Não se deram ao trabalho de ler em outras fontes, não se deram ao trabalho de questionar incongruências e contradições sérias, e pior, desconhecem o que diz nossa Constituição cidadã, carta magna do Estado de Direito, conquistado a duras penas.
Já
escrevi algumas vezes sobre o saco de pancadas chamado Zé Dirceu.
Não, ele não é um santo como alguns pretendem. E sei do que estou falando.
E
sei também que muitos dos que lerão este texto destilarão seu ódio porque
não acompanharam com rigor os desdobramentos de tudo que envolveu o
ex-ministro desde o Mensalão até agora. Por preguiça ou desinteresse.
Não
se deram ao trabalho de ler em outras fontes, não se deram ao
trabalho de questionar incongruências e contradições sérias, e
pior, desconhecem o que diz nossa Constituição cidadã, carta magna
do Estado de Direito, conquistado a duras penas.
Afinal,
queriam um medalhão do governo preso, um ineditismo a lavar a alma
de um povo habituado à impunidade desde sempre. Podia ser qualquer
um, desde que fosse político.
O
ex-ministro foi condenado com base na Teoria do Domínio do Fato, uma
excrescência criada na Alemanha após a queda de Hitler para
responsabilizar os criminosos de guerra e que não vinha mais sendo
usada desde então.
Serviu,
porém, como o artifício conveniente, um achado de Joaquim Barbosa,
fora da Constituição e que pressupõe que se Dirceu era o chefe de
gabinete, ele tinha por obrigação saber de toda e qualquer
falcatrua que tenha acontecido em todo o governo federal.
É
como se um diretor de uma empresa tivesse pleno domínio de tudo o
que seus subalternos fazem ou conversam, mesmo fora do expediente. E
uma empresa não tem nem de longe o mesmo número de funcionários de
um governo federal.
Zé
Dirceu, quer aceitem ou não aqueles que o odeiam, foi condenado sem
provas. Isto é fato pois a ministra Rosa Weber admitiu que não
havia provas contra ele mas que mesmo assim o condenaria porque a
literatura jurídica assim lhe permitia.
Ponto.
Mas
Dirceu foi preso novamente por ter sido citado em delação premiada
pelo lobista Fernando Moura em agosto de 2015.
Enquanto
vemos o presidente da Câmara, Eduardo Cunha escarnecendo devido à
sua impunidade, apesar das inúmeras provas já colhidas contra ele,
sem que a imprensa peça sua cabeça diariamente, Dirceu foi preso
imediatamente à delação, de maneira irregular pois seria preciso
que antes o delator apresentasse provas do que afirmou.
Mas
para o juiz Sérgio Moro, que inclusive, desprezando a ética do
Judiciário, já foi premiado pela Globo, Dirceu era um troféu a ser
conquistado.
Os
colunistas dos órgãos de imprensa comemoraram sua prisão, se não
com fogos, com textos exaltando a coragem e determinação de Moro.
Aliás,
sobre esses colunistas, cabe abrir um parênteses. Hoje eles se
parecem mais com soldados num front de guerra contra a internet, na
necessidade diária de combater não só o petismo, mas também toda
a esquerda para agradar seus patrões e tentar evitar dessa forma uma
possível demissão em virtude de cortes que estão ocorrendo amiúde
devido a problemas financeiros de seus empregadores que só podem ser
mitigados com a volta dos tucanos ao poder, via BNDES.
É
por isso que a Folha contrata um Kim Kataguiri da vida, certamente
com salário bem inferior aos dos outros colunistas e muito
provavelmente como pessoa jurídica para escapar de encargos.
A
classe média e alta, além de muitos que expressam seu ódio nos
comentários publicados nos jornais, também comemoraram a prisão de
Dirceu. A eles, assim como aos colunistas, não interessa se a
Constituição está sendo aviltada. Não vem ao caso, como diria
Moro.
Mas
o lobista em novo depoimento isentou Zé Dirceu de culpa.
E
agora, o que fazer? Meu troféu escapa de minhas mãos, pensou o juiz
Moro.
Quando
perguntaram a Fernando Moura se ele estaria mudando sua versão dos
fatos, ele disse estranhar que tenha afirmado o que lhe disseram que
afirmou antes.
Zé
Dirceu então pediu a gravação do primeiro depoimento.
Estranhamente o MPF alegou que o depoimento não fora gravado.
Como
assim, se todos os depoimentos são meticulosamente gravados pelo
juiz Moro? Aliás, este é um estilo bastante pessoal dele.
Agora
Moro ameaça Fernando Moura de anulação de sua delação premiada
pelo motivo de que teria alterado seu depoimento.
Na
realidade o que Moro pretende é extorquir a delação do lobista e
manter seu troféu, Dirceu, preso, sob o risco de desmoralização de
toda a operação.
Possivelmente
teremos uma mentira valendo como prova contra Dirceu.
E
mais uma vez ele será condenado injustamente.
E
os mesmos de sempre novamente comemorarão.