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sábado, 17 de setembro de 2022

PRECISAREMOS DE UM JIPE, UM CABO E UM SOLDADO PARA TIRAR O CAPITÃO DO PALÁCIO?

Por Fernando Castilho

Imagem: Parte de Alegoria do Triunfo de Vênus, de Agnolo Bronzino (invertida e em preto e branco)


Muita gente receia declinar seu voto em Lula, seja nas conversas no trabalho e nas escolas, seja entre parentes e amigos, seja também quando tem que responder a uma das pesquisas de opinião, afinal, os casos de violência por parte de bolsonaristas estão se multiplicando perigosamente.


Saiu a nova pesquisa Datafolha. Mais do mesmo, assim como as demais, Ipec, Quaest, etc.

Os votos em Lula, Bolsonaro, Ciro e Tebet estão cristalizados e, por isso, se não houver nenhum fato novo, o petista papará a eleição, quiçá no primeiro turno, o que acredito.

Há motivos.

Muita gente receia declinar seu voto em Lula, seja nas conversas no trabalho e nas escolas, seja entre parentes e amigos, seja também quando tem que responder a uma das pesquisas de opinião, afinal, os casos de violência por parte de bolsonaristas estão se multiplicando perigosamente.

É possível, portanto, que no dia 2 de outubro tenhamos a agradável surpresa de uma lavada do ex-presidente sobre o capitão. Espero, baseado no fato de que ainda há 4% que dizem que votarão em branco e 3% que não opinaram. Além disso, embora Ciro Gomes insista em levar sua candidatura até o fim, já há uma debandada de pedetistas em direção a Lula, já no primeiro turno.

Outro fato a destacar neste texto é a blindagem que Bolsonaro adquiriu de seus seguidores.

Há um ano escrevi que à medida que falcatruas fossem aparecendo, os cerca de 30% que o capitão tinha acabariam por derreter e só sobraria o núcleo duro do bolsonarismo, aqueles que, contra tudo e contra todos, continuam resolutos em seu apoio ao mito.

Ledo engano.

Nem as rachadinhas, nem a mansão do Flávio, nem os 107 imóveis, dos quais, 51 adquiridos com dinheiro vivo, abalaram a fé desse povo.

Nem o comício custeado com dinheiro público no 7 de setembro, nem o termo “imbrochável” pronunciado num evento cívico no qual se esperava um mínimo de compostura do presidente, chocaram essas pessoas que se dizem patriotas.

Nem as mais de 680 mortes por Covid-19, cuja incompetência ficou escancarada e em que não faltaram as imitações grotescas de pessoas morrendo asfixiadas por falta de oxigênio, produziram alguma indignação nesse grupo.

As ameaças de golpe, pelo contrário, soaram bem-vindas a 30% da população que opta pelo fim da democracia, desde que seu mito continue no poder.

Por incrível que pareça, nem os preços altíssimos dos alimentos e a volta da fome arranharam a imagem do capitão.

Imagine se a corrupção no MEC acontecesse nos governos Lula ou Dilma. Mas como foi no governo do capitão, seus seguidores não deram bola.

E agora, a cereja do bolo. Nem a redução de 60% dos medicamentos de distribuição gratuita teve o poder de revoltar principalmente os idosos que vivem à custa de remédios.

Segundo o Datafolha, 33% dos eleitores votam em Bolsonaro. Ele não cresce nem diminui. Chegará assim ao dia 2 de outubro.

Resta saber se aguardará os próximos dias conformado com seu destino. Se aprontará alguma coisa ou fugirá do país.

O choro já começou numa entrevista em que afirmou que se recolheria, caso fosse derrotado. Mas também já acabou.

Bolsonaro, embora afirmasse que passaria a faixa presidencial a Lula, jamais o faria, pois não é homem preparado para agir de maneira educada e civilizada. Há até a possibilidade de alguma grosseria, isso sim.

Também não acredito que respeitará o resultado das urnas em caso de derrota em primeiro turno. O problema é que, se alegar fraude, todos seus aliados que estariam eleitos a cargos menores terão, forçosamente, que ver suas candidaturas serem também contestadas.

O máximo que ele pode fazer é, como Trump, se recusar a levantar da cadeira.

Mas aí, é só chamar um jipe, um cabo e um soldado para tirá-lo de lá à força.


sexta-feira, 9 de setembro de 2022

O monstro cresceu e precisa ser contido

Por Fernando Castilho


Charge por Renato Aroeira


A verdade é que o monstro era apenas um embrião em 2016. Deveria ter sido abortado na época, mas, ao longo destes 6 últimos anos, vem sendo muito bem alimentado e, surpresa, cresceu a ponto de não mais podermos destruí-lo a não ser pelo voto.


"É necessário que as instituições não se deixem enganar pela falsa interpretação de que este ano foi mais 'suave' pelo fato de Bolsonaro não ter dito coisas como chamar um ministro do Supremo de canalha. Bolsonaro ontem [7/9] abusou do seu poder como chefe de Estado, usou recursos públicos para a campanha, dividiu o país em dia de união, apropriou-se de data nacional, desrespeitou códigos, protocolos e leis. E, sim, ameaçou a todos com golpes de Estado".

"Se Bolsonaro sair de novo impune de todo o escandaloso abuso de poder exibido durante todo este infeliz Sete de Setembro, é porque o país se deixou encurralar por um golpista que usa todas as técnicas de manipulação para destruir a democracia".

A fala da jornalista Miriam Leitão é forte, mas impotente e eivada da hipocrisia daqueles que gritam “PEGA LADRÃO” enquanto eles mesmos foram os autores do roubo.

