiramente, os pobres.

O fato de o Brasil ter retirado 30 milhões de pessoas da linha de miséria pode ter evitado que os números divulgados fossem ainda piores. Porém, como a maior parte da população mundial é de pobres, podemos esperar que o número de miseráveis em situação de fome tenha aumentado e ainda aumentará significativamente. E pensar que gente morrerá de fome e de doenças ligadas à falta de alimentação por essa espécie de genocídio econômico nos entristece e revolta.

Em seguida a classe média.

Certamente essa também vem perdendo seu poder de compra e consumo, já está engrossando as fileiras dos pobres e em alguns anos teremos uma massa sem poder aquisitivo.

Mas, e os ricos?

Os ricos teoricamente, como disse Marx, dependeriam dos pobres para gerar sua riqueza. Isso, se o acúmulo de capital fosse ainda hoje totalmente proporcionado pela exploração do trabalho. Nesse caso, os ricos também precisariam depender da classe média e de parcela dos pobres para consumir aquilo que é produzido, os bens de capital.

Porém, hoje em dia não é mais só a atividade produtiva que acumula riqueza, mas também a especulação financeira.

Muita gente se faz rica ao comprar ações na baixa e vender na alta sem que isso signifique produzir alguma coisa.

Além disso, o não pagamento de impostos, coisa de que os pobres não podem escapar por ter descontos efetuados já no pagamento de seus salários, e a remessa de grandes quantias para paraísos fiscais onde são criadas holdings especiais para esse fim, fazem a delícia dos ricos.

E acúmulo desmedido de capital faz bem?

Vejamos o caso do bilionário brasileiro, Paulo Lemann, dono e sócio de marcas com Imbev, Burguer's King, Heinz, etc..

Consta que sua fortuna é estimada em cerca de 84 bilhões de reais. Se parasse de trabalhar e investisse seu patrimônio em caderneta de poupança, teria garantidos só de juros e correção monetária a quantia mensal de cerca de 420 milhões de reais. Mesmo que mantivesse uma vida de luxo, não conseguiria gastar todo esse montante e reinvestiria a maior parte dele. Ou seja, ficaria ainda mais rico.

Bem, mas aonde essa situação de acúmulo de capitais nas mãos de poucos pode nos levar?

Já está nos levando a revoltas no mundo inteiro.

Grande parte da situação de intolerância de hoje em dia se deve a um sentimento de impotência diante de um sistema opressor que não permite ao pobre o consumo de bens que a própria mídia exige dele.

Esse sentimento vai se acumulando até que uma hora explode em violência urbana.

E quem mais paga o preço é a classe média que insiste em defender os do andar de cima, que são poucos, enquanto protesta contra políticas de distribuição de renda.

Como disse Marx, o capitalismo gera o seu próprio coveiro.

Como disse Étienne de La Boétie, acostumamo-nos a nos curvar a um único soberano sem que percebamos que somos muitos e ele um só.





terça-feira, 19 de janeiro de 2016

A estranha carta a Chico Buarque

Por Fernando Castilho


Imagem: blog Léo Simões


''Fui motivado pelas mulheres que estão dando à luz nas calçadas, aos velhos sem atendimento nos chãos dos hospitais...”


Já se falou tanto sobre Chico Buarque que quase nem há mais o que escrever sobre ele, as ofensas que recebeu no Rio de Janeiro e os xingamentos que recebeu em rede social.

Bem, Mas ainda há mais um pouco.

Chico decidiu processar o antiquário e jornalista João Pedrosa após este ter postado no Instagram de Sílvia Buarque a mensagem “Família de canalhas!!! Que orgulho de ser ladrão!!!”

Pedrosa é anti-PT e como Chico Buarque apoiou e apoia Dilma Rousseff, mereceu dele o xingamento mesmo que não haja indicativo algum de que o compositor tenha passado a mão em qualquer quantia, seja ela pública ou privada. Por isso Chico o processa por calúnia e difamação.

Embora toda a unanimidade possa ser burra, Chico Buarque, pelo menos até surgir essa onda de ódio ao PT, era um artista sobre o qual pousavam toda a admiração e respeito, não só pela qualidade de suas letras e músicas, mas também pela capacidade de ter, durante a ditadura militar, conseguido driblar a atenta censura com letras sensíveis, sutis, inteligentes e corajosas que a truculência dos censores não conseguia relacionar com críticas ao regime.

