segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Haverá um dia sequer em que Dilma não errará?

Por Fernando Castilho


Charge: Aroeira


Já a culparam pelos estádios e aeroportos não ficarem prontos a tempo para a Copa do Mundo.

Já tentaram carimbar na sua testa a palavra ''corrupta''.

Já quiseram meter-lhe um impeachment sem razão prevista na Constituição.

Um ex-presidente exigiu sua renúncia.

A novidade agora é culpar Dilma pela pior crise econômica que estamos vivendo na História.


Não que Dilma Rousseff nunca mereça críticas. Há casos em que merece sim.

Por exemplo, quando escreve artigo na Folha de São Paulo, jornal matreiro que se aproveita do convite feito à presidenta, atendido com cortesia, para inserir na primeira página a foto de um balão onde se lê ''fora Dilma, fora PT!''

É golpe. E rasteiro.

Mas é um erro de Dilma, também. Não precisa escrever para a Folha, escreva para os blogs que não vão lhe aplicar nenhum golpe.

Mas há críticas não merecidas também.

Recentemente Jaques Wagner, ministro da Defesa e Casa Civil criticou o governo pelo excesso nas desonerações. Lula também fez a mesma crítica recentemente.

Lula, no seu segundo mandato, zeloso quanto à crise econômica decorrente da falência do banco Lehmann & Brothers em 2008, desonerou vários produtos, passando assim quase que incólume pela marolinha enquanto o mundo inteiro enfrentava um tsunami. O ex-presidente foi aclamado internacionalmente pela sua visão bem mais ampla do que qualquer economista que teria adotado medidas recessivas.

Dilma atravessou seu primeiro mandato mantendo e até ampliando as desonerações, fazendo com que o Brasil, ao contrário dos países de primeiro mundo, atravessasse um período de calmaria e bem estar econômico.

Esse bom momento, que estava representado nos bons índices de aprovação do governo, de uma hora para outra, com as ''jornadas de junho'', acabou de maneira artificial quando a mídia se aproveitou do protesto inicial do Movimento Passe Livre e mudou totalmente o foco das manifestações a seu favor.

Pronto, agora Dilma era uma incompetente.

Para a mídia, a Copa do Mundo seria um fracasso, os estádios não ficariam prontos, os aeroportos não comportariam o número de turistas e as obras de mobilidade não se concluiriam.

A Copa foi um sucesso (menos o 7 a 1 para a Alemanha), mas isso não impediu que Dilma fosse vaiada e xingada de vaca na cerimônia de abertura.

A presidenta vence o pleito de 2014, sendo reeleita.

Passado um ano sem que houvesse um dia sequer de trégua por parte da mídia e da oposição que querem sua cabeça a qualquer custo, assistimos enfim uma crise econômica se desenhando.

Rebaixamento da nota de investimentos do Brasil, aumento no desemprego para 8,3%, corte de recursos e aumento de inflação para 9% ao ano.

Para aqueles que desde o governo Fernando Henrique, há 13 anos atrás, não sabem o que é uma crise econômica, esta é a primeira.

Não há portanto como avaliar, simplesmente por falta de uma referência.

Isto poderia ser resolvido com simples pesquisas no Google, mas a preguiça é tanta que os jovens preferem hoje somente ler as manchetes dos jornais que, malandramente, escondem os dados que poderiam servir como comparação.

Pior, a mídia alardeia esta como sendo a pior crise de nossa História. O desemprego é o maior, a inflação a maior, assim por diante.

Se tomarmos como referência o próprio governo FHC, veremos que o Brasil naquela época foi ao FMI três vezes, o desemprego atingiu 15% e a inflação 12,5%.

Se formos mais para trás, no governo Sarney, embora o desemprego fosse baixo, 2,9%, a inflação chegou a insuportáveis 1764%! Dá para imaginar o que é uma crise de fato?

Voltando a Wagner, Lula e muitos outros, inclusive blogueiros de esquerda, que já criticaram a presidenta sobre o exagero nas desonerações, afirmo que estão entrando no jogo da mídia e da oposição que tenta desqualificar Dilma como se ela não fosse uma boa gerente.

A imprensa tenta desconstruir a imagem de boa gerente que a presidenta tem ao forçar a barra em questões como aquela da mandioca ou mesmo da acumulação de energia eólica que, como já vimos, têm explicações fora da caixinha da mídia.

Logicamente há que reconhecer que do ponto de vista político e de oratória ela é uma negação, mas sua qualidade justamente é ser uma boa técnica, haja vista sua atuação enquanto ministra de Minas e Energia no governo Lula.

Mas isso não é motivo para um golpe, como quer o derrotado Aécio Neves.

Política econômica não é uma ciência exata em que se pode prever os resultados de um equacionamento.

As variáveis são tantas, políticas, internacionais, estruturais, financeiras, que as melhores medidas a serem tomadas são aquelas que são tomadas no momento em que se precisa decidir.

E foi o que Dilma fez.

Afirmar, passados alguns anos, que ela errou é ser no mínimo leviano.

O mais honesto seria dizer que as medidas não surtiram o efeito esperado.

Um currículo não se destrói sorrateiramente.


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