Leio os jornais e constato que jornalistas do naipe de Reinaldo Azevedo, Josias de Oliveira e a própria Miriam Leitão, entre outros, se revoltam com as ilegalidades cometidas pelo capitão e correm a escrever contra elas, como se eles mesmos não fossem os artífices do estado de coisas em que nos encontramos hoje.

Miriam, porém, tem razão. Josias e Reinaldo também. Parecem gritar em uníssono: É PRECISO QUE AS INSTITUIÇÕES FAÇAM ALGUMA COISA! QUE PUNAM BOLSONARO!

Mas como?

O que aconteceria se o TSE decidisse, acolhendo os pedidos dos partidos de oposição, cassar a candidatura do presidente?

Mais de 30% da população, aferida nas pesquisas, apoiam o canalha! Isso dá cerca de 64 milhões de pessoas! Muitas delas, armadas! Muitas delas, violentas!

Como o TSE assumiria o risco de uma irresponsabilidade que poderia desencadear um número de mortes que não se pode estimar?

A verdade é que o monstro era apenas um embrião em 2016. Deveria ter sido abortado na época, mas, ao longo destes 6 últimos anos, vem sendo muito bem alimentado e, surpresa, cresceu a ponto de não mais podermos destruí-lo a não ser pelo voto.

Foi em maio de 2019, apenas 5 meses após sua vitória, que Jair Bolsonaro participou de uma manifestação golpista em Brasília que pedia fechamento do Congresso e do STF. Flagrante crime de responsabilidade, muitíssimo além das pedaladas fiscais que derrubaram Dilma Rousseff e, que hoje até ministros do STF admitem, não configuraram nenhuma ilegalidade.

Nenhuma instituição, seja o Congresso, então presidido por Rodrigo Maia, seja o STF, então presidido por Dias Toffoli, ou seja, a PGR, então presidida por Raquel Dodge, foi capaz de cortar as asinhas do monstro que começava a engatinhar. Limitaram-se sempre a notas de repúdio.

Agora o monstro está maior que todos eles e se diz imbrochável, possivelmente uma metáfora (não sei se ele tem habilidade para isso) para incontrolável ou irrefreável.

Somente o presidente do TSE vem travando uma árdua batalha contra esse monstro, mas, infelizmente, não vem sendo seguido pelos ministros do STF. Luta sozinho, se expõe sozinho, e, por isso, não tem força suficiente para contê-lo.

Assistimos o capitão utilizar das comemorações do Dia da Independência, não só para ameaçar um golpe, mas também para fazer comício e sugerir que, se eleito, não deixará mais o poder, transformando o Brasil numa autocracia, eufemismo para ditadura. Tudo isso, pago com dinheiro público.

Farta exposição dada pela cobertura da imprensa lhe dará pontos nas próximas pesquisas, creio eu. Ciro Nogueira até já aposta numa virada.

Infelizmente precisamos esquecer as instituições. Nada poderão fazer a não ser aplicar alguma multinha ao criminoso e emitir notas de repúdio.

Até mesmo para a sobrevivência das delas, a esperança é Lula.

Para nossa grande imprensa, tão atacada pelo presidente, a sobrevivência depende do democrata Lula.

Somente ele será capaz de restaurar a importância, o respeito e a independência das instituições e da imprensa. E elas sabem disso.

É preciso que a grande imprensa, que tem começado a atacar o presidente pelas suas falas e atitudes golpistas, passe para a fase seguinte que é a de entrevistá-lo, não só para ouvi-lo, como tem feito, mas para colocá-lo contra a parede em casos dos imóveis adquiridos com dinheiro vivo e das rachadinhas, como fez a jornalista Amanda Klein. Que escalem seus jornalistas investigativos para esmiuçar a vida do capitão e de seus filhos, como fizeram Thiago Herdy e Juliana Dal Piva do Uol. É preciso mais. O assassinato de Marielle Franco, por exemplo, é assunto considerado tabu pela família do presidente e precisa ser elucidado. Esse é o papel da imprensa.

Urge, pois só faltam poucas semanas para o primeiro turno das eleições, que a maioria dos ministros da suprema corte se uma em sua própria defesa e não deixe Moraes isolado nessa luta.

Acima de tudo, é necessário que a campanha de Lula convoque a população para sair às ruas contra a possível reeleição do presidente.

O monstro Bolsonaro, tal qual um Godzila, precisa ser atacado por todas as forças que desejam a liberdade, a democracia e o estado de direito, sob pena de termos que viver sob uma ditadura miliciana.

 


sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Moraes foi correto e corajoso, mas não esperemos mais que isso dele

Por Fernando Castilho


Foto: Ricardo Stuckert


Lula está em primeiro lugar em todas as pesquisas e deverá vencer, se não no primeiro turno, no segundo. Somos a maioria no país, portanto, temos que pensar grande.

Tendo a seu lado o atual, Jair Bolsonaro e à sua frente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro Alexandre de Moraes, empossado como novo mandatário do Tribunal Superior Eleitoral, foi autor de um discurso forte em defesa das urnas eletrônicas, da Democracia, do Estado de Direito e da punição a quem divulgar fake news durante a campanha eleitoral que ora se inicia.

O capitão acusou o golpe recusando-se a aplaudir a corajosa fala enquanto que Lula, encerrada a cerimônia, recebeu efusivo cumprimento do novo presidente do TSE.

Imediatamente nas redes sociais, petistas utilizaram novamente o apelido de Xandão para manifestarem sua alegria, carinho e confiança pelo mais novo herói nacional.

Ao ler as postagens, me senti pequeno.

É claro que a atitude de Moraes foi corretíssima e muito importante para pulverizar qualquer tentativa de golpe por parte do capitão, mas ela não se deve porque ele esteja querendo contribuir para a eleição de Lula. Ele fez apenas seu papel, ou seja, o que se espera dele enquanto defensor da Constituição e da legislação eleitoral, embora, repito, de maneira corajosa.

