sábado, 12 de março de 2016

O abismo diário de todos nós

Por Fernando Castilho





Duas lendas circulam por aí.

Uma delas diz respeito a um certo ideograma (kanji) chinês que significa tanto ''crise'' quanto ''oportunidade'', tentando fazer-nos crer que é nos momentos de crise que enxergamos as maiores oportunidades. Não é verdade.

Outra é antiga. Faz alguns minutos que foi criada e passará a circular como verdade daqui pra frente. Ensina-nos que um grupo de peregrinos viajava quando, inadvertidamente, caiu de um precipício. Morreram todos. Porém, os espíritos de alguns despertaram mais cedo e percebendo rapidamente a situação de crise, trataram de aproveitar a oportunidade, chamando o diabo para oferecer-lhe aquelas almas que ainda não haviam sido despertadas em troca de um lugarzinho mais confortável no inferno.

Para onde enviar aqueles que compraram ações da Petrobras em baixa
trabalhando agora ferozmente para que seu governante caia
lucrando assim com os dividendos da euforia?
Dante seria assomado dessa grande dúvida
Entre o oitavo e nono círculo, ele diria.

O mesmo vale para os especuladores que compraram da Chevron, ações.
Apoiam freneticamente a entrega do pré-sal pelo Serra.
Dante avaliaria como antiéticas suas especulações.
Se são traidores da Pátria, devem ir direto para o nono círculo
E não fazer mais parte desta Terra.

Mas antes do fim de seus dias
uma multidão de bajuladores vai prestar homenagens aos expertos.
Que visão! Que raciocínio! Fizeram do limão uma limonada!
Ninguém lhes jogará na cara que o que fizeram não é certo.
E que de caráter eles não tem nada.

Os bajuladores dos corruptos saem às ruas contra a corrupção.
Quedarão refastelados se derrubarem a governante legalmente eleita.
Mas a governante nunca foi corrupta.
E se hoje podem alegremente sair às ruas
isso se deve em grande parte à sua luta.

Querem tirar a voz do velho governante mais querido pelo povo.
Transformá-lo em monstro, bandido, o mal em si.
Não suportam um país mudado, melhorado, evoluído.
É preciso forçar uma volta ao passado já esquecido
e que o país volte a ser uma república das bananas de novo.

Neste mundo de pós-modernidade
que já escapa pelas minhas mãos
pouca coisa ainda me desafia a continuar.
Ao invés do bem, impera a iniquidade
e a luta é agora quase sempre em vão.
Mas se as adversidades me obstam à luta
Novas energias me fluem do não sei de onde
a criar novas forças para a luta
a defender o que acredito

que é a igualdade entre nossos irmãos.

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