Além disso, essas músicas se tornaram verdadeiros hinos de resistência por terem vencido o cerco e por injetarem ânimo naqueles que sonhavam com a volta da democracia.

Definitivamente Chico era e continua a ser de esquerda, numa demonstração inequívoca de coerência política. Ele é o que sempre foi.

Bem, Pedrosa capitulou. Ficou com medo do processo e escreveu uma carta ao Chico pedindo desculpas. A moda agora é escrever cartas.

Mas as justificativas revelam o quanto esse ódio ao PT, inoculado aos poucos pela grande mídia, torna qualquer um insensato e incapaz de ter uma compreensão que um jornalista, pela sua formação, deveria ter.

Ele diz: ''Quero crer que nós queremos a mesma coisa para os brasileiros por vias opostas, uma vida digna e próspera. A sua via é o socialismo, e a minha, o capitalismo.''

Ora, pela via do capitalismo, tudo estaria como nos tempos de FHC. Inflação alta, PIB baixo, reservas internacionais baixas, desemprego alto, corrupção impune, etc..

Mas péra! Nós estamos no capitalismo e não no socialismo!

Bem, os resultados todos inversos aos de FHC foram conquistados pelos governos Lula e Dilma ainda dentro do capitalismo, mas com uma visão social diferente.

''Fui motivado pelas mulheres que estão dando à luz nas calçadas, aos velhos sem atendimento nos chãos dos hospitais...”

Caro jornalista, se mulheres estão dando à luz em calçadas e velhos estão sendo atendidos no chão de hospitais, isto é descaso dos governos estaduais como o do Rio de Janeiro, uma vez que nunca se destinou tantos recursos federais à Saúde. E isso ocorria em muito maior escala no governo capitalista de FHC.

Essa carta é reveladora de como corações e mentes têm em sua frente uma nuvem densa que os impede de fazer uma leitura factual e racional do que acontece no país.

É por isso que as manifestações fascistas de ofensas em restaurantes, hospitais e até em velórios só fazem crescer.

Quem sabe, após esse processo, os língua-soltas mantenham a boca mais fechada.

Mas imagino que Chico, por sua serenidade, talvez desista do processo por perceber que Pedrosa é só mais uma vítima.


Atualização em 19/01/2016:
Chico Buarque mantém o processo contra Pedrosa




quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Adivinhem quem vai ser manchete amanhã

Por Fernando Castilho





É o que o jornalista Joseph Pulitzer afirmou: Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma.


Que países tidos como não democráticos possuam órgãos de imprensa que busquem noticiar somente aquilo que os detentores do poder desejam, todos sabem, não é novidade.

A mídia da Coreia do Norte é uma das mais rigorosamente controladas do mundo. Como resultado, a informação é rigidamente controlada tanto nas notícias internas, quanto nas externas.

Em Cuba as emissoras de televisão estão ligadas ao Instituto Cubano de Rádio e Televisão (ICRT), do Estado. O ICR é claro em sua política: os meios de comunicação devem ser um instrumento de orientação político-ideológico.

O Granma, jornal de maior tiragem do país, com mais de 700 mil exemplares diários, publicado pelo partido, umpre uma missão de salvaguarda dos ideais revolucionários.

No Brasil, durante a ditadura, todos os jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão sofreram censura rigorosa após o Ato Institucional N° 5, o AI-5. A maioria também colaborou com o regime, pricipalmente a Rede Globo e a Folha de São Paulo que inclusive fornecia veículos para o Dops.

Faz parte dos regimes não democráticos.

Todos sabemos que hoje vivemos em plena Democracia, por isso a mídia não sofre censura nem intimidação por parte do governo.

Pelo contrário, o que vemos diariamente são nossos jornais fazendo exatamente o inverso do que órgãos de imprensa costumam fazer em regimes autoritários. A defesa cega da oposição, enquanto atacam o governo.

Os parvos, aqueles que acreditam que vivemos em uma ditadura comunista do PT, logicamente discordam. Mas sobre essa falta de neurônios não vale nem a pena comentar.

Foi recentemente publicada uma pequena nota nos jornais dando conta da citação do governo FHC como tendo recebido o aporte de 100 milhões de dólares que em dias de hoje equivaleriam a cerca de um bilhão de reais.