Outros petistas preferiram lembrar de maus posicionamentos de Moraes com relação a Lula e ao PT, como se valesse cobrar dele um broche com a estrelinha vermelha no peito. Ele foi colocado no STF por Temer, lembram-se?

Nós, que desejamos Lula mais uma vez na presidência do país, não o fazemos se não pela confiança que temos nele como o único motor que sinceramente vai trabalhar 24 horas por dia para recuperar a terra arrasada em que o Brasil se tornou após mais de 3,5 anos de desgoverno do capitão.

Lula está em primeiro lugar em todas as pesquisas e deverá vencer, se não no primeiro turno, no segundo. Somos a maioria no país, portanto, temos que pensar grande.

Devemos compreender que existem dois passos fundamentais para que o povo brasileiro volte a experimentar o bem-estar social a partir do próximo ano.

Primeiro passo: a realização das eleições, ainda ameaçadas por golpe. Sem elas, Lula não se elege;

Segundo passo: a consagração de Lula como vitorioso.

Para que o primeiro passo seja dado, toda e qualquer força que se disponha a se engajar nessa luta, é muito bem-vinda. É aí que entra Alexandre de Moraes, dentro dessa perspectiva histórica, sem paixões ou emoções.

Se Moraes se apresentou como essa força poderosa, afinal, é presidente do TSE, que a utilizemos a nosso favor.

Sejamos realistas no dia em que ele se posicionar contrariamente a medidas do governo Lula porque esse dia virá, com certeza.

No mais, tenhamos consciência de nossa força, demonstrada no comício de Belo Horizonte.

E que a demonstremos mais uma vez em São Paulo, 20 de agosto!

 


domingo, 14 de agosto de 2022

Nada de MUITA calma nesta hora!

Por Fernando Castilho


Pintura de Stasys Eidrigevicius


Se não há motivos para alarde, pelo menos um sinalzinho amarelo deve estar soando no comando da campanha de Lula. Acredito que ela não deva ser negligente.


Fernando Brito, a quem tenho muito respeito como jornalista, escreveu em seu blog, Tijolaço, um artigo com o título, MUITA CALMA COM OS ALARMISTAS DA ELEIÇÃO.

Poderia concordar com ele, já que não devemos ficar desesperados com a, até agora, pequenina melhora de Bolsonaro nas pesquisas. Porém, não acho que o fato deva ser negligenciado pela campanha de Lula. Vejam que ele não pediu calma, que pode ter como sinônimo cautela, mas MUITA calma, o que é um exagero.

Brito chega a citar alguns fatores que contribuíram para esse respiro do Capitão, como a queda do preço da gasolina e, principalmente, a grana distribuída aos mais pobres de maneira inconsequente e ilegal às vésperas da eleição.

Mas são esses justamente os fatores que podem alavancar mais ainda a campanha do homem que desdenha da morte e que ocupa temporiamente a cadeira presidencial.

Podemos juntar a isso a ofensiva que a primeira-dama, Michelle tem feito para tentar recuperar a imagem de seu marido junto às mulheres, aqueles seres que ele desde sempre os dois consideram inferiores. E vem conseguindo, vamos combinar.

Além disso, a campanha do inominável avança muito entre os evangélicos. Essa população com tendências fundamentalistas é sua aliada ideal numa absurda guerra entre o bem, do qual ele diz ser o representante, e o mal.

Se não há motivos para alarde, pelo menos um sinalzinho amarelo deve estar soando no comando da campanha de Lula. Acredito que ela não deva ser negligente.

Faltam longuíssimos 50 dias até o pleito e os efeitos da ousadia do ser que ocupa a cadeira têm muito tempo para serem sentidos.

Essa postura de não se deixar se alarmar e de tratar tudo com MUITA calma, de certa forma, custou o impeachment de Dilma Rousseff, até porque ela própria confiou nas instituições, já que não havia cometido crime algum.

Quase que exatamente um ano antes da prisão de Lula, obtive a informação de que ele seria condenado e detido. A fonte, hoje membro do grupo Prerrogativas, que pediu à época para que não mencionasse seu nome, me garantiu que isso seria líquido e certo. Cheguei a duvidar, até porque não havia nenhuma prova de crime cometido pelo ex-presidente. Mesmo assim, a fonte me garantiu que a prisão ocorreria e mais, que a segunda instância também estava comprometida com o então juiz, Sérgio Moro.

Publiquei isso em meu blog e fui atacado por muita gente, simplesmente porque ninguém aceitava o “absurdo” da prisão de um ex-presidente inocente. E aconteceu.

Outra coisa que Brito escreveu diz respeito à crítica que André Janones fez aos termos técnicos e complicados de economês que a campanha de Lula utiliza e que o povo mais simples não consegue compreender. O articulista tem razão ao afirmar que o ex-presidente sabe como ninguém se comunicar com as pessoas, mas a coordenação precisa realmente se comunicar melhor. Quem anda fazendo isso é justamente o Capitão Morte.

Estamos em uma guerra entre a civilização e a barbárie e precisamos vencer.

Artigos que contribuem para que baixemos a guarda de nada nos servem agora.

Lula sabe disso e até colocou Alckmin de vice e vem construindo alianças por todo o país.

Ele sabe que não é permitido cochilar até a vitória.

É preciso pressão total e contínua até 2 de outubro e para isso, é necessário que se organizem cada vez mais atos, não só pela defesa da democracia, mas por aquele em que depositamos nossa confiança para recuperar a terra arrasada em que o Brasil se transformou.

Nada de MUITA calma.

 

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

De volta a junho de 2013

Por Fernando Castilho


Imagem: Mídia Ninja


Assustados, os petistas perguntaram o que estava acontecendo.

O pesquisador, então, tentando manter a calma entre os presentes, explicou de onde e de que tempo estava vindo.


Nunca houve desmonte tão grande de nossos institutos de pesquisa como no atual governo.

Em 2019 o diretor do Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Ricardo Galvão, foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro por divulgar imagens dos desmatamentos ilegais na Amazônia.

De lá para cá vários outros pesquisadores deixaram o órgão, mas alguns outros continuaram a trabalhar em seus projetos.

Um deles, altamente secreto, propunha a construção de um dispositivo capaz de anular a 2ª Lei da Termodinâmica através do entrelaçamento quântico, ideia descoberta graças a um feliz acaso, como costuma acontecer na Ciência. Dessa forma, seria possível reverter a entropia e retornar a estados da matéria que já ficaram no passado.

Simplificando, utilizando certa quantidade limitada de energia, seria possível que uma pessoa voltasse a uma época não muito longínqua por curto intervalo de tempo.

Pois bem, como nossos cientistas aprenderam ao longo de muitos anos a trabalhar com parcos recursos, o projeto não sofreu descontinuidade e revelou-se possível de ser executado.

Assim, no começo desta semana, um dos cientistas serviu como cobaia retornando ao dia 8 de junho de 2013.

Como o protótipo ainda não possuía sintonia fina, não foi possível determinar com exatidão o local onde o cientista se materializaria. Por isso, ele tomou forma a partir do nada na mesa de um bar onde um grupo de petistas comemorava o resultado da então última pesquisa Datafolha que dava 65% de aprovação ao governo Dilma Rousseff.

Assustados, os petistas perguntaram o que estava acontecendo.

O pesquisador, então, tentando manter a calma entre os presentes, explicou de onde e de que tempo estava vindo.

Os integrantes da mesa, incrédulos, tomaram uma dose de cachaça e começaram uma espécie de sabatina ao cientista para se certificarem de que não se tratava de uma fraude.

A primeira pergunta feita por um militante barbudo e de cara redonda foi: quem é o presidente em 2022?

- Jair Bolsonaro.

- Como, aquele deputado do Rio, ligado às milícias e que defende a ditadura?

- Ele mesmo.

- Fraude!, exclamou um homem magro e cabeludo entornando um copo de cerveja.

A gargalhada foi geral.

Então, uma moça de cabelos cacheados, com um chale no pescoço, resolve perguntar: e a Dilma, o que aconteceu com ela depois que concluiu seu governo?

- Err... não concluiu, disse o cientista. Foi cassada por impeachment. Alegaram que cometeu crime de responsabilidade, mas que apesar disso é muito honesta, viu?

- Hua, hua, hahaha! Conta outra, riram todos. Mais um gole.

- É verdade, porra!, bradou o pesquisador. Desculpem o palavrão.

À essa altura, todos já estavam cochichando uns com os outros.

- Olha, mais uma, disse o homem do futuro. Lula era o favorito nas pesquisas em 2018, mas foi preso para não poder concorrer. Não havia nenhuma prova de crime contra ele, mas mesmo assim, um juiz até então desconhecido e irrelevante o condenou.

- Ah, vá!, bradou um companheiro já bem mais velho. Mais cachaça!

- Esse cara é um mentiroso contumaz! Ou então é louco! Imagine prender Lula sem provas!

- Bem, mas o povo deve ter reagido à essa injustiça, né? Todo mundo saiu às ruas pra protestar, né?, perguntou outra mulher, um pouco mais velha que a anterior.

- Pior que não, disse o pesquisador. Houve um início de resistência no início no sindicato dos Metalúrgicos do ABC em São Bernardo, mas depois o país voltou ao normal como se nada tivesse acontecido.

- Carácoles!, exclamaram dois em uníssono.

- Ah, e teve uma pandemia que matou quase 700 mil pessoas no Brasil!, disse o cientista.

Todos se entreolharam, assustados e incrédulos.

- E o presidente desdenhou da pandemia e boicotou a compra de vacinas...

- Agora já chega!, bradou o petista gordinho e barbudo. Chega de mentiras! Quer enganar a quem? Seu infiltrado!

- Não, não quero enganar ninguém! É a pura verdade! A inflação voltou, a fome voltou e não há emprego! Trouxe até um jornal pra mostrar!

Todos se juntaram em torno das manchetes do dia.

- Não é possível! Esse jornal deve ser falso!

- As eleições estão próximas, não estão? Acontecem em outubro, não? Então ele não se reelege, certo? Simples assim, disse o magrinho. Quem concorre com ele?

- Bem, não é bem assim. Lula está em primeiro lugar nas pesquisas e pode vencer já no primeiro turno!

- Ôpa! Aí sim! Mas, quem é o vice do Lula?, perguntou a jovem de cabelos cacheados.

- Err, bem... é, é o Alckmin...

- Não, não e não! Não é possível! Mentiroso! Vá enganar outros, seu tucano!

- Gente, é isso mesmo. Lula precisou colocar o Alckmin de vice para poder dialogar com a elite e os empresários. Ao mesmo tempo o afastou da candidatura a governador de São Paulo para abrir caminho ao Haddad que já está em primeiro lugar nas pesquisas.

À essa altura, todos já tinham bebido muito e permaneciam calados, taciturnos, talvez por medo de novas revelações do cientista.

Mas ele não desistiu.

- Tem mais! O presidente está armando um golpe para o 7 de setembro. Não pretende entregar o poder para Lula, caso este vença. Está afirmando que as urnas eletrônicas são fraudáveis.