Ao mesmo tempo, a segunda manchete principal (a primeira noticiava o falecimento do músico inglês David Bowie) mostrava uma vaga delação ao ex-presidente Lula, que não faz parte do governo, mas sim do partido que governa, o PT e que poderá vir a ser candidato em 2018.

A delação que envolveu Aécio Neves também foi discreta e os jornais já se esqueceram.

Não há um dia sequer em que a presidenta Dilma, Lula ou um expoente qualquer do governo ou do PT não seja capa dos jornais ou de seus portais.

A bola da vez agora tem sido o ministro Jaques Wagner. Ele andou dando entrevista e de certa forma ganhou um pouco de notoriedade. Foi preciso então cortar suas asinhas, antes que ele se sinta a vontade para voar e disputar o Planalto.

Os factoides aparecem sempre em manchetes, uma vez que pouca gente se dispõe a comprar jornal e ler o artigo completo. Depois os autores da ''notícia'' emitem uma notinha de rodapé em algum lugar dentro do jornal com um ''ERRAMOS''. Esta tem sido a estratégia preferida.

O intuito não poderia ser mais claro, insuflar o ódio contra um só partido para que as pessoas com opinião ''formada'' sejam usadas como massa de manobra na luta para que os que detiveram o poder por 500 anos voltem.

É o que o jornalista Joseph Pulitzer afirmou: Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma.

Mas se no Brasil temos uma mídia tão desprovida de confiabilidade, não pensem que ela é a pior do mundo.

Não, nesse quesito a Argentina vem dando um baile até nos jornais da Coreia do Norte.
Rogério Macri, o presidente recém-eleito é comprometido em extinguir a Ley de Medios que a ex-presidenta Cristina Kirchner lutou para aprovar e que fazem as famílias donas da mídia brasileira perderem o sono.

Em virtude disso, os principais jornais como o Clarin fazem o inverso do que fazem os jornais do Brasil. Elogiam cada ato, cada detalhe, cada fio de cabelo de Macri, como se ele fora um ídolo pop juvenil. Só falta ter um poster dele em cada repartição das redações.

É quase o mesmo que as empreiteiras fazem no Brasil: financiam um candidato para cobrar obras mais tarde.

Minha amiga, Renata Gouveia Delduque se deu ao trabalho de coletar as manchetes do Clarin em um único dia que, a título de ilustração, exponho aqui:

A estratégia de comunicação de Macri: informar 18 horas por dia”: “Após doze anos de governo Kirchnerista, com a preferência pelas cadeias nacionais e aversão aos jornalistas, a estratégia da nova administração federal é “atuar e gerar notícias” todos os dias”.
Governo de Macri tenta retomar controle de agência reguladora de comunicações”
O primeiro desafio do novo governo será controlar as manifestações de rua”
Macri mandou fazer oito auditorias para avaliar como Cristina deixou o governo”
Chega ao fim herança kirchnerista de restringir importação de livros”
Receita do setor agrícola argentino cresce 100% após medidas do governo”
Esperamos uma colheita de 120 milhões de toneladas”
Ministros brasileiros elogiam fim do controle cambial e dos bloqueios ao comércio na Argentina”
Primeiros anúncios econômicos de Macri interessam diretamente ao Brasil”
E A CEREJA DO BOLO:
Pesquisa indica que a maioria dos argentinos acha que 2016 será melhor que 2015”

Ou seja, ao contrário do pessimismo brasileiro, a Argentina é otimista para 2016.

Essas manchetes me lembram aquela narradora de notícias da televisão norte-coreana que não se limita a narrar, mas o faz com uma retórica ufanista e emocionada.

Mas se a mídia argentina conseguiu ser pior do que a brasileira, não tenham dúvidas que se Aécio Neves tivesse sido eleito em 2014, o ano de 2015 seria considerado o mais exitoso em 12 anos. Não haveria crise econômica, Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg mostrariam dados diários de um Brasil que enfim se recuperou e atravessa um período de pujança em todos os setores.

Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do Reich na Alemanha Nazista afirmava que uma mentira contada mil vezes virava verdade.

É o que as mídias argentina e brasileira fazem diariamente, apenas com os sentidos ideológicos invertidos.

A quem tenta adivinhar quem vai ser manchete nos jornais de amanhã, não esperem que seja esta:

Cerveró não confirma propina a Lula em delação oficial!