- Mas ele não se elegeu várias vezes deputado através das urnas eletrônicas? Ele quer a volta do voto de papel?

- Isso!

- Olha, chega! Volte pro lugar de onde você veio, disse o mais velho com voz trêmula. Mais uma dessas e eu tenho um enfarte fulminante.

Percebendo que precisava exorcizar os demônios que dele se apoderaram durante 3 anos e meio de desgoverno, prosseguiu:

- O presidente quer filmar as pessoas votando nas cabines.

O petista mais velho caiu morto da cadeira.

A bateria do dispositivo já estava na reserva obrigando o cientista a voltar.

Os companheiros chamaram a ambulância, mas já era tarde.

Todos voltaram em silêncio para suas casas.


sexta-feira, 29 de julho de 2022

Dois longuíssimos meses até a volta da esperança

Por Fernando Castilho




O que resta ao ocupante da cadeira presidencial nesses próximos dois longuíssimos meses?


O tempo é relativo.

Para quem, em frente ao coqueiro verde, já tinha fumado um cigarro e meio e nada de Narinha chegar, o tempo parece uma eternidade.

Para quem está desenganado pelos médicos, dois meses passam num piscar de olhos.

Para Lula, que tem a real possibilidade de vencer as eleições presidenciais em 2 de outubro, dois meses é tempo longo demais, pois nesse período relativamente curto, reviravoltas são possíveis, mas não prováveis.

Considerando que já há mais de dez meses as posições de primeiro e segundo colocados permanecem praticamente inalteradas, somente um acontecimento totalmente fora da curva pode arrancar a vitória de Lula.

Além disso, há um empenho pessoal do capitão em ser derrotado. Até seus aliados mais próximos perceberam, ainda que tardiamente e já se desesperam.

O discurso golpista durante o lançamento de sua campanha assustou a elite que correu a assinar a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito! (assine aqui)

O capitão não falou de controle da inlação, recuperação da economia e do emprego ou de crescimento do país.

Por isso, até Febraban e Fiesp, dois dos alicerces que congregam o filé do empresariado brasileiro, se fizeram presentes.

Restou ao mandatário da nação, apressadamente, desdenhar da iniciativa e, mais tarde, escrever ele próprio um manifesto com as únicas ferramentas que tem à mão: 27 palavras e o Twitter.

Se em 2018 essa elite apoiou decisivamente sua campanha, agora, preocupada com as consequências econômicas de um golpe, desembarca solenemente dela. O que será que o capitão imaginava? Que dariam apoio a essa aventura?

Além disso, o secretário de defesa norte-americano, Lloyd J. Austin III, em reunião com o ministro da defesa brasileiro, general Paulo Sérgio, manifestou sua confiança nas urnas eletrônicas, sugerindo que nenhuma ousadia golpista teria o apoio de seu país.

Com isso, as Forças Armadas, enquanto instituição, não deverão apoiar uma ruptura, embora haja alguns focos que permanecerão isolados, mas sem muita força.

O resultado é que o capitão está ficando só.

Não vence no voto e não consegue dar um golpe, embora continue a seguir na tentativa.

O que resta a ele, afinal?

Se Lula vencer em primeiro turno, imediatamente o capitão se transformará em cachorro morto.

As traições, que já estão acontecendo principalmente no Nordeste, aumentarão exponencialmente, afinal, para que ficar do lado de quem já não distribui mais recursos de orçamentos secretos?

A partir de janeiro próximo as denúncias de crimes de responsabilidade, que já somam mais de 40, começarão a gerar enxurradas de processos na primeira instância, já que o capitão perderá o foro privilegiado.

Na grande maioria deles, o então ex-presidente será condenado e, dependendo da celeridade das instâncias superiores, será preso daqui a pouco tempo, quando se esgotarem os recursos em terceira instância e não em segunda, como ele sempre defendeu.

É o futuro de quem desde cedo se propôs a entrar para a lata de lixo da história.

Enquanto isso, seguimos aguardando esses longuíssimos próximos dois meses.


quinta-feira, 28 de julho de 2022

É urgente abafar o ensaio golpista de 7 de setembro!

Por Fernando Castilho


Pintura: Evandro Prado


A partir da ousadia do capitão, o caos poderá se instalar até com mortos e feridos. Mesmo esperando que não, a lógica impõe que sim.


Às vezes fico na dúvida se escrevo ou não algumas linhas que podem ferir suscetibilidades. Felizmente, crio coragem.

A sociedade civil, finalmente, caiu na real e já assina um manifesto, a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito!

Até agora são mais de 180 mil assinaturas, incluindo a minha. Isso não é pouco.

Porém, parece que ainda falta algo. O povo.

Precisamos sair às ruas antes do 7 de setembro e em número muito maior que o evento golpista.

Temos a real possibilidade de abafar qualquer ensaio que esteja sendo tramado.

Outra coisa é uma crítica à parte da esquerda que parece ter dificuldade de assimilar o que está por vir.

Leio aqui e ali que podemos dormir sossegados porque não haverá golpe.

Concordo que uma ruptura como deseja freneticamente o presidente da República está num horizonte que só ele enxerga porque não consegue aglutinar as forças necessárias para o feito.

Mas, se não haverá golpe, haverá a tentativa de golpe, pois o crápula que ora ocupa o Palácio do Planalto já convocou. Isso ficou claríssimo quando, durante o lançamento de sua candidatura, em que normalmente se faz discurso sobre programas de governo, o crápula preferiu chamar seus seguidores para o ato do Dia da Independência. E ainda disse que será a última vez que o cercadinho sairá às ruas.

O bandido não quer eleições porque já sabe que será derrotado. Ao tomar conhecimento da mais recente pesquisa Datafolha que crava 47% para Lula e apenas 29% para ele, resta apenas tentar virar a mesa.

E é esse o perigo.

A partir da ousadia do capitão, o caos poderá se instalar até com mortos e feridos. Espero que não, mas a lógica impõe que sim.

O país pode ser virado de cabeça pra baixo!

É isso que precisa ser combatido agora.

Leio também análises ingênuas que tentam explicar a blindagem que o PGR, Augusto Aras oferece ao mandatário do país.

Dizem que Aras persegue um posto de ministro do STF e que por isso arrisca todas suas fichas no capitão.

O inominável perderá a eleição! Portanto, Aras se arrisca inutilmente a ser cúmplice de seus crimes por prevaricação.

A menos que também deseje um golpe.

Ou, o que me parece muito mais lógico, tem grana envolvida para que ele se exponha dessa forma blindando o capitão contra qualquer acusação. Vamos acordar!

Muita grana, até porque ninguém mais está controlando nada. Dinheiro sai secretamente e entra secretamente em contas secretas.

Enquanto isso, permanecemos aguardando uma convocação às ruas pela resistência, que deveria já estar sendo articulada pelos partidos que compõem a chapa Lula/Alckmin.

Enquanto isso, produzimos e compartilhamos uma infinidade de memes engraçados, imaginando que com isso estaremos furando a bolha da esquerda e atingindo os bolsonaristas.

Enquanto isso, textos como este, de alerta, não são lidos. Talvez nem pelos sites em que publico. Porque não têm legitimidade.

Enquanto isso, a vida segue.


segunda-feira, 25 de julho de 2022

O Capitão Morte e a inexorabilidade do matadouro

Por Fernando Castilho


 

Hieronymus Bosch



(...) percebeu que as intenções de voto já estão cristalizadas há muito tempo e não existe até o momento nenhum fato novo, nenhuma facada, capaz de alterar esse estado de coisas. 


Sou uma pessoa guiada fortemente pela razão e, por isso, tenho como hábito estranhar certos comportamentos que fogem da lógica mais elementar.

Todos vimos o presidente da República pagar pra ver, se arriscando a passar por um vexame internacional cujas consequências à sua campanha pela reeleição seriam logicamente danosas. A imprensa, dois dias antes, já alertava para o desastre.

A apresentação a 40 embaixadores foi, mesmo assim, posta em prática e não deu outra. A grande maioria dos diplomatas presentes conhece muito bem nosso sistema de apuração de 

A mídia internacional condenou a fala de Bolsonaro e o Departamento de Estado norte-americano deu-lhe um puxão de orelhas ao afirmar que as urnas eletrônicas são um exemplo para o mundo.

Mas a tresloucada aventura do capitão não foi um coelho retirado da cartola somente por ele. Os cupinchas presentes no evento compartilham das mesmas ideias e das mesmas estratégias que, aos poucos, vão minando sua candidatura frente um adversário que vem ostentando até agora uma sólida campanha.

Os generais Braga Netto e Augusto Heleno estavam presentes, o que indica apoio à estratégia suicida.

Mas não é só isso.

Embora não presentes, observa-se, por declarações em redes sociais, que os filhos do presidente também compartilham de sua jornada em direção à derrota.

É aí que precisamos parar para pensar no que pode estar por trás disso.

Estamos assistindo quase todos os dias Bolsonaro participando de motociatas e fazendo discursos direcionados à parcela da população que o apoia cegamente, em que, invariavelmente ataca o TSE e as urnas eletrônicas. Para o senso comum, esse comportamento parece campanha eleitoral, mas, na verdade, não é. Se fosse mesmo campanha eleitoral, ele estaria falando em reduzir a inflação, anunciando medidas econômicas para gerar empregos, etc.

O mais lógico parece ser a intenção de Bolsonaro de não chegar a 2 de outubro, dia da eleição, porque percebeu que as intenções de voto já estão cristalizadas há muito tempo e não existe até o momento nenhum fato novo, nenhuma facada, capaz de alterar esse estado de coisas. O que ele está fazendo, na realidade, é campanha para preparar seus seguidores para se insurgirem contra o processo eleitoral. Preparando para um confronto.

O capitão está tentando aglutinar forças entre seus seguidores, as polícias, federal, dos estados e municípios, setores das Forças Armadas e parlamentares de sua base de apoio para melar as eleições, já em 7 de setembro.

Temendo a enxurrada de processos e consequente prisão por mais de 40 crimes de responsabilidade que estão elencados em mais de 150 pedidos de impeachment sobre os quais o presidente da Câmara, Arthur Lira olimpicamente se senta, não resta ao capitão outra alternativa que não um golpe.

É por isso que os cupinchas mais próximos e seus filhos parecem marchar resolutamente em direção ao precipício. Não são bobos. Sabem que não podem vencer as eleições.

Porém, as Forças Armadas, em sua grande maioria, não estão interessadas nessa aventura. Isso já foi demonstrado pela falta de adesão dos principais comandantes militares, ainda mais depois da declaração do Departamento de Estado norte-americano.

A grande imprensa, que até outro dia vinha sendo reticente, agora, talvez já percebendo a real possibilidade de tentativa de golpe, já se posiciona contrariamente a Bolsonaro, principalmente depois dos assassinatos do jornalista britânico Dom Philips, do indigenista Bruno Pereira e do petista Marcelo Arruda, além da apresentação vexatória aos embaixadores.

Os movimentos sociais, a sociedade civil, os artistas, os intelectuais e, mais recentemente, os procuradores do ministério público, já se organizam para rechaçar qualquer tentativa de golpe.

Bolsonaro a cada dia mais parece um touro inconformado em direção a um inevitável matadouro.

Vai mugir, soprar forte pelas ventas, se sacudir e espernear inutilmente até seu destino implacável que será a prisão por tentativa de golpe.

 


terça-feira, 19 de julho de 2022

O Capitão entrou em modo golpe

Por Fernando Castilho


“Torrente de Loucos”: ilustração de Candido Portinari - 1948


O insano já está em modo golpe, por isso, a resistência tem que iniciar agora.


O presidente Jair Bolsonaro fez uma apresentação a cerca de 40 diplomatas estrangeiros defendendo que as urnas eletrônicas não são confiáveis e que as eleições de outubro podem ser fraudadas.

O fato pode ser classificado como inusitado porque não é papel de um presidente se reunir com diplomatas, pois essa função cabe ao ministro das Relações Exteriores.

Mas, para lá de inusitado, há uma atitude desesperada e incrivelmente insana.

Como é possível um presidente expor a outros países que o sistema eleitoral do Brasil pode ser fraudado?

Por acaso, mandatários de outros países poderiam interferir nesse sistema? Por acaso, os diplomatas já não sabem das intenções do capitão? Por acaso, ele imaginou que são todos pessoas ingênuas que se deixariam convencer por suas mentiras?

Não, há muita, muita loucura. Bolsonaro deveria ser afastado por total incapacidade porque, além de não governar, está completamente louco.

O capitão usou os diplomatas para dar um recado a seus seguidores que puderam acompanhá-lo pelas redes sociais. Ele precisa dar um golpe e, para isso, necessita do apoio do cercadinho.

Há um outro perigo rondando o país. Se a horda que segue cegamente o presidente conseguir desestabilizar o sistema eleitoral, todos os candidatos a cargos eletivos se sua base de apoio Brasil afora, se sentirão à vontade para questionar suas derrotas. Vejam o perigo.

De qualquer forma, por mais que a esquerda – que costuma ignorar sinais – não dê a devida atenção ao ato e insista em que não há condições mínimas para uma ruptura, é preciso sim iniciar um projeto de contragolpe.

O capitão consegue manter cerca de 30% da população fiel a seus desvarios e parte das Forças Armadas comprometidas com ele. Além disso, há as outras polícias, militares, civis e federal. Some-se a isso, setores das instituições e de parlamentares do Congresso.

Essa turma pode não conseguir seu intento, mas certamente causará muito barulho e ousará colocar o país contra a parede já em 7 de setembro, o que pode ser o estopim de grandes confrontos e instabilidades.

Bolsonaro já está em modo golpe, por isso, a resistência tem que iniciar agora.

Lula e os partidos que lhe dão apoio precisam abandonar a estratégia de deixar o capitão falar suas sandices à vontade. É necessário que se inicie o combate às falas golpistas em nome da democracia.

Urge que Lula e Alckmin iniciem conversas com setores das Forças Armadas, defendam publicamente o STF e o TSE, busquem aparecer mais na mídia com propostas para o país e mobilizem os sindicatos, o MST, a OAB, a ABI, as demais representações da sociedade civil e, sobretudo, a população para saírem às ruas em defesa do sistema eleitoral e contra o golpe.

Além da reação da base de apoio de Lula, é urgente que o STF e o TSE sintam que têm o respaldo da maioria da população que confia nas urnas eletrônicas, criem coragem e adotem as medidas legais para impedir e punir atitudes meramente eleitoreiras como a PEC kamizase e o próprio discurso do presidente aos diplomatas, que ferem gravemente a Constituição e a legislação eleitoral.

Está mais que na hora de reagir.

 

 


quinta-feira, 9 de junho de 2022

Bolsonaro e a solidão que se aproxima

Por Fernando Castilho



Há gente que, mesmo estando desempregada e passando fome, ainda crê no que o capitão fala, embora essas crenças venham diminuindo a cada dia


Os ratos procuram se enfiar em locais em que humanos não consigam encontrá-los.

Pode ser num esgoto longe das luzes das cidades, pode ser dentro de nossas casas, numa parede de um sótão ou porão esquecidos há anos.

Eles podem entrar e sair com toda desenvoltura nas horas em que estamos dormindo, mas se um filhote teimosamente entrar num minúsculo buraco, pode ser que nunca mais saia dele, ainda mais se tiver um tempinho pra crescer ali dentro.

O presidente Jair Bolsonaro se meteu em um desses buracos.

Seu discurso, recheado de mentiras, preconceitos, ódio e saudoso da ditadura, inflamou um relativamente grande número de ratos que estavam escondidos no esgoto. Há quem, apesar das mais de 670 mil mortes pelas quais foi responsável, direta e indiretamente, ainda o admire.

Há gente que, mesmo estando desempregada e passando fome, ainda crê no que o capitão fala, embora essas crenças venham diminuindo a cada dia.

Há também quem não se importe em ver um presidente não trabalhar, participando de motociatas e passeios de jet-ski enquanto famílias perdem todos seus bens em grandes enchentes. São os fechados com Bolsonaro.

Mas as eleições se aproximam e o distanciamento nas pesquisas de opinião entre Lula e o embusteiro que governa o país vem se mantendo, o que indica que ele perderá a disputa, quiçá no primeiro turno.

Para tentar reverter a situação, Bolsonaro teria que ampliar seu eleitorado, mas caiu na armadilha que o tornou prisioneiro de seu discurso imutável.

Só lhe resta uma tentativa de golpe, mas mesmo isso, vem se mostrando extremamente difícil.

O pior para ele é que, como escrevi já há vários meses, os candidatos a governadores e deputados federais de sua base aliada estão dando sinais inequívocos de descolamento de seu chefe, principalmente nos colégios eleitorais onde Lula nada de braçada.

Se o sujeito pretende mesmo se eleger, não há como manter sua imagem ligada a do capitão. Já há quem esteja até se bandeando para o lado de Lula. Quase nenhum de seus ex-ministros endossa mais o discurso do presidente.

Em São Paulo, o candidato alienígena ao governo, Tarcísio de Freitas já fala em governar respeitando o ex-presidente, caso este se eleja.

Rodrigo Garcia, também candidato ao governo de São Paulo, embora do PSDB, também já demonstra certa simpatia com a chapa do PT.

Na Bahia, ACM Neto também já flerta com Lula, embora esteja em primeiro lugar na preferência do eleitorado.

Esse fenômeno de debandada dos aliados de Bolsonaro, daqui pra frente só aumentará, na medida em que se aproxima o primeiro turno.

O ímã maior sempre atrai mais limalha de ferro que o menor.

Lula cada vez mais agregará políticos em torno dele e o isolamento político de Bolsonaro se tornará cada vez mais evidente.

Veremos se isso se refletirá em próximas pesquisas.


Também publicado em Jornal GGN

Bolsonaro e a solidão que se aproxima, por Fernando Castilho - G (jornalggn.com.br)


quarta-feira, 18 de maio de 2022

Que país os bolsonaristas querem para seus filhos?

 

Por Fernando Castilho

 



Olhou para os lados, incomodado e disse: esta fila está muito demorada. Dá licença que vou embora


Estava numa fila para resolver problemas particulares quando um senhor de cabelos brancos, aparentando uns 70 anos puxou conversa comigo:

O que o senhor acha dessa guerra do Bolsonaro com o STF?

Observei o homem de cima a baixo e algo me disse que ele era adepto das teses do presidente. Decidi responder que o STF tem razão.

Pronto, bastou para o seguidor se revelar:

É a ditadura de toga, exclamou. Bolsonaro precisa fechar o STF e o Congresso para poder governar!

Embora não concorde com tamanha bobagem, sempre acho que é preciso ouvir a outra parte em sinal de respeito às diferentes opiniões. Por isso, adotei, como em outras vezes, o método socrático de fazer perguntas para que a outra parte, caso não tenha argumentos coerentes, caia em contradição.

Perguntei se, uma vez fechados o STF e o Congresso Nacional, Bolsonaro governaria sozinho.

Não, claro que não! Ele tem o partido dele que vai ajudá-lo!

Mas, se o Congresso foi fechado, como ainda haveria um partido?

Primeira contradição. Não soube responder, tentando mudar de assunto.

Mas veja, o ministro Marcos Pontes, o astronauta, já tem a vacina nacional para a Covid-19. O Bolsonaro não queria vacinas estrangeiras, por isso é que foi obrigado a ir adiando a compra de vacinas, disse ele num tom mais de dúvida que de afirmação.

Perguntei se Marcos Pontes ainda era ministro.

Não é mais, respondeu o homem.

E a vacina, em que pé está?

Bem, não sei. Mas agora não importa, já que está quase todo mundo vacinado, né?

Mais contradição.

Voltando às perguntas: o senhor acha que, Bolsonaro reeleito, vai ser bom para o país?

- Ele tem que terminar o que começou, né? Em 4 anos não dá pra fazer tudo, né?

- O que falta ele terminar?

- Ah, falta melhorar a economia, baixar os preços dos alimentos e da gasolina.

- Ele está trabalhando pra isso?

- Agora não dá porque ele está em campanha, viajando pelos estados.

O homem ficou vermelho.

Indaguei: mas por que Bolsonaro é tão bom para o país?

- Ora, porque ele é enviado por Deus, é a favor da família, contra os gays e a Anitta.

- O senhor acha que ele vai fazer alguma coisa contra os gays?

- Ah, aí não dá, né? Só matando. Mas ele vai falando contra, sabe como é, né?

- E a Anitta? Ele vai proibir ela de rebolar?

- Se ele tivesse esse poder, ia proibir sim.

- Mas se ele não pode fazer nada contra os gays nem proibir a Anitta de rebolar, o senhor acha que mesmo assim ele está fazendo um bom governo e merece continuar?

O velho mudou de assunto.

- Ele está combatendo o comunismo!

- É mesmo? Tem comunismo no Brasil?

- Tem, não, graças a Deus! Mas se tiver, ele combate.

Olhou para os lados, incomodado e disse: esta fila está muito demorada. Dá licença que vou embora.

 

Uma só pessoa não representa os 30% que Bolsonaro tem de eleitores, mas fica claro que há muitos que pensam de forma parecida. Gente que vê ameaça comunista em todos os lugares, que odeia a população LGBTQIA+, que acha que um presidente pode mais que a Constituição, que não se importa com as milhares de vidas ceifadas pela pandemia, que vê com naturalidade o armamento daqueles que podem adquirir armas, que não percebe que seu mito não trabalha e não se importa com a escalada do desemprego, a alta dos preços dos alimentos e combustíveis e a corrupção que grassa em seus ministérios. Parece até que têm cupons de desconto por serem bolsonaristas.

Não se trata aqui de fazer apologia a Lula, mas de repelir o autor desse quadro de destruição para que ele não consiga completar sua obra.

Antes de Bolsonaro se eleger, ele avisou a que viria e muita gente não acreditou.

Agora ele avisa que dará um golpe e muita gente ainda não acredita.

É preciso que o povo e a sociedade civil se mobilizem em defesa do STF, mesmo aqueles que criticam a instituição por seus atos e omissões no passado recente.

Se o capitão vencer essa queda de braço com o Supremo, cujo pivô é um deputado louco por ditadura, sairá fortalecido e confiante para um golpe que pode resultar em última instância, até numa guerra civil.

Fiquemos atentos.